- capítulo um -



Capítulo Um
Ou
I Dare You To Move


- Lily Evans -


Lily odiou o céu lá fora.


Pegou o cachecol colorido e jogou-o ao redor do pescoço.


Por que todos não cancelaram? Não deveria ser mais fácil apenas deixar Lily dormir até às sete?


Meia hora após ter se levantado e tomado banho, o céu estava limpando. De repente, parecia que a cortina escura e carregada de chuva estava indo embora. Tudo o que Lily não queria. Eu precisava que chovesse, porque assim não precisaria trabalhar naquele dia. Ela sabia que ninguém deixaria seus bebês felpudos passearem sob chuva.


Ela contemplou o lado Leste da cidade: o Sol despontava.


Incrível como ela nunca tinha sorte.


Desceu as escadas, entediada.


- Mãe, estou saindo, volto depois da aula – Lily gritou, já na sala.


- Vai com cuidado, querida – sua mãe recomendou.


Lily pegou as chaves e disse:


- Aham – de forma mecânica, ela experimentou o vento gelado lamber seu rosto e deixou a entrada da casa.


Ela repassou o caminho na mente: casa dos Stones, casa dos Bloom, casa dos Williams e casa dos Potter. Felizmente, os Harrison, os Davis e os Burton tinham desmarcado as necessidades de seus cães.


Seus vizinhos, no total, eram muito simpáticos. Por isso confiavam deixar seus cães passearem com Lily, que adorava animais, ainda mais se fossem obedientes, como aqueles cachorros eram.


Três quarteirões de casa, apertou a primeira campainha. Os Stones tinham um Pug preto com cara de morcego. Lily achava que cães daquele tipo mereciam plástica. Não ia com a cara daquele cachorro, mas como ganhava trinta dólares apenas por ter de passear com ele no parque durante uma hora, não via por que comentar seus preconceitos caninos com alguém.


- Olá, Mike – Lily disse para o garoto que tinha mais ou menos a sua idade. Mike era o filho único dos Stone e, provavelmente, como ele tinha atendido a porta, seus pais já tinham saído.


- Ah, oi. Mamãe, antes de sair, deixou o Smile pronto para você – Mike disse, deixando Smile passar pela porta. Smile logo foi cheirar os tornozelos de Lily, como sempre.


- Volto em uma hora – Lily disse, acenando.


A caminhada até as outras casas não demorou muito, pois todos moravam muito próximos. Apenas os Potter é que moravam um tanto quanto afastados, mas nada tão significativo. Por isso, Lily não reclamava por ter de ir
a pé até lá.


Controlando as guias dos três cachorros, deixou-os esperando perto do portão da casa dos Potter.


Os Potter tinham uma casa realmente imponente. Era toda lustrosa, quase se confundida com um glacê, sempre que nevava.


A campainha soou gritante dentro da casa. Lily colocou as mãos dentro dos bolsos do casaquinho de veludo rosa.


A porta se abriu e Turion quase a derrubou. Ele, sendo um labrador cor de chocolate, tinha mais massa corporal do que o garoto moreno de olhos verdes que atendeu a porta, e que intrigou Lily. Os Potter tinham um filho? Lily nunca o tinha visto.


- Oi – o garoto disse, sorrindo de forma afável.


Lily piscou e franziu a testa. Ainda olhando para o menino, deu umas palmadinhas na cabeça de Turion, que babava feliz em seus pés.


- Ah, oi – Lily perdeu ligeiramente o fôlego. Talvez fosse o frio.


As ruas estavam úmidas por conta da chuva, mas os cães pareciam estar gostando do tempo.


O garoto respondeu com outro sorriso.


- Hã... volto daqui uma hora – Lily gaguejou. Nossa, será mesmo que estava agindo feito uma idiota na frente daquele cara?


- Você pega o dinheiro agora? – ele indagou.


- Hm, não, pode ser depois – Lily respondeu e quando estava prestes a se virar, a curiosidade falou mais alto: - Você mora aqui?


O garoto charmoso riu.


- Claro – ele disse – Mas só com meu pai.


- Ah, é que não sabia que seus pais tinham filho. Sabe, eu morei toda a minha vida neste bairro e nunca soube.


