Fuga



—Capítulo 10—


Fuga


 


      


O enorme castelo encontrava-se encarapitado no alto de um imenso penhasco. Aos pés do penhasco, crescia uma enorme floresta negra. Vez ou outra uma enorme criatura de aparência reptiliana saia voando por entre as árvores, lançando um jorro de fogo para cima antes de sumir novamente entre as copas escuras.


Logo após a queda de Voldemort, Comensais da Morte seguiram uma onda de pânico pelo país, indo atrás de cada um dos membros da Ordem da Fênix em busca de vingança, como se isso fosse trazer seu mestre de volta. Como tentativa de recriar um poderoso exercito, pronto para servir Voldemort quando este retornasse, os Comensais seqüestravam os filhos de bruxos que lutaram do lado de Dumbledore na primeira guerra. Eles eram chamados de “Recrutados”.


Treinados para não ter emoções ou qualquer coisa que pudesse atrapalhar em seus objetivos. Eram apenas armas, potencialmente letais.


Dois pares de botas avançavam pelos corredores num movimento quase sincronizado, como se fossem um só.  As figuras que estavam no meio do corredor afastavam-se, dando passagem para elas. Ambas usavam roupas iguais, com corpete de couro bem apertado, presos por cordões, botas eram longas, quase no joelho e capas de cetim negro, que deslizavam pelo chão como se fossem feitas de fios de água. Seus rostos eram encoberto por mascaras que simbolizavam, respectivamente, agonia e dor.


Os passos pararam de frente para uma porta. Uma delas bateu duas vezes e tornou a abaixar a mão, em movimentos quase militares. Por quase dois minutos, ficaram paradas ali, de frente para a porta até que esta abriu. Esperaram estar completamente abertas antes de continuarem naquele passo firme e duro, quase robótico. Pararam de frente à um trono encoberto pelas sombras, fazendo reverencias em sincronia.


- Mandou nos chamar, mestre? – Perguntou uma das vozes. Era fria e desprovida de emoções, mesmo abafada pela mascara.


-Sim, Morgan...tenho uma missão para vocês.


 


 


 


A porta do quarto abriu-se rapidamente, fechando-se com um forte estampido. Pedro parecia afobado, o rosto um tanto vermelho, como se tivesse corrido muito rápido. Sophia, que estivera deitada em sua cama, contemplando o céu que assumia um tom azul marinho, virou rapidamente o olhar para o primo, assustada.


—O que aconteceu?!


—Ele apareceu... —Murmurou Pedro, sentindo as palavras engasgando na garganta.


—Apareceu?! E aí? —Perguntou Sophia, arregalando os olhos.


—Eu escutei quando ele aparatou. —Murmurou Pedro, sentando-se numa cadeira e respirando em arquejos demorados. Tentava controlar a respiração e os batimentos cardíacos. —Entrei...por aquela porta lateral na igreja. Padre Mackenzie estava saindo da sacristia. Tive que estuporar-lo.


—Por Merlin! —Exclamou a garota, levando as mãos até os lábios. —Mas ele...


—Ele está bem! —Interrompeu Pedro, bruscamente. —Eu alterei a memória dele. Vai achar que desmaiou ou coisa assim.


—Céus... —Disse Sophia, recostando-se na cama, parecendo em choque. —Mas e então? O que aconteceu?


—Eu escondi o padre atrás do altar. E assumi a forma dele. Não foi fácil, em tão pouco tempo. Por sorte o Rabastan é tapado o suficiente para não gravar fisionomias. —Disse Pedro, sentindo a respiração voltar ao normal, apesar da dor na lateral do corpo. —Assumi o lugar do padre no confessionário e esperei.


“Não demorou muito para ele entrar. Foi até o confessionário e disse que matou uma família inteira. Bruxos, talvez. Pediu o perdão. Parecia bem irritado. Exigia que eu desse o perdão à ele. Eu não podia mais esperar. Saí do confessionário, me fingindo de compreensivo e...”


—Você matou ele... —Sussurrou Sophia, tão baixo que parecia que havia alguém ali que não pudesse ouvir-los. Pedro apenas balançou a cabeça positivamente, antes de encarar o chão. Seu corpo tremia de leve, como se estivesse acometido de uma forte febre. —Merlin...


