A vingança



                                             - O que toda mulher inteligente deve saber é que-

Eles querem uma mulher competente, que possa pensar por si mesma, dar conta dos próprios problemas, tomar as rédeas, não uma menininha indefesa, frágil e sem opinião, que ele precisa salvar o tempo todo. Eles querem uma mulher que não precisa ser salva, mas que salva a si mesma.



 



Claro que depois de uma grande vitória da Grifinória, tinha uma grande festa pós-jogo no salão comunal, e ele estava absolutamente lotado, com um som alto, todo mundo rindo, bebendo, cantando, dançando, ficando e sabe-se lá mais o que naquela zona toda.

Eu já tinha subido para o meu dormitório, tomado um banho para me livrar daquele cheiro de peixe morto e tinha me produzido com muito mais capricho depois daquele clima todo que tive com o Sirius, quem sabe eu tivesse um pouco mais de sorte nessa festa.

Coloquei uma calça jeans bem justa e uma blusa vermelha justinha, me maquiei bem, passei um batom vinho forte, arrumei os cabelos, deixando-os caídos ao lado do rosto, mais lisos e soltos e desci “toda toda” para a festa sabendo que eu ia arrasar.

Acho que eu estava começando a me achar demais.



A turma toda estava mais animada do que o normal, era quase como se tivéssemos vencido o campeonato, a comemoração aquela noite estava super agitada e quando adentrei o salão comunal fui pega pela barulheira de conversas animadas que mais parecia uma peixaria, misturadas com a música alta fruto de algum feitiço de um espertinho do sétimo ano, pessoas rindo, andando pra lá e pra cá, algumas aglomeradas em cantos, uma verdadeira festa.

Parei e demorei um tempinho procurando as meninas e quando encontrei, fiquei mais um tempinho procurando o Sirius, quando meus olhos encontraram com os dele. Ele sorriu para mim e eu sorri de volta, caminhando em seguida em direção as meninas, mas pega de surpresa no caminho por ninguém mais, ninguém menos que... Wood.

— Marlene! – Ele me puxou para seus braços e me abraçou, me erguendo do chão e me fazendo dar um gritinho risonho, alto, mas não mais alto que o som que ecoava pelo salão.

— Wood! Me desce. – Eu disse risonha enquanto ele me rodava, me girando e quase me fazendo bater em pessoas à nossa volta, o que o fazia rir e eu rir mais ainda.

Acho que ele já estava bem bêbado.

Ele me colocou no chão e eu ajeitei os cabelos e a roupa, com medo de alguma coisa ter saído do lugar.

— Caramba, como você tá gostosa! – Eu ri alto, ele estava mesmo bêbado.

— Você já bebeu quantas? – Eu perguntei, ainda risonha e ele riu, me enlaçando pela cintura e me puxando em direção ao meio do salão. Pude ver que Sirius me olhava e desviei os olhos, não conseguia olhar para ele depois daquela tarde, depois de termos quase nos beijado e agora estar ali, com Wood me abraçando como se eu estivesse afim dele ou gostando dele, quando meu coração era todo de um tal Sirius Black.

Essa coisa toda de plano, de fingir estar afim de outro, de não poder dizer a quem a gente ama que o ama era muito difícil as vezes.

Wood me arrastou até onde as meninas estavam e eu parei ao lado delas com a cara risonha e sem entender nada enquanto Wood tagarelava ao meu lado coisas que eu não estava sequer prestando atenção.

— ONDE VOCÊ ESTAVA?! Eu tenho um monte de coisas pra te contaaaaaaaaar! – Meu Deus o que acontecera nesse período enquanto eu me arrumava no dormitório?

Lilian me puxou nada delicada para perto dela, me tirando de Wood que protestou, meio bêbado.

— Hey, dá a minha garota aqui. – Epaaaa! Minha garota? Como assim? Agora sou a garota dos outros e nem tô sabendo?

— Agora ela é minha! – Disse Lilly, possessivamente, o que causou risos em todos e eu dei de ombros.

— Calma ai gente, tem Lene pra todo mundo. – Disse Emme e todos riram mais ainda.

— Você não vai acreditar! – Lilly estava eufórica, era como se ela tivesse acabado de dar seu primeiro beijo, o que era bem irônico, porque quando ela deu seu primeiro beijo ela ficou morrendo de vergonha de nos contar e não como ela estava naquele momento.

— O que aconteceu, Lilly? Você finalmente conheceu o Mike Dee? – Ela era mega-hiper-ultra-super-master-blaster (acho que você já entendeu né) apaixonada por Mike Dee, um jogador de quadribol lindo, maravilhoso, gostoso e tudo de oso que você possa definir.

— Aiiiiiiiiiii nãooo. – Ela riu alto, toda excitada. – Meu Deus, quem dera. Ai quem dera! – Eu gargalhei e aproveitei a deixa quando alguém passou com várias garrafinhas de cerveja amanteigada flutuando no ar a sua frente e surrupiei uma, girando a tampinha para abri-la e virando um gole, enquanto ela me puxava de lado pelo braço para que ninguém ouvisse o que ela tanto queria me contar.

— Eu recebi um bilhete de um admirador misterioso! – Ela parecia super empolgada com isso, eu apenas franzi o cenho. Admirador misterioso? O Potter com certeza iria querer matar esse admirador.

Ela enfiou a mão no bolso da calça jeans e puxou um pedaço de pergaminho meio amassado (de tanto enrolar e desenrolar, provavelmente) me entregando em seguida para que eu pudesse ver.

Era uma letra típica de menino, mas não muito garranjosa, eu conseguia entender perfeitamente.



“Lilian...

Eu te amo do amanhecer ao anoitecer e mesmo quando durmo, ainda te amo. Eu te amo nas três dimensões, nas quatro luas, nos quatro elementos, nas quatro estações, nos quatro pontos cardeais. Eu te amo nos cinco sentidos, nas sete cores do arco-íris, nas sete notas musicais, nos doze signos do zodíaco, em tudo o que existe eu te amo cada vez mais. Eu te amo na procela e na calmaria, em todos os josés e marias, nos infantes, nos anciãos, nos amigos, inimigos ou irmãos, eu te amo em toda a criação. Eu te amo no caos aparente ou na mais perfeita estrutura, eu te amo como o próprio criador ama a sua criatura. Eu te amo no vento que vem do norte, na linha do horizonte, na pequena fonte, nas nuvens grávidas de chuva, eu te amo nos meus dias nefastos e nos meus dias de sorte.

