::capítulo dois::



Capítulo Dois
Ou Where Did Jesus Go?
He Disappeared


Eu nunca fui o tipo de garota que se desculpa por ser quem era. Não, eu nunca disse: “Opa, a culpa é da minha personalidade. Você pode ficar bravo comigo se quiser”. Eu sempre fui mais do tipo que diz: “Eu não ligo”. E não era mentira, por mais que o mundo pudesse pensar o contrário. Eu realmente não ligava. Eu não sabia onde estava o ponto da linha tênue que separava a mentira da verdade. Eu sempre quis saber onde é que começavam as mentiras. Saber exatamente o que falar quando claramente você não quer dizer coisa alguma. Eu nunca soube onde é que aquele ponto estava, se é que existia. Mas, a julgar pelos últimos meses, eu bem sabia quando é que uma mentira começava. Começava na frase “Eu estou bem”. Todas as minhas mentiras começavam, em algum momento, com essa mentira.


Quando pequena eu odiava que as pessoas mentissem. Eu achava a maior injustiça do mundo. Aquela história de Papai Noel e de Cegonha Feliz. Caramba, será que ninguém conseguia criar uma mentira mais substanciosa? Mas aí eu comecei a enxergar que as pessoas precisavam mentir. Não para apenas iludir as outras pessoas, mas também porque ninguém aceita a verdade. Você não pode dizer à sua esposa que tal vestido a deixa gorda quando ela claramente está feliz nele. Isso estragaria o dia dela. Você não pode dizer que Papai Noel não existe e que quem compra os presentes é, na verdade, você e seu dinheiro nada incomum. Isso acabaria com a magia.


Isso é um fato: as pessoas mentem. Todo mundo mente. E nem foi o Dr. House que tinha me ensinado aquilo. Foi a vida mesmo.


A cada dia eu estava mais perto de descobrir que a verdade era apenas mais um artifício de sobrevivência nesse mundo louco.


E foi há poucos meses que experimentara a primeira mentira. A mentira do “Eu estou bem”. Começou na semana seguinte àquela noite de sábado horrorosa. E foi naquela mesma semana que eu percebi que estava perdendo o mundo que eu tinha conquistado. Ele simplesmente estava escorregando de meus dedos, e eu estava desesperada demais para saber que providência tomar.


Todos à minha volta me perguntavam se eu precisava de algo, se eu queria faltar às aulas para dormir e esquecer o que houvera, mas eu somente respondia “Eu estou bem”. Eu achava que daquela resposta ninguém poderia reclamar. Claro que ela jamais chegou a ser um décimo da verdade, no entanto eu achava que pudesse me habituar com ela e que ela faria as outras pessoas menos preocupadas comigo.


E eu estava certa. Depois de quase dois meses, as pessoas pararam de me perguntar se eu estava bem, e eu parara de mentir. Por alguns dias eu achara que tinha voltado a ser a Lily Verdadeira de sempre, até que percebi que por mais que eu tivesse parado de mentir sobre aquilo, eu ainda estava convivendo com outras mentiras. Com outras farsas.


Ainda que eu não tivesse mais que lidar com aquela mentira, eu tinha que lidar com minhas próprias mudanças.


Eu deixei a banda do colégio, porque sabia que não poderia suportar tanta pressão. Deixei de sair com Emmy, Marlene e Dorcas, porque não conseguia olhar mais Dorcas. Deixei de estar online para meus amigos. Deixei de usar os moletons puídos que não quis doar para o Exército da Salvação. Deixei de conversar com James. Deixei de fingir estar feliz quando estava com James. Deixei de ser a Velha Lily para James. E eu sabia que ele me odiava a cada dia mais por aquilo, por mais que não proferisse uma só palavra. Ele, talvez, também soubesse mentir bem.


E mais do que verdades dolorosas, existia uma coisa que eu odiava mais: a hora do almoço, no colégio.


Não que sempre odiasse àquela hora. Eu deixara de apreciá-la depois da minha segunda mentira.


A mentira que meus namorados eram, de verdade, inexistentes. Tudo bem, aquilo era mesmo verdade. Eu não tinha nenhum namorado. Mas aquilo não significava que eu não passasse algumas noites fora de casa, me divertindo em um quarto que não lembrava exatamente uma casa na árvore, que cheirava a incensos de laranja.


Emmeline e Marlene tinham aula de Saúde & Primeiros Socorros enquanto eu, James, Sirius e Dorcas almoçávamos. Era sempre um terror as terças-feiras. Eu relutava para sair da aula e dar de cara com Sirius e Dorcas. Por um lado eu precisava me esconder – dos dois -, mas por outro eu queria ser aquele tipo de garota que não tinha medo de esconder o rosto, sabe? Mas, é, eu tinha não era o tipo de garota muito corajosa. Porque se fosse, bem... Tudo teria sido mais diferente. Eu nem precisaria ter começado a mentir, primeiramente.


Mas, bem, não sei. Talvez a mentira seja que nem uma droga. Quanto mais você a usa, mais você a quer.


É como uma salvação em um mar de cantos errados e de pessoas irritantes, sabe?


Não que eu gostasse de ser uma mentirosa. Ou que me orgulhasse disso. Claro que não. Mas os drogados têm motivos de sobra para traçarem os caminhos que escolhem, não? Eu também tinha os meus.


Naquela terça-feira, quando o sinal bateu, eu já sabia que deveria largar meu Ipod e meus haicais, porque havia alguém que me esperava recostado no batente da porta dizendo ois para meus colegas. Expirei pelo nariz, demoradamente. Aquilo chegava quase perto de que ter de enfrentar Sirius e Dorcas.