- Minha mãe nos deixou quando eu era apenas um bebê, então vivo apenas com meu pai.


- Ah, sinto muito. Achava que a sua mãe trabalhava demais, por isso nunca a via.


- Ah, não – ele riu, fazendo um gesto engraçado com as mãos – A propósito, eu sou James.


- Ah – Lily ficou contemplando James como se ele não estivesse ali, como se de repente tivesse se materializado na sua frente por magia – Ah – retornou a dizer, então estendeu a mão e disse: - Sou Lily Evans, a babá de cachorros.


James riu. Será que ela tinha dito algo errado? Ou até mesmo engraçado? Lily não sabia como.


- Hm, volto mais tarde – Lily se apressou a dizer.


- Até mais, Lily – James lhe deixou com Turion com um sorriso.


Lily achou que estivesse passando mal.


x.x.x


- Marlene Mckinnon - 


Marlene percebeu que era aquilo que deveria acontecer. A casa era grande o suficiente para abrigar os alunos de seu ano. Os jardins à noite eram esplendorosos, tão iluminados e cheirosos.


E ela sabia que seus pais não se importariam, afinal não estariam ali a semana toda. Eles confiavam na única filha de maneira cega. Não que ela fosse uma má filha, de jeito algum; não tinha as melhores notas, mas ninguém poderia queixar-se dela.


Ocupou-se, então, de pegar as canetinhas que ainda mantinha guardadas no armário de pintura. Sua mãe as jogara lá por alguma razão que Marlene não se recordava mais.


Escreveu em letras gordas e garrafais:


FESTA DE HALLOWEEN
#ONDE: Ladeira Hilmton, próximo ao Queen’s Park, número 06
#QUANDO: HOJE
#HORÁRIO: a partir das 22h
ESTEJAM LÁ (:


Marlene não perderia aquela oportunidade. Jamais. Era a sua vez. Cassandra Mistriani podia dar as suas festas todos os sábados e deixar a galera toda trôpega pelo resto do fim de semana, mas quem disse que Marlene Mckinnon também não poderia fazer igual?


Marlene sorriu para a folha de papel e para as letras coloridas à sua frente.


Tudo parecia perfeito.


Orgulhou-se de si mesma assim que guardou cuidadosamente aquilo em sua pasta amarela. Ela podia muito bem subornar o garoto da fotocopiadora da escola. Quem sabe fazer uns ensaios fotográficos sem roupas, ou o que fosse. Ele gostava bastante daquela maldita máquina fotográfica que carregava todos os dias.


Agora, era só fazer as cópias antes que as aulas começassem.


Era o plano mais bem arquitetado do planeta. Sentiu uma pontinha de alegria assim que se olhou no espelho e constatou que talvez o mundo estivesse conspirando a seu favor naquele dia.


Acabou, sendo assim, de se vestir para o colégio.


Marlene queria ser presidente de turma só para assumir algum controle perante as roupas de alguns. As roupas de Cassandra Mistriani com certeza seriam banidas dos corredores, se Marlene fosse presidente. A maldita Cassandra tinha mesmo que usar aquelas calças jeans tão baixas que dava quase para ver tudo? A mãe de Marlene nunca tinha autorizado a filha a sequer olhar para uma calça assim, quem diria usar. Marlene odiava Cassandra.


Ao menos, ela pensou, não era a única. Muitas das meninas compartilhavam do mesmo sentimento.


Ao acabar de encharcar seus cílios de rímel, sorriu. Sentia-se confiante.


Quase quinze minutos depois, sua mãe estava batendo à sua porta.


- Leninha, estou indo, senão perco o avião – a mãe da garota disse, olhando distraidamente para seu relógio dourado. Levantou o olhar e se deparou com a filha entretida no lap top – Mais tarde ligue para seu pai, dizendo que está bem. Sabe como ele é – a mulher ficou olhando um pouco mais para a menina, esperando que ela se pronunciasse. Sua expressão preocupada tornou-se aborrecida – Marlene, você está me ouvindo?


Marlene olhou para a mãe, cujas roupas elegantes que sempre usava estavam, mais uma vez, lhe caindo muito bem.


- Sim, mãe. Ligarei para o papa, se você me pedir – Marlene disse, sorrindo.


