I



Para tudo se tem uma primeira vez, não é mesmo?


— Não é assim. — Tiago me encarou com aquele típico ar de superioridade, me fazendo revirar os olhos. — Não me diga que Tiago Potter está achando que sabe um feitiço melhor do que eu! — fui rabugenta apenas para tentar rebater todo aquele cinismo e ele ignorou o meu comentário, se encurvando para observar o meu pequeno fracasso naquele feitiço idiota.


Eu nunca errava um feitiço. Nunca. Apenas quando aquele cheiro de fragrância idiota do Potter se misturava pela sala, me deixando enjoada. A súbita vontade de vomitar tomava conta da garganta para cima, tornando impossível para o meu cérebro mandar comandos para o restante de meu corpo... Então porque o meu coração estava cantarolando como os primeiro-anistas em noite de Natal?


— Pelo menos quando eu faço esse feitiço ele funciona... — ele deu uma risadinha sarcástica, pegando a própria varinha e aproximando o rosto do meu pescoço, quase apoiando o queixo em meu ombro, para então murmurar: — A pronuncia é en-GOR-gio, não en-gor-GIO.
— Prove então, Einstein! — resmunguei, percebendo que ele virava a cabeça para olhar nos meus olhos com uma expressão confusa.
— Quem Diabos é Einstein, Lily?
— Para você é Lílian. — lembrei aquele fato pela milésima vez. — E Einstein tem apenas uma coisa que você não tem...
— E o que seria? — Tiago pareceu interessado em descobrir qual era o dote que lhe faltava, e, sorrindo, respondi:
— Um cérebro.


Escutei a sua risadinha e não consegui desvendar qual o sentimento que assolava em seu íntimo. Dei de ombros, voltando à atenção ao livro e vendo que o mesmo especificava bem a pronúncia. En-gor-GIO. Ele deveria estar errado, como sempre estava.


— Engorgio! — falei, direcionando a varinha para uma flor em cima da mesa e vendo que nada acontecia. Imediatamente mirei Tiago, falando com o olhar que se ele risse, sairia ferido. — Vamos. Mostre-me como fazer.


—Aprenda com o mestre. — outra vez ele soltou uma risadinha, se afastando um pouco para erguer as mangas e fazer uma pose: — Emgorgio! — rugiu entre dentes de uma forma um tanto sensual, me fazendo balançar a cabeça – tanto de indignação quando de susto por tal pensamento – quando vi a flor aumentando assustadoramente de tamanho.


Oh, não, ele não poderia estar certo.


— Vamos, Lily, assuma que eu sou demais!
— Prefiro beijar um trasgo a assumir tal fato impossível. — sorri, pegando meus livros e afastando a cadeira para poder levantar. — Se divirta com a sua genialidade sozinho, Potter.


Vi como os lábios dele se curvavam para baixo e como os seus olhos se tornavam cinzas. Tentei não deixar o fato de minhas pernas estarem fracas me abalar, arrumando a minha postura e respirando fundo para conseguir dar alguns passos para frente.
Tudo o que eu precisava era atravessar o retrato da Mulher Gorda para me ver livre da presença irritante do Potter, então porque os meus pés pareciam endurecer no chão?


— Lílian! — o grito dele cortou o salão vazio e me virei, involuntariamente.
— O que foi? — perguntei entre dentes.


Tiago correu em minha direção com a flor de lírio em suas mãos, parando diante de mim e, sem pedir, colocando-a sobre meus livros. Ele deu um sorriso pequeno, aquele que eu tanto amava odiar, e bagunçou os cabelos, tomando o meu fôlego.


— Os antigos bruxos diziam que não podemos deixar uma flor para trás quando a cativamos... Traz azar.
— A flor é sua. — murmurei. — Você que conseguiu colocar o feitiço nela.
— Então aceite-a como um presente. — o tom de voz dele era tão agradável que por um segundo me hipnotizou. — Flores cativadas são as mais especiais, pois elas não morrem... Isso é, apenas se...


Então, sem me dar tempo para arrumar alguma coragem para pedir a continuação ou de arrumar algum comentário infantil e que cortasse aquele momento em frangalhos, ele se afastou para se juntar com os seus amigos. Pude ver Lupin retirando um pedaço de papel amassado das mãos de Sirius com uma expressão de raiva e logo vi Pedro dando uma risada assim que Tiago pegou o papel das mãos de Lupin facilmente.
Não sei o que era aquele pedaço de papel, e tão pouco queria.
O quanto mais longe me colocasse das travessuras de Potter e sua turma, melhor.
E que aquela flor morresse - de qualquer forma -, porque o cheiro da fragrância de Potter estava nela, e outra vez meu estômago pedia socorro.

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