Cap 7



Capítulo 7


 


Hermione parou na entrada do belo restaurante à margem do rio para recuperar o fôlego. O dia havia começado cedo, bem antes de a loja abrir para os fregueses, e as perguntas, telefonemas e ofertas de ajuda de pessoas que viram a reportagem no jornal chegaram tão rápidos que ela quase não teve tempo para pensar, muito menos para respirar.


Por diversas vezes tentou pegar o telefone para ligar para Harry e cancelar o jantar, com a des­culpa do trabalho. Se ele viu o jornal, deveria saber como a vida dela ficou uma loucura.


Mesmo que não tivesse visto o jornal, ele ia que­rer saber do progresso de David, não é mesmo?


Cada vez que a porta da loja abria, ela olhava, esperando e ao mesmo tempo temendo que fosse ele em pessoa para ver o que estava acontecendo. Oferecendo para adiar o jantar. Ou pelo menos li­berá-la ao sugerir que ela relaxasse, erguesse os pés ao lado da lareira com um copo de vinho, en­quanto ele saía atrás da melhor comidinha chinesa que pudesse encontrar em Melchester.


Ela pagaria tudo, claro.


Ela ficou dividida entre o desejo de vê-lo e a esperança desvairada de que ele não aparecesse antes de Dave terminar o trabalho para que pudesse ver como tinha ficado bom. Então, não importaria o quanto estivesse zangado, teria de admitir que ela acertara em suas prioridades.


Finalmente, um pouco irritada por ele nem ao menos ter telefonado para confirmar o encontro, ela passara do ponto ali parada na porta do restaurante Terryside com os seus saltos mais altos, com os cílios alongados graças à última tecnologia em cos­méticos e com um vestidinho preto que, em Lon­dres, fora a palavra em sofisticação, mas que nas províncias parecia um tanto quanto baixo demais no decote e curto demais na saia.


E ela sabia que deveria ter telefonado.


E o que diabos a fez escolher esse restaurante, com tantos outros para escolher?


Porque você queria impressioná-lo, estúpida, disse aquela voz interna que sempre pareceu ter as respostas certas imediatamente. Demonstre que você é uma mulher no controle. Uma mulher que toma decisões e as segue...


Não, não!


Tudo bem; talvez só um pouco. Mas era mesmo a necessidade de convencer a si mesma. Restaurar sua autoconfiança.


Mas a voz se recusava a se calar.


Você quis se vestir para arrasar, ela continuou, para trucidar Harry Potter, para fazê-lo olhar para você e desejá-la. Para provar para si mesma que você não era mais a menininha patética que andava atrás dele na hora do recreio, esperando ser notada. Que andou nas nuvens por uma semana quando ele piscou os olhos para você...


Ela tapou as orelhas para calá-la.


—Hermione? Você está bem?


Ela deu um pulo quando ouviu aquela voz grave e suave, tão perto que deixou cair a bolsa.Harry  saiu das sombras ao lado da porta e se abaixou para pegar a bolsa, seus dedos se tocaram quando ele a entregou a ela.


O choque perigoso da empolgação invadiu o corpo dela.


— H... Harry.


— Você parece surpresa.


— N... Não. Não vi você aí. Para dizer a verdade, não esperava vê-lo por aqui ainda. Vim um pou­co mais cedo só para ter certeza... — ele esperou, — bem, você sabe.


— Para entregar o cartão de crédito para o garçom-chefe e evitar constrangimentos na hora de pagar a conta?


— É como eu sempre lidei com almoços de ne­gócios... jantares... no passado.


E isso eram negócios, ela lembrou a si mesma. Pagar a conta desse jantar cobriria todas as dívi­das pendentes. Pelo menos até que ele visse a loja...


— E eu vim mais cedo porque, como você rejeitou a minha carona, não quis que ficasse esperando sozinha no bar.


Ela respirou fundo, desejando não ter feito o comentário sobre negócios.


