Inconsciente.



Inconsciente.


Há pessoas que são supersticiosas, que acreditam em sorte, azar, amuletos da sorte e etc. Há pessoas que são religiosas. E há, ainda, pessoas descrentes, apenas guiadas pela razão, conhecimento, fatos comprovados.


Hermione, naquele momento, passou do ultimo ao primeiro grupo citado, em questões de segundos.  Havia um ditado trouxa que definia bem o que ela pensava “Quanto mais eu rezo, mais assombração me aparece”, na verdade, definiria o que ela pensaria senão estivesse tão chocada e atônita quanto estava. Eram só aquelas duas palavras que pareciam definir Hermione no momento em que ela abriu a sala e viu duas garotas dentro, uma encostada na parede, a outra muito perto. Se tivesse plena consciência, pensaria em como Hogwarts poderia ter tantas lésbicas e como era pouca vergonha não usarem um banheiro (afinal, eram do mesmo sexo!) ao invés de uma sala de aula.


Mas Hermione não tinha consciência plena em seu estado “vegetativo”, era apenas uma espectadora sem razão, lógica, cérebro, neurônios e afins, observando sua ex-amiga corvinal, Phoebe, sendo prensada na parede por Pansy Parkinson. E tinha de admitir, era uma visão muito gostosa, alem de muito desconfortável e irritante.


- Achei que estivesse com Draco, Pansy – Hermione pode ouvir a doce voz da corvinal.


Desde quando ela achava a voz da corvinal doce? Ela não sabia, mas assim que o fato percorreu por sua mente, e o arrepio pela espinha, ela chacoalhou a cabeça e saiu da porta, mas a resposta da sonserina, que tanto odiava, a fez ficar escondida na parede, ouvindo.


- Achei que gostaria de me ver.


- Não disse o contrario – a voz saiu provocativa.


- Claro que não, depois que se prova, sempre quer mais – insinuou-se.


- Sua modéstia me espanta – o tom mesclava a ironia e o divertimento da corvinal.


- E a sua ironia me arrepia – a voz muito provocativa de Pansy fez os pelos da nuca de Hermione se eriçarem.


Se Hermione estivesse em seu perfeito juízo, entraria lá e colocaria ambas em detenção; se estivesse um pouco alterada, pensaria se não poderia trabalhar como espiã na Scotland Yard; mas Hermione não estava em seu juízo, a única coisa que talvez estivesse alterada era sua mente que gritava algo como “como Parkinson tem a ousadia…?”, seu intimo estava desesperado para que aquilo tudo acabasse, que Phoebe rejeitasse a sonserina, que alguma merda acontecesse.


Talvez Hermione tenha virado religiosa depois dessa, porque algum deus parece tê-la ouvido no momento em que pensou.


- Vamos logo dormir, Pan.


- Em qual dormitório? – animou-se.


- Nos dois, eu no meu, você no seu – pausa. – Desculpe, Pan, estou só cansada, a noite foi longa.


- Você está estranha há meses! – tom acusatório; pausa. – Ei, o que há, Phoebe? Além de sermos uma diversão, somos amigas, há anos.


- Eu não tenho amigos, Pan. – o cansaço era perceptível mas a outra bufou.


- Quando estiver disposta a falar, me procure.


Hermione se alarmou quando ouviu a ultima frase da sonseria. Porra, ela precisava sair de lá, sua suspeita de estar virando religiosa estava aumentando depois que viu uma armadura a alguns passos de onde estava, ela estava dando graças aos céus e qualquer deus. Pensando melhor, era sorte, finalmente sorte!, talvez ela devesse mesmo começar a ser supersticiosa. Refletia escondida atrás da armadura, a sonserina já havia passado por si e estava em algum corredor longe dali, ao contrario da corvinal.


- Nunca lhe disseram que ouvir a conversa dos outros é errado, Granger?


A grifinória arregalou os olhos, por essa ela não esperava. Ok, sem superstições, pensou.


- E-eu na-não estava o-ou-ouvindo – gaguejou pateticamente Hermione, mexendo nervosamente as mãos.


- Tá, e eu sou hetero – ironizou.


Hermione parecia uma pintura com seus olhos ainda arregalados, e um monte de emoções que Phoebe poderia decifrar facilmente pelos olhos expressivos.


- Você fala assim como se ser hetero fosse ruim – soltou Hermione, para logo se arrepender e, de novo, arregalar os olhos.


Phoebe jurava que se Hermione arregalasse novamente seus olhos, iria petrificar a menina em seu estado normal. Por que, Merlin, a menina se assustava com tudo?! Perguntou-se intimamente, mas preferiu dizer outra coisa.


- E você age como se ser gay fosse ruim – disse levantando uma sobrancelha – Não sabia desse seu preconceito.


