::capítulo cinco::



Capítulo Cinco
Ou
You Had, But Now She’s Going Away


Acho que o grande problema de você mentir é que você acha que está enganando alguém e que vai se safar para sempre. E quando alguém lhe descobre, você não sabe o que lhe falar.


Mas eu era boa naquilo. Mentir era o meu passatempo favorito, quando eu sabia que estava suficientemente segura de que nada seria escapado, porque o pior de mentir é saber que nem tudo vai ser concluído. Se você deixar passar um único detalhezinho, é bem capaz de a mentira não colar. As pessoas mentem todos os dias e, enquanto algumas são ótimas em decifrá-las, existem aquelas que são tão tapadas que nunca a desvendarão. Felizmente, eu estava cercada de pessoas tapadas.


Por isso, eu apenas fugi de casa, naquela noite.


Era aniversário da Emmeline, mas meus pais começaram a manipular algumas regras lá em casa e me proibiram de sair em sai de semana. Ainda que eles estivessem prestes a se separar, eles ainda funcionavam bem juntos. Claro que agora minha mãe ignorava as reclamações do meu pai acerca de tudo, e meu pai fazia um esforço tremendo ao suportar as agressões verbais de minha mãe. Mas eles ainda estavam munidos de armas contra mim.


Na noite anterior, eu tinha berrado com minha mãe e não tinha adiantado.


- Por favor, mãe. É aniversário da Emmy. Você sabe. Eu não posso não aparecer – expliquei.


- Lily, qual parte você não entendeu da frase “Você não vai”? – ela me olhou torto e com uma irritação irredutível.


- A Petúnia está na casa do Doug! Por que ela pode sair e eu não? – confrontei.


Ela suspirou, notando que o meu disco nunca virava.


- Por que ela já está na faculdade – mamãe me respondeu – E você tem que se concentrar no teste da segunda-feira.


- É na segunda-feira, mãe – retruquei. - Hoje ainda é quarta!


- Lily, não me faça perder a paciência.


- Mas isso é injusto! – gritei.


- Não é. É somente uma maneira de controlarmos você.


- Eu não preciso de alguém que me controle!


- Você sabe o que seu pai irá falar se você não for aceita em Reading ou Durham ou Leeds, não sabe? – ela me perguntou.


- Mãe, eu já estudei tudo o que podia!


- Não para quem quer ser Biomédica – ela replicou.


Rolei os olhos e bufei.


- A Emmeline não vai me perdoar. É o aniversário de dezoito anos dela.


- Tenho certeza de que ela irá entender – mamãe comentou baixo.


Então deixei minha mãe na sala e voltei para meu quarto.


Como meu pai estava em seu escritório terminando algumas aulas – e provavelmente adormeceria por lá, em cima da mesa mesmo -, eu sabia que as coisas seriam mais fáceis.


Meu relógio do celular marcava 22:07h. A festa já tinha começado há exatamente uma hora e sete minutos.


James, como eu lhe havia dito para fazer, já estava na festa, juntamente com todo mundo. Ele já tinha me mandado duas mensagens desesperadas, tentando descobrir se eu iria ou não aparecer por lá. Eu apenas respondi:




VOU TENTAR




A verdade é que eu não sabia se iria mesmo conseguir. O cerco estava se fechando em torno de mim, impossibilitando qualquer tipo de mobilidade por minha parte. Meus pais estavam se mostrando extremamente cuidadosos comigo. E até mesmo Petúnia, que nunca tinha ligado para o que eu fazia, estava me vigiando. Ela não parava de repetir para mim que em ano de vestibular ela não fazia nada além de estudar e ela colheu resultados, e que eu deveria fazer o mesmo, ao invés de ficar para cima e para baixo com meus amigos.


Mas, bem, desde quando eu escutava algo que Petúnia falava? Eu só queria que ela me deixasse em paz e me deixasse viver a minha vida feliz – ou quase isso.


Eu peguei meus livros e cadernos e espalhei-os por cima da bancada do meu quarto. Troquei o conjunto de moletom por um pijama velho e desci para a sala mais uma vez.


- Já que você não me deixa fazer nada, vou dormir – falei para minha mãe, minha expressão bem feia.


