Antigos amores



            Lilian passou todo o dia seguinte simplesmente ignorando Tiago. Apesar de não ter confiado nas suas boas ações, não podia negar que tinha ficado abalada com ela. Sabia que quando a noite seguinte chegasse não poderia adiar mais encontrar com o Potter, mas resolveu não se preocupar com esse problema. A menina estava feliz demais com o retorno de suas amigas aquela noite.


            Eram quase nove horas quando ela estava sentada em um dos sofás do salão comunal fingindo estar entretida com um livro qualquer. Se conhecia bem suas amigas, elas fariam um retorno glorioso e pretendia assistir de camarote a expressão de todos, principalmente de quatro certos marotos que estavam cochichando ali próximos.


            Nove horas em ponto, o retrato da mulher gorda se abriu e uma fumaça vermelha entrou por ela, chamando a atenção de todos e fazendo com que Lilian melhor se posicionasse para ver o show. Cornetas foram magicamente ouvidas e, como rainhas, as três meninas saíram da fumaça mais gloriosas que antes, rendendo aplausos e assobios por todo o salão. Lilian sorria misteriosamente enquanto observava as pequenas caretas de desgosto que os marotos exibiam.


            As três meninas logo avistaram a ruiva e, como se desfilassem pelo local, seguiram vagarosamente até a garota. Elas sentaram-se e, após conferir que todos os olhares estavam voltados para elas, sorriram misteriosamente e começaram a conversar em voz baixa:


 - E, mais uma vez, as Senhoritas prendem a atenção de todos com uma simples entrada – Disse Lilian, risonha.


 - Era de se esperar que eles já estivessem acostumados com o nosso jeito, não acham?! – murmurou Bárbara, olhando em volta e constatando que a maioria das pessoas ainda olhavam-nas.


 - Eles são muito previsíveis... – Disse Larissa dando de ombros – Uma simples fumaça e um feitiço sonoro impressionam...


            As outras concordaram e voltaram a observar todo o ambiente. Lilian observava quando notou olhos castanhos fixados nela. Encarou Tiago por alguns segundos antes de Lívia chamar sua atenção


 - O que o Potter tanto olha aqui? – Lívia perguntou diretamente para a ruiva claramente desconfiada


 - Não sei – a menina falou, dando de ombros e desviando o olhar


 - Tem certeza? – Lívia forçou


 - Absoluta! – Lilian falou encarando a menina a sua frente com os olhos faiscando


            Lívia deu de ombros, ainda desconfiada da ruiva de olhos verdes. As meninas conversaram por mais um tempo e decidiram que estavam cansadas da atenção, subindo para seu dormitório.


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 - Elas voltaram... – Disse Sirius, acabando com o silêncio entre os quatro


 - É... – Concordaram os outros três


 - Agora a gente vai ter que dormir de olhos abertos... – Disse Sirius novamente e recebendo apenas gestos confirmativos com a cabeça dos outros


            Durante os minutos em silêncio, os quatro jovens estavam absortos em pensamentos sobre os últimos acontecimentos e, alguma coisa eles tinham pensado igual: Eles tinham exagerado com a brincadeira e aquilo ia ter uma consequência nada agradável para eles.


 


x-x-x


 


            Por mais que fechasse os olhos e esvaziasse sua mente, Sirius não conseguia dormir. Quando sua mente ficava “em branco”, a imagem de Olívia aparecia em sua cabeça e o sentimento de culpa o apossava de seu corpo. Sabendo que não conseguiria dormir, levantou-se, pegou a capa de Tiago e desceu, apenas com a calça do pijama.


            Sirius andou silenciosamente até que chegou nas grandes portas que davam passagem para a ala hospitalar. Entrou com cuidado e, enfeitiçando a curandeira para que dormisse profundamente, seguiu até a última maca, que estava tampada por leves cortinas brancas. O menino puxou as cortinas com cuidado e, logo, o rosto de Olívia pode ser visto.


            A cabeça da menina estava toda enfaixada e Sirius se assustou com a aparência frágil dela. Se lembrou de como sempre a admirou por ser forte e não se deixar abater por qualquer coisa. Quando o pensamento de que “ela estava assim por sua causa” passou pela sua cabeça, o sentimento de culpa se instalou mais profundamente em seu coração.


            Ele estava absorto em pensamentos quando a menina se mexeu levemente na cama, chamando sua atenção. Ela abriu os olhos e o encarou por um momento, antes de sorrir levemente.


 - Você tá aqui há muito tempo? – Ela perguntou


 - Não muito... – Ele murmurou, encostado na maca ao lado da dela


 - Minha cabeça tá doendo... – Ela murmurou


 - Eu prometo que vai passar logo – Ele falou indo até sua maca e pegando sua mão


 - Por isso que tão me mantendo sedada... – Ela murmurou, olhando para o menino, que apenas assentiu


            Os dois ficaram um tempo em silêncio, apenas se observando, até que a garota soltou mais um gemido, pondo a mão na cabeça, e Sirius falou:


 - Me desculpa Vi... – Ele murmurou – Eu não queria que tivesse sido assim


 - Então porque você fez isso? – Ela perguntou, com a sobrancelha arqueada


 - Foi no impulso – Ele respondeu, dando de ombros – Eu fui inconsequente...


