Iminente.



Iminente.


As ruas calmas que entornavam a pequena praça num bairro residencial contrastava fortemente com as avenidas e ruas principais lotadas de todos os tipos de transito perto dali. Ah!, Londres, Londres. Nunca parada, nenhuma palavra seria capaz de descrever a cidade perfeitamente, gênios nasceram ou passaram por ali. Cheia de contrastes, riqueza e pobreza, o novo e o velho, o trouxa e o bruxo – um paradoxo constante que Hermione nunca se cansaria de observar e se encantar.


Ela, que já iria para o seu quinto ano na escola, fechava os olhos enquanto aproveitava a brisa lhe soprar na face num raro dia em que se sentia calma ou sem algum problema para pensar – ela o tinha, mas no momento se dava ao luxo de ser egoísta e esvaziar a mente dos meninos e do mundo caótico bruxo. O dia de verão trazia uma paz que há muito lhe faltava no peito e se não tirasse uma folga do mundo bruxo iria enlouquecer, na semana seguinte iria voltar à tão amada escola. Encostou as costas relaxadamente no tronco de uma das árvores do parque e deixou o branco lhe invadir, a paz lhe embriagar e a falta de barulho lhe embalar.


Os olhos castanhos, pesados e sonolentos, encararam com desfoque o mundo afora quando uma coruja bicou seu dedo, a acordando.


H.,


Te espero às 2pm naquela livraria trouxa.


P.


Hermione suspirou ao terminar de ler enquanto revirava os olhos. Era tão típico de Phoebe lhe mandar um bilhete faltando nem quinze minutos direito para o horário que ela marcou o encontro.


Oh, ainda bem que ela havia conhecido Phoebe no ano anterior, bendita fosse Sprout e a preguiça absurda de Phoebe – além da falta de vontade de aprender sobre plantas da menina mais velha, ninguém podia culpar a corvinal também, afinal eram plantas! – caso contrário nunca a teria conhecido. Ela era o que mantinha a sanidade em Hermione nesse tempo de crise que eles enfrentavam: o Ministro da Magia negava veementemente o retorno de Lord Voldemort e fazia duras criticas ao Harry e ao Dumbledore (e a qualquer um que afirmava e que “gosta de instaurar o caos na sociedade bruxa sem qualquer prova ou fatos dessa loucura toda”) por não abaixarem a cabeça para as mentiras do Ministério e do medroso Ministro.


Hermione se irritava só de pensar que Fugde fazia tudo isso por puro medo da volta d’Aquele-Que-Não-Deve-Ser-Nomeado, por ter medo de ter que enfrentá-lo, por ser ele o único que tinha plenos poderes para comandar uma busca e derrotar Voldemort. Porque ele tinha medo de ser verdade, tinha medo de enfrentar, mas acima de tudo tinha medo de perder, de ser ele quem falhou e levou a comunidade bruxa ao poder de Lord Voldemort, de ser o cara que condenou a todos. Então ele preferia se esconder feito um rato atrás de suas próprias mentiras, enganando o povo e condenando as únicas pessoas que sabiam de fato o que estava acontecendo e podia ser uma ajuda útil. Mas o que Fugde não via, e Hermione lamentava-se dia e noite por isso, era que mentir sobre o perigo que estava rondando a sociedade era não dá-los a oportunidade de se preparar ou de ter consciência e ao menos tentar fugir dali. Escapar daquele absurdo mundo paralelo que o mundo havia se transformado desde a morte de Cedric Diggory.


- Você deveria parar de pensar tanto assim nesse assunto, Herms.


A grifinoria pulou na cadeira da livraria enquanto olhava com uma mistura de alivio e repreensão nas orbes castanhas ao encarar a morena que lhe sorria, embora tivesse o cenho franzido.


- E você deveria parar de fazer isso! Quantas vezes tenho de repetir? Não é engraçado me matar de susto – Hermione tentou ser ríspida mas falhou miseravelmente ao deixar um sorriso se formar nos cantos dos lábios enquanto falava.


Phoebe lhe sorriu, mas o sorriso parecia forçado e não chegava aos olhos, azuis.


- O que há?


- Nada…


E sem dizer mais nada Phoebe sentou-se na cadeira ao lado, olhando com fingido interesse para o resto da livraria.