Ela apenas se contentou em me olhar, analisar meu pijama e dar de ombros.


- Tudo bem – ela respondeu.


Fui para a cozinha, ingeri um copo de suco e parti novamente para meu quarto.


Procurei o papelzinho de “GÊNIO DORMINDO” – um panfleto que tinha adquirido quando fiz a prova de Reading – e o coloquei na maçaneta da porta; logo em seguida tranquei-a. No momento seguinte, eu estava deixando o pijama em cima da cama enquanto o substituía por um vestido preto vintage, um bolero também neutro, meias pretas com desenhos de flores e um sapato alto. Fiz a maquiagem em menos de cinco minutos e me declarei pronta.


Digitei para James:




ADIVINHA QUEM VAI APARECER AÍ EM MENOS DE QUINZE MINUTOS?


 


A grande sorte de eu ter sido sempre a segunda filha preferida era que o meu quarto não era o melhor de todos. Ele não era como o de Petúnia, que tinha vista para frente e banheiro. Ao invés disso, eu tinha ganhado uma sacada e tudo o que eu enxergava era o quintal dos fundos do vizinho. Agarrei a escadinha de corda de debaixo da cama – que eu tinha comprado em um mercado de pulgas junto com o James – e a estiquei para a noite, do outro lado da sacada. Verificando se eu não iria resvalar com meu sapato, segui passo a passo escada abaixo.


Quando meus pés alcançaram a grama fofa, sorri triunfante. Luke, nosso cachorro São Bernardo veio me cheirar e tentar babar em mim. Eu o afastei gentilmente e parti para a ruelinha entre a nossa casa e a do vizinho; ela sempre me salvara muitas vezes.


Andei com cuidado até a esquina iluminada e esperei algum táxi. Aquele horário era ainda muito movimentado, e eu consegui, em menos de dez minutos, um carro.


Quando eu disse ao motorista para onde seguiríamos, recebi a resposta de James:




CARA, FINALMENTE!


 


Assim que o táxi parou em frente ao pub, eu percebi que não poderia mesmo perder aquela festa. Parecia que Emmeline tinha convidado todo mundo da escola.


- Obrigada – agradeci ao motorista e saltei do veículo.


Uau. Se por fora eu achava que Emmeline estava abafando, por dentro não tinha comparação.


O pub tinha sido fechado restritamente para ela e seus convidados, e a decoração de coraçõezinhos dourados estava linda. O bolo de três andares cheio de glacê estava no centro da mesa principal e muitas bebidas alcoólicas eram servidas por entre as mãos de todos.


A música Tik Tok, da Kesha, estava quase me deixando surda, quando avistei Marlene em um vestidinho vermelho tomara-que-caia bebericando uma taça de piña colada. Fiquei aliviada ao ver que Sirius não estava por perto – não que ela fosse se importar, já que estava curtindo a solteirice numa boa.


Sirius tinha mesmo dado o pé na bunda dela, mas Marlene não chorou. No lugar de lágrimas, havia raiva e isso fez com que ela começasse a sair com mais freqüência só para beijar uns caras na frente do ex. Eu tinha considerado sua atitude bem mais madura do que se ela somente reagisse com lágrimas.


- Hey – sorri – Cadê a Emmy?


Marlene me olhou com expectativa – acho que já estava um pouco bêbada – e riu.


- Cara, isso não está de mais? – ela comentou, ignorando minha pergunta.


- Aham – confessei, olhando para os lados – Mas cadê a Emmy?


- Não sei – ela deu de ombros – Você viu o Sirius? Ele estava dando em cima de uma novata! Tipo, novata! – Marlene gargalhou.


Forcei um sorriso.


- Vou procurar Emmeline – avisei – Vê se não bebe muito – aconselhei.


Marlene ergueu sua taça de piña colada, como se estivesse comemorando.


Desviei-me dela e comecei a zanzar pela festa. Eu tinha certeza de que iria encontrar James em algum momento.


Mas ao invés de ver James, vi Sirius. Ele estava de pé, de frente da o balcão de bebidas conversando com uma menina loura. Ergui uma sobrancelha. Pelo visto, ele também não tinha perdido tempo, ainda que dissesse que me queria para sempre.


