O Templo das Lamentações



Alvo continuou olhando por algum tempo a parede onde estivera o redemoinho, não que ele esperasse que algo novo surgisse, ele sabia que naquele momento Patrick e Tarank estavam muito longe... mas ainda assim, estavam vivos. Alvo podia entender que Tarank vivesse por vários séculos, afinal ele era uma criatura das trevas, e apenas um legítimo Goudin poderia matá-lo, mas e quanto a Patrick? Como um humano poderia continuar vivo por tanto tempo? Alvo conhecia a história da Pedra Filosofal, mas achava muito difícil que Patrick possuísse uma, ele então não sabia qual era o seu segredo.


O garoto refletiu sobre o que Goudin falara, “encontrar a penseira que estava na biblioteca”. Alvo esperava que ela lhe desse algumas respostas, ele então resolveu partir.


Quando se preparava para sair, ele se lembrou que Pickwick também estava naquela sala, mas ao olhar ao redor, não viu nenhum sinal do professor.


_Prof. Pickwick? _ chamou ele em meio ao silêncio do local que era interrompido apenas pela insistente gota que continuava ecoando no chão de pedra.


_Professor? _ novamente não houve resposta.


Alvo sentiu um calafrio ao imaginar o que teria acontecido com Pickwick, a lembrança do professor rodeado por centenas de dementadores medievais ainda estava muito viva em sua mente, e se Patrick estivesse certo, Pickwick não tinha nenhuma culpa no que estava acontecendo, ele havia sido enganado por alguém muito poderoso, como qualquer um poderia ter sido.


Alvo apertou sua varinha até o ponto de seus dedos ficarem brancos, respirou fundo, e caminhou em direção à saída da sala, não havia nada que ele pudesse fazer por Pickwick naquele momento. Seus passos eram artificiais, como se o garoto tivesse desaprendido a andar, a verdade é que ele temia o que iria encontrar nos corredores daquela Hogwarts sombria.


 


Ao deixar o cômodo ele se viu na mesma passagem que atravessava para chegar às aulas de poções, mas o lugar estava ainda mais assustador do que de costume, correntes enferrujadas pendiam do teto e gemiam como se um fantasma as arrastasse, Alvo teve a desagradável sensação de que estava sendo seguido, ele olhou ao redor, mas a luz de sua varinha não era suficiente para iluminar todo o ambiente, as correntes continuavam balançando de forma misteriosa, como ele sabia muito bem, não havia janelas naquele lugar. Depois de mais alguns passos, Alvo quase caiu para trás com o susto que levou, ele ouviu nitidamente uma voz cochichar em seu ouvido. O garoto girou sobre o seu próprio eixo inúmeras vezes como se fosse um peão, tudo que ele conseguia ver eram as correntes que balançavam ainda mais com sua agitação, de repente ele sentiu algo se enroscar em sua perna.


_AH! _ gritou ele.


Quando olhou para baixo, viu que uma das correntes havia prendido sua perna, antes que ele pudesse reagir, outra corrente prendeu seu braço, imediatamente todas as outras começaram a cercar o garoto como se fossem serpentes.


_SOCORRO! SOC... _ seu grito foi abafado por outra corrente que se enrolou dolorosamente em seu rosto, ela foi apertando cada vez mais, e as outras fizeram o mesmo e Alvo sentiu seus membros ficarem dormentes, o gosto de seu sangue inundou-lhe a boca...


Depois de deixarem o garoto completamente imóvel, as correntes levantaram-no até o teto, Alvo tentava desesperadamente se desprender, as correntes então começaram a balançar de forma que Alvo era jogado de uma parede à outra como o pendulo de um relógio, ele berrava de dor a cada pancada, mas mesmo que houvesse alguém por perto, não poderia ter ouvido. As correntes então o lavaram de volta para o teto e iniciaram uma queda alucinante, Alvo ia bater com toda força no chão, ele fechou os olhos e se preparou para o impacto, mas não aconteceu nenhum...


_Olá, Alvo Potter!


O garoto abriu os olhos lentamente, seu corpo estava completamente dolorido, o que levando em conta tudo que ele já havia passado naquele ano, não era nenhuma novidade.


