Capítulo 20



25/FEVEREIRO – 04:09h – SEGUNDA-FEIRA – QUARTO
Ha. Não sei que tipo de distúrbio estou tendo dessa vez, mas deve ser muito sério. Estou ouvindo, desde a hora em que deitei aqui na cama, a seleção de músicas que guardei no meu i-pod do No Doubt. Sei lá porque estou gostando tanto assim da voz da Gwen Stefani, já que ela me irrita um pouco, pelo fato de sua voz parecer do tipo choramingada. Mas, enfim, não deve ter coisa pior do que estar acordada às quatro da manhã escutando uma canção cujo título é 4 In The Morning. Ah, pode sim. Pode ser que você esteja chorando compulsivamente enquanto fica absorta em uma voz que quase não suporta – mas continua a ouvindo por conta das melodias das canções em questão – e não pára de pensar que o seu mundo caiu e que nunca mais quer sair da cama se o seu melhor amigo – e amor da sua vida - não cancelar uma viagem rumo à Montreal por algum tempo. Tempo suficiente para encontrar uma menina que não assista à Disney e que não queira ser uma escritora fracassada.


Acho que nem dormir consigo mais. Ah, meu Deus. Nem preciso acordar. O James nem estará lá na escola amanhã, o que me motiva a não querer sair da cama. Acho que não saio daqui nem se o Paul McCartney bater na porta e pedir um quarto por uma noite. Mas claro que ele nunca faria uma coisa dessas, porque ele é o Paul McCartney e obviamente pode se hospedar no hotel mais caro do mundo.


Ser artista deve ser bom de mais. Espero que na minha próxima vida eu nasça com algum outro tipo de talento. Algum mais notório e que não faça as pessoas me desprezar.


25/FEVEREIRO – 05:25h – SEGUNDA-FEIRA – QUARTO
Logo, logo a bateria do meu i-pod acabará e eu poderei me desligar de Simple Kind Of Life, do No Doubt. Awn, a Gwen de cabelo rosa era mesmo muito fofa. Teve uma vez que estava passando um show acústico da banda no VH1 e a minha mãe achou que a Gwen fosse a Madonna. Só que eu disse que a Gwen é muito mais linda do que a Madonna. (N/A: Já totalmente me aconteceu isso. A minha mãe nem sabe quem é a Gwen, apesar de no meu quarto ter uma foto dela e tudo. E como é que alguém consegue confundir a Gwen com a Madonna? Com a Christina Aguilera, até vai, mas Madonna? Não, não). Ei, alguém já percebeu as pelancas da Madonna? Sei que a idade está batendo, mas UAU. Ah, tudo bem, acho que a Madonna deve ter quase o dobro da idade da Gwen Stefani. Mas e daí? Aliás, a Madonna nunca me seduziu.


25/FEVEREIRO – 08:30h – SEGUNDA-FEIRA – COZINHA
Não sei como estou aqui comendo o meu cereal com apenas duas horas de sono.


E parece que coloquei pó demais no meu rosto, porque a D. Julia até gritou quando me viu. Pode ser que eu esteja mais parecida com a Amy Winehouse do que nunca – sem o cabelo e a bebida e a voz horrível. Mas tanto faz, porque o James está em casa agora arrumando as últimas coisas de sua viagem, o que significa que não o verei nunca mais, então posso sair de casa como uma Amy Winehouse. E a minha avó pode ficar me dizendo que eu não sofrerei tanto assim por perder a única pessoa que consegui conquistar de verdade, que eu deletarei. De nada adianta eu ter uma avó que me encoraja a não desistir, se não está me dando apoio emocional para superar a coisa de não desistir e tentar fazer o certo e dar de cara no chão. 


25/FEVEREIRO – 09:04h – SEGUNDA-FEIRA –  AULA DE MATEMÁTICA


Don’t Speak (No Doubt)


You and me
We used to be together
Everyday together always
I really feel
That I'm losing my best friend
I can't believe
This could be the end
It looks as though you're letting go
And if it's real
Well I don't want to know


Don't speak
I know just what you're saying
So please stop explaining
Don't tell me cause it hurts
Don't speak
I know what you're thinking
I don't need your reasons
Don't tell me cause it hurts


Our memories
Well, they can be inviting
But some are altogether
Mighty frightening
As we die, both you and I
With my head in my hands
I sit and cry 


Don't speak
I know just what you're saying
So please stop explaining
Don't tell me cause it hurts (no, no, no)
Don't speak
I know what you're thinking
I don't need your reasons
Don't tell me cause it hurts


It's all ending
I gotta stop pretending who we are...
You and me I can see us dying...are we?


