- prólogo -



Prólogo
Ou Hey Monday, Light Me Up


- Lily Evans -


Segunda-feira era de morrer. Ninguém gostava das segundas-feiras. Dia de trabalho, dia de começar a planejar a semana, dia de começar a ser qualquer coisa.


O pior de tudo é ser segunda-feira às seis da manhã. E com chuva. Quem aprecia chuva logo de manhã, bem na hora que você deveria estar se levantando da cama quentinha e aconchegante? Além da chuva já ir contra todos os princípios de Lily Evans, o despertador estava disparado, berrante, chamando-a. Na verdade, gritando com ela.


A chuva ia, com certeza, acabar com seu dia. A moça simpática do tempo, na noite anterior, tinha dito que o dia amanheceria com alertas de temporais em alguns pontos, principalmente no Leste.


Lily jogou pesadamente sua mão sobre o maldito despertador. Ele se calou. Ela gemeu de preguiça e retornou a repousar a sua cabeça no travesseiro. Ali estava bom demais. Ela sabia que a maioria de suas clientes iria começar a ligar desesperadas cancelando os passeios. E cinco minutos mais tarde, os telefonemas começaram.


Sua mãe gritou lá da cozinha, com o telefone sem fio na mão. A Sra. Evans estava preparando panquecas e não encontrava o mel que seu marido guardara. Estava mal-humorada. Lily não saía de casa sem panquecas com mel.


- Lily, meu bem? A Sra. Harris está ao telefone. Pediu para você não passar na casa dela – a Sra. Evans comunicou com impaciência – Além da chuva, parece que a Jenny não está muito disposta a sair de casa.


Lily sentiu um alívio. Uma casa a menos. Seria bom que todas cancelassem, não?


Rezou para que a chuva interditasse todas as expectativas de seus clientes.


x.x.x


- Marlene Mckinnon -


Marlene estava feliz.


Degustando seu cereal matinal enquanto escutava uma nova música do Maroon 5 no canal da MTV, ela não parava de pensar que talvez, ainda que a chuva estivesse mais do que presente, provavelmente devastando alguns pára-brisas de carros por conta do granizo, aquele dia pudesse resgatar suas memórias tão importantes de criança.


Halloween.


Desde que assistia ao canal da Disney, quando tinha cinco anos de idade – tão pequenininha, ela gostava de pensar -, Marlene gostava de ficar na frente da TV assistindo aquelas maratonas de filmes de terror e suspense leves – afinal, era a Disney, não um livro do Stephen King – e imaginando quando é que poderia sair de casa para pedir os doces pela vizinhança, sempre vestida de maneira impecável, pois sua mãe, uma das mais renomadas decoradoras de Londres, tinha bastante dinheiro para gastar divinamente em uma fantasia estonteante de princesa ou de fadinha para a filha.


Agora, entretanto, aos dezesseis anos, Marlene não queria mais fantasias e tão pouco sua mãe ligava para a opinião da filha. A Sra. Mckinnon já deixara de mandar a empregada Ellie até a loja de fantasias mais cara que podia encontrar para Marlene escolher sua fantasia do ano.


Ao menos, era isso que Marlene pensava. Que não precisava mais de fantasias para ser feliz.


Mas naquela manhã londrina tão típica, seus valores se contestaram.


Ela queria, sim, fantasias. Para o Halloween. Ela sabia que ninguém que ela conhecia ainda se entretinha com o canal da Disney com o mesmo ardor que ela nem apreciava aquele dia especial. Mas Marlene gostava de ser diferente.


A campainha soou.


- Lene, atenda, por favor! Deve ser a Claire! – sua mãe, lá do quarto, berrou. Marlene sabia que a mãe ainda não tinha completamente se vestida, caso contrário já estava ao seu lado bebendo um suco especial de ervas – um tipo de suco que Marlene considerava nojento.


Marlene suspirou e limpou a boca em um guardanapo. Manhãs de segundas-feiras eram um saco.


- Oi, Claire – Marlene sorriu sem ânimo – Minha mãe já deve estar descendo.


Marlene pensou que, se fizesse também aulas e ioga, sua vida seria bem menos estressante.


E como seria.


x.x.x


- Dorcas Meadowes -  


Dorcas não acreditava que Gilbert, seu melhor amigo, tinha se esquecido de dizer que logo no primeiro período sua turma teria prova de Álgebra. Dorcas era péssima em Álgebra, por mais que estudasse.


Enquanto estava tentando se decidir se iria com ou sem o lenço rosa no pescoço para a escola, seu celular deu alerta de mensagem. E ela bem sabia quem era. Era a única pessoa que ela conhecia que teria a audácia de lhe mandar uma mensagem às seis e sete da manhã. Em uma segunda-feira chuvosa.


Oi, Coisona do Inferno. Estudou para a prova de Álgebra?


