V



Não foi de se assustar que a Grifinória acabou levando a Taça de Quadribol naquele ano... De novo. Tiago poderia ser o que quisesse, mas era um ótimo apanhador. Mal tinha começado o jogo e eu comecei a escutar berros como: "Potter pegou o pomo!", ou: "Tiago já pegou! A Grifinória venceu!"
Me conte uma novidade, eu quis falar, mas estava ocupada demais batendo palmas – involuntárias – e comemorando a vitória.
Murta teria um encontro naquela noite.
Quando cheguei ao meu quarto, deitei na cama escutando os gritos de felicidade vindos do andar de baixo. Os grifinórios eram conhecidos pelas melhores festas e honravam aquele título, ainda mais quando a palavra Quadribol estava envolvida. Naquele momento Tiago deveria estar comemorando mais do que qualquer outro, tomando a sua cerveja amanteigada e cantando o hino da casa com todos os outros.
E então me perguntei: porque sempre quando estava em um momento de silêncio, ou até mesmo quando estava rodeada de pessoas, o Potter estava em meus pensamentos de forma desagradável?
Antes, até o quinto ano, era com uma freqüência normal, mas no começo do sexto ano, Tiago estava constantemente me atrasando fora dos limites do colégio, em meu pensamento... E o que ele queria de mim além de um encontro?
E porque eu estava pensando outra vez em Tiago, sendo que tinha mais coisas para fazer?


Eu posso ser seu dia ensolarado, o único que deixa seus problemas bem longe. Você é minha única e quando estiver se sentindo sozinha eu posso secar as lágrimas do seu rosto.


Eu tinha que terminar o pergaminho de Transfiguração para a semana seguinte o quanto antes e estava deitada na cama, pensando no que não deveria. E não era apenas pelo fato dele ser Tiago Potter que deveria se ver no direito de habitar a minha mente.
Que ele fosse para outro lugar... Qualquer outro lugar.
O cheiro adocicado de primavera tomou conta do meu corpo e imediatamente voltei a pensar nele. Ele não poderia estar no meu quarto, graças ao feitiço anti-garotos, então por que Diabos o cheiro dele estava ali?
Me levantei da cama, observando através do dossel para ter certeza absoluta de que ele não se encontrava ali e confirmei que estava sozinha. Ao me deitar outra vez olhei para o lado, vendo a flor branca boiando no aquário, com as pétalas abertas e alguns pequenos pontos brilhantes rodeando-a. Sentei para pegar o aquário e colocá-lo no meio das minhas pernas cruzadas, tocando uma das pétalas e notando que a quantidade de brilhinhos aumentava.
O cheiro de primavera vinha dali.
A flor cativada por Tiago.
minha flor.
Tiago estava me deixando louca e porque em Hogwarts não ensinavam um feitiço que seria de extremo uso, como, por exemplo, esquecer de alguém pelo menos por alguns minutos? Eu adoraria esse feitiço, mas não tanto quanto estava adorando o cheiro daquela flor.


Tudo é tudo e você é tudo pra mim, e tudo está esperando ali na esquina, e o mundo está esperando debaixo das cobertas, fique comigo.


— Tiago! — me vi gritando entre tantas outras garotas que o afogavam em carinhos e sorrisos. Rangi os dentes, pegando qualquer parte do corpo dele, que mais tarde descobri ser uma orelha, e puxando com força até onde eu me encontrava. — Potter! — bufei, vendo que o sorriso dele aumentava a me ver ali, sendo que eu nunca comemorava as vitórias de Quadribol.
— Veio dar parabéns para o seu campeão Lils? — ele perguntou sorridente e eu comecei a achar que tudo o que eu estava para fazer ali era a maior loucura de minha vida.
— Não. — tentei sorrir mas a vergonha não deixou. — Sim.
— Sim ou não? — ele pareceu achar engraçada aquela situação e eu olhei para os lados, vendo que todo mundo estava entretido demais em qualquer coisa para notar o que eu estava prestes a falar.
— Não, não vim dar os parabéns. — sussurrei. — E sim, eu aceito sair com você.