- Certo – sua mãe se agitou por um momento, olhando mais uma vez para os ponteiros do relógio – Estou indo. Tem frango na geladeira...


- Sei, já vi – Marlene falou – Mãe, posso dar uma festa hoje?


-... E se o Carl me ligar, por favor, diga a ele que eu fui para o Himalaia e que volto apenas na próxima encarnação – Sra. Mckinnon disse, de forma perdida, então parou e repetiu a pergunta da filha na mente. Marlene dando festas? Marlene nunca dava festas. Muito menos em uma segunda-feira. Segundas-feiras eram, tipo, sagradas – O quê, uma festa?


Marlene ficou tímida. Nunca tinha pedido aquilo para a mãe.


- É, mãe. É Halloween – a filha explicou.


- Ah, verdade? – sua mãe perguntou, distraída, mas Marlene sabia que ela não estava dando importância alguma para a informação.


- É. Posso chamar meus amigos?


- Apenas seus amigos?


- Hm, e mais a galera do meu ano... – Marlene sorriu amarelo, como que se desculpasse.


- Certo, certo – a Sra. Mckinnon respirou fundo – Só arrume tudo depois, okay?


- Sério? – Marlene indagou, emocionada.


- Sério, Marlene – a mãe riu – Bem, vou indo. Cuide-se – e se retirou.


Marlene voltou sua atenção às mensagens:


Marlene diz:
Adivinha quem vai dar uma festa de Halloween hoje à noite?


Dorcas diz:
Ai, caramba, mesmo? Di-ver-ti-do. Opa, estou indo. Encontramo-nos nos armários. Fui <3


x.x.x


- Dorcas Meadowes -


Dorcas sentia que algo estava acontecendo longe de seu controle.


Sentia como se olhos de morcegos a estivessem comendo viva. Franziu a testa.


Talvez fosse apenas a animação que sentiu quando Marlene Mckinnon, que fazia parte do time das cheerleaders do colégio juntamente com ela, lhe disse sobre uma festa de Halloween. Dorcas não pensava no Halloween há muitos anos. Deixara de ansiar por ele desde o primário, pelo que lembrava. E ela nunca tinha sido muito boa em arrecadar doces; sempre era a última em tudo.


Ela sabia que seria quase impossível conseguir comprar uma fantasia ainda naquele dia, também porque as melhores já deveriam ter sido vendidas. Mas o negócio seria improvisar.


Marlene Mckinnon, apesar de ser uma das cheerleaders mais diligentes que já vira na vida, nunca tinha se animado em dar festas. Normalmente ela mal aparecia nas festas, diga-se de passagem. Mas, bem, o Halloween era uma ótima oportunidade para ela se enturmar mais na escola, porque ainda que animasse o time de futebol e que todos pensassem que por ela ser cheerleader ela era uma vadia, Marlene, na verdade, era uma garota muito na dela, bem ao contrário de Dorcas.


Dorcas era a durona do colégio. Era quase a garota-encrenca. Diversas vezes ficara na detenção por ter batido em garotos – muitas vezes bem maiores do que ela. Geralmente o alvo era sempre Sirius Black, o garoto que namorava Emmeline Vance, a gênia da Biologia. E o motivo que levava Sirius Black a levar alguns socos de Dorcas durante a semana era sempre Gilbert Reedy, o menino ruivo das espinhas e melhor amigo da menina briguenta.


Porém, onde habitava uma garota revoltada habitava também uma garota que queria ser alguém, que se importava com os outros e que gostava de passar as horas lendo. Ler, na verdade, era seu passatempo favorito. A maioria das meninas, provavelmente, tinha como seus passatempos favoritos festas ou o twitter, mas Dorcas, desde sempre, sabia que era um pouco diferente. Desde o primário, quando todas as meninas escolhiam a canetinha rosa e ela preferia a azul, sabia que era, no mínimo, esquisita.


E naquele momento de descontração no Queen’s Park estava mais uma vez sentindo-se esquisita. Mas esquisita de um jeito nada bom. Sentia como se estivesse sendo observada. E ela não gostava de ser observada quando tinha que ler, porque isso sempre diminuía a sua concentração.