- Você sabe o que dizem às meninas muito magras, não sabe? Que elas deveriam ir para o refeitório comer algo – James me disse, fazendo uma sombra se alastrar pelo meu haicai.


- Se eu não quero comer, talvez você pudesse respeitar essa minha decisão – retruquei, exibindo uma cara feia.


- Morrer de fome não é uma decisão, Lily – James me falou, rindo.


Suspirei de novo. Entre James agindo como se nada estivesse travando nossa amizade e Sirius e Dorcas lá no refeitório, eu bem que poderia ter uma leve falecida mesmo. Talvez morrer de fome não fosse uma decisão muito ruim. Seria sábia se eu pudesse usá-la a meu favor.


Levantei-me e fechei meu caderno. James nunca tinha sido bisbilhoteiro, ele sabia dar espaço a mim, e eu gostava de como ele fazia aquilo. Mas, às vezes, eu achava que talvez ele quisesse ser curioso e mexer nas minhas coisas só para encontrar algumas respostas perdidas para suas constantes perguntas.


Calados, andamos até o refeitório. Eu nunca tinha gostado muito de silêncios, sabe, por isso eu vivia com o meu Ipod quase no último volume, mas eu tinha encontrado um equilíbrio entre o silêncio entre mim e James e minhas canções preferidas.


A primeira pessoa que vi foi Dorcas, que estava na fila das saladas. Ela olhava sem expressão para os tomatinhos-cerejas.


Separando-me de James, fui até ela.


- Ei, Dorcs – dei uma cotovelada nela, que a assustou, e sorri.


- Você comeria hoje se estivesse no meu lugar? – ela me perguntou.


Soprei minha franja de minha visão e ri.


- Não sei – falei com sinceridade – Também não estou a fim de comer.


Dorcas passou pelos legumes e ficou mais uma vez mirando o nada.


- Aconteceu alguma coisa, Dorcas? – perguntei, notando que ela estava bem menos animada do que o resto dos dias. Estava quase como ficou naquelas semanas posteriores àquele sábado de julho.


Dorcas olhou para mim como se estivesse se afogando e quisesse ajuda.


- O Peter voltou – ela me disse, coçando o nariz.


Senti as paredes se fecharem contra mim e senti que estava perdendo o ar.


Não que eu devesse me preocupar com aquilo. Peter nunca soube da verdade. Era verdade que ele ficou tão maluco depois daquele sábado de julho, que seus pais o internaram no Centro Charles Hawkins, mas Peter não era problema nenhum.


Se Peter não seria um empecilho para minha maior mentira, então por que eu estava tendo um ataque silencioso no meio do refeitório?


Os policiais tinham tentado arrancar tudo de nós, e todas as nossas versões batiam, então nada poderia escapar. E nada escapou. Ninguém jamais saberia o que aconteceu. Só se, claro, eu ou James abríssemos nossas bocas, mas tínhamos prometido que nunca faríamos aquilo, pelo bem de nossa amizade.


Então, todas as possibilidades estavam enterradas. E nunca seriam trazidas à tona.


Mas talvez, com Peter de volta, os policiais iriam querer fazer mais perguntas. Isso me assustava.     


Tentei me recuperar respirando mais profundamente. Ajudou um pouco.


- Achei que a mãe dele quisesse que ele passasse o semestre todo na reabilitação – comentei, como não estivesse passando mal.


- Parece que os médicos deram alta para ele. Acho que o caso dele não era o dos mais graves, sabe – Dorcas falou, mas aí deu uma risadinha e continuou: – Bom, claro que ele tentou se matar, mas acho que isso não é um dos maiores problemas por lá.


- Achei que a mãe de Peter quisesse que ele continuasse com a sanidade por mais tempo – falei – Porque, você sabe, assim que ele voltar para o mundo real, ele vai pirar de novo.


- Eu sei – Dorcas disse com a voz levemente entristecida – Eu nem sei como ainda estou operante.


Coloquei minha mão em seu braço.


- Não se culpe. Você está se mantendo bem, assim como ele gostaria que fosse – eu disse, em tom de consolo.


Eu nunca tinha sido muito boa com essa coisa de consolar as pessoas. Minha mãe era boa naquilo. Ela fazia uma panela de brigadeiro, me deixava assistir The OC e Gossip Girl até de madrugada e depois me perguntava sobre os episódios. Conversar com ela me aliviava; ela sempre sabia o que deveria dizer quando alguém estava mal. Por outro lado, o máximo que eu conseguia fazer era dar tapinhas nas cabeças das pessoas e dizer “Vai ficar tudo bem”, mesmo sabendo que estaria mentindo. Mas tudo bem, eu era ótima com mentiras.


Dorcas sorriu fraca para mim. Mantive meu semblante firme, para passar-lhe algum tipo de confiança.


Após me servir de poucas coisas – apenas alguns tipos de saladas -, sentei-me em nossa mesa. Claro que ainda estávamos abatidos, mas quando éramos apenas nós quatro, a solidão se tornava mais forte. Sirius, como sempre, tentava nos entreter, mas quase nada nos fazia revigorar.


- Então, o Peter voltou – balbuciei para James, caso Sirius não tivesse lhe comunicado.


James sacudiu um pouco os cabelos, como se uma mosca irritante estivesse perambulando ao redor dele. Seu rosto estava inexpressível. Uau, ele era ótimo naquilo. Tão ótimo quanto eu mesma.


- Acho que semana que vem estará de volta ao colégio – Sirius acrescentou, dando uma garfada no brócolis.


Mordi meu lábio. Aquilo não deveria ser uma ameaça, então porque eu estava agindo como se fosse?


