Sangue-ruim



" Se meus olhos mostrassem minha alma, todos ao me verem sorrir, chorariam comigo" - Kurt Cobain

Abri meus olhos, tinha sido um sonho... só podia ter sido um sonho.
É... é isso. Aquele chifre lá tinha me feito desmaiar, e aquilo tudo só tinha sido um sonho. É.
- Você está bem ? - Minerva perguntou.
NÃO, NÃO, NÃO, NÃO, NÃO, NÃO, NÃO, NÃO, NÃO !
- Já estamos chegando em Hogwarts, podemos falar com o Dumbledore, se você estiver passando mal - Charlus, o parente do Harry, disse sorrindo.
Espera ai ! Dumbledore.
Dumbledore, ele saberia o que fazer, ele sempre sabe ! Ah Mérlin, obrigada, mesmo.
Ok, agora eu só precisava me acalmar, chegar até o Salão de Hogwarts como uma pessoa completamente normal e falar com Dumbledore.
Meu coração voltou a bater normalmente, pelas calças de Mérlin, que alívio.
Era isso, Dumbledore ia me ajudar. Saias, ternos, Dumbledore vivo, Minerva estudante, tentei calcular mentalmente o ano em que estava.
- Ah não - hora de usar a lábia sonserina - tá tudo bem, obrigada. Eu só não comi nada.
- Se você quiser - McGonagall sorriu - tenho tortinhas de abóbora aqui.
- Ah - sorri - não, obrigada, eu como lá na escola.
- Mas então - Potter puxou assunto - nunca te vi. De onde você é ?
- França - menti - me mudei pra cá a pouco tempo, meus pais morreram, sabe.
Tecnicamente não era totalmente mentira, eu falava francês por um acaso, não era francesa e nem nunca tinha pisado na França. Mas o resto era totalmente verdade.
Então a verdade veio, quer dizer, eu tive uma luz. Meus pais não estavam mortos, era capaz de nem terem nascido ainda, ou seja, eles não tinham morrido. Pela primeira vez em muito tempo, senti um calor dentro do meu peito... seria felicidade ?
Amélia, eles ainda nem nasceram. Do mesmo geito rápido que a felicidade veio, ela se foi. Mas não fiquei triste nem vazia.
Ok, estou pirando. Mas se coloque no meu lugar, não é todo dia que você viaja sei lá quantos anos no tempo e descobre que sua amada professora ainda nem é professora, que seus pais mortos nem tinham nascido... ok, vou parar de pensar nisso, cada segundo que passa me parece mais loucura ainda.
- Sinto muito - disseram os dois.
- Nossa.. eu sinto muito mesmo - Minerva completou - mas..
Ela olhou o brasão da Sonserina nas minhas vestes
- Você já foi selecionada ?
- Já - respondi enquanto mordia o lábio inferior, um mal-habito que tenho : sempre que minto, mordo o lábio inferior.
- Uma pena - ele disse, olhando o brasão.
Minerva deu uma "jornalzada" nele.
Vários pensamentos passavam por minha mente enquanto olhava a briguinha de Minerva e Charlus.
Se eu não voltasse... iam dar conta do meu desaparecimento, certo? Ou será que não ? Nunca entendi esses negócios de tempo. Será que eu existia na época em que eu existo mas não existo mais e... LEGAL, PIREI DE VEZ.
Estremeci. Me desliguei do mundo, olhando para a janela... Ai Mérlin. No que eu fui me meter ?
Suspirei, eu só precisava relaxar, Dumbledore daria um jeito em tudo, em apenas uma ou duas horas eu já estaria na minha Hogwarts, quero dizer, a Hogwarts dos anos 90.
Agradeci a mim mesma por colocar o uniforme, tipo, o que aquele bando de antiquados pensaria se eu aparecesse de calça jeans ?
Iam me queimar no Tribunal da Inquisição como bruxa..
Mas eu sou bruxa, todos no trem são bruxos, e o Tribunal da Inquisição foi na Idade Média e não nos anos 40.
A Profa. McGonagall, quer dizer, a Minerva e Charles já estavam de uniforme também.
Respire, Amélia Miller, tudo vai dar certo.
O trem parou, suspirei.
- Vem - Charlus sorriu - vamos para uma carruagem, antes que os pirralhinhos lotem o corredor.
- Você também já foi um pirralhinho, Potter, e se eu me lembro, quase chorou porque o Chapéu fez a menção de coloca-lo na Sonserina. - Minerva debochou.
Ele revirou os olhos. Se não fosse um pequeno incidente de eu ser uns 50 e tantos anos mais nova e nem ter nascido ainda, eu tenho certeza que seriamos bons amigos.
Sorri, meu melhor sorriso, o menos usado.
- Ok ! - disse animadamente.
Porém, na minha mente só pensava uma coisa : Dumbledore, Dumbledore, Dumbledore.