Todos os dias, às vezes até mesmo aos fins de semana, Dorcas saía para ler no Queen’s Park. Durante a semana, acordava mais cedo e, antes das aulas, passava no mínimo meia hora lendo no parque. Era algo que lhe fazia bem. Era como se sem aquilo – sem aquela rotina diária de leituras – ela não fosse dar conta do dia. Era, como sua mãe lhe diria, seu escape. E era mesmo. Aos fins de semana, no entanto, ao invés de fazer aquilo pela manhã, o fazia pela tarde. Ao crepúsculo, ela entendia, era como se fosse seu último suspiro, e ler àquela hora lhe trazia forças para não dormir antes da hora, que geralmente era entre as onze e à meia-noite.


Dorcas notou alguém com o mesmo All Star que o dela: pretos. Era um menino. Ela não conhecia muitos meninos que ainda usassem All Stars. Geralmente eles preferiam os tênis da Puma ou da Nike. Subiu o olhar até seus olhos se encontrarem com os dele. Opa, para que a câmera?, perguntou-se a si mesma, duvidosa. Inclinou a cabeça, mas logo desencanou. Havia muitos por ali que ganhavam dinheiro com arte: pintores, escultores, os poetas e os fotógrafos. Só por ler ali naquele parque já conhecera muitos. Mas um garoto – um simples garoto – fotógrafo? Isso Dorcas ainda não tinha visto.


Mas resolveu deixar para lá. Ele estava fazendo seu trabalho, não estava? E não estava, de maneira alguma, atrapalhando-a, estava? Não, não estava.


Ela deixou que mais alguns minutos corressem, apenas mergulhada em seu próprio mundo. Quando o apito da estação perto dali soou, Dorcas imaginava que já seria hora de voltar para casa e pegar seu material para ir à escola.


E foi isso que fez. Procurou seu celular e viu: 08:22h. Tarde, muito tarde, pensou ela.


Arrastando seu último olhar pelo parque, pegou seu livro e calmamente, como todos os dias, saiu dali. Ela gostava de apreciar a paisagem sem pressa.


Quando estava quase chegando em casa, recebeu outra mensagem. Ela bem sabia que era, novamente, de Gilbert.


Estudou?


Ela revirou os olhos. Digitou:


Sim e já terminei de ler O Cão dos Baskervilles. É uma aventura de Sherlock Holmes. Está chegando? Vamos nos atrasar.


Ela entrou em casa, pegou uma barrinha de cereal, ingeriu-a em questão de segundos e escovou os dentes.


Chego aí em cinco minutos, Coisa do Inferno (:


Dorcas riu e pegou seu material. Desceu as escadas e ficou ouvindo Metric até ouvir uma buzina altamente familiar.


x.x.x 


-James Potter -


- Você está apaixonado? – Peter Pettigrew riu, fazendo-o suscetível a quase cair durante a corrida.


James Potter apaixonado? Aquilo merecia uma medalhinha de ouro.


James também riu, mas ele, ao contrário do colega, estava centrado no caminho que percorriam. O ar frio entrava por sua boca de maneira irregular e seus pulmões reclamavam, mas ele não ousava desistir. James nunca desistia. Não, ao menos, da corrida matinal.


- Como posso saber a resposta se não sei ao certo o que estou sentindo? – James retrucou, até mesmo parecendo ríspido.


- Oras!  - exclamou o outro – Então, ela leva o seu cachorro para passear?


- É, ela é uma “babá de cachorros” – James disse.


- Nossa, que coisa estranha, não?


- O que é estranho? – James perguntou com raiva.


- Você sabe... ser babá de cachorros. Se ao menos você pudesse ser um cachorro de vez em quando, hein? – Peter riu, sugestivo.


- Calado! – mandou James, impaciente.


Lily, a ruiva dos cachorros, tinha ficado em sua mente. Ah, como queria atender novamente a porta, assim que Turion chegasse da rua...


Poderia até mesmo dar uma gorjeta, se assim fosse. Ele sabia que o pai dava à pessoa que passeava com seu cachorro trinta dólares, mas não eram todos os dias. Eram apenas de segunda e sexta que Turion tinha o prazer de passear com aquela menina...


E James daria o que fosse para ter nascido em cão. Apenas para sentir as mãos de Lily Evans passearem por sua cabeça, dizendo-lhe “Bom menino!”.