Seu admirador secreto.”



inha nossa senhora do Guadalupe, QUE declaração.

Fiquei olhando para o bilhete, perplexa com aquelas palavras e ergui os olhos para olhar em direção a Sirius que estava a um canto do salão, não muito longe dali, rindo animadamente entre os amigos, como se nem se lembrasse mais da cena do peixe morto, do nosso quase beijo, da noite anterior. Fiquei ali, imaginando ele me dizendo ou me escrevendo palavras como aquelas.

Agora eu entendia a euforia de Lilly, imagina alguém escrever uma coisa assim para você!

— Meu Deus, Lilly... – Eu disse simplesmente, e ela puxou o bilhete da minha mão, toda sorridente, falando em seguida.

— Eu sei, eu sei. É LINDO, não é? – Eu ri, de quem será que ela imaginava que era aquele bilhete? Quer dizer, eu nunca vira Lilly apaixonada por ninguém, sempre desconfiei que ela sentisse algo por Potter, mas não tivesse coragem de assumir depois de tantas brigas e encrencas como maroto, mas ela nunca nos dissera de nenhum garoto que gostasse, mesmo que as vezes ficasse com um aqui ou ali, o que era bem raro tanto quanto eu ou Emme ficar com alguém, éramos mesmo bem na nossa em relação a garotos, principalmente eu que era apaixonada e Emme também, mas Lilly nunca nos dissera ser apaixonada por ninguém, e agora aquela alegria toda me fazia suspeitar de que ela nunca nos dissera, mas que provavelmente sentia algo por alguém e só não nos contara, mais ou menos como fora em seu primeiro beijo, por vergonha ou medo do que iriamos dizer.

— Mas quem é esse admirador? – Eu perguntei, toda curiosa, claro que eu estava mega curiosa tanto quanto ela estava mega feliz por ter um admirador, ou talvez por pensar que esse admirador era alguém especifico que eu descobriria quem era até o fim da noite (graças ao poder de algumas bebidas por ai).

— Nãoo seeeei. – Ela disse de um jeito de quem sabia quem era, mas não podia contar.

Lilian, quer mais uma garrafinha de cachaça?

Eu ergui as sobrancelhas e ela gargalhou toda feliz, grudando em meu braço como um casal de namorados e me puxando para junto das outras meninas que conversavam animadamente um assunto que eu não fazia a menor ideia do que era, só peguei o bonde andando, ainda pensando em quem poderia ser o tal admirador misterioso de Lilly; Se não fosse o Potter, o que eu duvidava muito que não fosse, eu não conseguia pensar em muita gente, quer dizer, a Lilly sempre fora uma menina mais na dela, apesar de ser toda doce, gentil, amiga e bondosa com todo mundo, e esse jeitinho dela era bem capaz de conquistar qualquer um, ou fazer qualquer garoto mais volátil ao amor, pensar que ela estava dando em cima quando na verdade só estava sendo ela mesma, a Lilian doce e meiga que era com todo mundo.

Parei de pensar nesse assunto quando ouvi o nome de Sirius no meio das conversas que rolava ali.

— É sério? – Emme ia dizendo, com a cara meio de assustada, nojo e incredulidade e então saquei qual era o assunto: os peixes mortos.

— Foi o que eu ouvi mesmo. – Disse Wood, dessa vez parecendo um pouco mais sóbrio do que quando me chamara de gostosa naquela entonação de algo mais, ou ele estava meio bêbado, mas não totalmente, ou estivera fingindo estar bêbado para poder me dizer o que achava mesmo de mim sem ficar sem graça.

Essa era uma boa tática.

— Os armários estavam todos cheios de peixe morto. – Ele continuou fazendo Lilly fazer a maior cara de nojo que uma bêbada pode fazer. Imagine.

— Eeeeeeecaaaa, que nojo! - E todo mundo riu.

— Estava extremamente fedorento. – Eu disse, como se estivesse lá, e realmente estava, e isso fez todo mundo virar o rosto para me encarar pensando exatamente isso. Eu estava lá?

— Como você sabe? – Emme ergueu as sobrancelhas. Droga, eu poderia escapar de qualquer um, menos dela.

— Eu ouvi falar, ué. – Dei de ombro como quem só estivesse repetindo o que ouviu, não como alguém que realmente estivera lá, trancada numa sala minúscula com um Sirius Black apenas de toalha que se espremera contra mim numa salinha quente, úmida e escura e quase me beijara na boca.

Ela me olhou com seu olhar de águia, e eu dei um sorriso amarelo, bem lindo, o que a fez com certeza saber que tinha muito mais do que eu havia dito para lhe contar mais tarde.

Droga.

Okay, confesso que, no fundo, no fundo, eu não via a hora de contar para elas o que acontecera, dessa vez eu gostaria MUITO de saber o que elas achavam de tudo aquilo, o quase beijo, o “você é incrível”, e o “Wood era um garoto de sorte”, ou quase isso.

— Gente, mas o que a Sonserina estava pensando? – Perguntou Alice, o que fez todo mundo começar a falar ao mesmo tempo.

— Eles são uns idiotas. – Disse Emme, revoltada.

— Uns animais.

— Babacas.

— Otários.

—Nojentosssss – Disse uma Lilian, bêbada.

— Ridículos.

— Não sabem perder nem quando não são eles jogando.

— Precisamos fazer algo.

— É, precisamos dar o troco.

— Temos que nos vingar.



— Éeee, vamos nos vingar.

— Vamos.

— Vamos.

— VAMOS. – Terminou Lilly, muito bêbada, gritando para todo mundo ouvir, bom, quase todo mundo, porque naquele som alto da música e aquele falatório de peixaria, nem todo mundo poderia ouvir, mas todo mundo ali presente ouviu e gritou junto, em apoio total.

Tínhamos que nos vingar, com certeza absoluta.

E aquela noite era perfeita para isso.





Não me pergunte como, mas a maneira como conseguimos convencer algumas pessoas a invadir o dormitório da Sonserina foi muito mais fácil do que a coragem para entrarmos quando já estávamos no corredor que nos daria acesso ao salão de dormitórios dos inimigos.

