Uma Questão Mal-Resolvida



Alvo encarou seu antigo professor, o garoto nunca havia visto tanta alegria em uma pessoa, Pickwick estava realmente exultante.


_Veja Alvo! Vai acontecer a qualquer momento!


_Professor! O que está acontecendo? Porque o senhor está fazendo isso?


_É necessário garoto, é a única forma de...


_Necessário para quê? _ disse Alvo se levantando, um ódio irracional estava tomando conta de seu corpo _ Para devolver o poder aos bruxos das trevas? É isso que o senhor quer?!


_Isso não se trata de bem ou mal, não seja estúpido! Seria simplificar demais as coisas.


_E do que é que se trata então?!


_Da História! A maior riqueza da humanidade, nós vamos presenciar um momento único, não é mesmo meu amiguinho?


Alvo percebeu que esta última frase não havia sido dirigida a ele, ao lado de Pickwick estava uma pequena criatura que lembrava muito um ursinho de pelúcia, com o pêlo fofo, focinho vermelho e grandes olhos amarelos.


_O que é essa coisa? _ perguntou Alvo olhando com surpresa para a criatura que saltitava soltando longos gritinhos agudos.


_Ele? _ disse Pickwick apontando feliz para seu pequeno companheiro _ Eu o chamo de Tarank, ele está me ajudando há um bom tempo.


Tarank... Alvo tinha certeza que já havia ouvido aquele nome em algum lugar, mas certamente nunca tinha encontrado com aquela criaturinha, ele não teria se esquecido, a não ser que...


_Veja! _ disse Pickwick _ Está começando!


No centro da sala havia um grande caldeirão fumegante, a poção de cor púrpura já estava borbulhando, uma espessa fumaça escura começava a tomar conta do ambiente.


_Agora só falta o ingrediente final...


_Iuppp! _ disse Tarank pulando ainda mais alto.


Pickwick retirou um objeto de dentro de seu bolso, era uma pedra escura como carvão, Alvo se lembrou de já a ter visto, certa vez numa noite em que ele havia ido até a sala do professor...


_Não faça isso, professor! _ disse Alvo.


_Ah! Vejo que você reconhece esta belezinha aqui.


_É a pedra que cria os dementadores! Ela esteve na sua sala o ano inteiro!


_Exatamente, mas... como você sabia disto? _ perguntou Pickwick astutamente.


_Eu... eu fui uma vez escondido a sua sala.


_Eu sabia! _ disse Pickwick batendo uma mão no joelho _ Você estava atrás do Manuscrito de Zaiden, não é mesmo? Dumbledore o mandou procurá-lo.


_Sim _ respondeu Alvo que julgou que já não adiantava tentar esconder as coisas.


_E você conseguiu olhar o manuscrito... você esteve no andar secreto de Hogwarts, não esteve?!


_Sim. Eu...


_E você conseguiu pegar a Pedra das Nove luas, eu tenho certeza que sim... como eu gostaria de ter feito isso! Bem, já não importa, em breve tudo estará completo.


Pickwick caminhou em direção ao caldeirão, Alvo tentou impedi-lo, mas ele estava muito fraco, o professor estava quase lá...


 _E agora, vamos terminar isto!


Pickwick colocou a pedra dentro do caldeirão, no mesmo instante a poção fervilhou como um vulcão prestes a entrar em erupção, o calor emanado era insuportável, Alvo sentia que o ar iria lhe faltar a qualquer instante.


_Venham! Venham! _ gritava Pickwick de forma doentia, Tarank saltitava como se estivesse sobre molas.


De repente, Alvo ouviu um ruído baixinho que foi aumentando, aumentando... o caldeirão começou a tremer como se fosse explodir, e então eles surgiram, centenas, talvez milhares de ratos saíram da boca fumegante e infestaram toda a sala, Alvo podia senti-los passando sobre seus pés, era inútil tentar evitá-los, mas se fossem apenas ratos, o garoto não se importaria, logo as criaturas começaram a se transformar, foram crescendo, adquirindo traços humanos...


_Veja amiguinho! _ Alvo pôde ouvir Pickwick gritar em meio aos guinchos que tomavam conta da sala _ Está funcionando!


Isso era verdade, o lugar estava ficando repleto de dementadores que se arrastavam pelo chão, a sensação de medo inundou o corpo de Alvo, verificando em seu bolso, ele viu que sua varinha estava ali, mas o que ele poderia fazer contra aquele número gigantesco de criaturas das trevas? Tarank continuava comemorando, mas ele já não se parecia com um urso de pelúcia, também estava se transformando... Alvo então se lembrou de onde o conhecia.