_Eu tinha certeza que você viria me visitar, eu já pressentia isso há um bom tempo.


Alvo tentou se movimentar e percebeu que já não estava acorrentado, ele estava deitado num chão de madeira escura, imaculadamente limpo, a sua frente havia um balcão branco, como o de um pub, ele podia ver do ponto onde estava, a cabeça do homem que lhe dirigia a palavra, ele estava do outro lado balcão. A cabeça era anormalmente grande, não tinha nem um fio de cabelo, nem mesmo nas sobrancelhas, suas orelhas eram grandes e descarnadas, um lápis de trouxa descansava sobre a esquerda, os olhos eram muito pretos e inquietos, iam de um lado para o outro como se o homem estivesse acompanhando uma partida de tênis, sua boca entreaberta mostrava dentes pequenos e pontudos, Alvo pensou que o homem deveria ser muito baixo para que apenas sua cabeça estivesse aparecendo sobre o balcão.


_Você gostaria de alguma coisa? _ perguntou o homem _ Talvez suco de abóbora? Ou quem sabe uma cerveja amanteigada?


_Quem é você? _ perguntou Alvo tentando se levantar, mas desabando no meio do caminho.


_Quem... sou eu? _ disse o homem que parecia se deliciar com estas palavras _ Esta é uma questão difícil... como eu posso saber?


Ele olhou para Alvo por alguns instantes com uma imitação bizarra de um sorriso simpático.


_E então, o que você vai querer?


_Eu não quero nada _ disse Alvo.


_Você tem certeza? Eu acho que você vai precisar, o que virá a seguir não será nada agradável.


_Do que é que você está falando?


_Do que eu estou falando? Ora! Você realmente gosta de fazer perguntas difíceis! Pois então eu lhe rebato a anterior, quem é você?


_Você mesmo disse quem eu sou quando eu cheguei!


_Não, eu não disse.


_Você é louco _ Alvo continuava tentando se levantar, seu corpo parecia chumbado no chão...


_Eu disse apenas o seu nome, e o que é um nome? Apenas uma representação, uma convenção social...


Alvo finalmente conseguiu se pôr de pé, mas no mesmo momento preferiu que não tivesse feito, quando ele olhou para o homem daquele ângulo, ele viu que na verdade não se tratava de um homem de fato... ele era apenas uma cabeça.


_Hum... _ disse a cabeça _ você parece assustado, talvez agora aceite algo para beber.


_Quem... o que é você?


_Quem você acha que eu sou?


_Como eu vou saber? Você tem apenas uma cabeça! Bem... me desculpe... eu não quis...


_Você não precisa se desculpar, então é assim que você me vê, apenas uma cabeça?


_Sim.


_Eu sou a sua consciência.


_Hum... certo... _ disse Alvo que achava que aquilo não era nada certo.


_Você não acredita?


_Bem... eu não achava que minha consciência fosse uma cabeça.


_Eu sei que você está com medo.


_Essa não foi muito impressionante, qualquer um neste lugar estaria com medo.


_Seu medo é a respeito de seu pai.


_Nada demais. Todos em Gáia sabem que eu estou procurando ele.


_Mas seu maior medo não é pelo bem-estar de seu pai, o que você teme é o fracasso, você não suportaria ser pior do que ele.


_Você... você está errado!


_Eu não posso estar errado, eu sou sua consciência! Eu sei de todos os seus segredos e ambições, sei que o que você mais quer na vida é ser mais importante que Harry Potter, por isso você não pode deixá-lo morrer, isso seria um fracasso aos olhos dos outros.


_Pois eu acho que você é uma cabeça burra!


_Você pode mentir para qualquer um, Alvo, menos para sua consciência.


A cabeça fixou seus olhos negros pela primeira vez em Alvo, o garoto sentiu náuseas com isso.


_Mas na verdade isso não tem muito importância, não é por isso que lhe trouxeram para cá.


_E quem foi que me trouxe?


_Isso eu sei responder, eu sou apenas sua consciência, você se lembra? Mas creio que já está chegando o momento de você conhecê-lo, até á vista.