Saímos os três do trem, havia várias carruagens perto da estação de Hogsmeade. A maioria das pessoas pensava que elas andavam sozinhas, mas eu sabia muito bem o que as conduzia : testrálios
Minerva e Charlus sentaram em uma que já estava lotada com vários alunos da Grifinória.
- Ah - ele exclamou quando viu que não havia lugar pra mim - Rachel.
Ele fez a menção de sair para dar lugar para mim, mas eu respondi apressadamente :
- Que isso, fique aí ! Tem uma vazia ali. Tudo bem, Charlus. - sorri
- Tem certeza ? - McGonagall disse, desde jovem ela tinha aquele olhar meio... maternal.
- Tenho sim ! - abri meu sorriso ainda mais.
Me sentei em uma vazia. Vi um grupo de cinco garotos se dirigir até onde eu estava.
Suspirei. Eles se sentaram, dois ao meu lado e três na minha frente.
Um que estava na minha frente era incrivelmente familiar. Mas isso era porquê eu ainda não tinha visto o que estava do lado dele.
- Olá - se apresentou - sou Michael Miller.
Sim.. meu avô ! MEU AVÔ COM 16 ANOS.
Ele era da Lufa-Lufa... eu sempre achei que ele fosse da Sonserina, mais deixa pra lá.
Isso já seria o bastante para qualquer um pirar. Mas não, quando acontece uma coisa ruim, mil coisas ruins acontecem depois.
- So-sou Rachel Lennox - que lindo, eu gaguejei. Me mate.
Um loiro que estava ao meu lado se virou e disse asperamente:
- Você é sangue-puro ? Nunca ouvi esse sobrenome.
Ele estreitou os olhos. AH, QUE ÓTIMO, VIU. Vou mentir.
- Eu sou na-nascida trouxa - pelas barbas de Mérlin, Amélia, pare de gaguejar.
Então me toquei da burrice que eu tinha feito mentindo. Todos eles me olharam como se eu fosse lixo, não, pior do que lixo.
Me olharam como se eu fosse uma lesma asquerosa.
O pior olhar foi o do garoto que estava ao lado do meu amado vovô. Sustentei o olhar dele. Então gelei.
Não, não era um parente meu, era simplemente que TOM SERVOLO RIDDLE. ISSO MESMO, TOM RIDDLE. O VOLDEMORT MIRIM.
Me mate... não sei se fiquei com medo por ele ser quem é, ou por ver aquele ser na adolescência. Só sei que me encolhi no banco.
Está certo, podem me condenar, eu, Amélia Miller, sou covarde e ainda por cima burra.
O que passou pela minha cabeça ao inventar pra um bando de sonserinos preconceituosos que sou nascida trouxa ?
Eu mereço. Me mate.
- Mentira - Riddle disse friamente, o suficiente pra eu me arrepiar e quase chorar de medo.
Então a verdade me atingiu, deixei passar um detalhe muito importante : Tom Riddle era legilimens. Ele podia ler a mente das pessoas burras em oclumência como eu, e provavelmente ele está lendo minha mente nesse exato momento.
- Como sabe tanto sobre mim ? - ele sibilou, o seu tom calmo me deixou com medo, sinceramente, preferia que ele tivesse gritado.
Ele continuava me encarando, com um semblante sério, era quase impossível decifrar, mas ainda assim, me deu um certo medo.
AMÉLIA, FECHA A MENTE... oclumência, oclumência, oclumência, eu consigo.
A expressão dele se suavizou, mas ele continuou me encarando, não com nojo como os outros, acho que a essa altura ele já sabia minha verdadeira "identidade sanguinea", ele me fitava com curiosidade.
Me encolhi, se é que era possível eu me econlher mais. Matem-me.
Eu abri a boca para falar alguma coisa, mas tornei a fechar, o que eu ia falar, por Mérlin ?
Ele me fuzilava com o olhar.
Salva pelo gongo, ou pelo testrálio, adentramos a escola.
Então eu fiz a coisa mais tosca das coisas toscas, assim que a carruagem parou eu sai correndo, literalmente, que nem uma mula. Pra longe do Riddle e sua "gangue".
Me misturei com a multidão. Algumas meninas davam risinhos quando eu passava, acho que era por causa do meu cabelo, o delas estavam com coques perfeitos e o meu... solto, desarrumado, um loiro sujo que devia estar parecendo feno.
Que ótimo.
A multidão de alunos foi entrando no Salão para o banquete, eu, o tempo todo de cabeça abaixada.
Assim que todos se sentaram em suas mesas, eu corri até a dos professores, ofegante, quase atropelei vários alunos do primeiro ano enfileirados para a Seleção. Dane-se.
- Professor Dumbledore - chamei-o
Ele tinha os cabelos acaju até os ombros. Jovem. Consersava animadamente com um homem de cabelos pretos, escorridos, que, com um assombro, reconheci ser Armando Dippet.