Sirius que se animou de maneira intensa quando sugerimos nos vingar naquela noite, estava à frente de nós, olhando escondido de um corredor a outro, onde do outro lado a porta do dormitório estava visível.

Estávamos decidindo como entrar sem sermos vistos ou chamar a atenção. Será que todos da Sonserina já tinham ido dormir?

Olhei para o relógio no meu pulso e vi que eram exatamente quinze para meia noite, era impossível que todos já estivessem dormindo, ninguém em sã consciência dentro de Hogwarts dormia antes da meia noite no sábado, mesmo que isso fosse contra o regulamento. Mas invadir dormitórios alheios e se vingar por uns peixes mortos também era contra o regulamento. Quem ligava?

Sirius se virou para nós, atrás dele estava James, Remus, Ulisses e Mario, garotos do time de quadribol, Emme, Lilly e eu; éramos pessoas demais da Grifinória para passar despercebido dentro da Sonserina.

— A luz embaixo da porta parece estar apagada, talvez não tenha ninguém no salão deles. – Olhamos para Sirius com o coração batendo a mil e o medo e a ansiedade pulsando nas veias.

— Somos pessoas demais, vamos chamar a atenção. – Eu disse, chamando a atenção de todos, fazendo uns assentirem com a cabeça, outros ficarem pensativos, como se tentassem achar uma solução ou uma maneira mais fácil de entrarmos.

— Não seria melhor fazermos isso durante a semana? – Sugeriu Ulisses, e alguns também concordaram. Não todos.

— Não. Eles já esperam que façamos isso depois, não esperam que a vingança venha hoje. – Disse Potter, e eu entendi perfeitamente porque ele era o capitão do time, ele pensava bem em táticas, no que os outros esperavam que se fizesse ou não, dentro e fora de campo. – Vamos fazer o seguinte. Eu e Sirius vamos estar com um feitiço no rosto e entramos, duas pessoas vem atrás e fica na porta de olho em tudo, e os outros ficam aqui fora para avisar quem está na porta se vier ou ver alguém.

Ficamos ali, pensativos por alguns segundos, analisando a situação.

— E se nós formos juntos? – Eu disse, fazendo Sirius e James me olharem. – Eu, Emme e Lilly; Podemos pegar algumas roupas da Sonserina, e entramos fingindo que estudamos lá, ninguém vai olhar muito pra gente. Abrimos espaços e vocês vem atrás com as coisas, enquanto dois ficam na porta e os demais aqui fora para avisar se ver ou ouvir algo.

— Podemos mandar mensagem em código por pergaminho, aprendi um jeito de fazer mensagens aparecer em pergaminhos enfeitiçados mesmo longe um do outro e depois se embaralhar, assim, se alguém for pego, não denuncia nenhum outro, porque ninguém vai provar que as mensagens têm a ver com o “ataque”. – Boa Emme, ela devia fazer parte de algum grupo terrorista, porque era um gênio.

Remus deu uma olhada com os olhos brilhando em direção a Emme e eu aposto (e já ganhei) que o coraçãozinho dela ficou a um milhão dentro do peito.

— Boa ideia, meninas. Então temos que nos apressar. – Sirius voltou para trás, se afastando do corredor e da porta da Sonserina.

Voltamos correndo pelo corredor tentando não chamar a atenção tanto quanto um monte de rinoceronte correndo por um corredor de um castelo poderia não chamar.

Eu, Emme e Lilly corremos em direção a lavanderia enquanto os meninos corriam atrás da surpresinha para a Sonserina que eu só podia fazer ideia do que poderia ser. Algo pior do que peixe morto.

Já era praticamente meia noite quando chegamos a porta da lavanderia, se Filch nos pegasse estávamos ferradas.

Emme olhou pelo vidro, cautelosamente, vendo que estava escuro e vazio do lado de dentro, e girou a maçaneta com a varinha, empurrando a porta devagar para entrarmos. Não podíamos acender a luz senão chamaria muita atenção, então acendemos a ponta das varinhas e fomos iluminando a parte de dentro

.A lavanderia era grande, haviam diversas máquinas de lavar no grande espaço, uma ao lado da outra, e como tudo nesse castelo, era dividido entre as casas. De todos os lados tinham máquinas de lavar trabalhando sozinhas, algumas batiam roupa, algumas pareciam estar centrifugando e algumas pareciam já ter terminado o serviço porque estavam silenciosas. Roupas voavam pra lá e pra cá, do cesto de roupa para maquinas, das máquinas para cestos, algumas sendo dobradas e guardadas, algumas sendo passadas por ferros flutuantes.

Era uma coisa lindamente mágica de se ver.

Era expressamente proibido mexermos nas roupas de outras pessoas, até porque eu nunca soubera que tinha uma lavanderia em Hogwarts até o dia que me deparei com uma, os elfos normalmente não te fazem pensar que existe aquilo ali. Mas, como eu ia dizendo, era proibido mexer ou pegar qualquer coisa de outro aluno; Se você fosse pego mexendo ou com a roupa de outra pessoa, poderia ser suspenso, perder 50 pontos para sua casa, ficar de castigo (isso significava não poder sair do castelo nas visitas a Hogsmead), ou pior ainda, ter um berrador no café da manhã e os seus pais chamados no colégio para conversar com o professor Dumbledore, o que era sempre a última coisa que alguém queria que acontecesse. Ter os seus pais no colégio era sinal de que você estava muito, mas muito ferrado mesmo, porque você ia ficar sem mesada por meses, sem visitas a lugar nenhum, e ia ser obrigado a se matar de estudar para passar nos NOMS e NIEMS, porque Aí de você se não tirasse as notas que precisava.

Estávamos correndo um risco lascado, mas a vingança seria saborosa, por isso, valia a pena.

Eu nunca tinha entrado na lavanderia antes, não que minhas roupas fossem sempre sujas e eu a porquinha do colégio, era que a gente podia muito bem deixar nossas roupas sujas no cesto de roupas do quarto, e no outro dia elas estariam limpas, dobradas e passadas em cima da cama.

Esses elfos eram tão eficientes.

Fomos abaixadas, com as luzes das varinhas iluminando a nossa frente e corremos até as maquinas da Sonserina.