Antes, talvez até o primeiro colegial, Gilbert apenas a chamava de Coisa. Depois de um tempo, depois daquele incidente, as coisas mudaram um pouco. E Gilbert começou a chamá-la de Coisona do Inferno. Mas Dorcas raramente se abatia por esse apelido. Ambos sabiam que aquilo era amor. Era uma forma branda de demonstrar amor.


Então, como ela havia dormido mais do que um urso polar hibernando na última aula de Álgebra - e pelo que ela soube Gilbert também não tinha comparecido -, Dorcas tomou consciência de que era hora de estudar, nem que fosse por alguns minutos. E ela não sabia nada da matéria. Parecia que tudo tinha se evaporado de sua mente. Puft.


- Ah, droga! – ela xingou, assim que agarrou de qualquer maneira o lenço rosa de seu cabide.


- Dorquinha? – a voz com sotaque falso de francês soou calma do outro lado da porta – Já se levantou?


- Já sim, mãe – Dorcas respondeu, afobada.


Não acreditava que iria estudar àquela hora. Era de morrer.


Dorcas apareceu no corredor, assustando sua mãe, pois levava consigo seus livros de matemática.


- Aonde vai com tudo isso, querida? – sua mãe quis saber, franzindo a testa.


- Para a mesa – ela disse com simplicidade – Gilbert me disse que teremos prova logo no primeiro período.


- E o que você estava fazendo que não ouviu que teria prova justo hoje? – os olhos de sua mãe se estreitaram.


- Hm, bem – Dorcas soltou um risinho. Quando se sentia ameaçada soltava aquele risinho agudo, mas aparentemente ninguém de sua família ainda tinha se familiarizado com ele. Ela dava graças a Deus – Passei mal – ela mentiu, e instantaneamente sentiu-se culpada, porque sua mãe era ótima para ela; nunca reclamava das detenções que pegava por conta de bater nos meninos que insultavam Gilbert.


A expressão da Sra. Meadowes se modificou.


- Ah, querida – ela lamentou – O que você sentiu?


Dorcas engoliu em seco. Não era boa em mentir.


- Lembra-se daquele dia no parque que eu não comi por, tipo, quase dezesseis horas seguidas? – ela perguntou; sua mãe assentiu – Então, senti aquilo de novo.


- Ah, mas Dorcs, o que eu já lhe disse sobre acordar e não tomar o café da manhã? – sua mãe não aparentava estar irritada ou brava, estava preocupada.


- Desculpe. Eu estava atrasada – mentiu mais uma vez. A verdade é que Dorcas quase nunca se atrasava, porque o carro de Gilbert estacionava pontualmente, de segunda à sexta, às oito e vinte da manhã. Ela odiava ser a única menina da turma a não possuir um carro. Mas ela não podia reclamar. Quando fizera dezesseis anos, pedira um laptop da última geração, aquele que girava a tela e tinha tech screen. Seu pai insistira para que a família lhe desse um carro, mas Dorcas não aceitou. Seu irmão Bert já havia pedido um carro novo no verão, e ela bem sabia que seus pais não eram ricos para conseguirem comprar dois carros no mesmo ano. Nem que fossem dois carros populares.


- Você e Gilbert precisam parar de assistir a filmes até às quatro da manhã – foi tudo o que a Sra. Meadowes lhe disse, beijando-lhe o topo da cabeça.


- É, vou dizer para o Gilbert parar de me chantagear com chocolate – Dorcas respondeu.


Porque era sempre assim. Gilbert a chantageava com chocolate – principalmente com Hershey’s – todas as noites, sempre que ele alugava um novo filme para eles verem. E assim, Gilbert acabava tendo de dormir no colchão que Dorcas tirava do beliche do irmão e colocava ao lado de sua cama. Às vezes, de propósito, ela se jogava em cima dele nas manhãs. Ele dizia que ela era uma idiota por fazer aquilo, mas bem que ele gostava. Dorcas apenas ria, quando ele a jogava para o canto e pegava seu travesseiro para começarem uma guerra de travesseiros.


E assim Dorcas acompanhou sua mãe até a mesa da sala. Ela esperava realmente que pudesse estudar de verdade.


x.x.x


- James Potter –


Correr.


James Potter, mais por vaidade do que por necessidade, fazia parte do time de corrida da escola. Todas as manhãs, mesmo aos fins de semana, levantava-se, trocava seu shorts amarrotado pelo uniforme verde do time de corrida, comia seu prato já feito por seu pai – ele o preparava quase mecanicamente -, voltava para o quarto, fazia uma série de abdominais e saía para o parque que corria com sua equipe.


Era sempre assim.


Porém, naquela manhã chuvosa, James se revirou na cama, pensativo. Será que seria melhor inventar uma gripe repentina? Estar na cama nunca lhe pareceu tão certo quanto àquele momento. Tudo que queria era permanecer ali, apenas pensando no quão ridículos os outros garotos iriam parecem correndo na chuva. Tudo bem que só estava chuviscando, mas ele sabia que o tempo mudava muito rápido, especialmente ali em Londres.