Peter sabia tanto quanto Dorcas e os outros, ou seja, quase nada. Só sabia que acontecera, não sabia explicar.


- Bem, da última vez em que o vi no Centro CH, ele tinha parado de dizer que a mãe o estava mantendo-o lá por castigo – James disse, sem trocar olhares comigo, o que foi bom – Isso já é bom, certo?


- É, ele passou um mês sem querer que a família o visitasse, não? – Dorcas perguntou, como se aquela informação fosse alarmante e essencial.


- Acho que nem mesmo ele soube o que fez para ir para no CH – Sirius disse, dando de ombros.


- Qual é, todo mundo sabe quando tentamos o suicídio! – Dorcas falou, rindo fracamente – E do jeito como a mãe dele é, foi uma surpresa que ela não quis interná-lo em um hospício.


- Nem sei como ele está mesmo livre de lá – observei, sem humor.


- Peter sempre teve alguns problemas – Sirius disse, como se encerrasse o caso.


- Mas nenhuma das vezes seus problemas englobavam perder o melhor amigo – Dorcas falou, azeda – Ele nunca perdeu ninguém. Nem mesmo um bicho de estimação.


- Mas você já – Sirius rebateu – Então, bom trabalho agüentando as pontas.


Dorcas fechou a cara.


Dei um chute na canela de Sirius e o olhei mortificada.


Dorcas queria ser veterinária e tinha passado a vida inteira se preparando para perdas. Aos cinco anos, seus hamsters morreram de pneumonia. Aos sete, o Muff, o Terra Nova da família fora atropelado por uma caminhão. Aos quinze, Doung, o gato recém comprado fugira e nunca mais aparecera. Dorcas sabia lidar com perdas. Claro que ela tinha derramado muitas lágrimas. Mas nada que algumas semanas não resolvessem. Entretanto, o que acontecera no sábado de julho lhe deixaria marcas para sempre. Como se recompor depois da perda de um namorado?


Mas Dorcas, como as outras perdas, estava tentando seguir em frente. Era por isso que eu gostava de Dorcas: ela não se deixava abater. Lutava até o último segundo. Ela era uma batalhadora.


Pigarreei, tentando dissolver o clima.


Sirius sempre podia estragar tudo, quando queria.


- Você deveria convidá-lo para a festa de aniversário de seu avô – sugeri para James, pensando que seria melhor mesmo incluir Peter de volta aos nossos afazeres.


James nem pestanejou.


- Claro, um pouco de festança sempre é bom – ele me disse.


- Não sei se a mãe dele irá concordar com esse convite – Sirius disse – Ela mal me deixou falar com ele, ontem. Disse a ele que “não deveria voltar a andar com as mesmas pessoas”.


- Espera, ela está proibindo o Peter de voltar a andar conosco? – Dorcas escancarou a boca, mostrando-se perplexa.


- É o que parece – Sirius deu de ombros – Acho que ela nos culpa.


- Mas foi Peter quem quis se matar – Dorcas fechou os punhos – Nós não o encorajamos a nada!


- Ela sabe que sabe disso, mas, sabe como é, Peter é o único filho. Acho que ela acha que ele é um grande santo que foi corrompido pela sociedade.


- Sirius, você nunca foi muito bom para convencer as pessoas – eu disse – Acho que eu devo convidá-lo à festa, assim vai parecer que prezo pela mentalidade de Peter.


- Claro, a Santa Lily! – Sirius ironizou – Quem é que desconfiaria de você?


Apertei os olhos para ele. Eu odiava indiretas, ainda mais vindas de Sirius.


- Combinado – James se virou para mim – Vamos a casa dele depois da aula, sim?


- Claro – concordei.


Logicamente eu não poderia chegar sozinha à casa dos Pettigrew, sendo que a festa em questão nem envolvia ninguém de minha família. E eu achava bom que James estivesse comigo, porque assim ele me ajudaria nos momentos de desgaste.


Por exemplo:


Sra. Pettigrew: E por que Peter deveria sair de casa para voltar a se envolver com os amigos antigos dele?


Eu: Porque... bem, ele é nosso amigo.


James: Veja bem, Sra. Pettigrew. É bom que Peter saia de casa, porque ele passou o verão inteiro preso a um quarto de reabilitação. É bom que ele torne a se entreter com as atividades que ele costumava fazer, como se não tivesse havido uma parada, entende? Isso faz parte do que os médicos chamam de “voltar à rotina”.


Com James por perto, eu sabia que sempre estaria bem e que ele me socorreria.


Agradeci quando o sinal tornou a bater, porque assim eu não precisava mais olhar para Sirius nem para Dorcas. Olhar para Sirius me levava a pensar na minha mentira sobre namorados inexistentes. E olhar para Dorcas me lembrava sábado de julho.


Nenhuma das memórias me fazia exatamente feliz ou íntegra. Me faziam mais parecer uma hipócrita ridícula.


Depois das aulas, eu e James nos preparamos psicologicamente para voltar a rever Peter.


Segundo os mais maldosos, Peter tinha enlouquecido e sido internado na ala de psiquiatria do Saint Mary’s. Para os apenas chegados em boatos, Peter tinha saído do país e continuado seus estudos em um colégio militar.


Mas para nós, Peter tinha tentado o suicídio após saber que seu melhor amigo nunca mais o visitaria e foi internado no Instituto Charles Hawkins.


Peter foi quase obrigado a permanecer naquele lugar por um pouco mais de três meses. Nós raramente o visitamos, porque sua mãe nos tinha proibido de “estabelecer o caos emocional” em seu precioso menino.