Como esperávamos, algumas tinham roupas dentro ainda, provavelmente essas esperavam para serem recolhidas magicamente para serem passadas ou sei lá qual era a sequência mágica daquilo tudo. Me aproximei de uma das maquinas com cores verdes e a abri para ver roupas verde e branco dentro dela; enfiei a mão e puxei uma peça vendo que ainda estavam úmidas, como eu tinha imaginado.

— Não dá para usarmos essas, estão molhadas ainda. – Me virei para olhar para as meninas, ainda com a peça de roupa úmida na mão, e vi Emme ao final, onde havia diversos armários, um ao lado do outro.

— Vocês têm que ver isso! – Ela fez sinal com a mão, nos chamando, e nos encaminhamos até lá, ainda agachadas com as luzes bruxuleantes ao nosso redor.

Tinham vários armários, cada um deles com as cores indicando qual era a casa na porta, e dentro, haviam diversas prateleiras com os nomes dos alunos e suas respectivas roupas ali, passadas e dobradas.

Me aproximei e fiquei olhando, procurando minhas roupas e vendo, obviamente, primeiro as do Sirius. Peguei uma blusa dele que estava dobrada por cima e levei imediatamente ao nariz, mas não tinha mais o cheiro maravilhoso dele e do perfume dele, só cheiro de amaciante, o mesmo amaciante que vinha nas minhas roupas.

Olhei para o lado esperando ver as meninas me olhando com risinhos, mas elas estavam fuçando as roupas das meninas da Sonserina.

Coloquei a blusa de Sirius de volta ao montinho dele e me encaminhei até as meninas, parando ao lado delas.

— Essa não é aquela loira azeda? – Era assim que Emme chamava algumas loiras da Sonserina, eu não sabia o nome delas, só os apelidos.

— Acho que sim. – Disse Lilly que esticava uma saia a sua frente para ver se lhe servia. – Acho que isso serve em mim, né?— Ui, Lilly, o Potter vai ficar babando quando te ver com roupinha. – Disse Emme e eu tive que colocar a mão sobre a boca para abafar minha risada escandalosa.

Emme também riu e Lilly fez uma careta, colocando a saia sobre o ombro e pegando uma blusinha por cima da mesma pilha onde ela saqueou a saia.

— Vamos logo meninas. – Ela disse, olhando o relógio no pulso. Não tínhamos muito tempo.

Olhei algumas roupas e peguei também uma mini-saia de pregas, verde e uma blusinha  branca que provavelmente ficaria na metade da minha barriga; Emme saqueou a loira azeda, e corremos de volta ao nosso dormitório para nos trocarmos.

Era meia noite e meia quando eu, Emme e Lilly corríamos, o mais silenciosamente que conseguíamos no corredor que dava acesso ao dormitório da Sonserina, onde os meninos provavelmente já nos esperavam.

Quando nos aproximamos deles, ofegantes, vi o susto e depois o brilho nos olhos dos meninos.

E não era para menos.

Eu estava vestindo a saia verde, de pregas, que ficava acima da metade da minha coxa e uma blusinha branca que ficava na metade da minha barriga, deixando ela praticamente toda de fora. Lilian estava com uma saia Jeans, também mini, na verdade, que era um pouco maior que a minha, mas em milímetros, e bem mais justa em compensação. A blusinha verde com o símbolo nojento da sonserina era justíssima e deixava um pedaço da sua barriga de fora e fez os olhos de James saltarem para fora.

Emme, por sua vez, estava usando uma saia jeans também, e uma blusinha verde e branca com o símbolo da Sonserina, mas era de alguém menor que ela, porque a blusa parecia baby look, e a deixava com um decote, eu podia ver parte dos seios dela que eram bem chamativos, digamos assim.

Não tinha como os meninos não olharem para nós. Até os gays olhariam.

Paramos ofegantes e flagramos as caras de bobos deles.

Sirius, James, Remus, Ulisses e Mario estavam com a boca entreaberta nos olhando e eu ri, estalando o dedo na frente deles, como se já estivéssemos conversando com eles há um tempão, mas apenas estava brincando.

— Alou? E aí, conseguiram as bombas? – Eu não fazia ideia do que eram as bombas, mas apelidamos assim o que quer que os meninos iam conseguir para nos vingarmos da Sonserina.

Sirius ficou me olhando, descendo os olhos e subindo, enquanto Mario pigarreava e Potter ficava cada vez mais vermelho enquanto olhava para Lilly, tentando desviar os olhos em seguida, sem muito sucesso. Remus então, coitado, já tinha passado do vermelho para o escarlate fazia um tempão e agora olhava para o chão fixamente como se tentasse não olhar para os seios de Emme. O que eu tenho certeza que era impossível, até eu ficava olhando as vezes. Ela tinha um corpo de dar inveja em qualquer uma, e cobiça em qualquer outro.

— Conseguimos. – Sirius ergueu a mão com um saquinho bem recheado, e quando ele fez isso, um cheiro insuportável invadiu minhas narinas.

— Cruiz.

— Minha nossa senhora!

— O que tem aí? – Todas nós levamos a mão ao nariz, tentando tirar esse cheiro do nosso subconsciente, era um cheiro insuportável, uma mistura de esgoto, com diarreia, com coco de bebezinho (que não era nada cheiroso como algumas pessoas diziam), e urina de rato, tudo ao mesmo tempo.

ECA!

— Uma surpresinha bem melhor do que peixe morto. – Piscou James e Sirius riu, ele estava mesmo empenhado em dar o troco depois de ter ouvido os meninos da Sonserina no vestiário.

— Okay, vamos entrar. – Sirius se virou e deu alguns passos à frente;

Onde ele estava indo? Segurei o braço dele, o puxando de volta.

— Hey! Onde você vai? – Ele se virou e olhou para mim. Vi um brilho diferente nos olhos dele, mas foi muito rápido.

— Estamos perdendo muito tempo, já é quase uma hora. – Revirei os olhos.

— Você não pode entrar assim, eu e as meninas vamos na frente, vocês vêm quando dermos o sinal.

Passei por ele e Emme e Lilly vieram atrás.

Éramos as panteras detonando! Hahaha.

Os meninos ficaram olhando, acho que agora não apenas vendo as nossas coxas grossas e nossas barrigas tanquinho (a minha nem era tanquinho, mas ta valendo rs), mas vendo a nossa coragem. Se tem uma coisa que mulher tem muito mais do que qualquer homem, é coragem e atitude.