O silêncio que seguiu-se entre os dois foi aterrador. O ar ao redor deles parecia se condensar fortemente, tornando-se quase sólido. Pedro sentia o olhar da prima preso sobre ele, mas no momento preocupava-se mais com suas entranhas que reviravam fortemente, como cobras sobre pedras em brasa. Sentia-se horrivelmente gelado e com vontade de vomitar.


—Temos que sair daqui. —Disse Sophia, com um ar decidido. Pedro ergueu o olhar para a prima, como se não entendesse. —Eles vão notar que Rabastan sumiu. E vão vir atrás dele. Temos que sair antes que esse lugar vire um enxame de Comensais da Morte.


Pedro olhou demoradamente para a prima, com as sobrancelhas ligeiramente erguidas, antes de balançar a cabeça positivamente. Sophia rapidamente começou a jogar as roupas usadas dentro da mochila. Atirou-as perto do primo, que ainda estava sentado, como se estivesse prestes a vomitar.


—Eu vou fechar a conta. Depois nós, hmm...vamos procurar um lugar seguro para aparatar. —Murmurou Sophia, tentando manter um tom racional.


E, murmurando um “vê se melhora”, saiu do quarto. Pedro permaneceu naquela posição por um bom tempo. Agora era sua testa que suava gelado. Sentia os lábios ressecos e não conseguia produzir saliva para umedecer-los. Passou a mão pelo rosto, numa tentativa patética de afastar aquela sensação angustiante, antes de encarar a janela.


Matar por matar era algo completamente novo para ela. Claro que, lutando ao lado de seus amigos, já tivera que matar. Mas era para se defender ou defender os outros. Matar por matar. Por vingança. Dava uma sensação estranha. Sentia-se...sujo...Respirou fundo, tentando conter a anciã de vômito que sentia, antes de levantar-se rapidamente.


Mal tinha terminado de guardar as ultimas roupas na mochila, quando Sophia voltou. Parecia ainda assustada, apesar de tentar mostrar um ar tranqüilo. Olhou para o primo por um instante antes de olhar para a mochila que ele terminava de fechar.


—Vamos? —Perguntou Sophia, olhando brevemente para o primo, que apenas concordou com um movimento de cabeça.


Fecharam a porta do quarto ao saírem. Sem que um precisasse falar para o outro, mantiveram as mãos bem fechadas ao redor das varinhas que estavam nos bolsos, atentos à qualquer movimento estranho.


As ruas estavam vazias. Havia um sinal de movimentação vinda da praça, não muito longe. Uma luz vermelha e azul piscava constantemente. Provavelmente a policia recolhendo o corpo de Rabastan. Pedro sentiu um aperto no peito e seguiu andando com a prima, tentando não parecer tão tenso.


—Acho melhor ficarmos longe da praça. —Murmurou Sophia, fazendo um sinal para seguirem na direção oposta. Pedro mais uma vez concordou, apenas movendo a cabeça.


A medida que iam se distanciando da praça, mais escura ia ficando a cidade e mais sujos ficavam os prédios. Pedro seguia com o olhar atento à cada sombra que se movia, sentindo o coração dar uma cambalhota cada vez que um gato saia correndo, lançando uma sombra macabra sobre eles. Pararam em uma alameda escura e vazia. Sophia lançou olhares rápidos por entre as árvores, como se quisesse ter certeza de que ninguém os observava.


—Pronto...acho que podemos aparatar. —Murmurou a garota, voltando a olhar para o primo. Pedro ainda parecia pálido e distante. —Acha que consegue. Eu posso tentar...


—Não...você nunca aparatou... —Disse Pedro, passando a mão pela testa, como se assim fosse tirar tudo de sua mente. —Eu consigo...vamos...


E ofereceu o braço para a prima. Sophia segurou-o meio receosa, enquanto o primo parecia se concentrar. Puxou o ar para seus pulmões e já parecia pronto para girar no ar, quando um grito encheu o local. Pedro arregalou os olhos e empurrou a prima a tempo de desviar de um jorro de luz vermelha que passou voando por entre eles. O feitiço bateu no chão, explodindo as pedras do asfalto.