Nossos olhos se encontraram por um segundo e ele se despediu da menina. Fiquei surpresa. Sirius Black negando uma conversa com uma menina bonita? Bizarro.


Ele caminhou até a mim com o seu melhor sorriso.


- Oi – ele me disse – Achei que você não iria vir.


- Também achei – ri. Pausa – Você viu a Emmy?


- Estava grudada em um lutador de boxe.


- Oi? – gargalhei.


- É sério – ele sorriu - O nome dele era Steve, eu acho.


- Ah – eu desgrudei meus olhos dele e continuei a procurar James pelo recinto. Nada – Sirius – comecei -, será que podemos conversar um pouco? Conversar, tipo, de verdade. À sério.


- Olha, eu só estava conversando com aquela menina, eu juro! – ele se defendeu, antes que eu pronunciasse qualquer palavra.


- Não é sobre isso. Ou melhor, talvez tenha também a ver com isso – eu suspirei – Eu não senti nada, sabe? Nem ciúme, nem inveja quando o vi com aquela menina. E isso só quer dizer uma coisa. Você sabe, não sabe?


- Desculpe, não entendi – ele sorriu, distraído.


- Eu não o amo. E, consequentemente, estar com você é um erro. Agora que você não está mais com Marlene, você pode realmente viver a vida e quero mesmo que você ache uma menina bem legal.


- Lily, o quê? – ele soltou uma risadinha descrente – O que você está me dizendo?


- Estou, bem, “terminado” com você, por falta de palavra melhor – expliquei – De verdade, eu não sou uma pessoa legal. Você não deveria ter se apaixonado por mim, se é que está mesmo.


- Claro que estou, Lily – ele balançou a cabeça, perplexo.


- Eu sei que é um saco amar alguém e não ser correspondido, mas eu não posso fingir que amo você. Desculpe.


- Lily, fala sério. Já tivesse esse tipo de papa milhares de vezes.


- É, mas dessa vez é pra valer. É definitivo – garanti.


- Não faça isso – ele pediu – Não adianta você lutar contra algo que lhe consome.


- Nada me consome – neguei - Bem, não, ao menos, o amor que você acha que sinto por você.


- Lily, não seja idiota – Sirius me disse.


Olhei para o chão, a sacolinha do presente da Emmeline ainda nas mãos, que começavam a querer suar.


- Eu não quero mais isso – sacudi a cabeça - Não quero mais mentir para James, ou para qualquer um.


- Se nós abrirmos o jogo para todo mundo, você vai ficar mais satisfeita? – ele me perguntou.


- Não, eu não quero mais me encontrar com você.


- Isso é ridículo – ele assegurou - Vai negar que não gostou de todas as horas que passamos juntos?


- Não vou negar, porque gostei mesmo – falei – Mas não está certo. Eu nem o amo e isso é injusto com você.


- Eu não estou me sentindo injustiçado – Sirius disse.


- Sirius, não complique.


- Lily – ele repetiu, dando um passo à frente -, você só está com medo.


- Não – contestei.


Sirius mordeu o lábio inferior e avançou mais. Eu não me movi. Olhei ao redor. Ninguém que eu conhecesse muito estava à minha volta.


- Lily... – Sirius sussurrou.


E me beijou.


O meu primeiro instinto foi tentar empurrá-lo para longe de mim, mas ele agarrou minhas mãos fortemente, impedindo-me de refreá-lo.


“Tudo bem, é o último beijo. Talvez ele mereça isso. Além do mais, não tem ninguém por perto”, pensei.


- Sirius! – exclamei, quando ele me soltou, franzindo a testa, aborrecida.


- Você não pode fazer isso comigo, Lily! – ele falou.


- Está feito. Eu sinto muito – disse, olhando para o chão – Agora vou procurar a Emmeline, se você não se importa.


- Eu me import... – ele começou a desdizer, mas eu já tinha saído de sua frente e a batida de Who Owns My Heart me pegou.


Andei mais alguns minutos, completamente ainda sozinha, com o presente de Emmeline nas mãos.


- Hey! – uma voz gritou em meu ouvido.


Virei-me assustada, mas ciente de quem era.


- Oi – falei – A Emmeline gastou uma grana nisso, não?