Fomos caminhando normalmente como se conhecêssemos aqueles lados como a palma das nossas mãos.

Para disfarçar, começamos a conversar e rir quando Emme abriu a porta e entramos no salão de dormitório da Sonserina. Assim que entramos e Lilly fechou a porta atrás de nós, caminhamos até o meio do salão que tinha um tapete arredondado e então paramos, olhando a volta.

Estava tudo vazio e apenas uma luz num canto da parede iluminava o ambiente, deixando ele meio escuro e meio claro ao mesmo tempo.

Olhei a volta e fiquei de queixo caído.

Era como se eu tivesse voltado no tempo, o lugar era luxuosamente lindo e elegante, como uma casa vitoriana deveria ser.

Tinha uma lareira a um canto, como no nosso dormitório também, mas a decoração a volta era extremamente chique.

Sofás de veludo por toda parte, um sofá de veludo bem grande e espaçoso em frente a lareira, com uma mesinha de centro do mesmo material do sofá, arredondado.

Um piano a um canto, não um teclado baratinho, não, um piano mesmo, de cordas, enorme, de madeira maciça e a coisa mais linda que eu já tinha visto dentro de Hogwarts. Sou apaixonada por pianos, diga-se de passagem.

Decoração vinda diretamente da casa deles, ou mansão, melhor dizendo, enfim, aquele salão de dormitório era uma humilhação perto do nosso que era bem mais aconchegante do que lindo, maravilhoso e cheio de decorações vitorianas.

Isso era muita injustiça.

— Uau. – Lilly disse baixinho e eu e Emme concordamos com a cabeça, meio segundo fascinadas por aquilo tudo. - Por que eles têm tudo isso e nós não?

— Deve ser coisa dos pais deles né, ou deles mesmo que são frescos demais. – Disse Emme, ela estava com raiva, acima de tudo. Eu a conhecia muito bem para saber disso. – Vamos, não podemos perder tempo. Vamos ver se não tem ninguém mesmo por aqui.

Caminhamos pelo salão, agora silenciosas, olhando a tudo, todos os cantos para ver se não encontrávamos pessoas escondidas, ou dormindo em algum cantinho, ou pior, acordadas, claro que, com a roupinha minimamente Sonserina de ser que estávamos não chamaríamos muito a atenção, mas vai que alguém nos reconhecesse né?

Andamos a volta e paramos, as três, perto de uma escadaria, MUITO chique, vinda direto de uma mansão espetacular, e nos entreolhamos.

O corrimão era dourado, parecia de ouro, e eu me perguntei se era só pintado de dourado ou se era de ouro mesmo. Os degraus em piso de mármore, e a escada em si era grande, espaçosa e arredondada, subindo para o segundo andar, onde deveriam ficar os dormitórios.

Diferentemente da Grifinória, onde a escada para os dormitórios masculinos ficavam de um lado e dos dormitórios femininos do outro, aqui era só uma escada para tudo, e eu fiquei pensando se eles dormiam tudo misturado, quarto de meninos do lado do de meninas, ou pior, meninos e meninas no mesmo quarto, ou casais num quarto só.

Seria uma putaria total e explicaria porque as meninas eram tão quengas.

— Vamos subir? – Perguntou Lilly, enquanto nós três olhávamos a escada.

Respirei fundo.

Se a vingança era para ser completa, então tínhamos que subir, tínhamos que nos arriscar, já estávamos ali mesmo.

— Sim. – Eu disse baixinho, fazendo Emme e Lilly me olharem. Respiramos fundo e encaramos as escadas, íamos subir.

Quando segurei o corrimão, percebendo que parecia mesmo de ouro, ouvi passos atrás de nós e senti um congelador de medo no meu estomago.

Alguém estava vindo atrás da gente, alguém da Sonserina estava ali, ia subir as escadas, ia passar por nós.

Olhei para as meninas com os olhos arregalados, e olhei para trás, instintivamente, e então, dei um pulo de susto.

— Meu Merlinnn – Levei a mão a boca, tentando abafar minha voz, meu grito, meu susto. Lilly e Emme também se assustaram e também estavam com as mãos sobre a boca.

— MINHA NOSSA SENHORA, quer nos matar? – Emme exasperou, mas com a voz num sussurro, o que era meio estranho, um grito silencioso.

Sirius, James e Remus estavam atrás de nós, com carinhas de inocentes.

— Vocês estavam demorando muito! – Disse James, e Sirius completou.

— Pensamos que tinham pego vocês de reféns. – Engraçadinho esse menino.

— Hahaha. – Eu disse, fazendo careta e me recompondo. – Quem ia virar refém ia ser vocês se matassem qualquer uma de nós de susto.

— Nossa, olha esse lugar. Parece um palácio! – Remus e James olhavam a volta agora, acho que pela primeira vez reparando em tudo que eu e as meninas ficamos meia hora babando.

— Agora entendo porque vocês demoraram. – Disse Sirius, com os olhos raivosos também. Todos nós estávamos pensando a mesma coisa. Por que eles tinham tudo aquilo e nós não?

— Vamos acabar logo com isso. – James começou a subir os degraus e eu levei outro susto.

— Nãooo. Espera. – Subi os três degraus que James tinha subido, aos pulos e o puxei pela manga da camisa. – Nós temos que subir primeiro e então vocês vão atrás.

— Ela tem razão, Pontas. – Sirius e Remus subiram atrás, acompanhados de Lilly e Emme. – Elas abrem as portas e nós entramos sorrateiros e colocamos as bombas.

— Exato. Se entrarmos e alguém estiver acordado, estamos vestidas a caráter. – Lilly disse, recuperada do susto e passando à frente de James que deu uma boa olhada nas coxas de Lilly enquanto ela subia a frente.

— Vocês estão com as máscaras? – Olhei para Emme. Claro, brilhante, até eu tinha esquecido. Melhor os meninos não serem reconhecidos, ou então, poderiam perder o lugar no time e nos ferrar de vez no próximo jogo.

As “máscaras” nada mais eram do que um feitiço que deixava apenas os olhos deles mais visível e a volta ficava uma mancha escurecida, deixando-os incógnitos. Tipo máscara de bandido trouxa, ou de motoqueiro, se você achar melhor a descrição. Para mim, pareciam mesmo bandidos.