—Mas que d... —Disse Pedro, olhando para o buraco no chão, antes de olhar para as árvores, de onde havia vindo o feitiço.


Passos duros escoaram por entre as árvores, enchendo a noite como se tornasse o ar compacto. Duas figuras negras saíram por entre as árvores, ficando de frente para eles. Mesmo que não estivessem usando mascaras, seria impossível ver o rosto das figuras em meio à escuridão.


—Comensais da Morte? —Murmurou Sophia, rapidamente enfiando a mão no bolso da calça, puxando a varinha.


—Provavelmente. —Disse Pedro, fazendo o mesmo que a prima.


As duas figuras continuaram em silêncio, paradas no mesmo lugar. Uma delas fez um movimento imperceptível com a cabeça, na direção de Sophia, e a outra moveu a cabeça em sinal de entendimento.


Num movimento rápido, a segunda figura ergueu a varinha e disparou um feitiço contra Sophia, que foi obrigada a saltar para trás. Pedro virou o rosto para observar a prima, mas foi tempo o suficiente para a primeira figura erguer a varinha e lançar-lhe um feitiço também.


Protego! —Gritou Pedro. O feitiço, por já estar muito próximo, explodiu seu feitiço escudo, atirando o garoto no chão. —Ah, merda...


Rolou rapidamente para o lado, a tempo de evitar um segundo feitiço e pegou impulso para levantar. Bloqueou um novo feitiço com um movimento rápido da varinha e correu para dentro do bosque que ladeava a alameda, sumindo em meio às árvores.


—Acho que não vai desistir tão rápido. —Murmurou Pedro, enquanto ouvia os passos rápidos do Comensal acompanhando os seus.


Pelo canto do olho, viu um lampejo prateado sair por duas árvores. Parou a tempo de ver o feitiço explodir contra o tronco de uma árvore, sacudindo violentamente sua copa. Mudou de direção e apressou o passo. Parou derrapando entre alguns arbustos e saltou para trás deles, abaixando-se. Ouviu os passos pesados diminuírem até pararem pisoteando as folhas ali perto. Ouviu a respiração rápida do Comensal por trás da mascara, enquanto olhava de um lado para o outro. Por fim, quando Pedro pensou que ele fosse desistir, o Comensal ergueu a varinha em direção aos céus.


—Marca Negra? —Murmurou Pedro, franzindo a testa de leve.


Homenum Revelio! —Exclamou uma voz dura e rouca, estranhamente feminina. A ponta de sua varinha brilhou por um instante, antes de ser atraída diretamente para onde Pedro estava. —Bombarda!


Pedro saltou para trás a tempo de evitar o feitiço que explodiu os arbustos. Sentiu o pé escorregar no terreno úmido, a mochila escorregar de seus ombros e caid no chão e, logo em seguida, um forte golpe em seu queixo. Cambaleou dois passos para o lado antes de cair no chão, com o rosto virado para a grama.


—Auch... —Murmurou, erguendo um pouco o corpo, massageando o queixo. O Comensal estava parado no mesmo lugar de antes e posicionava a varinha como se tivesse acabado de aplicar um golpe de espada. Pedro ficou encarando a mascara, que parecia alguém em agonia, por um longo minuto, antes de levantar-se. —Quem é você?


Não houve resposta. O Comensal abaixou a varinha e ficou encarando Pedro através dos buracos em sua mascara. Pedro não conseguia ver seus olhos em meio a escuridão. Dando-se por vencido, abaixou a própria varinha, na mesma posição que o Comensal estava. Durante quase dois minutos ficaram se encarando em silêncio. Então, toda a calma do bosque foi quebrado por uma explosão de fagulhas que partiu da varinha de ambos.


Em esperar que as primeiras fagulhas sumissem, ambos ergueram mais uma vez suas varinhas e iniciaram uma seqüencia de feitiços que colidiam ou ricocheteavam um no outro, forçando-os a saltar para os lados, para desviar deles.