- Não sou preconceituosa – murmurou a outra em defesa.


- E eu, a Joana D’arc – rolou os olhos – Vá para a cama antes que eu lhe dê uma detenção – suspirou, é, ela precisaria paralisar Hermione.


- Por que? – Hermione perguntou chocada.


- Hermione, se você não parar de arregalar a porra dos seus olhos, eu vou te azarar – ameaçou chegando muito perto da grifinória, que tentou recuar uns passos, mas havia um empecilho em seu caminho: a armadura. – Porque já passou do horário dos alunos dormirem.


Hermione queria argumentar que era impossível, visto que havia um baile acontecendo no castelo, que ela tendo quatorze anos tinha a permissão para freqüentar o baile, que se a menina a castigasse, ela a denunciaria para a professora. Queria poder dizer tudo aquilo e mais meio milhão de palavras que gostaria de usar. Mas ela simplesmente não podia pelo fato de Carter estar a uma distancia muito curta para seu gosto.


A imagem do beijo piscava freneticamente em sua cabeça, diversos flashes do beijo embaralhavam sua mente, o poder de articulação das palavras já não lhe era mais permitido, talvez a única coisa a qual ainda lhe era permitida, era respirar, muito descompassadamente. E aquilo não era nem um pouco bom, não para ela que queria esquecer o fato, que queria se mostrar indiferente, que queria fingir que nunca aconteceu. Mas tinha acontecido, e lá estava Hermione, nervosa e ansiosa de frente para a garota com quem teve seu primeiro beijo.


Carter chegou mais perto, imensamente mais perto e abriu sua boca lentamente, Hermione ouvia a respiração da garota como se houvesse só aquele som no mundo.


- Você me decepcionou, Hermione.


E se fora.


Hermione queria gritar para que ela voltasse, queria correr atrás da morena, precisava se explicar para ela, tinha que!


Abriu os olhos em frações de milésimos de segundo. Seu peito subia e descia rapidamente, as mãos suavam, o rosto brilhava de suor. Levantou-se abruptamente, estava em seu dormitório, de pijama. Olhou para a janela, os flocos de neve batiam na janela do dormitório feminino do quarto ano da Grifinória. Repousou a cabeça no travesseiro, ofegante.


Fora só um sonho. Forçou a memória e lembrou-se que na noite anterior Phoebe não lhe viu atrás da armadura, e assim, passado um tempo que julgara seguro, fora para seu próprio dormitório dormir.


Porque a corvinal simplesmente não lhe deixava em paz? Nem em sonhos! Levantou-se para tomar seu banho matinal embora estivesse um frio de rachar, banhos a ajudavam pensar, sempre tinha as melhores conclusões e idéias em baixo do chuveiro, era um fato comprovado por ela mesma. É, talvez ela estivesse mesmo virando supersticiosa.


Mesmo no banho, a corvinal não saiu de sua cabeça, mas Hermione, ao invés de reprimir seus pensamentos, deixou sua mente vagar pela menina e percebeu, horrorizada, que observou-a todos os dias, que notou como estava mais diferente, mais calada, mais altiva, mais indiferente e com um olhar opaco. Era um olhar claro de decepção. No momento ela ficaria mais feliz se sua mente inventasse coisas do que lhe mostrar uma verdade inconveniente de uma maneira inconveniente. Droga. Talvez ela devesse procurar a garota e pedir desculpas pelo mau trato, talvez. Mas a menina não podia cobrar-lhe nada, ora essa, pensou irritada fechando o chuveiro. Ela tinha todo direito de ficar conturbada por uma menina beijar-lhe, se tinha!


Voltou para a cama insatisfeita com as conclusões que havia tido no banho, passou uma hora virando na cama de um lado para o outro, inquieta, pensativa.


Por fim, aborreceu-se consigo, com sua cama e com Phoebe. Quem aquela menina achava que era para lhe tirar o sono, os sonhos, os pensamentos e tudo de si?, pensava a castanha vestindo qualquer sobretudo e indo tomar seu desjejum. Eram nove horas da manhã e não tinha almas vivas acordadas, só as mortas mesmo e Hagrid, sem contar os elfos, Ficlh e alguns professores. Mas só havia Hermione no Salão Principal, tomando seu desjejum, sozinha em pleno Natal. Ou era. Até ouvir passos, e sem vontade Hermione desviou o olhar de seu prato, só para ver a menina da corvinal, que tinha feito sua vida ficar de pernas para o ar, sentada de costas para ela, tomando seu desjejum.


Em dez minutos, Hermione estava postada de pé ao lado da outra garota, sem saber o porquê de estar ali, sem saber o que dizer. Apenas seus pés a guiaram sem ela ter o controle, não que ela fosse se impedir, jamais.



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