- Total – James disse – Ainda não se esbarrou com Emmy? – ele me perguntou, apontando para a sacola em minha mão.


- Parece que ela estava se agarrando com um lutador de karatê ou algo assim.


- Boxe – James me corrigiu, rindo.


- É. Vamos beber alguma coisa?


- Claro, mas me diga como conseguiu convencer seus pais de deixá-la sair.


Caminhamos por entre as pessoas e um garçom nos perguntou se não queríamos uma batida de frutas com vodka. Aceitamos.


- Eu não os convenci. Eu fugi.


James arregalou os olhos por um momento e sorriu.


- Uau, gênio do mal – ele exclamou.


Sentamo-nos em uma mesa, e eu coloquei o presente de Emmeline no colo.


- Eles vão mesmo se separar? – ele me perguntou.


- Vão – respondi – Mas isso é bom.


James ficou quieto e tomou um gole da bebida.


- Preparada para o teste na segunda?


- Não. Eu não faço a mínima ideia de como o enfrentarei – falei.


- Podemos estudar os conteúdos que você está mais fraca no fim de semana – ele me prometeu, sorrindo prestativo.


- Fala sério – rolei os olhos – Não vou passar o fim de semana estudando.


- Se você não se esforçar, ao menos um pouco, você não vai conseguir, Lily. Ninguém ganha as coisas de graça na vida.


- Ah, não. Não venha você também com lição de moral para cima de mim! – exclamei.


- Mas é verdade.


- Olha, eu já estou com muitos problemas no momento, okay? Não faça mais pressão.


- Eu já disse o que você tem de fazer, não disse?


- James, eu não posso fazer isso. Isso me comprometeria pelo resto da minha vida!


- Não foi de propósito, Lily. Todo mundo vai entender quando você explicar.


- Não vai! – gritei.


- Cara, você é tão covarde! – James rolou os olhos - Como você pode saber da reação das pessoas se você nem tentou fazer nada?


Comprimi meus lábios, irritada. Não respondi.


- Você é tão criança – ele balançou a cabeça.


Senti-me ofendida.


- Ah, sim, porque sou eu que ainda guardo os bonequinhos de Power Rangers – ironizei.


- Não nesse sentido, Lily.


- Quer saber? – explodi – Vou para casa. Você conseguiu me irritar pela semana! – acusei-o. Passei o presente da Emmeline para as mãos de James e disse: - Entregue à Emmy, quando conseguir.


- Sério? Você vai mesmo embora?


- Vou. Estou indo – sublinhei, irritada.


- Sabe, eu preferia as coisas como eram antes.


- As coisas nunca estiveram no antes – assumi - As coisas apenas seguem em frente.


- Existiu um antes, Lily. E você era bem melhor nele.


- Ah, é? É isso que você acha? Que agora eu sou uma pessoa má?


- Não foi isso que eu disse. Eu só disse que você era melhor.


- Quer saber? Eu cresci. E você também deveria crescer.


- Isso não é um crescimento normal. Ninguém de repente, só porque está crescendo, começa a ser quem não é.


- Eu sei quem sou, dê licença – olhei feio para ele, minha voz teimosa.


- Não, não sabe. A Lily que era minha amiga não esconderia a verdade das pessoas.


- Porque eu estou aterrorizada, James! – gritei, começando a sentir pequenas lágrimas se acumularem em meus olhos.


- Estar aterrorizada não quer dizer que você possa ser uma covarde – ele me disse – Você tem que parar de ser criança, Lily.


Mirei-o com ódio.


Aquele James também não se aparecia mais com o meu melhor amigo.


Eu não acreditava que o James – que aquele cara que já fora tão legal comigo um dia – estava achando que sabia de tudo. Crescêramos juntos, dividimos os mesmos gostos musicais e ele me conhecia bem melhor do que minha irmã. Compartilhamos segredos idiotas e tínhamos jurado que aquele grande segredo nunca seria revelado. Pelo simples fato de que amigos são para sempre e que aquele segredo também seria.


Ele não podia me obrigar a abrir mão do nosso juramento.


Crispei meus lábios, agora mais do que irritada; furiosa.


- Quer parar de achar que vai mandar na minha vida? – comentei, lutando contra as lágrimas.