— É muita gentileza sua.


— Sou um rapaz bom Hermione.


— Sempre pronto para ajudar uma donzela em perigo. Bom para velhinhas... — Protetor da menininhas... — Diga-me, você pega cachorros perdidos também?


— Isso é do conhecimento de alguns. Até alimento os pássaros no meu jardim — ele disse, ajudando-a a retirar o casaco e entregando-o a um garçom, como se isso fosse algo que ele já tivesse feito uma cente­na de vezes. Sentindo-se em casa no luxo daquele lunar. — É politicamente aceitável, hoje em dia, dizer que você está muito bonita? Levando em consi­deração que estamos aqui a negócios?


— Perfeitamente aceitável, obrigada, Potter. E você também. — E era verdade. Ele estava muito charmoso. Seus cabelos escuros  sobre o colarinho, bem cuidados e brilhantes, o paletó do terno assentando perfeitamente em seus ombros largos, sua gravata de seda. Ele estava impecável. Chamando atenção, pois era o tipo de homem que atraía as mulheres onde fosse, com qualquer tipo de roupa.


E ainda assim... apesar das roupas, ele parecia, de alguma forma, muito mais ameaçador do que se estivesse de jeans e jaqueta de couro.


E, então, ruborizada ao se dar conta do que dis­sera...


— Quero dizer que você parece muito elegante. De terno.


Não havia nada diferente no sorriso dele. Mes­mo assim, o coração dela ficou tão acelerado que ela pôde senti-lo na garganta.


— Eles não deixam ninguém entrar aqui de jeans.


— É verdade. Espero que você não tenha com­prado o terno especialmente para essa ocasião.


— Você me mata, princesa.


Bem, missão completa, então. Mais fácil do que ela imaginara...


Você tem um jardim? — ela perguntou, mudan­do de assunto.


— Percebo um toque de desconfiança em sua voz. Você não me vê como um calejado filho da terra?


Havia algumas frases que era melhor que fos­sem evitadas, ela concluiu. Sem oferecer uma res­posta, apenas ergueu as sobrancelhas.


Ele riu.


— Você está certa, claro. Um carrinho com corta­dor de gramas para manter o gramado baixo o suficiente para que eu possa encontrar a cerveja e a rede pen­durada entre duas árvores plantadas especialmente para mim são tudo o que preciso. Bem aqui. — E com a mão nas costas dela ele a guiou na direção do bar. O vestido não a cobria o suficiente, ela ficara preocupada com o comprimento da saia, com o decote; mas não pensara muito sobre o corte baixo das costas. Não que Harry estivesse abusando do seu toque. Pelo contrário, sua mão quase não tocava as costas dela; não era nada mais do que a transferência de calor que lhe subia pela espinha, cortando qualquer conexão entre seu ce­lebro e seus sentidos. O toque dele apenas fazia isso.


— Você veio com o carro da sua mãe, Hermione?


— O quê? — E em seguida: — Perdão, está muito quente aqui. — Ela abanou a bolsa que carregava como se fosse um leque. — O carro de minha mãe?


— Aquele candidato ao ferro velho que você dirigia no outro dia — ele disse. — Ou você decidiu pela segurança?


— Segurança? Isso era seguro?


— Não. Sim... A verdade era que ela nem ao menos pedira. Sentiu-se insegura demais consigo mesma para responder; no que dizia respeito a sua mãe, ela estava na cama, dormindo.


Mas ela estava começando a soar como uma idiota.


— Isto é, não — ela esclareceu com uma rispidez determinada. — Não vim no carro de minha mãe. E, sim, decidi não arriscar a chance de ter de consertá-lo no meio do caminho e arruinar minhas unhas. Essa ocasião pedia um táxi.


— Bem, fico feliz em finalmente termos acertado isso. Isso significa que podemos tomar uma bebida enquanto você me conta os planos para salvar o mundo dos grandes e maus construtores.