Tiago não fez nada. Nada. Ficou parado como uma estátua, me encarando, sem mover um músculo ou piscar um olho sequer. Fico ali, com as sobrancelhas franzidas e a boca meio aberta, como se para pronunciar alguma palavra, mas não falando nada. Comecei a bater um pé impaciente, odiando todo aquele silêncio vindo dele e prestes a virar as costas para voltar ao meu quarto, para me enterrar mais uma vez nas cobertas depois de atirar aquela flor idiota pela janela. Porém, antes que eu o fizesse o planejado, uma mão dele segurou forte uma das minhas e começou a me guiar para o sofá onde Sirius estava sentado, sem dar explicações.


Vamos falar sobre bom, bom amor tão difícil de achar, é uma boa, boa coisa que eu tenho comigo, você é tudo pra mim. Vamos falar sobre bom, bom amor você está tendo suficiente? É uma boa, boa coisa que você é tudo isso, você é tudo que eu preciso.


— Sirius, me passa?
— Passar o que? — perguntei, mas eles me ignoraram e Sirius, sem perguntar nada, entregou uma capa preta para Tiago. — O que é isso, Potter?
— Qualquer coisa você me dá cobertura. — foi à última coisa que Tiago disse antes de me puxar para fora do salão comunal, jogando a capa por cima de minha cabeça e aproximando o seu corpo do meu em uma distância nula.
— Onde estamos indo? — eu estava frustrada por não entender nada, mas escutei o sorriso dele e estremeci de leve.
— Para o nosso encontro. — ele respondeu. — Não posso correr o risco de você mudar de idéia, e para tudo tem uma primeira vez, não uma segunda...
— Você está louco? — agarrei o braço dele, olhando para os lados ainda sem entender nada. — Que capa maldita é essa? Se formos pegos, seremos expulsos! Você não mede as conseqüências? Quando disse que aceitava sair com você, pensei que você me levaria para tomar uma cerveja amanteigada e...
— Lils, você fala demais quando deveria ficar quieta! — um dedo dele parou sobre a minha boca e eu bufei. — A gata do Filch anda solta pelos corredores de noite, se esqueceu?
— Se nós não estivéssemos no corredor por uma loucura sua, a gata do Filch não teria quem achar, e nós não correríamos o risco de sermos expulsos, não é mesmo? — minha voz saiu como um pio e me encurvei, para segurar ainda mais forte o braço dele. — E o que é esse pano?
— Capa de invisibilidade. — ele sorriu. — Quando nosso filho nascer, eu darei de presente para ele quando receber uma carta de convocação de Hogwarts. Essa capa é ótima para entrar em salas proibidas e aprontar confusão!


Posso sentir você vindo pra mim, penso em você todo dia, não posso me lembrar de sentir melhor, só quero que você fique aqui...


— Nosso filho não vai usar essa capa porque não vai existir um "nosso filho", Potter. Não apresse as coisas...
— Lils, eu não estou apressando as coisas... Estou apenas prevendo o futuro.
— Preveja menos e ande mais, por favor! — respondi, suspirando por cansaço de discutir e apressando o passo. — Me leve ao tal fantástico encontro com Tiago Potter e vamos acabar logo com isso...
— Não era você que estava mandando eu não apressar as coisas, Evans? — sua risadinha ecoou por meus ouvidos e, sorrindo, falei:
— Ou você anda mais rápido, ou chame a Murta para ocupar o meu lugar...


Entramos em um corredor perto dos banheiros masculinos e Tiago estava me fazendo de boba, pois passamos três vezes pelo mesmo lugar como se estivéssemos andando em círculos, e por isso pisei com certa força em seu pé quando estava cansada de dar voltas, fazendo-o parar e sorrir para mim.


— Está tão impaciente assim para o encontro, Lils? Sei que as garotas costumam sentir um frio na barriga no primeiro encontro, mas não precisa se preocupar, eu não mordo...
— Você vai morder a sua língua daqui a pouco se não me falar onde estamos indo agora mesmo! — nos aproximamos da parede e ele a tocou, me fazendo outra vez ficar sem entender.
— Me diga o que você mais deseja Lils? — ele perguntou com uma voz baixa que se debatia contra o meu rosto e eu fechei os olhos, esperando que ele se aproximasse mais.
— Voltar para a minha cama e acabar com esse pesadelo... — o que era mentira, pois estava pensando nele, sempre nele, e vi como ele sorria tão perto dos meus olhos para depois olhar para o lado, onde, de repente, aparecera uma porta. — O que...?
— Vamos ver se você está falando a verdade, porque a Sala Precisa sempre mostra quando é mentira...


Você está nos meus pensamentos o dia todo, não posso esperar pra te ver à noite e ficar bem...