Protego! —Exclamou Pedro, fazendo um movimento largo com a varinha, como se rebatesse algo. Rapidamente girou-a no ar e abaixou na direção da Comensal. —Estupefaça!


O Comensal girou no próprio eixo e, num movimento rápido de sua capa, sumiu no ar. Pedro arregalou os olhos, mas, antes que pudesse fazer algo, sentiu uma explosão em suas costas, jogando-o para frente. Caiu diante de algumas árvores, ralando as mãos e o rosto na terra. Seu corpo parecia paralisado pelo feitiço.


Passos se aproximaram lentamente de seu corpo. Sentiu mãos agarrando seus cabelos e puxando-o para trás, até que seu rosto estivesse emparelhado com a mascara negra e brilhante do Comensal. Sentiu a varinha encostar em sua garganta e pressionar de leve, como numa ameaça.


—Ultimas palavras? —Murmurou a voz dura e impassível, abafada pela mascara. Pedro riu de leve, sentindo a garganta entalar de leve.


—Sim... —Murmurou, sentindo os dedos relaxarem de leve sobre a varinha e os músculos recuperarem o movimento. —Accio Espada!


Ouviu-se um som de pano rasgando logo atrás dela. Um zunido rápido chegou à seus ouvidos e, antes que ela pudesse se virar, a espada de cabo de bronze e lamina azul venceu o espaço entre eles e parou na mão do garoto. Num movimento rápido e aproveitando a distração do Comensal, o garoto girou a lamina sobre a mascara. Ouviu um som trincado, enquanto o Comensal dava passos para trás, levando as mãos ao rosto, como se tentasse segurar a mascara.


Pedro levantou-se rapidamente, usando a espada para apoiar-se. Virou-se rapidamente na direção dele e encarou enquanto o Comensal dava alguns passos para trás. Suas mãos já não seguravam a mascara, que se partira no meio. Quase em câmera lenta, uma metade da mascara abandonou seu rosto, logo sendo seguida pela outra. Longos cabelos negros se desprenderam e caíram sobre os ombros de uma garota de belos olhos castanhos, quase da cor do chocolate. Pedro deu mais um passo para trás, sentindo o queixo cair lentamente.


Estupefaça! —Gritou a garota, sem dar tempo de Pedro pensar em nada. O garoto ergueu a espada a tempo de desviar o feitiço.


Girou no ar para desviar de outro feitiço e, num movimento quase imperceptível, deixou a ponta do dedo passar pela lamina. Uma gota de sangue escorregou pelo metal, antes de ser absorvida. A lamina brilhou intensamente. Girou a lamina no ar antes de golpear o ar na diagonal, formando um imenso deslocamento de ar, que atirou a garota para longe. Pedro deixou o peso do corpo apoiar-se sobre a espada, enquanto a lamina ia lentamente deixando de emitir aquela luz azulada.


—Ufa...essa foi por pouc...


Mas antes que terminasse de falar, um novo deslocamento de ar surgiu, dessa vez indo em sua direção. Arregalou os olhos e pôs a espada em frente ao corpo, mas foi atirado para trás. Sentiu as costas baterem no tronco de uma árvore antes de escorregar até o chão, sentindo o ar faltar em seus pulmões.


A garota vinha andando em sua direção, lentamente. Seus cabelos estavam bastante bagunçados e cheios de folhas. Suas vestes estavam sujas e havia sangue escapando de sua testa e do canto de seus lábios. Carregava na mão esquerda a varinha e, na mão direita, uma recém surgida espada de cabo forjado em prata e a lamina tão negra que misturava-se à escuridão.


—Mas o que... —Começou Pedro, levantando-se lentamente, sentindo o corpo extremamente dolorido. Observou bem a espada que agora arranhava o solo lentamente. Um filete de luz entrou por entre as árvores, iluminando a lamina. O garoto conseguiu ver claramente os vincos que formavam a palavra “RAVENCLAW” no metal frio.


—Parece que reencontrou uma velha amiga. —Murmurou a garota, a voz ainda fria e impassível, mas havia um sorriso em seu rosto. Ergueu a espada, de modo a tornar ainda mais visível as letras, o olhar ainda fixo em Pedro. —O Lord das Trevas me presenteou com ela hoje. Achou que pudesse ser...util...