- James? – seu pai berrou.


Pronto, não tinha mais como pensar que sua manhã começara quase bem.


O Sr. Potter era desajeitado, embora soubesse fazer comidas com certo requinte, e adorava ficar na frente da TV nos finais de noites. Como eram apenas ele e único filho, a vida daquele modo lhe parecia bastante certa. Ele desejava que seu filho largasse de andar tarde da noite para procurar meninas nas esquinas e se concentrasse nos estudos, principalmente porque o final do colegial estava perto. Como apresentaria aquelas notas esdrúxulas às universidades?


- Já vou – James revidou.


Suspirou e foi para o banheiro. Se fosse mesmo correr na chuva, precisava de um banho para animá-lo.


x.x.x


- Remus Lupin -


Remus sabia que precisava de inspiração. E aquela chuva não lhe trazia inspirações.


Chuva é tão... monótona. E Remus não era do tipo que ficava depressivo por nada.


No entanto, naquela manhã... bem, parecia que seria um grande dia.


Halloween.


As pessoas, pelo que ele sabia, gostavam daquele dia. Não apenas as crianças. Ele também gostava daquele dia.


Mas ele também sabia que era apenas mais uma segunda-feira. Teria que comer junto aos outros funcionários e agüentar o Peter, seu melhor amigo, dizendo-lhe que podia estar bem melhor de vida, caso tivesse aceitado o dinheiro que seu pai lhe propusera.


Remus sempre tinha gostado de ficar sozinho. Então, quando completou dezoito anos, ele foi embora de casa. Seu pai e sua mãe – especialmente sua mãe – não queriam enxergar o verdadeiro objetivo do filho. Remus somente precisava de um lugar só dele. Não era difícil de entender. Ele gostava de estar só, de estar no meio de seus livros velhos. Gostava, mais ainda, de trabalhar na Stanfords Store, sua livraria preferida. Lá, ele sentia que podia ser o nerd de sempre sem ser julgado.


O que ele seria sem seus livros? Isso, seus pais nunca tinham entendido.


E ele gostava de ser anti-social. Ele sabia que tudo valia à pena.


x.x.x


- Sirius Black -


Sirius Black gostava de ser Sirius Black.


Ele apenas gostava de se observar no espelho e achar que tudo estava bom.


Gostava até mesmo de ir para a escola. Gostava, não. Adorava. Porque era lá onde podia encontrar Emmeline Vance e suas amigas.


Ele, até certo ponto, suportava Emmeline. Ela era loira, de olhos azuis. E ele gostava de todo o resto também. Principalmente de todo o resto.


Naquela manhã, ele estava pensando especialmente em Emmy. E em todo o resto que ela possuía.


Se fosse por ela, sair da cama valeria à pena.


Além da escola, que Sirius adorava freqüentar, mesmo que fosse para aturar as aulas de Saúde, ele também apreciava trabalhar no Black’s, o restaurante de sua família. Porque lá, Emmeline, mais uma vez, estava presente. Ela era a garçonete mais querida por todos. Os pais de Sirius sempre gostavam de conversar com Emmy, porque ela parecia ser burra e superficial, mas na verdade era muito simpática e inteligente. Ganhara uma medalha, uma vez, por ter feito seu grupo de biologia – na época era um grupo super sério, como o grupo de matemática – vencer a maratona de questões. Ninguém, exceto os que passavam pelo corredor perto da sala de Música, sabia disso. Uma foto de Emmeline, bastante sorridente, estava destacada no mural, dizendo que ela era a líder do grupo. Emmeline, no entanto, não se orgulhava tanto. Para ela, tinha sido apenas uma fase. Ela, agora, estava bem mais ocupada se divertindo com Sirius Black.


Sirius olhou para fora do quarto: as gotas pesadas martelavam no telhado do sotão, seu quarto.


Decidiu, então, levantar-se.


Emmeline era um ótimo motivo para deixar, quase todos os dias, a cama. 





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N/a:


yeey yeey. Então, mais uma vez, eu estou escrevendo mais. Incrível o quanto eu posso ser idiota, de vez em quando. Mas, é, eu não consigo ficar parada por muito tempo. Sei que Back To December ainda nem terminou, mas achei que precisava de mais uma fic. Na verdade, essa fic já está na minha mente há um tempo, então decidi que nada adianta eu só repelir esse meu desejo de escrevê-la. Espero que aproveitem, sério. Tudo o que escrevo é de coração. 
MarianaBortoletti: não, querida, essa fic não tem nada do filme Helloween. Não é de terror ou suspense, é apenas sobre o amor (clichê, eu sei. E eu vou entender se você não quiser lê-la). 
 
Nina H. 


23/04/2011

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