Don't speak
I know just what you're saying
So please stop explaining
Don't tell me cause it hurts (no, no, no)
Don't speak
I know what you're thinking
I don't need your reasons
Don't tell me cause it hurts
Don't tell me cause it hurts!
I know what you're saying
So please stop explaining 


Don't speak,
don't speak,
don't speak,
oh I know what you're thinkin
And I don't need your reasons
I know you're good,
I know you're good,
I know you're real good
Oh, la la la la la la La la la la la la
Don't, Don't, uh-huh Hush, hush darlin'
Hush, hush darlin' Hush, hush
don't tell me tell me cause it hurts
Hush, hush darlin' Hush, hush darlin'
Hush, hush don't tell me tell me cause it hurts


Coitadinha da Gwen Stefani. Eu não quereria estar na pele dela naquela época. Na época em que escreveu essa música. Ela parecia realmente deprimida. E, tudo bem, ela tinha sido deixada pelo Tony e todo mundo na banda estava contra ela. Isso é totalmente compreensível. Estou suscetível a entender os dilemas emocionais alheios depois que o meu coração foi quebrado. Mas, olha pelo lado bom: ao menos o No Doubt voltou a fazer turnês – inclusive uma com o Paramore; eu daria a minha alma para estar em um show das duas bandas, de verdade – e a Gwen totalmente ainda convive com o Tony. Bem, não que isso seja mesmo um ponto positivo, já que eles são ex-namorados, e deve ser estranho dividir um ônibus com o cara que te deu um pé na bunda. Mas ela continua feliz, porque está casada com o Gavin e já tem dois filhinhos muito fofinhos.


Só que o meu futuro não será nem de longe semelhante ao dela. Com certeza serei uma escritora pobretona, que acaba se casando com um professor de literatura, igualmente pobretão, e daí terei de me mudar para algum bairro pobre de Bedford.


Mas e se eu fizer alguma coisa?


Não.


Não adianta mais. É tarde demais.


Bem, pelo menos, a Gwen me entende.


AhmeuDeus. Eu sou uma burra, mesmo.


Acontece que... A verdade é que é muito complicado eu fingir que não estou ligando para isso. Como vou explicar a ele? Como vou explicar a mim mesma que estou apaixonada por alguém que não é o meu (ex)namorado ou a vocalista da minha banda favorita? Parece ridículo, e talvez seja de fato, mas agora sei o que é ser feliz e amada. Percebi que nunca precisei do apoio da presença da Taylor na minha vida, porque ela nunca me deu resultados concretos de nossa amizade. E talvez admitir isso seja quase mais estranho e difícil do que aceitar o fato de que preciso do James. Então? O que faço? Jogo-me da janela para ter a certeza de que amar, além de ser uma sensação de êxtase total, é um dos momentos que mais nos sentimos solitárias e impotentes?


Bem, tanto faz. Continuarei aqui fingindo ouvir o blá-blá-blá do professor.


25/FEVEREIRO – 13:54h – SEGUNDA-FEIRA – TÁXI
Grande coisa.


Quero dizer, e daí? Até parece que estou me importando se levarei uma advertência e perderei a prova de física. Claro que isso não é nenhum pouco bom, levando em conta que sou a vice-presidente e tudo o mais – e aparentemente vice-presidentes não devem se meter em confusões. Nem mesmo para tentar resgatar o pedaço mais lindo da própria vida. Mas tanto faz. Estou tão em pânico que nada mais importa. Nada mais realmente. Posso ser suspensa. Posso ser expulsa. Nada me afetará.


E não estou ligando se deixei a Alex roendo as unhas lá na escola. Não é culpa minha que ela tenha um irmão tão estúpido – e tão apaixonante, óbvio.  


Tudo estava correndo bem. Eu estava tentando esconder meus sentimentos dilacerados e minha desilusão quase muito bem. Claro que o clima estava pesado. Ninguém quer perder um amigo em plena segunda-feira, não é? Segundas-feiras já são horríveis por si só, imagine misturar o Canadá, um avião e o nosso melhor amigo no meio disso? Vai ficar uma meleca descomunal. E, sério, eu achava que não suportaria avançar a tarde daquele jeito. Ou melhor, desse jeito. Eu estou tão caótica e surtada! Me sinto um soldado voltando da guerra, sabe. Não que eu sabia como é verdadeiramente a sensação de derrota após uma guerra. Porque eu sou menina e meninas não são convocadas para defender o seu país em um lugar praticamente inóspito. Mas deixa pra lá. Eu estou pior do que todos os dias. Estou com cara de zumbi e com uma animação digna de um vegetal.