Os meninos puxaram as varinhas e conjuraram o feitiço, parecendo que iam arrombar, roubar e matar, mas era quase isso, só que sem o roubar e matar.

Subimos silenciosos, os meninos atrás, e logo alcançamos o topo.

Havia um corredor enorme para o lado esquerdo e outro para o lado direito;

O corredor para o lado direito tinha um desenhinho de um menininho, o que indicava que para o lado direito ficavam os dormitórios masculinos, e para o lado esquerdo, desenho de menininhas, para os dormitórios femininos.

Os meninos seguiram em direção ao lado dos meninos, e nós os seguimos.

Eu adoraria começar pelas meninas, mas eu sabia que os meninos iam querer se vingar dos meninos, coisa de homens, sabe como é.

Eu e Emme nos entreolhamos e paramos quando alcançamos metade do corredor, onde os meninos estavam parados, talvez decidindo qual quarto invadir primeiro.

Os quartos tinham números, ao invés de nomes como os nossos, o que nos dificultava muito em saber qual quarto era de quem.

— Onde será que o Snape dorme? – James olhou para as portas tentando decifrar, como se ele tivesse visão de raio x e pudesse ver quem estava do lado de dentro das portas e paredes.

Todos nós fizemos o mesmo e ficamos ali, por alguns segundos tentando descobrir qual porta abrir, ou qual era de Snape e cambada para nos vingarmos corretamente, até que uma voz e uma frase nos surpreendeu.

— Eu sei. – James virou-se com tudo e encarou Lilly com os olhos arregalados. Até eu arregalei os olhos. Como ela sabia o número do quarto do Snape? – Eu já fui amiga dele, esqueceram?

Ela disse em sua defesa, mas James continuou encarando-a, desconfiado.

— Mas você já esteve lá? – A voz dele estava tremula, eu nem conseguia agora imaginar o quanto ele estava tentando não pensar em Lilly, o amor de sua vida, e seu maior inimigo, se beijando ou fazendo qualquer outra coisa, no quarto de Snape, no meio da Sonserina inteira, ainda por cima.

Não. – Respondeu Lilly, enfaticamente, como se fosse o maior absurdo possível dizer aquilo, e era. – Ele disse uma vez. Estávamos no primeiro ano e ele esqueceu de pegar o livro para a aula de herbologia, então o professor perguntou qual quarto ele dormia para conjurar o livro. O professor achou que ele estava mentindo e só querendo matar aula.

Vi o peito de James abaixar enquanto ele respirava, aliviado, e Lilly dava de ombros, passando por nós, indo em direção ao final do corredor, que era bem, mas bem longo mesmo.

Eu me sentia como num corredor da morte, indo para o abate.

Ela caminhou mais um pouco e parou, estávamos em frente ao quarto 66. Sinistro. Só faltava um 6.

— Você tá brincando que o quarto dele é o 66? – Sirius encarou a porta, com os olhos arregalados.

— Por isso ele é um capeta. – Disse Emme, e eu abafei um risinho.

— Vamos. – Sussurrei e levei a mão a maçaneta, bem devagar, fazendo todo mundo prender a respiração.

Emme fez sinal para os meninos se afastarem e não ficarem à vista, enquanto eu terminava de girar a maçaneta e empurrava a porta silenciosamente, enquanto meu coração fazia uma escola de samba no peito.

Ainda bem que ninguém podia ouvir, ou acordaria o dormitório inteiro.

Empurrei a porta e esperei, com o coração martelando no peito, esperando ouvir um protesto, uma voz ou alguma coisa que indicasse que tinham pessoas acordadas ali dentro, mas não ouvi nada, o silencio predominava tudo.

Dei alguns passos à frente e espiei o quarto escurecido pela porta entreaberta.

Parecia um quarto grande e tinham quatro camas de solteiro, mas grandes e espaçosas, e um abajur ao lado de uma das camas estava acesso, clareando um pouco o ambiente, me permitindo ver que as quatro camas estavam vazias. Não tinha ninguém no quarto.

Que estranho.

Fui entrando de fininho, ainda silenciosamente, tentando ver se meus olhos não estavam enganados e estivesse confundindo as coisas.

As meninas ofegaram do lado de fora quando eu entrei no quarto completamente, olhando tudo pela luz fraca do abajur.

Fui de cama em cama, que estavam perfeitamente arrumadas e vazias e parei ao lado da cama onde o abajur estava ao lado, acesso.

Tinha uma janela bem em cima da cama e eu entendi porque o abajur estava acesso, era para fingir que todo mundo ali tinha ido dormir e já acendera o abajur.

Espertos.

Aquilo era um sinal: não poderíamos acender a luz também.

Voltei a porta e fiz um sinal aos demais, indicando que podiam entrar.

— A barra está limpa. – As meninas entraram atrás de mim, depois os meninos.

Paramos todos, olhando a volta e vendo o quarto vazio.

— Tem certeza que esse é o quarto do Snape, Lilly? – Indagou Emme, e Lilly assentiu, parecendo um pouco assustada.

— Onde estão todos? – Todo mundo se entreolhou, encolhendo os ombros, se perguntando a mesma coisa que Remus perguntava.

Onde eles tinham se metido?

— Devem estar por aí, fazendo merda, como sempre fazem. – James respondeu, segurando o que eu percebi ser a varinha em uma das mãos e o saquinho no outro.

— Vamos logo com isso então. – Disse Sirius, também puxando a varinha de um dos bolsos e os dois se encaminharam até os armários de roupa, no closet.

Agora eles pareciam mesmo bandidos, mexendo nas coisas dos outros, com aquelas mascaras onde nós só os reconhecíamos pelo corpo e pelas vozes.

Fiquei parada no quarto e Emme se aproximou da porta, como que para vigiar, e então, mesmo no escuro, vi os meninos abrindo gavetas e colocando alguma coisa dentro, com as varinhas tirando algo do saquinho.

O cheiro me atingiu segundos depois.

Cheiro de merda.

— O que vocês estão colocando? – Tampei o nariz com os dedos e me aproximei deles. Sirius estava com uma calça nas mãos e com a varinha fazia flutuar até os bolsos  montinhos do que me pareceu, mesmo no escuro, cocô.

ECA, ECA, ECA!

— Meu Deus! – Virei o rosto. – Que nojo!

