IV

Depois daquele dia, não falamos mais sobre o beijo. Tiago estava começando a me irritar profundamente, me chamando de "minha garota" ou coisas parecidas, mas naquele momento não me preocupava tanto com aquilo e sim com a paixão verdadeiramente absurda que Lupin e Sirius estavam sentindo por Amanda (a baixinha) e Tarley (a morena). Tinha resolvido contar tudo para McGonagal naquela mesma manhã, enquanto estava sentada na mesa, tomando café com algumas das minhas amigas, mas a loucura do torneio de Quadribol era tanta que eu estava começando a acreditar que teria que deixar para o dia seguinte. Tiago não estava muito longe, apenas algumas cinco cabeças de diferença, montando uma torre de biscoitos de mel com a varinha e conversando com Sirius distraidamente.
Sirius então virou o rosto e me pegou no flagra olhando para Potter, dando um sorrisinho pequeno e balançando a cabeça, fazendo os seus cabelos castanhos balançarem. Corei veemente, abaixando a mirada para encarar as minhas torradas.
Eu não observava Potter porque ele estava absurdamente bonito em especial naquela manhã, com os seus cabelos ainda mais bagunçados que o normal ou a sua camisa branca de esporte com apenas dois botões como deveriam estar – abotoados. Eu – e toda a mesa da Grifinória – conseguia enxergar perfeitamente o desenho de seus músculos definidos graças ao Quadribol, então se todas as garotas daquele salão estavam olhando sorrateiramente – ou até mesmo descaradamente – para Potter, porque eu não podia olhar?
E porque Potter parecia sempre perfeito nos dias de jogo? Com aquele sorriso confiante e os olhos faiscando de expectativa?
Eu não tinha culpa, tinha?
Sirius estava apenas imaginando coisas.

— Hey, Lily... — Margaret começou, arrumando o cachecol vermelho e dourado em seu pescoço e esfregando as mãos para aquecê-las. — Perdeu alguma coisa pela mesa?

A minha noção. Quer me ajudar a procurá-la?

— Como? — gaguejei, firmando o meu olhar no pedaço de pão em minha frente e neguei com a cabeça. — Não, eu estava apenas conferindo se está tudo bem, Margie. Você sabe que os dias de Quadribol são os piores para os monitores...
— Tiago não acha. — Morgana deu uma risada encantada.
—Claro que o Potter não acha! — falei entre dentes. — Porque ele é um dos maiores arruaceiros do colégio. Qualquer tumulto chama a atenção dele... Ou melhor, ele sempre está envolvido no tumulto.
— Pelo menos Tiago continua sendo o mesmo de sempre. — Nala comentou.
— O que você quer dizer? — perguntei.
— Sirius e Lupin começaram a namorar duas quarto-anistas, acredita? E elas nem são tão bonitas. Não o suficiente para eles... — e ela revirou os olhos. — Ou eles estão loucos, ou estão sob o efeito de alguma poção...

Engasguei quando coloquei uma torrada inteira na boca e percebi que Tiago virava o rosto assim que a palavra poção tinha sido pronunciada. Me escondi atrás de Norman, o garoto que estava sentado ao meu lado, e desejei como nunca desaparatar e ir para algum lugar longe de qualquer pessoa conhecida.
Mas como não era possível, me contentei com o esconderijo.

— Engraçado, não é? — falei, sem parecer achar nenhuma graça. — Vou para o estádio, até logo... — me levantei, tomando um enorme gole de suco e saindo de perto delas antes que elas conseguissem perceber o meu comportamento estranho.

Tiago, que parecia ter escutado cada palavra, me impediu de passar, segurando o meu braço com força e ficando de pé, para então me puxar para fora do salão. Escutei murmurinhos, mas não me importei. Minha pele queimava e eu estava querendo que ele morresse por não abotoar aquela camisa direito!