_Muito bem Pickwick! _ disse Tarank com sua nova voz profunda e gutural _ Você cumpriu sua missão com primor!


O professor olhou atordoado para a criatura ao seu lado, Tarank agora tinha mais de dois metros de altura; cabeça, braços e troncos humanos, sua pele estava verde, coberta de feridas como um corpo em decomposição, dois chifres saíam de sua testa e suas pernas eram como de um touro.


_M-mas... _ balbuciou Pickwick atordoado _ o q-que... aconteceu com... v-você?


_Está é a minha verdadeira forma, é assim que eu sou há séculos!


_M-mas... eu pensei...


_Não me interessa o que você pensou! _ disse a criatura levantando Pickwick apenas com um braço e lançando-o na parede com estrondo _ Dementadores! Podem se servir deste idiota, ele não terá mais utilidade, mas não encostem no garoto! Ele é meu.


Alvo se sentiu como se suas pernas estivessem grudados no chão, seu rosto paralisado estampava o medo que ele sentia...


_Então você é o famoso Alvo Potter? _ disse Tarank caminhando na direção do garoto enquanto os dementadores cercavam Pickwick que gritava desesperado _ Eu esperei muito tempo para conhecê-lo, o mestre também ficará feliz em lhe ver...


Por mais que Alvo tentasse raciocinar, era impossível, ele mal conseguia articular uma palavra.


_Será que você é tão poderoso quanto dizem? Para mim você se parece mais com um garotinho assustado. Você está preocupado com seu querido papai, não é mesmo? Eu posso ver em seus pensamentos. Como é? Você não sabe falar? _ completou ele com uma longa gargalhada.


Alvo continuava estático como uma estátua.


_Já que você não quer conversar, vou lhe levar logo ao mestre, quem sabe ele não consegue deixá-lo mais à vontade...


_Não tão rápido, Tarank! _ disse um homem que misteriosamente surgiu na sala, Alvo girou a cabeça tão rápido que quase quebrou o pescoço, mas a fumaça que tomava conta do ambiente, não permitiu que ele identificasse o rosto do estranho _ Creio que nós temos alguns assuntos para resolvermos primeiro...


Tarank se virou lentamente, Alvo reconheceu em seu rosto disforme a sombra de um sorriso.


_Veja quem está aqui! _ disse a criatura _ É como dizem, quem é vivo sempre aparece!


O homem se aproximou, os dementadores medievais perceberam sua presença, e imediatamente se dispersaram, derrubando a porta da sala desesperadamente.


_Impressionante! _ disse Tarank tentando disfarçar a surpresa _ Apenas sua presença foi o suficiente para assustar os dementadores. Você acaba de salvar a vida de Pickwick, pelo menos por enquanto.


_Ele não deve morrer _ disse o homem secamente.


_É mesmo? E quando foi que você começou a defender os bruxos das trevas?


_Ele não é um bruxo das trevas.


_Se você pensa assim...


_Ele foi iludido por uma certa criatura que sempre consegue o que quer...


_Oh! Eu me sinto lisonjeado por suas palavras.


_Você continua o mesmo, quantas vidas você ainda irá destruir? Quando... QUANDO VOCÊ IRÁ PARAR?!


_Nunca! Não até que eu consiga o que desejo, felizmente esse dia está cada vez mais próximo.


_VOCÊ ACHA MESMO? _ o homem se aproximou ainda mais, seu corpo tremia violentamente, Alvo nunca havia visto tanta raiva em uma pessoa.


_ISSO NÃO VAI ACONTECER! – continuou ele _ EU VOU LHE IMPEDIR, MESMO QUE EU TENHA QUE MORRER PARA ISSO!


Aqueles gritos carregados com todo aquele desespero... Alvo então começou a entender, o homem deu mais um passo a frente o que deixou seu rosto visível, isso apenas confirmou o que Alvo já imaginava, ele era Patrick Goudin.


_A vida às vezes é irônica, não é mesmo? _ disse Tarank _ Você não pode morrer sem me derrotar, pois você é o único que pode fazer isso, mas ao mesmo tempo você não deve me matar...


 _É mesmo? Pois vamos ver.


Patrick levantou sua varinha e apontou na direção de Tarank, um raio surgiu e por um instante ofuscou a visão de Alvo, em seguida o garoto viu Tarank estirado ao seu lado sob os escombros da parede destruída.


_VOCÊ AINDA ACHA QUE EU NÃO POSSO LHE MATAR? _ disse Patrick lançando vários feitiços sucessivos na direção de Tarank que gemia de dor.