James estava desconcentrado agora. Só se recordava do rosto angelical e das sardas de Lily. Ela parecia tão incomum... tão diferente, tão apaixonante.


- Vai aparecer no Black’s no almoço? – Peter perguntou.


- Por que apareceria? – James franziu a testa.


- Hoje tem esfira a quase um dólar. Podíamos almoçar lá.


- Você vai levar aquele seu amigo esquisito, o da máquina fotográfica?


- E se eu quiser? – Peter pareceu ficar com raiva.


- Bom, nada contra, mas sabe como é... - James ficou sem graça – Ele é estranho. Não costumo almoçar com estranhos.


- Só hoje – Peter disse.


- Tá bem, tá bem – James concordou sem entusiasmo.


- É melhor ir para casa, se quer pegar a ruivinha... – Peter riu.


- Não quero “pegá-la” – James retrucou – Só quero... encontrá-la novamente.


- Ei – Peter disse, abrindo um sorriso -, sabia que na 3C tem uma menina ruiva? Você poderia fingir que ela é a outra ruiva, essa tal de Lily.


James revirou os olhos.


- É o melhor conselho que você consegue me dar? – James perguntou.


- Bem, eu não entendo muito de meninas ruivas – debochou o outro, mostrando-se divertido.


- Opa, acabou o horário – James deu uma cotovelada no amigo – Vou indo. Encontramo-nos no almoço.


James correu mais depressa, entusiasmado para chegar em casa.


- Vai lá agarrar a sua ruivinha, vai... – gritou Peter.


James lhe devolveu um gesto obsceno.


Após dez minutos, ele já avistava sua casa. Talvez não fosse tarde demais.


E não era.


No começo do quarteirão, ele avistou cabelos ruivos. E um labrador cor de chocolate.


Lily falava com o cão, rindo. Nem mesmo seu pai falava assim com Turion, o animal mais amado pela família.


Lily enxergou-o e acenou de forma simpática.


James não pôde deixar de lhe sorrir.


Quando se aproximaram o suficiente, James gaguejou:


- Oi.


Lily riu. Era um riso engraçado. Um riso que o compelia a rir também. Ninguém fizera aquilo com ele.


- Eu estava falando para o Turion que ele merecia uma medalha por bom comportamento – Lily comentou.


James olhou para seu cachorro: ele parecia incrivelmente feliz ao lado de Lily, babando e mais babando.


- Espero que ele tenha lhe agradecido pelo elogio – James riu.


Lily jogou a cabeça para trás, rindo.


- Acho que sim, sabe como é, na língua canina dele – ela disse – Tome-o – ela sorriu, passando-lhe a guia da coleira do animal para James. Seus dedos se chocaram, e James achou que se não controlasse agarraria aquela mão gélida e alva.


- Até sexta-feira, James – Lily alargou o sorriso e lhe acenou mais uma vez.


- Até – James disse, tolamente.


Ele viu Lily se afastar e, então, logo sumir.


Ele quis que ela ficasse mais um minuto ali, apenas rindo das bobagens que ele falou.


Lily Evans, repetiu mentalmente.


x.x.x


- Remus Lupin - 


E lá estava ela mais uma vez.


Flash.


Trajava um sobre tudo cor de creme, calças jeans, All Stars e um lenço bastante fino, cor de rosa. Estava sentada no banco de madeira de sempre e lia um livro. O batom pink salientava os lábios carnudos dela.


Flash.


Remus sorriu. Olhou embevecido as duas últimas fotos.


Ela estava adorável, mesmo com a face rosada por conta do frio londrino.


Remus não fazia idéia de quem aquela garota era. Tudo o que sabia era que ela gostava muito de livros. Geralmente ela passava até mesmo três vezes por semana na livraria em que ele trabalhava das quatro da tarde às dez da noite, a Stanfords Store. Ela preferia romances policiais, pelo que ele já tinha sacado. Levara uma vez um livro do Stephen King, mas não voltou mais a procurar outras histórias de terror. E outra vez levara A Última Música, mas igualmente não retornou a comprar mais livros do Nicholas Sparks. Seu gosto, ele percebera, se restringia ao romance policial, realmente. E pelo jeito apreciava bastante Dan Brown e Agatha Christie.