Não tive tempo de perguntar o que era a tal Sala Precisa, porque quando percebi, estava descobrindo pelos meus próprios olhos.
Tiago era quem não deveria estar entendendo muito bem, pois diante dos nossos olhos estava o ambiente de um restaurante italiano de trouxas. Uma única mesa no centro, com uma toalha quadriculada vermelha e branca, com um cesto de pães franceses e um castiçal segurando algumas velas que iluminavam quase o ambiente inteiro. Dois pratos de espaguete estavam em seus devidos lugares, como dois copos de cristal servidos de algum líquido branco.
Rezei para não ser vodka... Se bem que não conhecia nenhuma regra do castelo que proibisse o consumo de álcool para menores.
Senti a capa caindo pelas minhas costas e a mão de Tiago tomando a minha. Sua risada se mostrou curiosa e interessada e os meus pés se deslocaram conforme os dele se moviam, se aproximando da mesa. Ele, educado como nunca foi, puxou a cadeira para eu me sentar e por um instante pensei que ele puxaria para me ver caída no chão. Mas ele não o fez, esperando até eu encontrar a posição adequada, indo se sentar em minha frente logo em seguida. Senti os joelhos dele relando nos meus no mesmo segundo e agradeci em silêncio por aquela tal Sala Precisa ter assumido a forma do que eu tinha pensado, porque se assumisse a forma do que Potter estava pensando, provavelmente, ao invés da mesa, teria uma cama.


— Você pretende me contar o que é isso tudo? — ele sorriu para mim. — É a forma de um restaurante trouxa?
— Sim. — dei de ombros, tentando mostrar desinteresse. — Um restaurante italiano, que serve comida italiana... — falei, devagar, explicando para ele como se fosse uma criança.


Tudo é tudo, você é tudo pra mim...


—Ah... — o sorriso dele se alargou. — E você não disse que queria voltar para a sua cama, Lils? Então porque ela não se materializou aqui? — me encolhi na cadeira. — Se bem que confesso preferir uma cama a um restaurante ilitano...
— É italiano! — resmunguei e corei bruscamente.
— Como é em-GOR-gio e não en-gor-GIO? — a provocação me fez pegar um pão e enfiá-lo quase por inteiro na boca, apenas para não xingá-lo de tudo o que queria.
— Basta dar dez passos para sair dessa sala e nunca mais voltar, Potter... — traguei a saliva e falei enquanto mastigava o pão, fazendo as palavras saírem todas embaralhadas, aumentando o sorriso já enorme dele.
— Adoro repetir que você fica linda irritada, Lils... Às vezes acho que esse olhar em chamas que você lança é só para mim...
— E é só para você mesmo! — eu bufei, pegando outro pão e dando um gole longo no líquido transparente, descobrindo que era água. — Pois só você me tira do sério assim, Potter.
— Sabe Lils... — ele começou, pegando uma de minhas mãos e cruzando os seus dedos com os meus, me fazendo largar o pedaço de pão no prato e mirá-lo nos olhos. — Eu queria saber, de verdade, porque sinto que você é tão... Minha.


Os seus dedos de veludo desenhavam os contornos da minha com cuidado, fazendo com que os meus lábios se secassem de imediato e que o descompasso de meu coração me deixasse zonza. Eu não sabia o que responder por que minha razão não conseguia formular uma frase amarga para tirar o sorriso perfeito do rosto de Tiago, enquanto o meu coração agia por impulso, levando poucas e fortes palavras para a ponta de minha língua, e, por sorte, parei-as na barreira de minha boca, engolindo o "É porque eu sou sua, Potter" garganta abaixo, e dando um sorriso cínico para contrariá-lo um pouco.


— Coma o seu spaghetti, Potter, porque pelo menos ele sim é seu.
— Você sempre tem uma resposta afiada ou é impressão minha? — uma risada dele tomou conta de todo o ambiente, me causando uma série de arrepios.


— Não tenho respostas afiadas, tenho apenas respostas inteligentes para perguntas idiotas. — dei de ombro, dando uma garfada em meu macarrão.
— Minhas perguntas nem sempre são idiota, Lils...
— Ah, não? E quando não são, por exemplo? — sorri de leve, encarando-o nos olhos.
— Quando eu a convido para sair, por exemplo.
— É uma pergunta idiota, Potter.
— É uma pergunta idiota, mas que você no final das contas não teve uma resposta inteligente...