- Acha que vai dar certo? – perguntei ansiosa a James, enquanto chutava uma pedra pela calçada.


O bom de morarmos praticamente juntos – em casas vizinhas – era isso: estávamos sempre grudados, independentemente da circunstância. E além de sermos vizinhos, King Williams College era bastante perto de nossa rua. Bastava caminharmos cinco quarteirões e voilà, você se encontrava nas escadarias de nosso colégio. Por isso, eu mais convivia com James do que com qualquer outra pessoa de minha idade.


- Bem, antes arriscarmos do que deixarmos o Peter sozinho – James deu de ombros, olhando-me de soslaio.


- Acha que ele realmente está curado?


James ficou calado por alguns instantes antes de responder.


- Acho que essas coisas não são curadas.


Meu estômago se revirou. Eu sabia que a cicatriz ficaria para sempre, marcando-me sem dó.


- Mas um dia ele vai ficar bom, não vai? – minha insegurança se espalhava através de minhas palavras.


- Lily – ele suspirou, parando de caminhar e olhando para mim com cara de quem está se esforçando muito para não agir grosseiramente -, isso não é problema seu. Não foi você quem causou isso.


Pisquei bobamente.


Minhas entranhas pareciam ter criado garras e me apertavam. Senti-me enjoada.


- Eu poderia ter evitado isso, sabe que sim – falei magoada.


James revirou os olhos. Ele era tão fofo. Mesmo quando eu sabia que ele não estava me suportando ao redor.


- É melhor se recompor, estamos chegando. A menos que queira ser realmente taxada daquilo.


Eu odiava pensar em ser taxada daquilo. Mas ambos sabíamos que nenhum de nós poderia falar a palavra, porque eu começava a chorar. E James era um bom amigo e nunca a falava. Acho que ele sequer pensava nela. E eu ficava muito grata, apesar de achar que merecia total ser chamada daquilo.


- É melhor você falar, porque... sabe como é, você é bom nisso. Em convencer as pessoas – eu falei.


James riu, e meu sangue fluiu mais naturalmente, como se estivesse aliviada.


Já podíamos ver a casa simples, mas grande dos Pettigrew. Ele morava a apenas três quadras após a nossa rua. Sirius e Marlene também moravam naquela rua. Emmeline e Dorcas que moravam mais distantes, no próximo bairro, entretanto em ruas diferentes.


Nossa relação era muito antiga. James era melhor amigo de Sirius, que conhecia Emmeline e Dorcas das aulas de Educação Física. Marlene foi agregada ao nosso grupo depois que começou a namorar Sirius.


Apesar de tudo, eu e Sirius nunca fomos muito chegados. Ele era uma espécie de pegador-nato da escola e todo mundo sabia que eu odiava aquele tipo de menino. E eu sabia que mesmo Sirius namorando Marlene ia atrás de outras meninas. Era como se ele nunca pudesse ficar preso por muito tempo. Ainda que ele me garantisse que amava Marlene mais do que as outras, eu não conseguia aceitar.


Só fui entender o que ele sentia quando ficamos presos no elevador de seu prédio. Naquela tarde, ele me beijou, e, apesar de eu ainda não apreciá-lo tanto, eu me senti balançada. Afinal, ele tinha tomado algum tipo de iniciativa. Só que a partir daquele momento eu me vi em uma encruzilhada. Havia o amor por um lado, mas havia a Marlene. Ela era uma das meninas mais próximas a mim, não podia magoá-la. Várias vezes cogitei contar para ela que seu namorado transava comigo de vez em quando, mas a coragem sempre ia embora quando a via. Eu sabia que desmancharia um amor verdadeiro ali. Pelo menos por parte de Lene. Ela era indubitavelmente apaixonada por Sirius.


Já Sirius, bem... se ele estava também comigo, queria dizer que ou ele era muito burro ou não ligava tanto assim para Marlene. Eu achava que as duas opções lhe serviam muito bem.


Soei a campainha. Esperamos silenciosos. Eu tinha medo de que a mãe do Peter soubesse de alguma coisa. Que olhasse para mim e soubesse do que eu fizera em julho.


Mas não foi a Sra. Pettigrew quem atendeu a porta. Foi o próprio Peter.


Ele trajava um moletom da Gap, calças jeans surradas e chinelos. Parecia ter adormecido no sofá ou algo assim, a julgar pelos cabelos bagunçados.


- Hey! – ele nos sorriu imediatamente.


- Oi, Pete – James disse, apertando a mão de Peter.


Eu analisei-o bem antes de ficar nas pontas dos pés e abraçá-lo. Ele cheirava a cigarro.


- Se vieram ver como estou, podem apostar que ainda estou bastante vivo – Peter gracejou, cruzando os braços e fazendo uma careta.


James riu, mas eu não me atrevi nem mesmo a sorrir. Aquela frase estava mais para humor negro do que apenas um comentário sarcástico.


- Como está se sentindo? – minha expressão denunciou todo o meu desespero, e Peter riu.


- Bem – ele me disse – Como sempre, eu acho.


- Tem certeza? – retruquei.


- Lily, eu não sou um psicossocial, eu apenas sou depressivo – Peter rebateu, mostrando humorado.


- Depressão é uma doença – James observou.


- Tudo o que tenho de fazer é não esquecer tomar os anti-depressivos e os ansiolíticos – Peter deu de ombros.


- Além do mais, a única pessoa que posso afetar é a mim mesmo – Peter continuou, porque ele sabia que não tinha me convencido.


- Mas... está tudo bem, não? – minha voz estava insegura de novo.


- Bem, passado é passado – Peter resumiu, sorrindo fraco.