A cabeça se virou e flutuou na direção da porta que estava atrás do balcão. Alvo ficou sozinho no salão do pub, mas quando percebeu, já não estava no salão, o cenário mudou para uma espécie de recepção, como a de um hospital, o cômodo era grande e arejado, as paredes eram completamente brancas e vasinhos com planta estavam espalhados por toda a parte.


_Ei! Tem alguém aí?


Não houve resposta, Alvo caminhou pela sala com a mão sobre os olhos, a claridade daquele lugar estava lhe incomodando.


_Olá! Alguém está me ouvindo?


_Ele deseja vê-lo agora _ disse um homem trajando um elegante terno que apareceu misteriosamente ao lado de Alvo.


_Quem é você?! _ disse o garoto se recuperando do susto.


_Não há tempo para formalidades, ele precisa vê-lo imediatamente, a enchente lhe deixou muito fraco.


_Que enchente?


_Ainda não aconteceu para você? Interessante... de qualquer forma acontecerá a qualquer momento.


Quando Alvo olhou em volta, viu que havia água por toda a parte, ela descia por uma longa escadaria no fim da sala que não estava lá a pouco. A correnteza que se formou arrastou Alvo antes que ele pudesse procurar um abrigo, ele foi levado pela água para uma escada em espiral adjacente a sala onde ele desceu num ritmo alucinante mal conseguindo respirar em meio a toda aquela água, quando a descida acabou, ele se viu num cômodo pequeno e mal iluminado que cheirava a mofo.


_Olá, Alvo.


O garoto percebeu que havia alguém na sala, era um grande pássaro, com suas penas brancas imundas e mal-cuidadas, havia grandes feridas no seu corpo, o animal parecia muito fraco.


_Você está bem? – perguntou o pássaro _ Espero que a descida não tenha sido muito desagradável.


_Quem é você? Ah! Você não vai me dizer mesmo, não é? O que você quer comigo?


_Eu preciso de sua ajuda.


_E porque eu lhe ajudaria?


_Eu estou muito ferido, talvez não consiga sobreviver, você é o único que pode me salvar.


_Porque eu?


_Eu vejo em seu coração.


_Sei... agora você vai dizer que consegue ver a bondade que existe nele...


_Pelo contrário, não há bondade dentro de você.


_Então o que você vê? Maldade?


_Não. O contrário de bondade não é a maldade como muitos imaginam, mas sim ambição... eu vou lhe mostrar uma coisa.


O pássaro fez um movimento com a cabeça e uma janela de fogo surgiu na parede da sala.


_Veja essas pessoas.


Alvo se aproximou, do outro lado da janela havia um salão gigantesco, o teto era tão alto que Alvo não podia avistá-lo, as paredes eram repletas de grandes painéis e imagens, como uma igreja, havia muitas pessoas no lugar, talvez milhares, o garoto percebeu que todas elas estavam desesperadas, caminhavam pelo salão com as mãos na cabeça e de tempo em tempo se ajoelhavam na frente de uma alguma imagem.


_Quem são eles? _ perguntou Alvo.


_São consciências de pessoas que se dizem boas.


_E porque elas estão tão desesperadas?


_Porque é isso que acontece com quem tem bondade. Não é possível ter paz, ou se vive tentando resolver os problemas das outras pessoas, ou ficam deprimidas porque foram traídas por algum aliado.


_É mesmo? E quanto às pessoas ambiciosas?


_As pessoas com ambição não têm esse tipo de preocupação, porque vivem apenas para o seu próprio bem, existe satisfação plena, não há problemas nem, apenas alguns obstáculos para se atingir os objetivos. Eu sou um ser assim, e em breve você descobrirá que também é.


_Mas se eu sou assim, porque eu lhe ajudaria?


_Porque você precisa de mim, eu posso satisfazer seu maior desejo, apenas eu posso ajudá-lo a salvar o seu pai...


Alvo encarou a pássaro por algum tempo, ele não sabia bem o que dizer.


_Eu posso ajudá-lo a salvar o seu pai _ repetiu a criatura _ mas você precisará aceitar a sua verdadeira natureza, você terá que vencer um obstáculo.


_E qual seria ele?


_Você terá que permitir que Scorpio Malfoy seja sacrificado...


 

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