Prólogo



Prólogo


 


— Hermione? Hora de ir.


Vislumbrando as figuras que checava, Hermione Granger sorriu para o homem parado na porta. Draco Malfoy estava vestido como um típico executivo — terno preto, camisa branca e uma discreta gravata listrada. Tinha os trejeitos e a boa aparência de um modelo ou de um ator. Todo escritório deveria ter um, ela pensou enquanto ele fechava a porta e ca­minhava em sua direção.


Felizmente, este era todo dela — ou ao menos seria até o final do mês quando seu contrato tempo­rário com o banco acabaria e também sua regra auto-imposta de não se relacionar no escritório. Algo que Draco sempre respeitara, com ocasional e lisonjeira impaciência.


— Já disse para não fazer isso no escritório — ela reprovou quando ele se curvou sobre a mesa e a bei­jou, consciente de que sua repreensão não adiantava.


Ele jurou solenemente com a mão no coração:


— Nunca mais farei isso de novo.


Essa não foi bem a resposta que ela previa, mas concordou:


— Espero que não.


Em vez de sair, ele se aproximou e esfregou a ponta do dedo pelos lábios dela.


— Borrei seu batom. Melhor consertar antes de ir à sala de reuniões. Nosso novo digníssimo presi­dente não aprovaria.


O novo presidente não fazia questão de masca­rar o lato de achar que as mulheres eram úteis ape­nas para procriar e para se ocupar dos trabalhos demais tediosos para homens importantes. Ele não gostava dela, e não escondia sua opinião. Felizmen­te, ela era muito boa no que fazia para ele se livrar dela. Ela esperava que ele tivesse tido um bom dia, pois ao entregar seu projeto de transportes na com­panhia ele a veria com muito mais freqüência.


— Lábios borrados serão as últimas coisas com que ele se preocupará na semana que vem, mas está certo, não há razão para irritar aquele velho demônio miserável sem necessidade.


Então ela sorriu.


Ela tem sorrido muito ultimamente. Chegou até a Markham & Ridley agarrada em seu diploma de administração, sete anos atrás, com uma única ambição: um lugar na diretoria em uma das indústrias mais conservadoras e machistas do país. Pedras, compostos e todos os produtos feitos a partir de coisas duras. A companhia prosperou lentamente, contando com velhas licenças extrativistas que lhe concedia um monopólio virtual em certas áreas.


Ela fizera sua pesquisa antes de se juntar a eles, analisara as possibilidades e estipulou dez anos para alcançar sua meta.


Três meses antes, John Ridley pediu a ela um projeto para contenção de custos a longo prazo, melhorando a produtividade. Era um reconhecido anúncio de uma oferta para a diretoria. Na segun­da-feira ela iria entregá-lo.


Estava a um passo de conseguir o que queria. E não apenas a diretoria — que provaria que ela era igual a qualquer homem na empresa. Ela tinha Draco também, o mais promissor, charmoso e atencioso dos homens, provando que ela era igual a qualquer mulher.


Tinha todo o direito de sorrir. Mas esse não era um bom dia para se atrasar.


— Já estou indo, vou apenas retocar minha ma­quiagem. Pegue uma taça de champanhe para mim.


— Sim, senhora.


Passou suavemente uma escova em seu pente­ado bem cuidado e conservador — afinal era uma empresa conservadora — e retocou o batom. Colo­cou a jaqueta no lugar. Então, o sorriso cessou novamente. Foi uma dura jornada, trabalho pesado, mas finalmente foi recompensado. Ela então che­gou.


A sala de reuniões já estava cheia. Quando abriu a porta, não conseguiu ver Draco de imediato. Pegou uma taça de champanhe enquanto adentrava aparentemente a última a chegar, visivelmente atrasa­da por ficar sonhando com o sucesso iminente. Não tinha tempo para vislumbrar aquilo quando o dire­tor bateu em sua taça para conseguir atenção e pro­pôs um brinde ao presidente. Ela tomou um gole e esperou o inevitável discurso.


Era mais breve do que o esperado. Talvez não tão breve assim.


— Enquanto estou obviamente satisfeito por ter sido reconhecido, meu maior prazer vem de um anúncio que venho planejando desde quando fui seu padrinho há 30 anos.


Ele esticou a mão e tocou o ombro do homem que estava sentado ao seu lado. Ela deu a volta para ver de quem se tratava.


Draco.


O silêncio só foi quebrado por um discreto mur­múrio de duas ou três pessoas que olharam para ela.


Draco era afilhado de Markham? Mas por que ele não contara a ela?


— Todos conhecem Draco Malfoy — ele continuou. — Ele se juntou a nós há alguns meses e usou bem esse tempo, analisando como fazemos as coisas. Agora vai nos dizer como faremos melhor. Ele fará parte da diretoria imediatamente e assumirá a responsabi­lidade na implantação de seu plano para simplificar a organização e cortar gastos com transporte. Daqui a um ano a Markham & Ridley será mais consis­tente e sólida. Deixaremos a concorrência para trás.


A pausa que sucedeu o anúncio demorou um pouco demais. E a essa altura ninguém olhava para ela. Não que ela percebesse algo. Ela apenas tinha olhos para Draco.


Plano dele! Aquilo era um roubo crasso dos do­cumentos dela...


O que o demônio estava tramando? O que fazia Draco no lugar que deveria ser dela? Isso era uma piada... Tinha que ser uma piada...


— Por favor, ergam suas taças e juntem-se a mim em um brinde a Draco e a um futuro promissor para todos nós.


Não era piada. Draco era afilhado de Markham. Assim que ele ergueu sua taça, sua senhoria olhou para ela. Ele não estava apenas rindo. Estava visivelmente sendo irônico.


Ambos estavam, ela percebeu.


Enquanto andava por um caminho que abrira à sua frente, pela primeira vez em sua vida, Hermione Granger, a mais cuidadosa garota no mundo, a ga­rota que planejara sua vida até o último detalhe, fez algo sem pensar nas conseqüências.


Não havia espaço em sua cabeça para pensar. Estava ocupada demais relembrando os momentos que passara na presença de Draco. Como ele a cortejava, como ele a fazia se sentir protegida e desejada sem nunca tê-la pressionado. Mas estivera sempre lá desde o primeiro dia em que foi solicitada a tê-lo com sua sombra. Ele planejou até os últimos deta­lhes, atrasando-a para a reunião.


Havia apenas uma palavra para descrevê-lo e ela a usou, e então jogou o conteúdo do copo na cara dele.

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