James me deu um apertãozinho no meu braço, como se quisesse se certificar que eu não desmaiaria ou algo assim.


Em seguida, estalou os dedos da mão esquerda (porque os da direita seguravam os meus, acho que para me dar forças) e apontou para Peter.


- Então isso quer dizer que você pode se divertir agora! – exclamou.


Peter fez uma expressão esquiva.


- Não sei se isso estava na lista preparatória do Dr. Flowers – ele nos contou.


- Relaxa, não é nada demais – James logo disse – Só queremos que vá à festa de meu avô hoje à noite. Vai ter refrigerante e suco de morango, essas coisas.


- Cara, o seu avô já está fazendo aniversário de novo? – Peter riu.


- É, comemoramos aniversários anualmente, sabe como é – James disse.


Eu não parava de encarar Peter. Por um lado parecia que ele tinha voltado o mesmo Peter de sempre do Centro CH, mas suas olheiras e seu visível cansaço me diziam que tinha ainda alguma coisa errada nele.


Peter riu e rolou os olhos. Seus olhos cor de âmbar estavam sem brilho.


- Você vai, não vai? – inquiri, sentindo um pouco de raiva. Eu tinha bastante certeza de que Peter acataria as reclamações da mãe. Acho que quando você é filho único acha que seus pais estão sempre querendo o seu bem, mesmo quando a intenção é a pior possível.


- Não sei se estou propriamente pronto para agir como se tudo estivesse cem por cento bem – ele disse.


- Mas você acabou de dizer que passado é passado! – James retrucou, franzindo as sobrancelhas.


- Existe uma grande diferente entre perdoar e esquecer, James – Peter olhou por um segundo para dentro da casa e fez um aceno discreto. Rapidamente a Sra. Pettigrew apareceu por trás de filho, os cabelos presos em um coque quase desfeito e a boca retraída.


- Olá, James, olá, Lily – a mãe de Peter nos cumprimentou com um ar de desafio.


- Olá, Sra. Pettigrew – respondemos juntos eu e James.


Mas enquanto James estava calmo, eu estava apenas sentindo raiva daquela mulher.


Sra. Pettigrew olhou para o filho com determinação e disse:


- Peter, você deveria estar descansando – seu tom sugeria cansaço.


- Eu estou me sentindo bem, mãe – ele reclamou.


Ela voltou a contrair os lábios, provavelmente com raiva.


- Bem, acho melhor você entrar, Pete – ela comentou, pousando uma das mãos no ombro do filho, tentando, logicamente, parecer persuasiva.


Antes que ela conseguisse nos dizer qualquer frase do tipo “Acho melhor vocês irem embora” ou “Entre agora mesmo, Peter!” e antes que eu explodisse de alguma maneira em sua frente, James pigarreou, sorriu e falou:


- Meu avô faz anos hoje – ele lambeu os lábios enquanto a Sra. Pettigrew mostrava-se impassível – Tudo bem se Peter aparecer lá em casa?


A mãe de Peter suspirou, como se tivesse repetido a mesma frase por mais de dez vezes e agora estivesse cansada demais.


- Não tenho certeza – ela nos disse, sem sorrir ou pestanejar – Peter voltou muito cansado do Centro.


Peter rolou os olhos, mas sua mãe não viu.


- Mãe, eu voltei no sábado de lá. Acho que já descansei bastante – ele disse


- Não o suficiente! – Sra. Pettigrew exclamou, olhando para a nuca do filho com desespero – O Dr. Flowers disse que você não deveria se esforçar demais!


- É só uma festa idosa, Sra. Pettigrew – James riu – Garanto que não haverá bebidas alcoólicas.


- Conversamos sobre isso mais tarde, Peter – ela puxou o braço esquerdo do filho, como se estivesse puxando-o para dentro de casa, mas Peter não se mexeu.


Por mais que ele não tivesse arredado pé, suspirou como se estivesse perdido uma fase de um videogame.


- Eu vou, mãe. Você não pode me impedir de voltar a conviver com meus amigos – ele disse com uma expressão aborrecida.


- Não estou lhe impedindo de nada! Só não acho que é a hora mais apropriada para você esquecer-se das recomendações do Dr. Flowers – teimou a Sra. Pettigrew.


- Bem, caso realmente queira ir, a festa começa às oito – James disse, sorrindo para Peter.


- Estarei lá – Peter garantiu, fazendo sinal de positivo com a mão esquerda.


- Peter! – sua mãe exclamou – Nós não conversamos sobre isso ainda! Você não pode passar por cima dos meus conselhos!


Peter agiu como se não tivesse ouvido a mãe e disse:


- Vemo-nos mais tarde, galera – piscou para nós e fechou a porta.


- Quem você acha que é, Peter? – ouvimos Sra. Pettigrew gritar - Eu ainda continuo sendo a sua mãe! Eu só me preocupo com o seu bem-estar! Eu não quero vê-lo novamente no Centro CH! – ela parecia extremamente zangada.


- Mãe, por favor, não volte a complicar a minha vida, certo? – Peter retrucou com um tom cansado.


Ouvimos passos e eu tive certeza de que Peter voltara a se deitar no sofá. Eu e James nos entreolhamos.


- Bem, não acho que foi uma perda de tempo, ao menos – James comentou, dando de ombros.


- Acha que ele irá mesmo aparecer? – perguntei.


- Qualquer coisa ele foge, como fazia nos velhos tempos – James riu, envolvendo meus ombros com delicadeza. Pulamos os degraus e estávamos mais uma vez na calçada.


- Ele não parece bem – observei.


- Que nada. Acho que ele está quase como sempre.