Fiquei confusa e acho que ele também ficou. Pisquei meus olhos algumas vezes e tomei alguns goles de água, olhando para os lados e tentando respirar devagar. Tiago me confundia de um tanto.


— Realmente a resposta não foi inteligente, porque se tivesse sido, eu acredito que não estaria aqui...
— Mas se a pergunta fosse totalmente idiota, você teria me dado uma resposta inteligente, e como você não me deu, deduzo que a pergunta não era idiota...
— Mas... Mas... — voltamos a nos olhar. — Do que estamos falando agora?
— Não faço a menor idéia! — ele respondeu e gargalhou, fazendo a maior sujeira quando tentou levar um pouco do spaghetti muito mal enrolado para a boca. — Por Merlin, Lils, como se come essa coisa?
— Pega um pouco com o garfo, depois coloca contra a colher, enrola e... — ele parecia não estar entendendo nada de novo. — Ai, Potter, se você não consegue nem enrolar um macarrão, como pretende passar nos exames?
— Quer que eu lembre de novo a você sobre o fato do engorgio, Evans?"


Bufei, ficando de pé e contornando a mesa, me ajoelhando ao lado dele para pegar o garfo e a colher de suas mãos e mostrar de perto como se fazia. Potter continuava com a mesma cara de idiota de sempre, por isso, para conseguir fazê-lo entender, me aproximei mais um pouco, devolvendo os talheres para as suas mãos e segurando-as por cima.


Tiago pareceu se assustar com as minhas mãos juntas das suas, estranhando o meu ato. Ele não as retirou, como era de se esperar, apenas fez os movimentos que eu o induzia a fazer com os talheres e, quando vimos, ele tinha conseguido enrolar – um pouco mal, ainda – o macarrão.
Sorri, batendo minhas mãos em meus joelhos e fazendo pressão para me levantar do chão.


— Pronto. — fiquei encurvada, sem conseguir deixar de sorrir.
— Depois tentarei ensiná-la como realizar o feitiço engorgio outra vez, Lils. — corei, virando o rosto para mirá-lo com a minha expressão enfezada e o encontrando sorrindo para mim.
— Eu não preciso de você para conseguir aprender qualquer coisa, Potter! — sussurrei, querendo ignorar a sensação que ele me fazia sentir quando estávamos tão próximos daquela maneira.
— Não precisa? Tem certeza?


Bom, talvez ele pudesse me ensinar como am... Lílian!


— Tenho! — rugi e voltei para o meu lugar pisando fundo. — Coma a sua comida antes que esfrie.
— Bem que a sua cabeça que poderia esfriar um pouco, não é mesmo? — sua voz saiu um pouco pesada, me chamando a atenção, pois nunca tinha escutado a sua tonalidade ficar daquele jeito. Ergui o olhar mais uma vez, vendo que ele estava com a cabeça baixa, sem mover as mãos. — Lílian, eu não estou falando que posso ajudá-la para esfregar na sua cara ou humilhá-la, será que você não entende? Não precisa ser tão orgulhosa assim, por Merlin! Não custa nada me deixar ajudá-la em um feitiço... Não vai mudar o seu mundo, ou vai?


Bem... Vai, Potter.


— Ok, tanto faz... — bufei outra vez, cruzando os braços e vendo-o comer em silêncio.


Não gostava de ficar no mesmo ambiente que Potter, sozinha e em silêncio, principalmente. Potter e silêncio eram duas palavras que não combinavam... E por que ele ainda não havia mexido nos cabelos? Será que ele percebera que não tinha graça? Ou que poderia causar um ataque do coração em qualquer menina tola a qualquer instante?


E aquele silêncio todo estava me deixando louca. Se era ruim quando Tiago resolvia falar pelos cotovelos, era pior ainda quando a boca dele não se movia!
Estava chegando à conclusão que eu tinha que parar de ser tão indecisa. Se Potter sorria, eu queria que ele parasse de sorrir. Se ele parasse de sorrir, eu queria que ele sorrisse. Se ele mexesse no cabelo, queria cortar as suas mãos. Se ele não mexesse, me dava aflição. Se ele falasse, queria calar a sua boca, e se ele não falasse...
Merlin, como ele poderia sequer gostar um pouco de mim?