— Então você viu o jornal — ela disse, grata pela mudança na conversa enquanto ele caminhava na direção de uma mesa reservada. Um garçom apare­ceu instantaneamente e começou a abrir uma garra­fa de champanhe que gelava num balde, e ela se assustou, embora ele tenha soltado a rolha com o maior cuidado.


— Você parece um pouco irritada —Harry dis­se, enquanto se sentava ao lado dela. — Você não está nervosa, está?


— E deveria? — E, então, antes que ele pudesse responder: — Estamos comemorando algo?


— Não é todo dia que você aparece na capa do Melchester Chronicle criando um levante popular contra o massacre promovido pelos construtores. Definitivamente, uma ocasião para o champanhe.


— Creio que não. — Ela já estava cheia de ocasiões para champanhe...


— Não se preocupe, esse é por minha conta — ele disse, ao dar-lhe uma taça e brindando com a sua. — À heroína do momento.


— Oh, por favor. Sou apenas a porta-voz dos co­merciantes.


— Um pouco mais do que isso, eu suspeito. As flores foram um toque agradável.


— Você achou? — ela disse, dando um pequeno gole no champanhe para que ele não percebesse como suas mãos estavam tremendo. Foi um pensa­mento gentil e generoso da parte dele. Ele não teria como saber que ela não gostava de champanhe...


Flores, ela pensou. Continue falando sobre isso.


— Sim, bem, queria mostrar a Prior's Lane em sua melhor forma. Algumas cestas grandes de flo­res teriam sido melhor, mas estamos na época erra­da do ano.


— Não, de verdade, eu quase não reconheci o lu­gar, mas o fotógrafo também fez um bom trabalho ao manter o que estava atrás fora de foco para não mostrar a pintura descascando.


— Levou um tempinho para acertar tudo — ela admitiu. — Agradeço a Deus pelas câmeras digitais.


— E fotógrafos solícitos que respondem bem a elogios?


Ela começou a relaxar. Conseguiu até sorrir.


— Você é um cínico, Harry— ela disse, dando outro gole em sua bebida.


— Sou? Mesmo?


Estava tudo bem. Afinal, não foi o champanhe que arruinou sua vida...


— Juro para você, ele estava tão chocado quanto eu que uma área histórica como aquela poderia sumir embaixo de 20 andares de concreto. E era de ambos os nosso interesses que ele fizesse uma boa foto.


— Não vai me dizer que foi ele quem levou as flores.


— O quê? Oh, não. Dave encontrou os vasos para mim... — Droga! Ela não quis dizer que ele não es­tava trabalhando duro na pintura. — Eu negociei com um dos comerciantes por um punhado de flores. Elas já estavam um pouco passadas — ela disse, tor­cendo para ele não perguntar sobre isso. — Conse­gui-as quase de graça.


— Ele está fazendo um bom trabalho? Dave? Obviamente, não tão rápido quanto deveria.


— Ele tem sido ótimo. Eu estava para agradecer a você por ele.


— Tenho certeza de que sim, se não fôssemos interrompidos no meio da conversa.


— Não fomos interrompidos...


Ela parou, respirou — ela não estava se saindo tão bem nesse momento — e cruzou o olhar com o garçom.


Ele se aproximou de imediato, enchendo seu copos, antes de resgatá-la perguntando:


— Está pronta para olhar o menu, madame? Senhor?


— Obrigada.


— Isso foi muito bom, princesa — disse Harry, en­quanto admirava as táticas de fuga dela. Indicando para o garçom deixar os menus na mesa. Ele não estava pronto para deixá-la se esconder por trás daquela capa de couro ainda, e continuou: — Qual­quer um pensaria que você não come há uma sema­na. Em vez de fazer o possível para mudar de assunto. E com uma boa razão.


Mas, então, ela não tinha como saber se Dave  o havia consultado antes de se deixar desviar do trabalho de pintura. E se ele estava a par do trabalho realizado na loja.