Dumbledore me encarou com curiosidade.
- Quem é você, mocinha ? - ele perguntou amigavelmente.
- Podemos conversar em particular ? - eu sussurrei.
Virei-me para trás e enquanto ocorria a Seleção e enquanto em todas as mesas vários estudantes conversavam, não me surpreendi ao ver os olhos de Riddle faiscarem em minha direção.
A quanto tempo será que ele estava me olhando ? Fiquei arrepiada.
- Siga-me - disse Dumbledore.
Ele se levantou da mesa e rumou para fora do Salão, eu o segui, sendo acompanhada pelo olhar de Tom Riddle o tempo todo.
Era a hora de ser falsa. Ele ainda não tinha matado meus pais nem a Andie, certo ? Eu podia fazer isso : dei um sorriso amarelo para ele.
Mas só vi o desprezo em sua expressão, e uma certa... raiva. Ele olhava para mim como se eu fosse uma barata nojenta.
Desviei meu olhar e continuei seguindo Dumbledore. Assim que saímos do Salão fomos para uma sala de aula vazia. Ele se sentou em uma cadeira, eu fiz o mesmo.
- Pois bem. - ele disse.
Então eu comecei a tagarelar sobre tudo que tinha acontecido : minha linda prima, Luna ; o vira-tempo do chifre de sei lá o que e mostrei ele quebrado.
- Curioso - disse - muito curioso. Podemos te mandar de volta para sua época se acharmos exatamente a substância que estava contida dentro dele.
- Então eu nunca vou voltar - sussurrei tristemente.
Ele sorriu confortador.
- Não se preucupe, daremos um geito. Enquanto isso, sugiro que tenha aulas aqui.
Mordi o lábio inferior.
- Mas - ele advertiu - não conte pra ninguem da sua época, isso pode alterar o futuro, o tempo é muito perigoso se for alterado. Como disse mesmo que se chamava ?
- Meu verdadeiro nome é Amélia, Amélia Elizabeth Lovegood Miller. Mas eu disse que me chamava Rachel Lennox.
- Inteligente. Continue com o pseudônimo.  Srta. Miller, acho que terá que passar alguns meses aqui.
Isso não era ruim... o que eu tinha na Hogwarts dos anos 90 ?
A mesma coisa que eu tinha aqui, absolutamente nada.
- Certo.
Ele me encarou por um tempo, com aqueles olhos azuis, parecia que ele podia ver minha alma.
Notei como os azuis dele eram diferentes dos de Riddle, os de Dumbledore eram calorosos, amigáveis.
Os de Riddle eram frios, sem vida.
- Vamos para o banquete ? - ele sorriu.
- Sim - foi a única coisa que eu consegui dizer. Não me leve a mal, mais volte 50 e tantos anos atrás pra você ver como ficará.
Estou em choque !
Eu e Dumbledore entramos no Salão, mas ninguem -ainda bem- prestou atenção.
Com exeção de uma pessoa... é, Tom Servolo Riddle me encarava nada discretamente, seu olhar meio que mudara, não sei descrever muito bem.
Sentei na ponta da mesa, o mais longe possível dele.
Algumas meninas me olhavam de cima, droga de cabelo desarrumado.
As sonserinas pareciam metidas e arrogantes. Uma até apontou pra mim dando risadinhas com as amigas.
Bufei.
- Não ligue - uma menina disse, ela estava sentada ao meu lado. Dei um pulo, não tinha notado ela ali, resultado : suco de abóbora derramado nas minhas vestes.
Amélia, você é um gênio. E aquelas garotas recomeçaram com as risadinhas.
Não hesitei e fiz um sinal obsceno para elas. Não estava com paciência, não me importava com que iam pensar.
- Me desculpe pelo susto - a menina do meu lado disse, ela tinha longos cabelos negros presos em um coque, ah, que inveja - sou Eileen Prince.
A mãe do carrancudo professor Snape, sempre tive vontade de entrar na Sala da McGonagall pra ficar atormentando o quadro dele. Ele nem ia poder me dar uma detenção !
- Sou Rachel Lennox - menti - prazer, Eileen.
Ela sorriu e gesticulou para uma menina ao lado dela.
Ela tinha cabelos presos em uma trança, cor de palha.
- Essa - disse Eileen - é Jéssica Voskuijil
- Ah - disse Voskuijil - prazer.
Sorri.
Ok, não estava indo tão mal assim. Passei a mão por meus cabelos, senti nós, perfeito.
E pra completar, advinha quem estava me olhando fixamente ? Sim, senhoras e senhores, o futuro cara sem nariz. Perfeito.
Desviei meu olhar de Tom Servolo Riddle e comecei a conversar com minhas novas supostas possíveis amigas, Eileen Prince e Jéssica Voskuijil.


 


N/A: tô inspiranda hoje *-* não sei se tá ficando bom :/

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