— Não se preocupe, é cocô de animal, gato, cachorro, cavalo. – Sirius riu, como se eu estivesse pensando que era cocô de gente. Deus o livre, né.

Ainda assim era nojento.

— Está fresquinho ainda. – James brincou e riu, e eu fiz outra cara de nojo, sentindo a ânsia vindo.

Voltei em direção a porta e deixei eles fazendo o trabalho sujo.

— Andem logo com isso. – Eu disse, ficando ao lado de Lilly e Emme que estavam na porta.

Aquilo era arriscado demais, nojento demais, loucura demais.

O que estávamos fazendo?

Remus não tinha participado efetivamente do lançamento de bomba, mas fuçava a estante, as gavetas das escrivaninhas, as mochilas jogadas, ele remexia em tudo, por um momento pensei que ele estivesse colocando alguma coisa nas coisas, alguma coisa menos alarmante do que bosta de cachorro, mas não consegui ter certeza porque quando James e Sirius saíram do closet e vieram em nossa direção, Remus virou-se e enfiou as mãos no bolso, não sei se escondendo algo ou apenas colocando por colocar.

Emme saiu de fininho e nós a seguimos, deixando Remus fechar a porta.

Caminhamos pelo corredor e olhamos para as demais portas, pensando: e se fizéssemos o mesmo com os outros?

Sirius sacudiu o saquinho e James riu, concordando.

Os dois abriram uma das portas e eu gelei por dentro.

Nem todos os quartos poderiam estar vazios.

Corri atrás deles e gelei por dentro.

Eles caminhavam na ponta dos pés em direção ao closet, mas esse quarto não estava vazio.

Três camas estavam ocupadas e eu apenas vi os vultos virados. Um com a coberta cobrindo a cabeça, outro esparramado com a boca aberta e outro encolhido de lado na cama com a coberta puxada até o pescoço.

Pareciam inocentes, mas eu sabia que só pareciam. No dia que alguém da Sonserina for inocente, eu viro a rainha da Inglaterra.

Ouvi barulho de saquinho e prendi a respiração quando o menino de boca aberta se remexeu na cama.

Meu deus, o que eles estavam fazendo?

Entrei pisando na ponta dos pés e me encaminhei até eles.

— O... que... vocês... estão... fazendo? – Perguntei com os lábios silenciosos, e Sirius deu de ombros, sorrindo, arteiro.

James exibia o mesmo sorriso.

Enfiavam cocô nos bolsos das calças dos uniformes e guardavam onde estava.

Vi eles fazerem isso com três calças e uma camisa e uma bermuda, e então, se viraram, para sairmos do quarto.

James foi na frente, Sirius atrás e eu os segui, na ponta dos pés.

Quando James saiu pela porta e Sirius estava chegando lá, ouvi o barulho de alguém se mexendo na cama e parei, congelando.

Olhei para as camas e vi o menino de boca aberta se remexendo, meu coração quase saiu pela boca e um balde de gelo invadiu todo o meu corpo.

Meu Deus, o que eu faria se ele acordasse?

Eu e Sirius ainda estávamos ali, e se ele acordasse ele nos veria, afinal, ali também tinha um abajur ligado iluminando um pouco o quarto e a luz que vinha de fora, pela porta aberta, ajudava ainda mais a clarear tudo.

Sirius me olhou e vi o mesmo pânico estampado em seu rosto, mas ele ainda estava se divertindo.

O menino se remexeu e virou de lado, tombando de lado na cama e então parou de se mexer, começando a roncar profundamente.

Respirei aliviada e dei passos apressados, empurrando Sirius para fora do quarto, ele saiu e eu puxei a porta, fechando-a devagarinho.

Quando a porta se fechou, nos entreolhamos e respiramos aliviados, começando a rir em seguida

Dei um tapa no braço dele e o empurrei com força, enquanto começávamos todos a andar em direção as escadas.

— Seu louco. – Eu disse baixinho. Ele me acompanhava atrás de todo mundo e me olhou, risonho.

— Vai dizer que não gostou da adrenalina? – Fiz uma careta e mostrei a língua, no que ele piscou para mim, de forma sexy. Eu tinha adorado a adrenalina, mas o medo, na hora em que sentimos ele, era apavorante.

— Você é maluco. – Eu disse e ele riu. Tínhamos alcançados os demais que estavam parados no alto da escada.

— Queria colocar umas merdinhas nas roupas da loira azeda. – Dizia Emme quando me aproximei. Eu também adoraria me vingar daquelas sirienas nojentas, mas estávamos abusando demais da sorte.

— É arriscado demais, Emme. Melhor irmos.

— Que se foda. – Disse Sirius, puxando o saco da mão de James e caminhando em direção ao quarto das meninas.

Mais uma vez, senti o pânico crescendo dentro de mim.

Corri atrás dele.

— Tá maluco? As meninas não são como homens que tem sono de elefante. – Ele nem me deu ouvido e continuou andando, dessa vez apressado, passamos por umas cinco portas e então parou em frente a uma.

— Só vamos entrar em um quarto e saímos.

Não. – Disse enfática e ele fez uma careta.

— Deixa de ser medrosa. – Segurou minha mão e me puxou, abrindo uma porta e entrando, normalmente, como se aquele fosse o nosso dormitório e aquele o quarto dele.

Quando entramos, prendi a respiração.

As quatro camas estavam ocupadas, com meninas dormindo profundamente, encolhidas de lado ou de bruços na cama.

Aquilo era loucura demais.

Sirius me puxou pela mão ainda para dentro do quarto e entramos silenciosos até o closet.

Ele enfiou a mão no bolso de trás puxando a varinha e me olhou enfaticamente para fazer o mesmo.

— Experimente. – Ele disse com os lábios silenciosos. E eu tremi por dentro.

Respirei fundo e puxei a varinha que estava enfiada no cós da saia.



Meu coração parecia que ia parar, meu estomago revirou e eu tentei não pensar no que tinha dentro do saco, só naquelas nojentas, metidas, exibidas que achavam que eram melhores do que nós.

Eu odiava elas tanto quanto Sirius odiava Snape e todos da Sonserina.

Ergui a varinha e olhei para ele que estendeu para mim o saquinho fedorento.

Prendi a respiração e apontei a varinha para o saquinho, fazendo flutuar um punhado de coisas nojentas que fizeram meu estomago revirar.