Meus lábios se comprimiram com raiva de James. Eu odiava quando ele tentava me fazer ficar bem com pequenas mentiras.


Suspirei e tentei não voltar ao assunto.


- Vai ajudar a sua avó com os preparativos da festa? – perguntei com emoção.


- Não preciso – ele negou – Ela só vai fazer um bolo, porque meu avô não quer nada mais. Eu sugeri que deveríamos fazer alguma decoração temática, mas ele disse que se eu fizesse algo assim ele me atiraria na privada – ele terminou rindo.


Eu sorri, sem humor.


Ficamos calados até chegarmos em frente à minha casa. Virei-me para ele.


- Vemo-nos à noite - eu disse, acenando.


- Não deixe essas coisas lhe deixarem mal, okay? – ele sugeriu.


- Não se preocupe – sorri fingida.


Observei-o andar até a casa ao lado e entrar.


Resolvi que nada adiantaria eu ficar no meio do jardim quando eu deveria me trancar no quarto e me convencer de que nada daquilo era minha culpa. Não tinha sido eu que fizera Peter tentar se matar. Não era eu que guardava um segredo monstruoso. Eu só era uma menina complicada demais passando por fases altamente odiosas.


Mas eu mal entrei em casa e soube que nunca teria paz.


- Ela tem que ir para algum lugar, Jane! – meu pai disse.


- Ela vai – minha mãe garantiu – Ela só ainda não se decidiu. Ela está com medo.


- Ora, medo! – papai gargalhou – Nenhuma menina de quase dezoito anos tem medo de ser aceita em alguma faculdade!


- Ela está confusa! – minha mãe bateu em algum móvel com as mãos - Não a pressione, okay? Eu sei que ela vai saber decidir direito!


Caminhei até a cozinha com meu estômago doendo.


Petúnia estava bebericando um copo de leite puro.


Ela me viu e não disse nada. Ficamos em silêncio por alguns minutos.


- Você não deveria estar na faculdade? – indaguei sem interesse.


Ela bateu as pestanas encharcadas de rímel azul e coloridas de sombra azul céu. Ela descansou o copo na mesa.


- É dia de semanário. As aulas só ocorrem pela manhã – ela me comunicou.


Meus pais não tinham terminado de discutir. Agora minha mãe xingava meu pai de ser muito certinho e que assim ele não me dava espaço para ser eu mesma.


- Eles estão brigando de novo? – fiz uma careta para Petúnia, que continuava a sustentar o meu olhar como se eu fosse meramente um bicho encontrado no jardim.


- Adivinha por que – ela rolou os olhos raivosos e depois direcionou-os a mim.


Concentrei-me em arrancar uma pelezinha da unha.


- Sério, qual é o problema com você? – Petúnia perguntou sem estar sendo comedida.


Olhei para ela tentando passar uma imagem de inocente.


Eu não respondi.


- Você é toda esquisita. Você não é a melhor aluna do colégio, não se esforça para tirar boas notas e parece que não está nem aí para a universidade. Assim, Lily, você não vai ter nenhum futuro – ela me disse.


Eu fiquei com raiva, mas não demonstrei.


Fiz meus olhos se recaírem nos ladrilhos pretos e brancos da cozinha. Nossa casa era bastante velha. Era da década de sessenta, e meus pais a tinham comprado quando eu completei dois anos de idade e não tiveram coragem de mudar os ladrilhos da cozinha, porque eles davam um ar de antiguidade a casa. Eu gostava daquilo.


- Eu estou cuidando disso, falou? – retruquei.


- Ah é? Como? Se relacionando com um monte de garotos e garotas que não estão nem aí para nada? – ela continuou.


- Isso é mentira, tá legal? – eu tive vontade de berrar – O único que realmente não está nem aí para nada é o Sirius.


- E mesmo assim você parece gostar de passar muito tempo com ele – ela completou com uma risadinha.


Senti-me mais enjoada ainda. O quê? De que Petúnia falava? Será que ela tinha descoberto algo? Mas não era possível; eu era muito cuidadosa.


- A que está se referindo? – minha voz saiu muito baixa e com muito medo.


Petúnia fez cara de sabe-tudo. Eu odiava quando ela fazia aquela cara. Já era ruim demais ela ser mesmo uma sabe-tudo. Eu não precisava vê-la fazer aquela cara.


- Eu vi vocês se beijando na semana passada na piscina – ela revelou.


Comecei a tremer. De raiva e de medo.


Inspirei muito fundo, tentando não perder o controlo por completo.


Aquela tarde na piscina eu não sabia que tinha alguém em casa. James e os avós tinham ido visitar Sr. Potter na cadeia e meus pais estavam trabalhando. E eu tinha passado no quarto da Petúnia para me certificar se ela estava em casa. E ela não estava. Eu não a tinha visto. Aí me lembrei que ela poderia estar no sótão costurando. Eu não tinha ido lá procurá-la. Droga.


- Então? Não vai nem desmentir? – Petúnia me perguntou com uma voz de asco. Rolou os olhos e tornou a sorver mais um gole de leite – Caramba, você é mais idiota do que eu imaginava.


- Olha aqui! – exclamei – Eu beijo quem eu quiser, certo?


- Sirius não tem namorada? – suas sobrancelhas perfeitamente bem torneadas se arquearam.


Corei. Por que eu tinha que ter uma irmã tão imbecil? Por que só uma vez na vida ela não poderia agir como a irmã mais velha preocupada com a mais nova?


- Eu não devo satisfações a você! – empinei meu nariz com arrogância e virei as costas para ela.