— Potter... — minha voz saiu mais doce do que eu esperava, assustando tanto eu, quanto ele. — Posso fazer uma pergunta?
— Não posso impedi-la... — reparei que ele estava mesmo magoado, e com razão. Brinquei com o garfo, batendo-o devagar no prato e suspirei, me condenando mentalmente por ter aquele jeito explosivo e amargo que eu tinha com ele.
— Por que eu, Potter? Tantas outras garotas mais bonitas nesse colégio e você resolve tomar implicância justo comigo? Foi só porque eu fui a única a lhe dizer não? E agora que eu disse sim? Eu seria apenas mais um troféu ao qual Tiago Potter ira se gabar para os amigos e para o colégio inteiro? "Sabe a Lílian Evans? A que não sai com ninguém? Então, sai com ela ontem... É, eu sou mesmo o cara!" — imitei a voz dele como consegui e me entristeci quando imaginei a cena. Sirius e Pedro comemorariam , provavelmente, enquanto Lupin reviraria os olhos e falaria que aquilo não era coisa para se fazer... — É por isso, Tiago? Você correu tanto atrás de mim por apenas... Isso? Duas horas sozinhos numa sala estranha que eu não quero saber como você a descobriu... Apenas, para isso? — me levantei, sem conseguir encará-lo nos olhos. — Eu realmente não sei qual a grande graça que você viu em mim para querer tanto um encontro, e se foi pelos muitos não que recebeu, bem agora você teve o seu sim... Então parabéns, agora você pode passar para a próxima da lista, não é mesmo?


E, com os meus olhos cheios de lágrimas – todas involuntárias, fui em direção a porta e segurei a maçaneta com força, tentando girá-la, mas não conseguindo. Meus dedos escorregavam, pois tinha limpado meus olhos discretamente antes de tentar abri-la, o que era uma falta de sorte, pois enquanto não conseguisse sair dali, a vontade de escutar uma resposta – uma que eu não gostaria – aumentava.
Minha cabeça se pendeu para frente, encontrando a madeira fria da porta e não consegui mais resistir ao choro. As lágrimas desciam cada segundo mais, esperando qualquer palavra vinda da boca de Potter, mas o que mais me doía é que tinha acabado.
Potter não correria mais atrás de mim. Potter não me chamaria mais de "minha garota". Potter nem ao menos daria aquele sorriso sem mostrar os dentes para mim, apenas por saber que toda vez que o dava, eu não conseguia desviar os olhos.
Agora seria Lília Evan, a garota ao qual Potter por sete anos tentou conquistar – e conquistou – e foi descartada na noite seguinte após o primeiro encontro.
E seria Tiago Potter, o garoto que conquista qualquer garota do mundo, principalmente Lílian Evans, a garota que mais o desprezava e odiava.
Ótimo, respirei fundo. Seria melhor daquele jeito... Não seria?


— Olha aqui, Evans... — os braços dele me rodearam, fazendo suas mãos ficarem apoiadas na porta e me deixando sem escapatória. — Muitas vezes eu me pergunto como a garota mais inteligente de Hogwarts pode ser tão tola... — não reclamei, pois ele estava certo. — Ah, qual é, Lils! — ele deu uma risada. — Você acha que eu corri atrás de você por sete anos... Sete anos!... Por um único encontro? — me virei devagar, vendo que ele me encarava muito de perto. — Nos primeiros dois anos, ok, eu confesso que você não passava de mais uma diversão ou algo ao qual eu poderia me exibir... Mas Lílian, que garoto corre atrás de uma garota por sete anos por diversão? Abra os olhos, Lílian Evans, porque se muitas vezes eu fui exibido, se fiz algo errado ou qualquer coisa do tipo, foi para chamar a sua atenção! Se você só tinha olhos para garotos que se davam bem em todas as matérias, que não fossem nem um pouco arruaceiros e tivessem cabelos ensebados, eu tinha duas soluções. Ou eu me livrava deles ou fazia você me olhar por outros motivos! E, bem, eu fiz os dois... — outra vez ele deu uma risadinha, o que me fez encolher e rezar para que minhas pernas continuassem firmes no chão. — Snape até hoje está tentando desfazer o... — e então ele limpou a garganta, vendo que a minha expressão ficava dura. — Como eu ia dizendo, tive que chamar a sua atenção de outras formas e não foi apenas por isso, Lílian, se bem que passei noites em claro fantasiando como seria o nosso primeiro encontro, se um dia você me desse uma chance! E você como sempre conseguiu mudar totalmente o que eu pensava, estragando tudo com esse papo de que gosto de você apenas por você ter me dito um não!


