Um mês de reflexão



- Pai? Mãe? Chegamos!


            As duas meninas chegaram tarde da noite na rua deserta com uma fileira de casas dos dois lados da rua. Pararam a frente de uma das casas, a única que deixava uma fraca luz transparecer por uma das janelas, a menor. Elas abriram à porta e passaram por ela sem encontrar ninguém na sala para uma recepção.


- Estamos aqui minha querida – Uma voz baixa a chamava vinda da cozinha


            A menina deixou suas malas na sala e seguiu em direção das vozes, que conversavam animadamente.


~>Narração de Clarie<~


            Lílian entrou em casa rapidamente e quando ouviu as vozes de seus pais, foi como se o brilho do seu sorriso e nos seus olhos iluminassem toda a sala, agora deserta. Ela largou suas malas ali mesmo e saiu correndo em direção as vozes que a gente ouvia e eu fui logo atrás, temendo perder o reencontro da família. A ruiva chegou à cozinha e correu para os braços de seu pai, que estava na frente do fogão cozinhando algo e sua mulher sentada na bancada, apenas observando. O homem a recebeu de braços abertos e, quando os dois se encontraram, ela a enlaçou em um gigantesco abraço, chegando a tirá-la do chão. O brilho estranho e repentino continuava em seus olhos e seu sorriso e eu compreendi o que James havia me falado, ela parecia àquela ingênua e doce Lílian Evans do nosso terceiro ano. Acho que ela finalmente percebeu que não estava apenas com seus pais, pois recompôs imperceptivelmente sua postura de superior e foi cumprimentar sua mãe, já sem o brilho que eu havia identificado. Depois de tais cumprimentos, ela voltou com uma velocidade acelerada para a sala, pegou suas coisas e foi para o seu quarto na minha frente, onde eu cheguei logo depois. Ela arrumou uma cama para mim no chão ao lado da sua e, depois de um jantar delicioso preparado pelo senhor Evans, nós adormecemos.


            A cada dia que passava a Lílian que convivia comigo estava cada vez mais parecida com a ruiva que eu conheci no vagão pra Hogwarts. A menina mantinha aquele brilho intenso no olhar, mas quando percebia que eu a observava com estranha curiosidade, ela disfarçava, como uma criança que sabe que está fazendo algo errado e foi pega no ato, ela continua doce e frágil perto dos pais. Uma semana passou comigo observando seus passos e movimentos e, pela primeira vez em anos, eu consegui acreditar que a minha amiga ruiva cdf ainda podia ta ali em algum lugar e ela só podia contar comigo pra salvar ela.


            Foi só na segunda semana que estava com ela é que, em um dia normal que ela ficava sentada em sua cama com as portas da varanda abertas deixando que corresse uma brisa refrescante por elas escrevendo em um caderno algo que eu nunca consegui ler, eu tomei coragem de tocar no assunto da tarde do farol. O único problema era: como?


- An... Evans? – Eu comecei levemente depois de fechar, talvez, o terceiro livro da estante dela que eu lia nessa semana.


- Pode me chamar de Lílian, Clarie. – Ela me respondeu sem nem tirar os olhos do caderno que estava escrevendo.


- Eu posso te fazer uma pergunta? – Eu perguntei me levantando um pouco na cama, para conseguir ver sua reação.


- Claro... – Ela respondeu com pouco entusiasmo, ainda escrevendo no tal caderno.


- er... – Eu tava tentando pensar em uma forma sutil de tocar no assunto, mas não tive sucesso, então, preferi ser direta pra começar com o assunto - você gostou de beijar o James? – Eu perguntei com casual indiferença, mas observando pelo canto do olho, sua reação.


            Ela parou de escrever no momento exato da pergunta, ficou corada, mas logo conseguiu se controlar, achando que eu não a estava observando. Ela pigarreou um pouco para tirar algo da garganta que não a permitia falar, talvez a vergonha, e, enfim, falou algo, mas não a resposta que eu queria.


- Quem te disse que eu beijei o Potter? – Ela perguntou como se o que eu tivesse falado fosse a maior mentira do mundo; como ela é uma boa atriz...


- E se eu te falo que eu vi? – Eu perguntei jogando verde pra vê se eu colhia maduro, apesar de eu não ter muitas esperanças com isso, nunca se sabe né...


- Eu te falo que você não pode ter visto nada porque não tinha nada pra ver! – Ela falou encarando o caderno, mas sem escrever nele; eu sabia que essa não ia dar certo...


- E se eu te falar que ele me contou? – Eu perguntei com a sobrancelha arqueada, olhando para ela


- Eu diria que ele é o maior mentiroso – Ela respondeu ainda não me encarando


- Lílian, olha pra mim – Ótimo, agora eu vou ter que apelar – Você pode confiar em mim, eu não vou sair espalhando pela escola, até porque ele não quer que ninguém saiba.