Eu mal dei três passos e meus pais, com expressões completamente ensandecidas, pisaram na cozinha.


- Você recebeu a carta de Keele e de Warwick – meu pai me disse de supetão, sem mesmo esperar eu lhe dizer um oi – Você foi negada nas duas, Lily – ele me olhava com raiva.


- Bem, ainda não recebi a de Durham nem a de Leeds nem a de Reading – respondi.


- Lily, se você não começar a se preocupar com essas coisas, eu não quero nem ver o que vai ser de você – ele me assegurou.


Senti-me ultrajada, sabe. Quero dizer, tudo bem, eu não era mesmo uma das melhores alunas da King Williams, mas eu não era, tipo, a pior aluna. Eu não era boa em Matemática, mas era ótima em Biologia. Mas isso ninguém via, claro que não.


E tudo bem, eu já tinha sido rejeitada por quase todas as minhas opções de universidade, e daí? Ainda me restavam três. Não era possível que eu seria rejeitada nessas também. Sério, a Mia Thermopolis é que teve sorte por nascer princesa. E tudo bem, a minha irmã não se parecia com uma princesa - por fora, sim, mas por dentro nem pensar! – e tinha sido aceita em todas as suas opções. Ela só teve que se decidir qual era a sua prioridade no momento. E ela escolheu a Universidade de Brunel, localizada em Londres mesmo, mas só porque ela era tão mimada que eu tinha certeza de que não conseguiria viver longe dos mimos dos meus pais.


Eu é que não queria ficar perto de meus pais. Já era um saco ter que dar satisfações da minha vida para eles, imagine se eles começassem a me perguntar sobre a universidade. Eu iria arrancar meus cabelos.


Acho que Petúnia gostava de toda aquela atenção por ser a irmã perfeita e exemplar.


- Eu vou conseguir, sério – falei mau-humorada.


- Claro que vai, meu bem – minha mãe sorriu para mim, mas logo que meu pai lhe lançou uma olhar de advertência, ela o fez esmorecer.


- É melhor você torcer para não ser uma qualquer no mundo – meu pai me avisou.


- Senão o quê? Vai me deserdar? – eu ri, completamente furiosa.


Ele só me olhou com muita raiva e depois disse:


- É melhor você ir para o seu quarto.


E foi o que fiz. Fui para o quarto. Passei o restante da tarde ouvindo música, escutando meus pais brigarem e minha irmã reclamar que os novos tecidos ainda não tinham chegado.


Petúnia queria ser estilista. Desde quando ela brincava de Barbie aos, tipo, cinco anos, dizia que queria seguir essa profissão. Eu achava que ela também iria se dar bem como modelo, porque ela tinha aquele tipo de rostinho completamente invejável. Mas ela dizia que ser modelo era ridículo e que não queria ser um produto manufaturado do mundo.


Já eu, por outro lado, queria ser biomédica. Eu achava que poderia ser legal tentar achar curas para doenças. Quando criança, enquanto minha irmã brincava de Barbie, eu brincava de ser médica. Eu gostava de ter um jaleco puído e um estetoscópio – sempre roubado de minha mãe – nas mãos.


E eu bem sabia que eu deveria ter notas excelentes em todas as universidades para fazer meu sonho se concretizar, não pense você que não. Mas como qualquer adolescente eu tinha muitas dificuldades.


O James já tinha sido aceito na Universidade de Leicester e na Universidade Liverpool. Ainda estava esperando a carta de Oxford e a de Reading.


Eu achava que ele iria ignorar tudo e escolher a de Liverpool, porque ele tinha uma séria obsessão com Paul McCartney e todo mundo sabe que o Paul nasceu em Liverpool.


Mas James estava ponderando.


Eu achava aquilo legal, principalmente porque os avós dele não estavam loucos atrás dele querendo saber em qualquer Universidade ele entraria.


Perto das seis e meia, eu tive de começar a gritar com Petúnia para usar o banheiro da casa. Ela tinha o melhor quarto da casa. Ela tinha ganhado o quarto de casal, porque meus pais achavam que ela merecia, depois que entrara na universidade. Eu achei aquilo a coisa mais injusta do mundo. Mas, por mais que ela tivesse um banheiro em seu quarto, a água quente não chegava até ele há dias e não dava para tomar banho lá quase nunca, nem mesmo no verão.


Então, eu, meu pai, minha mãe e Petúnia dividíamos o único banheiro da casa, que ficava no corredor. E era um saco, porque Petúnia sempre se enfiava lá por horas e sempre que eu também precisava usá-lo. Naquela tarde sua desculpa para poder usá-lo antes de mim era que iria se encontrar com Doug, seu namorado há dois anos, que tinha conhecido no primeiro dia de aulas da universidade.


Eu fiquei lá plantada na porta do banheiro esperando-a sair com o cabelo pingando e com a toalha branca enrolada em seu corpo esguio.


- Por que essa pressa? Vai se encontrar com Sirius? – ela riu maldosa, assim que passou por mim.


- Não – neguei -, é aniversário do avô do James – respondi sem paciência, me adentrando, finalmente, no banheiro.


- E você vai fazer o quê? Se trancar no quarto do James para dar uns amassos no Sirius? – ela me devolveu.


- Petúnia – eu inspirei com muita calma -, cale a boca – mandei, fechando a porta.


Ouvi-a rir satisfeita do outro lado da parede.


Meia hora antes do início da festa do avô de James, eu estava pronta. Trajava um vestidinho curto xadrez, marrom e branco, um bolero de lã rosa-bebê com mangas, sapatilhas pretas e uma meia que ia até minhas coxas, marrom escura. Minha irmã passou por mim e disse que eu estava parecendo a Taylor Swift, se ela fosse tão vagabunda.