- Não quero mandar em sua vida. Só estou lhe aconselhando o melhor. E você sabe que é esse o certo a se fazer.


Bufei.


- Eu não posso – disse entre dentes.


Levantei-me rapidamente, olhando para o chão. Tinha alguma coisa em James que me impedia de olhá-lo. Talvez fosse vergonha, ainda que eu estive furiosa.


- Vou para casa – eu disse.


- Muito bem, esquiva-se mais uma vez. Boa, Lily! – James gritou, quando eu dei as costas para ele.


Contraí meu maxilar e funguei. Por que eu deveria me importar? Aquilo era ridículo. Aquilo não seria nada comparado à conseqüência de caso eu abrisse minha boca.


Não lhe atirei resposta alguma, simplesmente segui meu caminho até a porta.


Minha visão estava embaçada e tudo o que enxergava eram as luzes coloridas dos canhões de luz posicionados nos cantos do pub.


James não veio atrás de mim, e isso me fez sentir sozinha.


- Lily! – a voz de Emmy chegou até meus ouvidos – Aonde você está indo?


Virei-me e vi que Emmeline estava dentro de um vestido cor de rosa com apliques e um salto quinze.


- Eu tenho que voltar para casa, Emmy – minha voz estava embargada.


- Por quê? O que aconteceu? – ela perguntou, então se aproximou mais de mim e forçou a vista – Espera, você está chorando?


- Hã? – falei – Não, não é nada. Eu só preciso ir embora. Deixei seu presente com James.


- Você está bem? Tem certeza? – seu olhar ficou desconfiado.


- Tenho, foi só uma coisa com o James.


- Vocês brigaram?


- Não sei. Acho que sim – eu falei, indecisa e confusa – Feliz aniversário, okay? Desculpe por não poder ficar mais. A festa está incrível.


- Está tudo bem – ela sorriu meiga – Vê se fica bem, viu?


- Vou ficar – menti.


Então, sem mais nenhuma palavra, rumei para a porta.


Quando cheguei à calçada, quase derrubei o Sirius, que estava fumando e olhando o tráfego de carros.


- Se estava me procurando, acabou de me achar – ele me disse, me amparando.


- Eu vou embora, não estava procurando por você – falei mal-humorada.


- A festa mal começou – ele me disse com ar incrédulo.


- Não devo satisfações a você – estreitei meus olhos, ainda um pouco turvos.


- Sério, Lily, o que aconteceu? – ele tentou alcançar meus ombros, mas eu me afastei dele.


- Nada – puxei uma mecha de meus cabelos, nervosa – Agora, eu vou indo.


- Quer uma carona?


Olhei para Sirius, surpresa. Sua voz não revelava segundas intenções ou subtextos. Ele parecia realmente a fim de me ajudar.


- Não, obrigada – neguei. A verdade é que eu não queria que ele chegasse perto de mim. Não queria ser agarrada a força de novo.


- Prometo me comportar – ele sorriu torto.


Olhei para os lados.


- Tudo bem, então – dei de ombros, rapidamente.


O carro de Sirius estava estacionado na rua de cima da do pub e assim que entrei nele minhas narinas foram preenchidas pelo perfume amadeirado que Sirius usava.


- Então, o que foi? – ele me perguntou.


Abri a janela e deixei o ar frio de novembro invadir o interior do carro. Minha franja voava para meus olhos, mas não me incomodei.


- Eu briguei com James – confessei, mantendo a voz baixa, porque assim, talvez, Sirius não notasse que ela estava tremida.


- Oh. Por quê?


Fiz um longo silêncio. Eu não queria mentir.


- Não posso contar – falei.


- Ah – Sirius suspirou – Sabe, James tem falado muito em você.


- Tipo, que sou muito criança? – sugeri.


- Não, que você mudou.


- Eu só cresci, assim como todo mundo! – gaguejei.


- Ele acha que você deixou de ser a Lily de sempre – Sirius riu.


Não falei nada. Estava chateada.


- Eu não sei como voltar a ser aquela Lily. Juro que já tentei – falei lamurienta.


- Você não tem que voltar a ser. Eu gosto de você assim.


Sorri pequeno, agradecida.


Percebi que já estávamos chegando em minha casa e pedi que ele me deixasse a uma quadra de distância, já que ninguém sabia que eu tinha saído.