—Mas...como...estava...estava destruída... —Murmurou Pedro, olhando atônito para a espada e logo em seguida para a garota, que ainda sorria de uma forma sinistra.


—Nada é impossível para o Lord das Trevas. —Murmurou a garota, sublinhando bem a palavra “nada”. Havia um toque de reverencia em seu modo de falar de Voldemort.


Pedro seguiu olhando fixamente para a espada. Sentiu-se por um instante mergulhado em uma penseira. Lembranças correram diante de seus olhos com tanta vivacidade que podia jurar que eram reais. Por fim, piscou os olhos e voltou a focar a lamina negra que refulgia no ar.


—Eu já destruí essa aberração antes. —Murmurou Pedro, posicionando a própria espada. —Eu posso derrotar-la de novo.


A garota abriu um sorriso satisfeito, antes de posicionar a espada também. Seus olhares se encontraram e Pedro não conseguiu reprimir a sensação de que já vira aqueles olhos antes. Sacudiu a cabeça de leve e, quando retornou a posição, a garota já havia sumido.


—Sua concentração é péssima! —Gritou a comensal, logo atrás dele. Pedro virou-se à tempo de bloquear o golpe, sendo empurrado para trás.


—Geralmente as pessoas não anunciam ataques surpresa! —Devolveu o garoto, fazendo força para empurrar-la para trás. Conseguiu afastar-se o suficiente para dar um passo para trás. Girou a espada no ar e golpeou seu corpo de lado. A comensal virou a tempo de defender o golpe, empurrando-o para o lado.


A Comensal meramente estreitou seu olhar na direção do garoto, partindo para mais uma onda de ataques. As espadas se encontravam no ar em movimentos rápidos e agressivos, as vezes um bloqueava o outro e ficavam se empurrando, tentando fazer o outro ceder, mas logo recomeçavam a luta.


A garota saltou para trás, para longe do alcance dele, passando a língua pelo canto dos lábios, recolhendo o sangue que estava ali. Virou o rosto um pouco para o lado e cuspiu o sangue na lamina. Por um instante a gota vermelha escorreu pelo metal, antes de ser absorvido. A espada emanou uma luz macabra. Girou-a no ar mais uma vez e posicionou-a como se fosse uma lança. Pedro franziu a testa, olhando-a por um instante, sem entender.


—Cansei de brincar. —Murmurou a garota, abaixando as sobrancelhas de leve. Então, começou a correr na direção do garoto, movendo a espada em sua direção.


Pedro arregalou os olhos e, bem a tempo de evitar ser acertado direto no coração, girou a espada, desviando o trajeto do golpe. A lamina passou raspando por seu ombro, abrindo um corte. Ignorando a dor ardente, Pedro girou e bateu a parte lisa da lamina nas pernas dela, fazendo-a perder o equilíbrio por um instante.


Um grito de agonia chamou sua atenção. Girou o olhar na direção da alameda onde estivera antes, sentindo o coração parar por um instante.


—Sophia! —Exclamou, mas logo sentiu uma dor excruciante em sua perna direita. Ouviu o doloroso som da lamina sendo retirada de sua própria carne e cambaleou para o lado, usando a própria espada para se apoiar. —Argh!!


—Eu vou dizer de novo. Sua concentração é péssima.


Pedro ergueu o olhar para ela, num misto de dor, raiva e angustia. Seus dentes estavam trincados de dor e concentração. Sua mão emitiu uma aura alaranjada e pequenas ondas de calor. Levou-a até o local do ferimento e, quando retirou, a ferida parecia cicatrizada.


—Milord avisou que isso aconteceria. —Murmurou a garota, olhando indiferente para o corte cicatrizado. Pedro porém movia a perna, como se quisesse conferir se estava realmente curada.


—Eu não vou perder meu tempo com você. —Murmurou o garoto, erguendo um pouco a espada. Passou a lamina pela palma da mão, deixando-a absorver uma grande quantidade de sangue. Por fim, afastou a espada, enquanto novas ondas de calor surgiam em sua mão, fechando o ferimento. A Espada de Ravenclaw brilhou mais intensamente do que da primeira vez.