Então é isso, Lílian, você perguntou, agora escute a resposta.
E mande a porcaria do seu coração parar de bater como se fosse explodir!


— E você quer saber por que eu gosto de você, Lílian Evans? — a boca dele estava próxima demais da minha para o meu cérebro conseguir pensar em qualquer outra coisa sem ser me aproximar um pouco mais. — Primeiro porque você é bonita. Não aquele bonita normal, que muitas outras garotas são. Você é bonita, tanto por fora, quanto por dentro. Você é bonita quando sorri, bonita quando está irritada, bonita quando acorda depois de uma noite sem parar de estudar, bonita quando está pensando enquanto faz a tarefa de Transfiguração, bonita quando dá uma risada, bonita até mesmo quando deveria estar feia... — seus lábios deslizaram pela minha bochecha até se aproximar um pouco de um dos meus ouvidos, fazendo o meu corpo arquear e os meus olhos se fecharem. — Você é inteligente, sempre tem boas respostas e bons assuntos para conversar. Não é fútil, mesquinha ou metida. Não esnoba as pessoas por saber fazer quase todos os feitiços mais difíceis, como sempre que pode, ajuda quem precisar. Você tem um coração enorme, todo mundo consegue confiar em você e chamá-la de amiga. Não julga as pessoas pelo que elas têm, e sim por como elas são. Consegue encantar a qualquer um com o seu jeitinho e com a sua paixão por tudo o que faz... — dei um sorriso, desistindo de encontrar alguma razão naquele momento, e sendo levada apenas pelo... — E quer saber o que eu mais gosto em você, Lils? — movi a cabeça devagar, fazendo um sim com a cabeça e então as mãos firmes dele tomaram o meu pescoço, me fazendo abrir os olhos e encontrar com os dele. — O que eu mais gosto em você são os seus olhos... — e foi à vez dele sorrir. Um sorriso amável, o suficiente para me fazer abaixar todas as armas e escudos. — Os seus olhos nunca mentem, Lils. Eles são transparentes, são belos e verdadeiros. Eles transmitem calor, carinho e cativam quem olhar para eles... Seus olhares são sempre quentes como uma manhã de verão, são profundos como uma tarde de outono, gostosos como uma noite de inverno debaixo do cobertor e maravilhosos como um novo dia de primavera...


Não precisava escutar mais. Para ser sincera, eu não precisava escutar nada mais desde que ele falara a primeira frase.
Se Tiago Potter, a pessoa mais cabeça-dura daquele colégio, estava confessando para mim tudo o que eu queria escutar, tudo o que eu precisava escutar, eu também tinha que aceitar, principalmente para mim mesma, que gostava de Tiago Potter.
Eu, Lílian Evans, gostava de Tiago Potter.
Gostava do Tiago bagunceiro, metido, exibido, carismático, engraçado e tudo mais. Eu gostava de Tiago Potter.


— Foi por isso que eu comecei a gostar de você, Lílian. Eu não precisei de uma poção do amor, como também não foi por você poder ser mais um troféu que eu poderia exibir ou por ter sido você a primeira a me dizer não. Foi porque quando eu olhei nos seus olhos de verdade pela primeira vez, tive a certeza de que seria você a única que me faria encontrar uma verdadeira razão para sorrir. Não são as minhas travessuras, o Quadribol ou até mesmo as ótimas piadas de Sirius que me fazem sorrir, Lils. O que me faz sorrir é ter a certeza de que não importa o que aconteça, eu poderei procurar os seus olhos e me afogar nesse calor que ele me traz...


A boca dele sobre a minha. Os dedos dele vagando pelo meu rosto. O coração dele batendo contra o meu. Era muita coisa para conseguir agüentar.


— Por isso que eu peço, Lils... Não me afaste mais.


Ou melhor: Eu, Lílian Evans, estava cegamente, veemente, loucamente, assustadoramente e verdadeiramente apaixonada por Tiago Potter.
Ou o mundo estava para ficar de ponta cabeça, ou o meu mundo e o de Tiago estavam finalmente colidindo... E se tornando um só.

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Comentários (1)

  • patrícia m prongs

    Aiin,capitulo perfeito.Amei a parte que o Tiago fala pra ela que ela é bonita e pá,peeerfeito !

    2011-05-07
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