Alvo acompanhava aquilo petrificado, não somente pelo fato de nunca ter visto uma magia tão poderosa, mas apenas o fato de Patrick Goudin estar ali na sua frente, já era algo surpreendente, se aquele era o mesmo homem que Alvo havia visto na penseira na casa dos Goudin’s, ele devia estar com aproximadamente 500 anos de idade.


_O QUE VOCÊ ME DIZ?! _ disse Patrick parando bem em cima de Tarank, ele segurava a varinha pronto para o golpe final.


_Você vai mesmo me matar? _ disse Tarank, de repente sua tosse carregada foi se transformando em uma gargalhada, ele parecia muito feliz para alguém em sua situação.


_Você está achando isso... engraçado?! _ disse Patrick com ódio.


_Você... se lembra quem foi que me criou?


_Sim _ disse Patrick com desgosto _ foi meu pai.


_Exatamente. E é por este motivo que você não pode me matar.


_Do que é que você está falando?


_Eu fiz alguns favores ao seu pai, e em troca pedi apenas uma coisa.


_Apenas uma coisa?! Você o matou, seu desgraçado!


_Correto, mas a morte de seu pai era apenas parte do plano, nosso acordo também estabeleceu que apenas alguém com o sangue dos Goudin poderia me matar, mas se alguém o fizesse, todos os membros da família também morreriam imediatamente, inclusive o executor.


_E você acha que... _ foi a vez de Patrick rir _ você acha que eu me importo em morrer? Vinha vida tem sido um inferno sem fim nos últimos séculos, se eu souber que livrei o mundo de um monstro como você, eu morro feliz.


_Mas você não se preocupa com o resto da família? _ perguntou Tarank com um sorriso malicioso.


_Que família?! Eu sou o único descendente dos Goudin!


_Você está enganado. Você nunca se perguntou por que seu pai me pediu para assassinar a sua mãe?


_Vamos ver... TALVEZ TENHA SIDO PORQUE ELA NÃO CONCORDAVA COM AS ARTES DAS TREVAS!


_É isso que você pensa?


_ISSO FOI O QUE ELE PRÓPRIO ME CONTOU!


_Ele mentiu. Mentiu por vergonha, não queria que ninguém soubesse a verdade.


_É MESMO?! E QUAL É A VERDADE?


_Sua mãe teve um caso com outro homem.


_SEU DESGRAÇADO! SE VOCÊ REPETIR ISSO EU...


_Você o quê? Vai me matar? _ disse Tarank rindo novamente _ Esta é a verdade, sua mãe teve um caso, ela não passava de uma vagabunda!


Novos feitiços, ainda mais poderosos saíram da varinha de Patrick, Alvo se afastou, pois a estrutura da sala estava começando a ruir.


  _ENTÃO ME MATE! _ gritou Tarank quando o bruxo cessou o ataque _ ME MATE E VOCÊ NUNCA SABERÁ A VERDADE!


_QUE VERDADE?!


_VOCÊ TEM UMA IRMÃ!


Patrick ficou perplexo, um longo silêncio se seguiu até que ele voltasse a falar.


_Você está mentindo.


_É mesmo? Então porque você não acaba logo com isto?


Patrick levantou a varinha com a mão trêmula, apontou-a para Tarank por alguns segundos, mas abaixou-a novamente.


_Você sabe que eu não estou mentindo, não é mesmo Patrick?


Ele parecia indeciso, balançava os braços de forma estranha, em seguida assentiu lentamente com a cabeça.


_Eu... eu posso senti-la... sei que ela está em algum lugar...


_Ele está tentando lhe enganar! _ gritou Alvo para a surpresa dos outros dois que já haviam praticamente esquecido de sua presença _ Patrick, você não pode acreditar nele!


_Você veio até aqui por causa de seu pai, não é mesmo? _ disse Patrick _ Eu já te encontrei antes, naquela cabana perto de minha antiga casa.


_Sim. Ele está aqui.


_E como você sabe disso?


_Bem... eu... já tive algumas provas e...


_Você pode senti-lo?


_Ah... eu...


_Pode ou nã?


_Bem... sim.


_Então você entende o que eu estou falando _ ele se virou para a criatura que arfava ruidosamente_ conte-me a sua história.


_Como eu ia dizendo, sua mão teve um caso, ela traiu seu pai _ disse a criatura que parecia se deliciar com cada palavra que dizia _ ele ficou furioso, como qualquer homem de bem ficaria...