A garota encarou Pedro com o olhar estreito, num ar de desafio. Puxando o ar para os pulmões, Pedro esticou o braço para trás, antes de brandir a espada no ar, em diagonal. Um deslocamento de ar ainda mais forte que o primeiro partiu da espada, partindo o tronco de algumas árvores, que penderam de maneira precária sobre o que restava. A garota arregalou os olhos e, num novo giro da capa, sumiu no ar a tempo de evitar o golpe. Pedro soltou um gemido de dor e frustração, antes de lembrar-se do grito da prima. Girou rapidamente nos calcanhares e correu na direção da alameda.


Accio Mochila! —Gritou enquanto corria. Ouviu um zunido alto e o som de galhos quebrando, antes que sua mochila aparecesse à sua frente. Agarrou-a no ar e, segurando com firmeza, continuou sua corrida na direção da alameda.


 —Arre! —Exclamou Pedro, assim que um estalo, como o de um chicote estalando, soou à sua frente. Girou a espada à tempo de deter mais um golpe da Comensal. —Você não desiste nunca?!


—Vai logo descobrir que não!! —Gritou a garota. Os cabelos agora caiam por sobre seu rosto, dando-lhe um ar ainda mais transloucado.


O garoto rangeu os entes e empurrou-a para trás dando um passo para o lado. Girou a espada mais uma vez, golpeando o lado do corpo dela. A garota girou a espada agilmente e bloqueou o ataque, já pegando impulso para um novo golpe.


O tilintar metálico espalhou-se em ecos pelo bosque. Os dois retornaram ao combate rápido, um tentando atacar o outro de todas as formas possíveis. Os constantes gritos de Sophia faziam Pedro perder a concentração, sendo pego desprevenido pela Comensal diversas vezes. A garota, por seu lado, não dava tempo dele usar os poderes elementais para se regenerar e os cortes causados pelos golpes já começavam a incomodar e arder.


—Droga! —Disse Pedro, por entre os dentes, enquanto via o novo corte em seu braço. Virou-se para frente a tempo de deter um novo ataque, empurrando ela para o lado e golpeando-a de lado.


A garota girou para defender-se. Ergueu a espada e tentou um golpe por cima, defendido por ele. Pedro rangeu os dentes e empurrou-a para trás, tentando desarmá-la. A Comensal sorriu de uma maneira maldosa, segurando a espada com mais força, como se entendesse o objetivo dele.


—Deveria desistir enquanto é tempo! —Gritou a garota, girando a espada ainda mais rapidamente. Pedro começava a sentir o peso da espada e dos ferimentos. Fez uma careta de dor e conseguiu empurrar ela para trás, ganhando alguma distância.


—Vai descobrir que eu não desisto tão fácil. —Murmurou o garoto, apoiando a ponta da espada no chão. Antes que ela tentasse alguma coisa, ergueu-a rapidamente, jogando terra em seus olhos.


Aproveitando o momento de distração, girou nos calcanhares e correu mais uma vez na direção da alameda. Ouviu os passos rápidos e felinos dela atrás de si e tentou imprimir mais velocidade. Saltou para o asfalto e virou-se rapidamente. A garota saltava em sua direção, a espada erguida acima da cabeça. Largando a espada de Ravenclaw no chão, o garoto aproximou as mãos, criando entre elas uma bola maciça de fogo. Como se tudo acontecesse em câmera lenta, girou o braço para trás e arremessou, como se jogasse uma bola de baseball.  


A bola de fogo atingiu o peito da garota à queima roupa. Seu corpo descreveu um arco e caiu de costas no chão, com parte da roupa chamuscada. Pedro parou derrapando, escorregando um pouco, mas logo virou-se ao ouvir mais um grito.


—Sophia! —Gritou, arregalando os olhos. A prima estava jogada no chão, contorcendo-se como se mil facas estivessem sendo enfiadas em seu corpo. Em pé, ao seu lado, estava outra garota. Essa tinha cabelos cheios e cacheados e olhos cinzentos. A garota observava Sophia ser torturada, com o mesmo prazer que uma criança sente em arrancar as pernas de uma formiga.