— Para onde você está me levando, Potter? — rugi, tentando soltar o meu braço inutilmente.
— Então Sirius e Lupin tomaram uma poção também? — ele perguntou de imediato assim que chegamos em um corredor vazio, mas se aproximou um pouco para cochichar perto do meu rosto.
— Não, eles apenas estão rondando garotas do quarto ano por vontade própria. — revirei os olhos, admirando a genialidade dele. — Você não conhece os seus amigos não, Potter?
— Eu não sou de me meter na vida amorosa deles, e se eles quisessem sair com a garota mais feia do colégio, eu levaria na boa... — e então ele limpou a garganta. — A não ser que a garota fosse a Murta que Geme ou... Você.
— Você está me comparando com a Murta que Geme? — foi estranho a minha boca não ter caído no chão de tanta indignação, e eu quis socá-lo por tal comparação, mas me contive e apenas bufei.
— Como se você se importasse com as minhas comparações... — o sorriso dele esbanjou um tipo de vitória e meus dedos latejaram, formando uma marca mental de minha mão no rosto maravilhoso dele.
— Porque você não deixaria que Lupin ou Sirius me paquerassem, Potter? Você acha que apenas você pode me convidar para sair?
— Sim, — ele afirmou, passando um braço pelo meu ombro para me dar um abraço e eu bufei outra vez. — porque você é a minha garota!
— Eu definitivamente não sou a sua garota! — reclamei, cruzando os braços e dando uma cotovelada nele. — E porque você insiste em se aproximar de mim?
— E porque você não me afasta?

A pergunta dele fez com que as minhas bochechas ganhassem uma cor rubra e que os meus olhos se encontrassem com um ponto qualquer no chão. A resposta estava na ponta de minha língua, mas não falaria. Meu orgulho não deixaria.

— O importante agora não é isso, Potter... — tentei escapar como consegui. — O importante é que os seus dois amigos estão sob efeito de uma poção e precisamos falar com McGonagal...
— Não fuja do assunto, Evans. — mais uma vez ele abriu um sorriso e me abraçou mais apertado. — Você vai torcer por mim hoje?
— Vou torcer pela Grifinória. — corrigi.
— Tenho certeza que você vai me acompanhar com o olhar durante toda a partida...
— Nos seus sonhos, quem sabe? — sorri e consegui me afastar. — Falando nisso, Potter, não está na hora de você ir para o campo? A Sonserina adoraria ganhar a partida graças ao apanhador do time rival que não apareceu por medo.
— Eu não tenho medo deles! — Tiago urrou.
— Então vamos lá, campeão... — eu fiquei na ponta dos pés para conseguir olhá-lo nos olhos do mesmo ângulo e comecei a abotoar a sua camisa. — Prove! — sussurrei, assim que tinha encaixado o último botão.

Antes que ele conseguisse me aproximar novamente, dei uma risada baixa e sai pelo corredor, encontrando mais a frente Morgana com as outras meninas, que acenaram para mim de uma forma meio suspeita, avistando Tiago ao fundo. Antes de perdê-lo de vista, virei à cabeça para trás e apenas para provocar, pisquei um olho.
Tiago sorriu e mandou um beijo daquela forma nem um pouco humilde, mas vi que ele dava passos largos em minha direção – e conseqüentemente na direção de um aglomerado de alunos -, e rezei para que ele não fizesse algo ao qual eu me irritasse depois.
Mas ele é Tiago Potter, e é claro que ele fez algo que me irritasse.

— Hey, Lils! — ele gritou e o corredor inteiro parou de conversar para encará-lo. — Se a Grifinória vencer, você aceita sair comigo?
— Porque você pergunta se já sabe a resposta, Potter? — respondi com calma, mas, na verdade, queria estrangulá-lo por todo o teatro.
— Porque para tudo existe uma primeira vez. — o sorriso dele iluminou todo o ambiente, principalmente os meus olhos. — E porque eu prefiro sair com você a sair com a Murta que Geme!

Dei uma risada porque não pude evitar. As outras pessoas deveriam estar se perguntando que Diabos estava acontecendo, e eu me irritei um pouco depois ao perceber que Tiago e eu tínhamos muitos segredinhos só nossos.

— Então vá para o banheiro e convide a Murta, Potter. — sorri para ele. — Quem sabe ela não aceite o seu convite?

E a verdade escondida que gritava dentro de minha boca era um sim ridículo. Sim, Potter, eu aceito sair com você!, quis falar, mas dei outro sorriso e passei um braço entorno do braço de Nala, voltando a andar, sabendo que Tiago, que estava logo atrás, mexia nos cabelos negros e me encarava com um sorriso torto.
Porque ele era Tiago Potter e eu conhecia muito bem as suas manias.

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