Hermione sentiu-se perdida pelas ações estranhas da namorada, não era uma coisa da qual estava habituada, geralmente a menina era tranquila e sorridente e naquele momento ela estava lá, quieta, evitando Hermione mesmo que tenha sido a própria Phoebe que marcou o encontro das duas ali. Era difícil um relacionamento, ponderou a grifinoria, conviver com alguém por escolha e ter que decifrar seus humores quando fogem do habitual, destruir as barreiras impostas por algum problema... entender e acima de tudo aceitar a outra pessoa sem medo, ter os braços abertos para consolar e abraçar a qualquer hora em que seu parceiro estiver mal – mesmo que você também esteja –, abrir mão muitas vezes de si para o outro. Era um completo e eterno dar e receber, era ser e estar, talvez fosse a plenitude da humanidade: o exercício da compaixão, do carinho, de cuidar.


E, escolhendo as palavras cuidadosamente, ela se encheu da famosa coragem pela qual era conhecida sua casa e encarou a menina ao seu lado, que olhava para a mesa, com olhos incertos e tristes.


- Phoebe?


- Yeah?


- Vem.


Levantou-se e puxou a namorada consigo, ignorando o olhar de medo que Phoebe lhe lançou, ela marchou até a cafeteria do outro lado da avenida. Pediu dois chocolates quentes e esperou pacientemente as bebidas chegarem, percebeu com alivio o pequeno sorriso de satisfação que a menina mais velha deu ao beber um gole da bebida fumegante.


- Phoebe… o que houve?


Um suspiro escapou pelos lábios da corvinal quando ouviu a pergunta de Hermione. Ela sabia que não conseguiria evitar a pergunta da namorada por muito mais tempo, na verdade ela não queria evitar Hermione – Merlin, não! Ela mesmo quem marcou o tal do encontro, uh?  –, mas o assunto do qual queria, teria de tratar com ela não era nada simpático e deixava seu estomago revirando até não poder mais.


- Hm… eu tenho que te dizer um negócio, Herms…


O tom nervoso de Phoebe deixou Hermione tensa, que se sentou ereta na cadeira, com receio das noticias que viriam.


- Sim?


- Meu pai quer sair do país.


- Oh.


Elas desviaram o olhar uma da outra, sem certeza de como agirem, sem certeza do que aquelas palavras significavam.


- Para onde ele pensa em ir? – forçou as perguntas saírem de sua garganta.


- Não sei ao certo os planos dele, ainda está tudo tão vago…  ele está pensando na Itália ou quem sabe a França… não é tão longe assim, mas tudo depende da antiga influencia que Você-Sabe-Quem tem lá na França…


O silencio perdurou enquanto elas terminavam seus chocolates quentes, olhando para tudo menos uma para a outra. Era desconfortável, pesado, tenso e nele era palpável o temor das palavras que rondavam a cabeça das duas, mas que Hermione e toda sua coragem grifinoria soprou ao ar.


- Você vai embora, então?


E assim que aquelas palavras saíram num murmúrio estrangulado e embargado, o impacto real se formou no coração de Hermione, que se apertou e apertou até a dor ser aguda e o nó na garganta ser tão grande que era impossível respirar. Uma lagrima escorreu pelo rosto dela, enquanto ela tentava puxar com todas as forças o ar para dentro de seus pulmões que pareciam ter sido esmagados por um caminhão com toneladas de ferro.


Phoebe sentiu seu coração sendo partido ao ver o estado que suas palavras deixaram a menina pela qual era apaixonada. O choro prendeu-se na própria garganta e tudo que ela conseguiu fazer foi balançar incansavelmente a cabeça em negação, enlaçou os ombros da namorada e a puxou para si, murmurando que não.


- Não… não, Herms… eu tenho até o Natal ou a Pascoa. Não vou embora para nenhum lugar agora, okay? Eu estou aqui – Phoebe balbuciava tentando conter ambas com suas palavras e promessas vagas.


- Não me deixe – pediu irracionalmente Hermione, num fio de voz embargada que só fez Phoebe lhe apertar mais –, não agora… nem nunca.


- Não vou – assegurou Phoebe com todo seu coração, mesmo que no intimo das duas, elas sabiam que aquelas promessas não estavam sob o controle de suas mãos.


- Promete?


- Prometo.


- Phoe… eu estou com medo – murmurou encostando o rosto no peito da namorada – do que virá…


- Não fique, Herms – respondeu suavemente, acariciando os cabelos menos revoltosos de Hermione – eu estou aqui com você, tudo dará certo.


 

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Comentários (1)

  • MiSyroff

    Não sei o que comentar, além de :/Talvez ;/rsAh cara, que tristeza mais triste... 

    2012-09-24
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