—Pare! —Gritou Pedro, puxando a varinha do bolso da calça. —Estupefaça!


A garota de cabelos cacheados virou o olhar a tempo de puxar a varinha e saltar para longe do golpe. Pedro correu até a prima que parara de se contorcer, mas ainda parecia fraca para levantar-se. Seus braços e pernas tremiam e seu rosto estava lívido.


—Hey...Soh...Soh, você está me ouvindo? —Murmurou o garoto, passando um dos braços pelas costas da prima, erguendo um pouco seu corpo. A garota balançou a cabeça positivamente, mas seu lábio tremia de mais para que ela falasse.


—Tocante. —Disse uma voz vinda não de muito longe. A primeira Comensal, de cabelos lisos, aproximava-se lentamente. O local onde a bola de fogo havia atingido, estava agora chamuscado, mostrando parte de sua pele ligeiramente avermelhada. Trazia a varinha em uma das mãos e a espada na outra, arrastando a ponta no chão. —Mas sinto interromper a reunião familiar.


—Não vamos nos demorar mais do que o necessário. —Disse a garota de cabelos encaracolados. Só então Pedro notou que ela tinha um corte no supercílio. —Já perdemos mais tempo que o necessário com eles.


—Tem razão, Soana. —Murmurou a primeira Comensal, erguendo a espada e embainhando-a no cinto. Aproximou-se lentamente de onde Soana estava, ficando ao seu lado. —No três?


—Não temos tempo para essas tolices, Morgan. —Disse Soana, exasperado.


—Morgan? —Murmurou Pedro, sentindo o coração cair até o estomago e voltar rapidamente. Seu olhar correu rapidamente até o rosto da Comensal de cabelos lisos e rapidamente suas feições começaram a se tornar familiares. Mesmo seus olhos frios e desprovidos de emoção pareciam iguais aos seus.


—Você tem razão. —Disse Morgan, trazendo Pedro de volta à realidade. —Vamos terminar com isso agora. Avada Kedavra!


Por um instante tudo ao redor deles parou. Dois lampejos de luz verde partiram na direção deles. Pedro olhou para Morgan que sorria friamente para ele. Sua mente voltou à imagem da garotinha num berço, esticando a mão inocentemente em sua direção. Piscou os olhos por um instante e agarrou o corpo de Sophia com mais força contra o próprio.


No minuto seguinte, sentia seu peito sendo comprimido por barras de ferro. Uma dor lancinante percorreu sua perna como um veneno quente, mas não conseguiu gritar devido a pressão em seu peito. Quando, por fim, aquele incômodo todo passou, seu corpo tombou no chão sem nenhum equilíbrio. A dor tornou-se ainda mais real, quase insuportável. Ao mesmo tempo em que o músculo doía de uma forma incomum, era como se ele também não existisse. Seu corpo tremia violentamente e sentiu mais uma vez a incontrolável vontade de vomitar.


Haviam parado em outro beco escuro, dessa vez entre dois prédios altos, as paredes feitas de tijolo exposto. Havia uma grande caçamba e lixo ali perto, transbordando de lixo e, em algum lugar ao longe, um cachorro latia.


—Pedro? —Perguntou Sophia, meio rouca. Viu o vulto da prima movendo-se ao seu lado, mas tudo o que conseguiu fazer foi gritar de dor. Ouviu a prima ofegar e logo em seguida soltar um lamento pesado. —Oh Merlin!


—Pedro? Sophia? —Perguntou uma voz conhecida. Apesar de estar quase cego de dor, o garoto virou o olhar para a entrada do beco. Um vulto aproximava-se lentamente, carregando algumas sacolas. —O que estão fazendo aqui?


—Gil! —Exclamou Sophia, com um ar surpreso e ao mesmo tempo aliviado?


“Gil?” pensou Pedro, logo sentindo todos os seus pensamentos anuviarem, a cabeça ficar repentinamente leve e tudo ao seu redor tornar-se escuro.

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