- Nem eu quero... – Ela murmurou, mas acho que logo se arrependeu. Ela se levantou e foi para a varanda, observar o nada


- Me conte o que aconteceu... – Eu murmurei delicadamente


- Pra que? – Ela deu um sorrisinho sarcástico – Ele já te contou tudo...


- Homens não sabem contar bem uma historia... – Eu falei encarando o nada do outro lado do quarto – Me conte o seu lado da história...


- ta bom... – Ela murmurou com um suspiro resignado


- Eu tinha ido pro moinho... – ela começou, ainda encarando o nada na varando com uma leve brisa brincando com seu cabelo e o vestidinho solto que usava


 


~> Flashback Narrado por Lílian <~


            Eu fui para o velho farol, mas sem perceber, como se ele me chamasse. É como se lá outro lado meu toma posse do meu corpo, aquele lado inocente e infantil do terceiro ano que acredita em amor eterno e finais felizes para sempre dos contos de fadas. Eu já estava lá a algum tempo, relembrando o passado... Eu comecei a chorar silenciosamente e, sem que eu percebesse, o Potter se sentou ao meu lado. Eu o encarei, aqueles olhos profundos, e era como se eu visse o James Potter de antigamente, por quem eu tinha me apaixonado.


            Ele me abraçou e eu encostei a cabeça em seu peito para chorar. Fiquei chorando por mais algum tempo até, me sentindo segura em seus braços e com a cabeça afundada em seu peito extremamente definido, eu consegui me acalmar. Eu me sentia protegida com os seus braços ao meu redor, como se nada no mundo pudesse me atingir ali. Quando eu parei de chorar, levantei o rosto procurando por seus olhos novamente e eles estavam ali, me olhando, como se esperassem por mim pacientemente. Foi hipnotizador quando eu comecei a encara-lo, eu não conseguia pensar em mais nada a não ser beija-lo e acho que ele pensava a mesma coisa pois foi se aproximando, daí a gente se beijou. Eu tava nas alturas, mas a parte sã me chamou de volta a Terra e eu percebi, cedo demais, o que tava acontecendo. Na hora me levantei e sai correndo antes que me rendesse de novo, mas não consegui evitar olhar pra trás, me lembrando do que havia acontecido a poucos minutos atrás. Eu corri pra casa e fiquei o resto do dia trancada em casa evitando ter que encarar alguém.


~> Fim do flashback <~


 


- Ele pode ser tudo... – Ela começou submersa em lembranças, passando o dedo levemente pelos lábios – Mas eu sou obrigada a admitir que ele beija bem...


- ai meu Deus! – eu murmurei sentada em minha cama a observando


- O que foi? – Ela perguntou com uma expressão preocupada, se virando pra me encarar


- Você ta apaixonada por ele... – Eu murmurei, com um sorriso radiante nos lábios


- E você ta maluca menina! – Ela falou calma – Acho que dormir no chão ta afetando o seu cérebro


- E o amor que você sentia por ele? – Eu perguntei, com um fio de esperança na voz


- Eu enterrei junto com a chuva daquele dia! – Ela respondeu com firmeza, voltando a olhar pela varanda


- Tem certeza? – Eu deixei a pergunta no ar, sabendo que ela não me responderia, mas com a sobrancelha arqueada.


            Eu fiquei calada, observando o nada de novo. Os dois estavam apaixonados um pelo outro, mas não perceberam. E mesmo que sacassem, nunca iam admitir, eles são supostos inimigos. Mas quando ela estava contando a história, eu pude ver aquele velho brilho nos olhos dela. A Lils que eu conheci ta em algum lugar dentro dela ainda e, custe o que custar, esse ano eu faço ela vir a tona novamente.


            Os dias foram se passando sem que nada de interessante acontecesse. Nós não tocamos mais no assunto do beijo, mas eu sabia que ela pensava mais nisso do que poderia admitir pra mim. Ela passava o dia escrevendo no tal caderno, que eu tenho a leve suspeita de que seja um diário, ou na varando olhando o nada e deixando que o vento brinque com seu cabelo. Acho que essas são as horas que ela mais pensa nele.


            O último dia de férias chegou e já não era sem tempo. O meu único problema é que agora a minha Lils voltaria a ser a Senhorita Lílian Evans; má, sedutora, astuta e ágil. É uma pena que tudo tem que voltar do jeito que era antes das férias... Mas pelo menos, Hogwarts estamos voltando, pra acabar com esse colégio no nosso último ano!

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Espero qe gostem :D
Beijoos 

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