Eu só a ignorei e saí pisando forte para fora da casa, em direção aos jardins.


James estava sentado nas escadas da casa com seu violão no colo tocando Yesterday, dos Beatles.


Ele me olhou, sorriu, mas não disse nada, apenas continuou a tocar. Resolvi me juntar a ele nos degraus.


- Já decidiu a sua universidade? – perguntei.


James não parou de tocar e quis saber:


- Já recebeu a carta de Reading?


Neguei, balançando a cabeça.


- Por que se importa com Reading, quando já foi aceito por Liverpool? – questionei franzindo as sobrancelhas. James era esquisito tanto quanto eu.


- Já pensou se nós formos para a mesma universidade? – ele riu.


Eu também ri. Se aquilo se concretizasse seria um caos. Eu e James seríamos a dupla mais retardada da universidade, com certeza, mesmo que não estivéssemos a fim do mesmo curso.


Ele queria ser biólogo. Ele adorava ir para praia e caçar peixes e escrever sobre eles, como se fosse um biólogo de verdade. Eu achava aquilo tão bonitinho, sabe.


- Jesus! – exclamei em resposta - Mas Liverpool é o seu sonho – falei.


- Sei lá, a gente cresce e nossas prioridades mudam, sabe? – ele me disse.


- Entendo – daí eu fiquei quieta por um tempo e comecei outro assunto: - Muita gente já chegou?


- Só amigos dos meus avôs. Ninguém do nosso grupo ainda.


Encostei-me nele e perguntei: - Será que Peter vai aparecer?


- Não sei – James respondeu.


Quando ele deixou o violão, suspirou e eu me agarrei ao seu braço, absorvendo o cheiro de suas roupas recém-lavadas e de seu perfume amadeirado. Estar ali era uma alívio. James sempre conseguia me fazer ficar um pouco melhor.


Alguém pigarreou e nós levantamos os olhos nas pedras do jardim da casa dos avós de James.


Sirius estava parado a alguns passos de nós com as mãos nos bolsos e com uma expressão sem humor.


Eu fugi dos olhos dele e me concentrei em aspirar os perfumes de James.     


Mordi meu lábio inferior, desconcertada.


- Peter vem? – ele nos indagou.


- Nós o convidamos, mas acho que ele não vai vir – James disse.


Sirius balançou os cabelos, riu e soltou:


- Aquele covarde.


Fiquei com raiva. Quem era Sirius para julgar alguém?


- Cale a boca, Sirius – adverti.


Ele me olhou surpreso, depois com ódio.


Fiz meus olhos ondularem para longe dos dele e permaneci quieta.


- E ele não é? – Sirius me confrontou.


- Ele não está passando por uma fase muito boa, e você sabe disso! – retruquei.


- Bem, ninguém o mandou tentar se matar por causa de uma morte trágica – Sirius respondeu.


Droga. Ele iria me fazer lembrar-se de sábado de Julho.


Meu maxilar travou e me virei para James:


- Vou ver se sua avó precisa de alguma ajuda.


James olhou de mim para Sirius e completou:


- Vou com você.


Antes de entrarmos na casa, vi Sirius lançar um olhar de escárnio para mim.


Eu não me importei.


A festa foi um bem mais normal do que o esperado. Eu dancei com James Time After Time, da Cindy Lauper, e comi dois pedaços de bolo. Sirius ficou com aquela cara de quem comeu e não gostou e toda hora tentava se achegar em mim, mas eu o repelia e dizia: “Eu não sou sua namorada”. E no final, eu me senti bem ao constatar que Peter não compareceu à festa. Se ele não estivesse ali, eu bem sabia, eu iria me divertir bem mais, porque sempre que eu olhava para ele, eu me recordaria de sábado de Julho. 





:::

N/a: hey hey, my friends *-* Já fazia uns dias que metade do capítulo estava pronto, mas eu simplesmente não conseguia terminá-lo DD: Mas hoje eu aproveitei e escrevi o que faltava /o/ Então, espero que tenham aproveitado o capítulo e que estejam aproveitando a fic. Eu sei que é uma porcaria ficar esperando por comentários, mas eu sou esse tipo de pessoa. Um mero cometário pode me deixar feliz pelo resto do dia, sério. Então, se você lê a minha fic e não comenta porque, sei lá, tem vergonha, escreva alguma coisa. Pode ser um mero "gostei". Sério, comentários são muito importantes. Parece ridículo eu falar sobre isso, mas para mim não é, porque sem comentários eu não tenho inspiração e não sei se as pessoas estão mesmo curtindo a fic. E obrigada aos que comentam, vocês são uns amores :D 
ps: obrigada, Di pela capa nova! Não sei, eu não tinha gostado da outra. Não gostei da menina que "faz" a Lily. E eu totalmente prefiro a Hayley Williams, é. 

Nina H.


10/06/2011

Compartilhe!

anúncio

Comentários (2)

  • Caroline Black Malfoy

    omfg, Eu estou super curiosa para saber o que aconteceu no sábado de julho, tem alguma coisa a ver com o namorado da Dorcas que morreu?  Minha curiosidade me mata -.- Estou adorando, bjus ;*

    2011-06-15
  • hell yeah

    ok, esta sou eu super curiosa para saber o que é que aconteceu naquele sábado de julho. é tipo "eu sei o que vocês fizeram no verão passado" né? A-D-O-R-E-I, apesar de estar extremamente curiosa. e argh, shut the fuck up petúnia. esperando anciosamente o próximo capítulo! xoxo

    2011-06-13
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.