— Bem, talvez não há uma semana — ela disse com um sorriso sem graça —, mas a verdade é que passei o dia correndo. Acho que não tomei mais do que uma xícara de chá desde o café da manhã. — Ela parou como se pensasse sobre o que tinha dito.


— Para ser sincera, não me lembro de ter comido algo de manhã. — E, então, só para lançar um assun­to diferente: — E nos que diz respeito ao politicamente correto, eu já não lhe pedi que não me cha­masse de princesa? Isso me dá a impressão de que você não se lembra do meu nome.


— Não precisa temer isso, Hermione.


Mas ela estava certa, ele era casual o suficiente no uso de títulos carinhosos — doce, querida, baby — e na maior parte pela razão que ela deu. Mas nunca princesa. Isso veio de algum lugar no fundo da cabeça dele...


— Mas não se preocupe muito com isso — ele dis­se, deixando passar. — No final do dia você deixará a Prior's Lane e a livraria, e voltará para sua vida de verdade.


— Minha vida de verdade! É impossível ficar mais verdadeira do que isso. — Em seguida, olhan­do à sua volta para o belo restaurante. — Certo, não do que isso. Mas você sabe o que quero dizer.


— Eu sei que se as pessoas que vivem da Prior's Lane não se importam o suficiente para lutar por ela, nada que você fizer as salvará.


— Mas eles se importam. A maioria deles. — Ele ergueu as sobrancelhas, sugerindo que ela estives­se otimista demais. — Obviamente, não vou conse­guir muito apoio de lojas de caridade que estão ali apenas temporariamente. Se a área se tornar dese­jável de novo, eles perderão seus espaços.


— Pela causa do progresso, alguém sempre perde.


— Se o lugar desaparecer sob toneladas de con­creto, todos perdem. Eles só precisam de alguém de fora, alguém com uma visão nova para organi­zar a resistência.


Ou alguém, Harry pensou, que precisava de uma causa para restaurar seu entusiasmo, sua autocon­fiança, embora vê-la ali sentada, com toda aquela pose, num vestido de fazer virar o pescoço de qual­quer um, era difícil imaginar o que poderia tê-la feito voltar para Melchester com o rabinho entre as pernas. Ela certamente não estava à procura de ou­tro emprego...


— É muito difícil para eles — ela continuou, ao ver que ele não ofereceu nenhum apoio. — Todos trabalham muito, você sabe como é.


— Sei sim. Só espero que eles saibam como são sortudos por você estar cuidando de seus interes­ses. — Ele finalmente pegou os menus, entregando um a ela.


— Isso significa que posso contar com sua aju­da? Formamos um grupo de ação e já alistei a socie­dade histórica...


— Obrigado, mas estou muito ocupado no momen­to. E de alguma forma ele achou que o grupo de ação não ia gostar muito quando soubesse que ela convidara o inimigo para sua sala de estratégia.


— Você não se importa com o que pode aconte­cer? Sabemos, mais ou menos, o que eles estão pla­nejando fazer com o resto da área de construção, mas, aparentemente, a área da Prior's Lane é uma adição de última hora. Se você não se importa com Maggie e com os outros, tente um pouco de interesse pró­prio. Duke's Yard também está incluída, você sabe.


— Vi o jornal.


— Oh, sim. — Ela se recostou na cadeira, visivel­mente frustrada pela sua tática ter falhado. — Pensei que isso o afetaria. E o seu trabalho?


— Não trabalho lá. Trabalho por conta própria.


— Mas pensei... — Ele pôde ver o que ela pensava. Você atendeu ao telefone. Você dirigia uma das vans deles.


— E a comprei — ele disse, deixando-a interpretar sua resposta como quisesse.


— A van?


Ele ficou um pouco desapontado. Se ela tivesse ligado para ele, ele teria confessado — ele não fizera nada para esconder a verdade —, mas nunca ocorreu a ela ver o que estava na frente de seus olhos.