Já fazia quase um ano que ele ia até o Queen’s Park para fotografá-la. Achava que remotamente já a tinha visto em outro ambiente, fora do parque, mas não sabia exatamente onde ou se aquilo era mera intuição. A primeira vez que a viu, ela lia O Outro Lado da Meia-Noite, de Sidney Sheldon. Estava sentada no mesmo banco – aquele de madeira cor de mogno – e parecia absolutamente centrada. Remus não conseguia entender como alguém poderia ter coragem para sair no frio, caminhar até o parque mais próximo e passar quase uma hora lendo na baderna que o local era – cães latindo, senhoras conversando, meninos do rap com seus sons ultra-potentes e ainda mais o barulho do tráfego infernal.


Ele gostava bastante de ler, era verdade, mas nunca sairia de casa, sentaria-se em um banco qualquer e desfrutaria de um livro. Aquilo seria visto como algo estupidamente anormal. E ele já era anormal por si só. Ele preferia ler dentro de sua própria casa, escutando qualquer coisa relacionada à música antiga dos anos cinqüenta.


A garota do livro parou de se focar nas palavras. Olhou para os lados com uma expressão de dor; certamente o vento gelado estava machucando seus ossos, tal como estava machucando os de Remus.


Flash.


Ele não deixava escapar nenhum detalhe. E ele sendo um exímio fotógrafo, sempre acertava nos ângulos certos. A garota parecia-lhe eternamente divina fosse qual fosse a situação.


Remus guardava carinhosamente todas as fotos que conseguia da menina em uma pasta própria. Todos os dias de semana, ele a preenchia com mais e mais fotos e reorganizava a pasta todas as vezes. Acumulava-as por ordem cronológica e sempre escrevia atrás da revelação o que pensara quando a clicou de tal modo.


Era sempre assim.


Remus estava preso naquele amor platônico e não sabia como fazer para sair dele.


Aquela garota era linda e parecia ser muito talentosa – ao menos em relação aos livros que lia.


Remus queria apenas saber seu nome. Aquilo já lhe bastava. Ao menos, seu amor teria um nome. Assim, não precisaria chamá-la de “The Lost Girl” – uma simples alusão ao fato de que ela sempre estava só, assim como ele.


The Lost Girl piscou desajeitada e se comprimiu, tentando se abrigar do frio. Então, aquilo aconteceu. Aquilo que ele temia.


Ela olhou para ele. Ela, enfim, percebera que alguém a vigiava.


Remus corou e abaixou a câmera de suas mãos. Esperou que uma cena dramática se desenrolasse à sua frente.


Nada aconteceu, porque a menina apenas franziu a testa, parecendo somente distraída. Ele não poderia dizer que ela realmente o notara. Talvez sim, talvez não. Talvez ela nunca viesse a descobri-lo.


Notando que The Lost Girl, minutos depois,  pousou o livro em suas pernas e pegou seu celular – logicamente para saber as horas, ele percebeu; ela sempre fazia aquilo -, Remus olhou mais atentamente. Talvez fosse a última foto do dia. Ela estava comprimindo os lábios de maneira sensual – aparentemente sem denotar algum sentimento de desejo entre as pessoas à sua volta, exceto, claro, vindo de Remus.


Flash.


Ela alongou o pescoço e pegou seu livro mais uma vez.


Flash.


Então, The Lost Girl levantou-se e, sem olhar para trás, deixou o banco, e logo em seguida, o parque.


Remus ofegou.


Fora por pouco naquele dia.


E se ela realmente o tivesse notado?


Ele não sabia qual seria a conseqüência. Aliás, preferiu tirar aquele momentâneo encontro de olhares da mente.


x.x.x


- Sirius Black -


Sirius suspirou. Olhou mais uma vez para aquelas fotos.


É, aquilo não estava certo.


Emmy mandando beijo, ela e Sirius abraçados, ela e Sirius se beijando...