_E como ela descobriu essa tal traição?


_Muito simples, ela ficou grávida, sendo que seu pai afirmou que não a tocava havia mais de um ano. Depois de negar por algum tempo ela acabou admitindo, havia mesmo estado com outro homem, e disse que desejava partir com ele, seu pai não permitiu, trancou-a no porão até decidir o que fazer. Algum tempo antes, ele havia encontrado um livro de magia negra, um livro muito interessante por sinal, e com ele, seu pai descobriu como me criar.


_E porque ele fez isso?


_Porque eu seria a criatura que poderia fazer qualquer coisa que ele desejasse, é claro que isso teria o seu preço, mas ele não estava preocupado. Então ele me criou, minha primeira missão foi acertar as contas com o homem que havia estado com sua mãe, eu fiz exatamente como seu pai pediu, uma morte lenta e dolorosa. Em seguida foi a vez de sua mãe, mas antes de matá-la, seu pai decidiu deixá-la dar á luz, quando a menina nasceu, ele tomou-a da mãe e me pediu para deixá-la viver, mas viver a vida mais infeliz e miserável que se pode imaginar, em seguida sua mãe foi assassinada, da mesma forma que havia sido o seu amante.


_E o que você fez com a irmã, seu desgraçado? _ perguntou Patrick com lágrimas nos olhos.


_Eu a levei para outra dimensão, deixei-a ser criada com todo o conforto, no seio de uma família feliz... até que chegou o momento de realizar o desejo do seu pai, e eu a transformei em uma criatura das trevas, uma natilive. Em seguida eu realizei o último dos desejos a que seu pai tinha direito, e arrumei uma forma de enganar o chapéu seletor de Hogwarts, para que ele mandasse você para sonserina.


 _Eu conheço essa última parte da história, mas eu acho que você está mentindo quanto ao resto _ o rosto de Patrick voltou a ter uma expressão sombria e assassina _ COMO VOCÊ PÔDE TER LEVADO MINHA IRMÃ PARA OUTRA DIMENSÃO SEM O TIRANTE DE GÁIA?!


_Mesmo antes de você e seus amiguinhos criarem o Tirante de Gáia, eu já possuía esse poder, graças a Pedra das Nove Luas. Com ela eu pude manipular os acontecimentos em várias épocas e locais da maneira que eu bem entendi, é claro que eu precisei aparecer de várias formas... será que você me reconhece assim garoto?


Alvo piscou os olhos algumas vezes tentando entender o que havia acontecido, Tarank havia desaparecido e no lugar dele estava... o Sr. Barton.


_M-mas...


_É isso mesmo. Com esta forma eu fui o feiticeiro que iludiu a irmã de Patrick, e também o funcionário do Ministério que todos consideravam um lunático.


_Você está querendo dizer que a Dorothy é a irmã de Patrick?


_Você a conhece? _ perguntou o homem afoito.


_Sim... ela me ajudou a...


_Você acha que ela lhe ajudou, mas na verdade quem foi beneficiado com tudo aquilo fui eu, graças a vocês eu pude voltar a Gáia e ajudar o meu mestre, agora poderei finalmente libertá-lo de sua prisão.


_EU NUNCA PERMITIREI QUE VOCÊ LIBERTE!


_EU JÁ ESTOU CANSADO DESSA SUA CONVERSA! VOCÊ QUER ME MATAR? ESTA É A SUA ÚLTIMA CHANCE, DO CONTRÁRIO EU IREI LEVAR O GAROTO ATÉ O MESTRE!


Alvo pode ver a indecisão no semblante de Patrick, ele encarava Tarank agora na forma de Barton com raiva, ele certamente desejava matá-lo, mas se fizesse...


_Bem, já que você não vai fazer nada...


De repente Patrick levantou a varinha e apontou para a parede atrás de Barton, um redemoinho negro e gigantesco surgiu e começou a sugar a criatura e também Patrick.


_NÃO! _ gritou Tarank _ SEU IDIOTA VOCÊ VAI NOS PRENDER!


_Alvo! _ disse Patrick instantes antes de seu corpo desaparecer completamente _ Você precisa conhecer os perigos que irá enfrentar, apenas dessa forma conseguirá resgatar o seu pai e sair daqui vivo! Eu deixei uma penseira com as lembranças do que aconteceu aqui em Gáia na biblioteca, você precisa ir até lá! Boa sorte!


No instante seguinte, antes que Alvo pudesse perguntar qualquer coisa, o redemoinho havia desaparecido levando consigo Patrick e a criatura das trevas...


 


 

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