 - Você sempre age no impulso... – Ela falou olhando para ele – Até nos piores momentos...


            Ele ia respondê-la, mas ela sentiu uma dor mais forte e ele decidiu acordar a curandeira para seda-la novamente. Antes de ir, Olívia o chamou. Ele apenas se virou e esperou que a menina falasse:


 - Vem me visitar de novo? – Ela perguntou


 - Pensei que você estivesse chateada comigo... – Ele disse


 - E estou! – Ela disse com a cara de zangada e depois abrindo um sorriso – Mas, infelizmente, eu gosto da sua companhia...


            O garoto sorriu e, balançando a cabeça afirmativamente, ele pôs a capa sobre ele e acordou a curandeira. Ele observou a mulher acordar assustada e correr para dar remédio a Olívia. Ele ficou no ambiente até que ela já tinha fechado os olhos.


            Sirius entrou no seu quarto e, pensando não ter chamado atenção, deitou em sua cama, pronto para dormir. Nesse momento, Tiago falou, chamando sua atenção.


 - Parece que eu não sou o único que gosto de voltinhas noturnas ein... – Ele comentou, levantando a cabeça e olhando pro amigo, que continuou em silêncio – Me conta logo o que tá acontecendo...


 - Eu fui visitar a Olívia... – Sirius falou dando de ombros


 - Como?! – Exclamou Tiago, sentando-se em sua cama – Por que?


 - Porque eu... – o garoto hesitou por um momento – Eu precisava ir vê-la...


 - Ainda não entendi cachorro!


            Depois de um longo suspiro, Sirius sentou-se em sua cama e começou a lembrar de seu passado.


 - Tudo começou no Primeiro ano... – Ele começou suspirando – Eu conheci a Olívia no expresso pra Hogwarts, um pouco antes de te conhecer. Ela tava andando pelo corredor e lendo enquanto eu estava correndo pra achar um cabine e a gente acabou se encontrando e caindo. Ela ficou vermelha e, por um momento, eu achei que ela ia surtar comigo, mas ela soltou o ar que tava prendendo pela boca e começou a contar até dez em voz alta e lenta. Eu achei que a menina era completamente louca, mas tinha funcionado e ela estava calma... Falou pra eu prestar mais atenção e saiu andando. Eu fiquei pasmo no meio do corredor e fui atrás dela pra saber o nome. A gente se apresentou e conversamos um pouco e até descobrimos umas coisas em comum... Depois disso, eu virei um maroto, mas eu sempre desci pro salão comunal às 23:00 pra conversar com ela. A gente se falava todo dia e até fazia umas tarefas juntos. Na maioria das vezes eu copiava a dela, enquanto ela me contava o que andava fazendo. Eu gostava da companhia dela e a gente foi crescendo...


            O maroto suspirou e encarou o teto de seu quarto por alguns segundos antes de continuar sua narração.


 - A gente foi crescendo e era impossível eu não perceber o quanto a Olívia estava linda. Os garotos começaram a se interessar e eu comecei a morrer de ciúmes; afinal, ela estava trocando os nossos encontros diários por alguns encontros com um menino ou outro. Eu ficava no salão até ela chegar e sempre ouvia suas narrações de como um menino era idiota ou legal demais. Eu até cheguei a bater em um muleque que tentou passar a mão nela...


 - Então foi por isso que você arrumou briga com o Nichols? – Perguntou Tiago que, depois de receber um sinal afirmativo do amigo, começou a rir


 - Enfim! – Disse Sirius esperando o amigo se controlar – Eu estava cada vez com mais ciúmes e, 5º ano, eu acabei beijando ela. Eu estava irritado com mais uma história de desilusão amorosa e disse que ela merecia alguém melhor que esses meninos que ela ficava. Ela riu e perguntou que era melhor que eles. É claro que eu disse EU! Mas ela começou a rir mais forte e eu fui e beijei ela. No inicio, ela ficou chocada e irritada. A gente ficou umas semanas sem se falar direito, mas eu a forcei a falar comigo e a gente ficou de novo e de novo. O próximo passo era algo mais sério e eu estava pronto, mas uma aluna de uma escola da frança veio pra cá. No impulso, eu acabei ficando com a menina e a Olívia viu. Ela brigou feio comigo e disse que eu era exatamente como todos os outros meninos de Hogwarts que eu disse que não a mereciam. Nossa amizade nunca mais foi a mesma...


 - Mas ela já era uma Senhorita? – Perguntou Tiago


 - Ela já veio pra Hogwarts praticamente como uma Senhorita... – Disse Sirius dando de ombros – Até onde eu sei, a avó dela foi uma das primeiras lá... Então, era quase destino! Ela se tornou no 2º ano, por causa do preconceito das pessoas por ela ser mestiça. Depois que a gente brigou, ela passou a fazer mais coisas das Senhoritas e a gente passou a brigar mais e mais... E aí, a gente parou de se falar...


 - É uma pena... – Murmurou Tiago, deitando-se – Ela parecia ser uma menina legal...


 - Ela continua sendo... – Sirius murmurou também se deitando – Eu percebi hoje


            E com um leve sorriso nos lábios, o maroto adormeceu

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