— Você agia como um biscateiro, era tratado como um...


— Dentre outras coisas. Você estava certa, Hermione. Marty Duke faliu. Eu apenas estava lá quando você ligou. O telefone foi cortado minutos depois de sua ligação.


— Mas, e as coisas que você trouxe? A grade de segurança, o alarme?


— Esqueça isso.


— Certo — ela disse, franzindo a testa, tentando encaixar algumas peças sem sentido. Ainda havia esperanças.


— O que você achou do resto do plano? — ele perguntou. — Para a área das docas.


— O quê? Oh, bem, no papel pareceu muito bom. Não acredito que vá agradar a todos, mas não faz sentido se apegar ao passado sem nenhuma razão específica.


— É verdade.


Ela percebeu o sarcasmo na voz dele e seus olhos se cerraram.


— Não sou oposta ao progresso, Potter. Mas há uma enorme diferença entre revitalizar a área com prédios lindos e novos e enterrar o passado sob um edifício garagem.


— Um edifício garagem? É isso o que vai aconte­cer lá?


— Bem, é apenas um boato, mas você sabe como a prefeitura está desesperada por mais espaço, e a Prior's Lane está no lugar exato para um estaciona­mento desses. Bem ao lado do shopping e todos aqueles escritórios novos.


— Pareceu-me que o construtor tinha feito provisões necessárias para estacionamento.


Enquanto ela dava de ombros, a luz brilhou em seus ombros e exigiu toda a concentração dele para não se entregar e tocar nela.


— O escritório de planejamento não pode lhe di­zer o que está acontecendo?


— Eles parecem não saber de nada. Ou talvez essa seja a impressão que querem que tenhamos. E to­das as companhias investidoras na construção apenas dizem sem comentários.


— Talvez você devesse fazer um protesto contra eles — ele sugeriu.


— Oh, por favor. Eu, minha mãe e Archie. Isso os deixaria muito preocupados.


Ele riu. E, então, ao ver que ela estava séria, recompôs-se rapidamente e disse:


— O que você precisa é de uma espécie de mecanismo de bloqueio para forçá-los a falar com você. Talvez o pessoal da sociedade histórica encontre algum tipo de estatuto antigo garantindo o direito de comércio aos cidadãos residentes naque­la rua para sempre.


— Eles estão à procura.


— Bom para eles. Enquanto isso, você parece estar com as mãos cheias. Como está lidando com a loja? Suponho que tenha tido que esquecer das mudanças por enquanto.


— Bem...


Hermione sabia que era o momento de confessar, di­zer a ele a verdade. Dizer que tirara Dave do traba­lho no apartamento e o colocara para trabalhar na pintura da loja o mais rápido possível. Mas tam­bém seria muito mais fácil quando estivesse tudo terminado e ele pudesse ver por conta própria que ela havia feito a coisa certa.


E mesmo se ele estivesse zangado com ela, seria tarde demais para fazer alguma coisa. Além de en­viar a conta...


Então ela foi vaga:


— Maggie admira muito você, Potter.


Ele respondeu com um sorriso tão fraco que nem chegou a seus olhos, deixando-a com a impressão de que ele sabia exatamente o que ela estava fazendo. Mas tudo o que ele disse foi:


— Esse sentimento é mútuo.


— Então você não vai ajudar? Por ela?


— Você não desiste, não é mesmo princesa?


— Não quando o assunto é tão importante assim — ela disse, furiosa por ele não se envolver. E por ele aparentemente ter esquecido o nome dela de novo.


O apelido a conquistara quando menina e ino­cente, mas, obviamente, ele usava o mesmo nome para todas as conquistas. Tão mais fácil do que fa­zei um esforço. Muito menos trabalho do que dizer um nome errado.


— E detesto ser a pessoa a lhe dizer isso, Potter, mas sua memória recente precisa de um conserto. O nome é Hermione.


— E o meu — ele respondeu — é Harry Use-o e prometo que não conseguirá me manter longe da Prior's Lane.