Tentei não olhar para aquilo e me virei para o closet, pegando uma jaqueta e enfiando a merda dentro do bolso, como eu tinha visto eles fazerem nas roupas do Snape.

Peguei mais um punhado de merda com a varinha e fui enfiando nos bolsos, de calças Jeans, shortinhos com bolso, blusinhas do uniforme que tinham bolsinhos, nos bojos dos sutiãs, dentro das bolsinhas ridículas, em tudo que eu podia.

Sirius me ajudava, e logo o saquinho estava vazio.

Nos entreolhamos, e eu entendi porque ele me fizera agir daquele jeito, era maravilhosamente saboroso o gostinho da vingança; era libertador.

Eu me sentia tão feliz assim desde o dia em que beijei Sirius.

Saímos do closet e seguimos em direção a porta entreaberta, mas quando Sirius segurou a porta e eu parei atrás dele, ouvi um barulho, um clique e uma voz.

— Quem está aí? – Outra luz se acendeu, iluminando o quarto e eu senti o pânico no peito.

Sirius arreganhou a porta e saiu correndo e eu corri atrás dele, puxando a porta com tudo ao passar, fazendo a porta bater com força e um som alto ecoar por todo o corredor.

Saímos correndo, um ao lado do outro, rindo e apavorados ao mesmo tempo e chegamos a escada em segundos.

As meninas com James e Remus não estavam mais ali, por isso eu e Sirius descemos correndo as escadas, descendo de dois em dois degraus, o mais rápido que podíamos.

Claro que, por ele ser um jogador de quadribol e estar acostumado a atividades físicas, estava bem mais à frente de mim, mas eu estava me saindo bem e dei graças a Merlin por ter colocado uma rasteirinha quando coloquei aquela roupa ridícula, se eu estivesse de salto estava ferrada.

Terminei de descer as escadas e Sirius parou me esperando, então segurou minha mão e saímos correndo pelo salão dos dormitórios da Sonserina, passando por todos aqueles sofás e aquele lugar magnifico, vendo tudo passando por nós como vultos.

Quando chegamos a porta, ela estava aberta e James estava parado ao lado, com a máscara ainda no rosto, olhando para nós com os olhos arregalados.

— O que vocês... ? – Não deixamos ele terminar, passamos correndo por ele e saímos pelo corredor do lado de fora, com Sirius gritando.

— VAMOS, VAMOS, VAMOS. – James puxou a porta e bateu com tudo. Lilly, Emme e Remus que esperavam do lado de fora junto com Mario e Ulisses que pareciam estar ouvindo os relatos, saíram correndo atrás de mim e de Sirius, que continuava correndo e me puxando pela mão.

Eu tinha perdido a noção da hora completamente, mas já deviam ser quase duas da manhã quando saímos pelas portas da frente e corremos em direção aos jardins, ao estádio e ao lago que ficava atrás dele, onde ninguém de dentro de Hogwarts poderia nos ver, mesmo da janela mais alta.

Paramos ofegantes na frente do lago e nos jogamos na grama, deitando, ofegantes e olhando o céu estrelado, sentindo nossos corações batendo mais forte do que qualquer bateria de rock seria capaz.

Olhei para o lado e vi o rosto lindo de Sirius e então sorri, ele me olhou e sorriu de volta, e então comecei a gargalhar, mas gargalhar com muita vontade, porque tudo que eu conseguia sentir era uma vontade imensa de rir, rir de tudo, da liberdade que senti ao fazer aquilo, da saborosa sensação que me vingar deles me dava, da loucura que tínhamos feito, de quase sermos pego, do perigo, do medo, de tudo.

Tudo aquilo era hilário, e eu gargalhei, fazendo Sirius começar a gargalhar, depois Emme, depois Lilly, e James, e Remus, e de repente, estávamos todos rindo, rindo e rindo mais ainda ao imaginar como seria quando eles percebessem que estavam fedendo mais que o normal.

— Meu Deus, isso foi loucura! – Lilly ria, acho que se sentia como eu.

— A maior loucura da minha vida. – Virei meu rosto de lado, olhando para Sirius, que me olhou como se esperasse que eu o xingasse ou dissesse algo como ‘olha no que você me meteu’, quando na verdade, eu tinha simplesmente adorado. – Foi incrível!

Ele sorriu e ficou me olhando pelo que pareceu uma eternidade, o sorriso lindo estampado no rosto, como se estivesse me avaliando.

Eu me sentia tão incrível, tão livre, tão liberta que quase grudei a mão em seus cabelos e o puxei para mim, mas resisti.

— Acho que agora você pode entrar pro bando. – Ele sorriu e piscou para mim, e então me lembrei do dia em que estávamos conversando no corredor, eu com aquele bilhete nojento da Anna em minha mão e me perguntara se eu podia entrar pro bando.

Ali estava a resposta. Agora nós éramos oficialmente amigos, e eu era oficialmente do bando.

Bando do que? De loucos, com certeza.

Sorri abertamente para ele e pisquei de volta.

— Eu aceito. – Ri alto e fiquei olhando para ele, com o sorriso escancarado no rosto, o coração ainda batendo forte por causa da adrenalina, do medo e de toda a loucura que tínhamos feito.

Aquilo era surreal, aquela noite era surreal.

O céu estava estrelado, a lua crescente, quase cheia, iluminava a noite, deixando tudo claro, e ali estávamos nós. Todos deitados na grama, rindo e satisfeitos por termos acabado de nos vingar daqueles que mais odiávamos.

Nada mais poderia acontecer que me deixasse mais feliz do que eu estava...

Olhei para o céu e fiquei lá, sorrindo, respirando fundo, em êxtase, e então, quando olhei para o lado, vi Sirius me olhando como se estivesse me observando o tempo todo, e então, quando eu menos imaginava, sem me dar nenhuma chance de fazer qualquer coisa, ele se inclinou para cima de mim...

E me beijou.



 



 


Compartilhe!

anúncio

Comentários (2)

  • LeleCangane

    Ai meu Deus, esse capítulo

    2016-02-16
  • Bru Mckinnon Black

    Que fina de cáp mais fofoooooo!!!! Me diverti muito com tudo que eles aprontaram! Hahaha! Espero que poste logo o próximo! Bjs 

    2016-02-08
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.