- Obrigada – eu disse – Nos vemos amanhã.


- Lily – ele me chamou, quando eu coloquei a mão no trinco da porta para abri-la e sair para a noite.


- Oi?


- Você não deveria se importar com as opiniões dos outros. Eu sei que James é seu melhor amigo, mas ele não tem o direito de intervir na sua maneira de ser. Temos que viver nossas vidas de acordo com o que queremos, não de acordo com o que os outros acham que é melhor para nós.


Sorri de novo.


- Queria que todo o mundo também pensasse assim – assumi.


- Você sabe que se precisar de ajuda, eu estou aqui, não? – ele me inquiriu.


- Claro. Obrigada. Boa noite.


- Boa noite – ele repetiu.


Eu saí do carro e enfrentei o vento frio. Quando cheguei mais perto de minha casa, notei que havia alguém sentado na varanda da porta.


Gelei.


Ah, não.


Ela me olhou com determinação e sorriu irônica.


Com meu coração batendo forte, avancei até ela.


- Você não deveria estar dormindo? – Petúnia me perguntou.


- Hm – falei – Hã... eu... – senti meu rosto corar.


- É um saco ter uma irmã como você, que não está nem aí para o futuro, mas admito que queria ter metade da coragem que você tem.


Falei calada, apenas contemplando seu rosto perfeito sob a luz.


- Ande logo, antes que eu mude de idéia e a denuncie para a mamãe – ela rolou os olhos verdes, iguais aos meus, com impaciência.


Franzi a testa, surpresa. Minha irmã me acobertando?


- Desculpe não ser uma irmã melhor para você – falei.


Ela deu de ombros, segurando sua xícara de chocolate-quente com delicadeza.


- Não se preocupe, eu gosto de você do jeito que você é – Petúnia me disse – Mesmo você sendo idiota a maior parte do tempo – ela adicionou, rindo, fazendo-me rir junto – Agora, vai logo.


Eu não perdi tempo e corri até o quintal dos fundos; acalmei Luke e subi de novo na escadinha de corda.


Já em meu quarto, suspirei.


Missão cumprida.


Troquei de roupa e deitei na cama, com os fones de ouvido. A Debbie Harry tinha um dom maravilhoso de me acalmar.


A verdade é que eu não precisava dar desculpas por ter mudado. Eu apenas tinha mudado. No começo, eu não sabia se a mudança era boa, mas naquele momento percebi que o James estava sendo um idiota comigo. Ele não podia querer viver de passado, podia?


Eu nunca tinha sido uma menina muito normal. Quando você é amiga de um menino, você se sente diferente, como se estivesse quebrando as regras. Eu gostava de jogar futebol e de escalar árvores, quando criança. Mas aí comecei a deixar de ser um moleque e comecei a apreciar roupas de menina. Mas, ainda que por fora eu estivesse diferente, não podia dizer que por dentro também estava. Eu ainda me sentia com dez anos, uma idiota. Algumas vezes eu gostava de ser a Lily Idiota, mas outras, odiava aquela Lily. Eu queria ser diferente, mas ao mesmo tempo igual. Eu não sabia o que fazer, não sabia o que estava fazendo.


Talvez James tivesse razão. Talvez eu não estivesse amadurecendo certo.


Mentir não era uma forma de amadurecer, mas era aquela estrada que estava seguindo. As mentiras viraram parte de minha rotina e eu não conseguia abrir mão de nenhuma delas. A única coisa desesperadora acerca de mentir, é que um dia todas as mentiras podem ser descobertas. E eu não estava preparada para ser revelada. 





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N/a: oi oi *-* estava com saudades daqui, sério. E eu consegui cumprir com a minha promessa de que escreveria até o capítulo sete antes de vir postar esse aqui, yay! O que estão achando da fic? Comentem, ok? Preciso saber da opinião de vocês, porque senão não tem graça, né?
 Obrigada Samira Espósito, b.coelho e Luna Volturi por comentarem (: Fico feliz que PELO MENOS vocês se importam em me deixar feliz, tri ._. Ok, isso foi gratuito. Comenta quem quiser, claro. Mas sinto falta de mais comentários ): 

Nina H.


29/07/2011

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