II

Cecília Vandergod era uma das garotas que mais me causava problemas. Como meu trabalho de monitora-chefe era o de ficar de olhos abertos 24hrs por dia, conhecia os movimentos de Vandergod com as palmas das minhas mãos, e, naquela tarde, ela estava aprontando alguma coisa.
Não gostaria de dizer a palavra "segui", e sim, "fui atrás da confusão", chegando ao gramado praticamente vazio, habitado apenas por alguns alunos com horário livre e um fantasma solitário perto de uma árvore. Cecília se encontrou com duas amigas e então seguiram para as estufas, sem perceberem que eu estava logo atrás, de tanto que riam e mexiam nos cabelos.
Aquela mania do Potter era pior do que pandemia.
Quando se afastaram o suficiente, me escondi atrás de uma estátua, vendo que a mais baixinha olhava para os lados para ver se alguém as seguia. Segurei a respiração e logo escutei a voz fininha de uma das falando animada: — Consegui os ovos congelados de Cinzácaro! — e em seguida, gritinhos de ansiedade.

Não precisei pensar muito para ligar as coisas. Ovos de Cinzácaro serviam para poções, e, para a pior das hipóteses, para uma poção do amor.

— Mal posso esperar para dar a Sirius a poção do amor... — gemi indignada, colocando minha cabeça para o lado para ver que era a baixinha quem estava falando.
— Será que vai dar certo? — a morena perguntou. — Porque eu queria muito que Lupin olhasse para mim...

O que elas estavam tentando fazer, afinal? Um encontro grupal?

— Dará certo! — Vandergod falou cheia de expectativas. — E finalmente Tiago deixara de olhar para Evans e...

Minhas unhas deslizaram pela estátua, causando um fraco barulho e chamando a atenção delas. A baixinha outra vez olhou para os lados, dessa vez, confusa, e logo avisou que tinha certeza de que havia uma alma por perto e que deveria ser algum pássaro. Respirei um tanto aliviada, ainda sem conseguir digerir o que acabara de escutar, pois a informação não passava por minha cabeça.
O que Vandergod queria dizer com...
Tive que deixar minhas indagações de lado, voltando a observar o início da preparação, sem conseguir me mover de onde estava, nem ao menos respirar.
A poção ganhava cor e um cheiro adocicado, que me lembrava o cheiro de orvalho e de uma noite de primavera. Era tão delicioso que causava alguns rodopios em meu estômago, levando uma enorme vontade de sorrir.

— O que você está sentindo? — a baixinha perguntou para Cecília.
— O cheiro da fragrância de Tiago...

E meus olhos se arregalaram, acompanhando o movimento abrupto que a minha boca fez. Orvalho e noite de primavera era o cheiro da fragrância de... Merlin, como aquelas meninas tolas tinham feito uma poção tão errada a ponto de me causar efeitos colaterais?

— Estou sentindo o cheiro da noite e de cachorro molhado. — a morena sorriu abobalhada e eu cerrei os olhos.

Cachorro molhado? Se alguém mais inteligente fizesse aquela poção pensando em Lupin, talvez pudesse sentir o cheiro de algo mais interessante do que cachorro molhado. Lobisomens e cães não tinham o mesmo cheiro quando molhados e ainda bem que elas não pareciam se recordar disso.

— Sinto cheiro de... Suco de abóbora e biscoitos doces. — a baixinha comentou e eu mordi o lábio, lembrando do café-da-manhã de Sirius

Por Merlin, aquelas meninas precisavam de ajuda da Madame Pomfrey urgentemente! Será que elas não sabiam que para realizar uma poção do amor era preciso utilizar muitos ingredientes raros e agilidade de sobra? E eu duvidava que uma quarta-anista, ou até mesmo três, conseguissem realizar uma poção que nem mesmo o professor Slughorn conseguia preparar com facilidade... Se elas dessem a tal poção para os garotos, era muito provável que explodisse a cabeça deles.
Menos a de Tiago, porque aquela cabeça era impossível de se desfigurar mais do que o normal.

— Agora temos que pegar as raízes de valeriana... — alguma das comentou.
— Será que Sprout não está ai? — soube que era Cecília.
— Não, eu já chequei. — a baixinha sussurrou.
— Então vamos...

Em menos de três segundos elas conseguiram entrar por um vidro da estufa, e seria mais uma coisa para incriminá-las mais tarde. A lista de castigos crescia. McGonagal não ficaria nada feliz em ter que repreender suas alunas, mas antes isso do que duas cabeças estouradas e um garoto com algum problema mais sério do que o comum.
Me aproximei, vendo três potes com um líquido prateado e observando o meu reflexo em todos. A poção estava dando certo. Slughorn comentou que quando a poção estava tendo um preparo correto, a cor parecia com a de uma pérola, o que também denunciava a poção.
Amortencia. Merlin, o que aquelas meninas estavam pensando?
Ou melhor, elas não estavam pensando! (principalmente Cecília)
Escutei um ruído vindo de dentro da estufa e me encurvei, fazendo uma mecha do meu cabelo tocar uma das poções e logo retirei, sentindo o cheiro doce na ponta dos meus fios. Revirei os olhos e traguei a saliva, irritada com a minha falha, e então vi um fio rubro afundando no prateado.
Só podia ser um pesadelo.

Procurei qualquer coisa para tentar retirar o meu fio de cabelo de dentro do pote, mas não tive tempo, pois escutei as risadinhas frenéticas das três parecendo mais próximas e voltei ao meu posto de antes, rezando para que o feitiço não funcionasse enquanto não fosse completado, ou que, pelo menos, aquela poção fosse para Lupin ou Sirius.
Não consegui acompanhar todo o preparo da maldita poção. Sentia mesmo que iria vomitar porque aquele cheiro de orvalho estava impregnado em minhas narinas e, se não saísse dali logo, estaria correndo por minha corrente sanguínea. Voltei para o castelo, me beliscando ingenuamente para ter certeza de que não estava dormindo – ou a pior opção: delirando – e então comecei a pensar em qual seria o castigo daquelas garotas.
O de Cecília eu poderia sugerir um ótimo: uma visita ao St. Mungus, porque como alguém seria louco o suficiente para preparar uma poção do amor justamente para Tiago Potter?
Vandergod estava louca.

Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.