Era tudo tão, não sei, perfeito que tinha acabado por matar a ânsia de Sirius. Talvez, ele tivesse levado aquilo muito longe. A princípio, gostara do resto de Emmeline – e o resto de Emmeline o enlouquecia -, mas aí, quando percebeu que apenas era mais um tratando do mesmo jeito mais uma garota... bem, as coisas mudaram. Mas só na mente de Sirius. Emmy ainda acreditava piamente que Sirius estava apaixonado. Ele estava, mas bem menos. E ele sabia que quando o amor diminui é porque a coisa tem que parar imediatamente. Porque se não podia amá-la como no começo, de que adiantava enganá-la daquele modo? E Sirius bem sabia que Emmeline não era burra. Ah, burra de maneira alguma. Era bem espertinha aquela menina.


- Sirius? – sua mãe indagou, metendo a cabeça para dentro do quarto do filho.


- Oi – Sirius levantou os olhos na tela no celular.


- Não vai vir tomar o café da manhã?


- Hm, vou. Só um instante, está bem? – Sirius lhe disse.


- Claro. É... algum problema?


Sirius quis rir. Como sua mãe sempre acertava?


- Talvez.


- A escola?


- Não, algo mais... pessoal.


- Oh. Me desculpe, então.


- Mãe, você acha que a Emmy é, tipo assim, boa para mim?


- Por que ela não seria? – sua mãe ficou surpresa.


- Acho que preciso conversar com ela.


- Ah, Sirius – ela lamentou – Vai terminar com Emmeline?


Sirius olhou-a espantado.


Ele não falara em término, pelo amor de Deus!


- Mãe! – exclamou ele – Não sei, tá legal?


- Sirius... Emmy é ótima para você. O que o faz pensar que não? – Sra. Black entrou no quarto, tímida. Quase nunca se adentrava ali.


- Acho que... – Sirius franziu a testa, olhando mais uma foto; ele e Emmy se beijando, mais uma vez – Acho que estou confuso, é isso – ele tentou forjar um sorriso; em vão.


- Eu gosto da Emmeline – sua mãe lhe disse como se encerrasse o assunto.


- Eu também gosto. Na verdade, adoro-a... mas algo não se encaixa mais, sabe?


- Não.


- Ah, deixa para lá – deu ele de ombros - Vamos tomar café da manhã – animou-se, levantando-se da cama.


Depois da refeição, seu telefone tocou.


Era Emmy. Queria saber se ele a pegaria em casa. Ele disse “claro”, ainda que quisesse lhe dizer “não sei”.


- Estou saindo, gente – Sirius disse aos pais, já na porta, com sua mochila nas costas.


- Não se esqueça que hoje você trabalha no Black’s, hein – seu pai abaixou o jornal e olhou o filho de modo severo.


- Não esquecerei – ele disse, e complementou mentalmente: “Já que eu vivo para trabalhar lá”.


A casa de Emmy ficava em torno da praça principal da cidade. Era quase um longo caminho, mas Sirius sempre se disponibilizava para a namorada.


Quando estacionou seu carro, viu Emmeline com um grande sorriso no rosto. Seria ele tão egoísta assim a ponto de querer desfazer aquele sorriso?


- Oi, Six – Emmy o beijou nos lábios, assim que se acomodou ao seu lado, no banco do carona.


- Oi, Emmy – ele disse mecanicamente – Como foi o seu fim de semana?


- Engraçadinho – ela riu, corando.


Sirius riu também.


Eles tinham passado horas malucas juntos ao longo do sábado e do domingo. Ninguém poderia negar que eles eram bastante sintonizados.


E então Sirius deu partida, seguindo para a escola.


Era melhor manter Emmeline e aquilo longe de seus pensamentos por um tempo até saber direito o que fazer. 




:::

N/a: oi oi *-* Tenho que confessar que eu escrevi o capítulo há uns três dias, mas não tive tempo de postá-lo. Mas, bem, um suspensezinho não faz mal a ninguém, não é mesmo? 
Muito obrigada a Domi (você só fica me elogiando e babando em cima de mim, desse jeito vou ficar mal acostumada), a (você é outra, Dona Carolina), a Gaby Black (awn, você deixou um pouco de acompanhar as minhas fics, mas que bom que voltou) e a MayBlack (você nunca me deixa também).
Continuem a comentar para eu ficar sintonizada com vocês e ver o que posso fazer ou não fazer nessa fic (:
Adoro o apoio de vocês. Beijo beijo, amadas ;* 

Nina H.


28/04/2011

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