Isso não foi o que ela pediu, e ele sabia disso.


— É mesmo? Você estaria preparado para passar todo o seu tempo livre enchendo envelopes, fazen­do cartazes, organizando pedidos? — ela perguntou.


— É só dizer a palavra mágica, princesa — ele retrucou.


O rosto dele estava coberto de sombras por causa da luz baixa, mas seus olhos brilhavam com um toque de despreocupação que fazia com que um ca­lor subisse pelo rosto dela, enquanto a voz dele, suave e grossa, emanava um desafio para levar aque­le flerte inteligente para além das palavras.


Ele tinha apenas uma coisa na cabeça, ela sabia, e não era a Prior's Lane...


Talvez ele não estivesse sozinho.


Harry...


Ela queria sentir o nome dele deslizando sobre sua língua. Sussurrá-lo baixinho, ouvir o som...


— Não. Você está certo — ela disse de repente, torcendo para a luz baixa esconder sua cor. — Não seria justo envolver você. Não se você tem, ah, mui­to o que fazer.


— A decisão é sua. Pode mudar de idéia quando quiser — ele disse. — Acho que devemos fazer o pe­dido. Acho que o garçom-chefe ficaria muito aborrecido se desmaiássemos de fome.


Era como o calor de um forno com a porta aber­ta, ela pensou. Um toque de algo inesperado, a ten­tação de queimar os dedos.


O momento passou tão rápido quanto surgiu, mas ao abrir o menu, Hermione sabia que em se apresentan­do as possibilidades, convidando-a a arriscar-se e colocar-se nas mãos dele, seu relacionamento mu­dara para sempre. Não porque ele a obrigaria a fa­zer algo que não estivesse preparada para fazer, mas porque ele não fizera. Ele deixara tudo por conta dela. E agora, cada vez que ela olhava para ele, cha­mava-o de Potter, ambos saberiam que ela estava pensando sobre o que ele dissera.


Tudo o que ela precisava fazer era falar a pala­vra mágica. Harry...


Ela olhou por cima do menu, esperando roubar uma olhadela dele, e pegou-se olhando diretamente dentro dos olhos verdes dele. Foi um momento no qual ela poderia ter abandonado qualquer pensa­mento sobre comida, agarrado sua mão e corrido, um momento de pura e nua paixão.


E ela sabia porque uma garota poderia facilmente esquecer os conselhos sábios de sua mãe, os avisos de seu pai e partir para o lado selvagem da vida.


E então ele riu, quebrando o encanto.


— Quer me ajudar com isso? — ele perguntou, enquanto, deixando de lado o menu, se aproximou dela e com o braço em volta da cadeira disse: — Nós, biscateiros, não estamos acostumados com restaurantes franceses.


Ela não acreditou nem um pouco que ele tivesse alguma dificuldade com o menu, mas não se im­portou. O tecido suave do paletó dele era agradável no ombro dela. Seu braço era sólido e protetor em volta dela.


E se aquilo fosse uma ilusão? Enquanto ela reconhecesse o que realmente estava acontecendo, reação pura e simplesmente sexual entre dois adul­tos, sem pretensões, sem mentiras...


Ela tremeu um pouco. Você está com frio?


Ele olhava para ela, mas de repente ela não pôde mais olhá-lo nos olhos.


— Não, é que... bem, talvez eu devesse ter usado algo menos... — A única palavra que lhe veio à mente foi revelador.


Aproveitando-se da hesitação dela, Harry disse:


— Menos? Isso é possível?


Acho que a palavra que estava procurando é mais em vez de menos. Algo mais quente. — E ela conseguiu rir. — É louco, não é? Homens saem à noi­te de terno e gravata e mulheres aceitam o desafio de vestir o mínimo possível.


— Bem, falando pelos homens — ele disse, curvando-se para dar-lhe um beijo no ombro —, acho que é um sistema muito bom.

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