Eu nem queria tocar na comida. Na nova comida, quero dizer. Porque nós, do Conselho, conseguimos moldar um pouco os padrões da comida do nosso refeitório. E, ah, a Zora ajudou muito dizendo que ia colocar no jornal da tarde o escândalo a respeito da gororoba que as cozinheiras das escolas hoje em dia fazem os alunos engolir obrigados. Claro que a Sra. Rings mudou completamente o ruma da conversa e solicitou rapidinho a exigência da Zora. Mais ou menos 90% das pessoas da escola – incluindo agora a própria diretora – têm medo da Zora. Então, é só calcular.


Acho que nem mesmo o Peter estava com alguma remota vontade de almoçar. Ele disse que estava enjoado demais. Eu entendi perfeitamente o que ele sentia, uma vez que meu estômago também estava todo revoltado e mareado. Então, eu não resisti mais. Não entendia nem mesmo como ainda estava respirando, sendo que o ar que me sustentava está partindo. Totalmente. E ele nem me disse um tchau. Não me ligou para se despedir nem nada. Nem mesmo para saber por que não fui ontem lá à sua casa comemorar a sua viagem. E, de verdade, isso é bem doentio. Essa coisa de “festa de despedida”, sabe como é. Porque se despedidas fossem tão boas assim o governo já teria nos dado feriado mundial para tal baboseira. Teríamos um dia de folga para festejar o Dia da Despedida. Mas isso existe? Não, não existe, o que podemos inferir que despedidas não são divertidas ou até mesmo boas. São péssimas, são cruéis, são exterminativas! Completamente. Ei, o que você queria que eu escrevesse? Que estou feliz? Fala sério, eu tenho consciência do que sinto! Que é muito, devo adicionar. Pelo James, claro. 


Só que, agora, nesse exato minuto, de tanto que tenho consciência do que sinto, estou tentando impedir a minha morte gradual. É, estou mesmo. Você não sabe o quanto.


E a Alex não está de acordo com isso. Ficou lá berrando na calçada, como se eu tivesse sugerido que comêssemos vidro incandescente.


Bem, eu tinha de fazer alguma coisa. Eu tinha de reagir. A minha avó está certa: não posso desistir. E não irei.


Então, estou em um táxi fedorento – táxis sempre são fedorentos, detesto isso – cortando o mais rápido possível a cidade, para que eu chegue a tempo de gritar “PARE!”, antes que o James escorregue para sempre de meus dedos. E estou com medo disso. De que ele escorregue para sempre de meus dedos. Só que estou sendo muito positiva – coisa que nem sou, porque tenho espírito de porco, seja lá o que isso signifique – e não estou pensando nas palavras “e se”. Porque não existirá “se” nenhum. Nada de tipo: “E se chegar tarde demais?”. Só repito: Quando eu chegar lá, o James vai me ver e vai desistir. É isso. Pronto. Acabou”. Por mais que eu saiba que talvez isso seja um pouco presunçoso demais – essa coisa de ele olhar para mim e desistir de ir embora -, tenho de tentar. E pensamento positivo é tudo, estou descobrindo.


Claro que a Alex não entendeu nadinha quando eu disse, assim que saímos do refeitório e estávamos lá na porta da biblioteca, pois ela precisava entregar uns livros e eu concordei em acompanhá-la só para fazer alguma coisa e afugentar meu desespero:


- Acho que não dá mais.


Ela me olhou.


- O que quer dizer com isso? - estava bem claro o quanto ela me achava uma louca.


- O seu irmão – respondi e isso só fez o meu enjôo se atenuar.


- Ah – os olhos de Alex se apagaram. Nunca vi uma irmã tão dedicada quanto ela – Eu sei.


- Não vou me perdoar se ele nunca mais voltar – choraminguei.


- Ele irá voltar – ela me devolveu um olhar fulminante - Só que não agora.


- Ah é, eu o ficarei esperando como se fosse a Rapunzel – ironizei amargamente.


- Bem. Eu falei que você deveria comunicar os seus sentim... – Alex estava furiosa.


- Ah, dá um tempo! – exclamei sem ânimo – Quem você acha que eu sou? Alguma personagem de filmes românticos?


- Você livros românticos – sinalizou Alex – Deve saber o que fazer, oras.


- AhmeuDeus, sinceramente, essa não é a melhor hora para isso, Al – disse eu, mais uma vez sentindo o fundo da minha garganta incomodar. Não demoraria nem um minuto para todo o corredor presenciar a minha mágoa para comigo mesma. Porque se ele for embora, ficarei magoada comigo para sempre.


- Foi você quem começou – Alex me respondeu, desatinada.


E, em menos de cinco minutos, lá estava eu sendo perseguida por ela. Eu tentava correr, apesar dos alunos em bolinhos pelo grande corredor, com toda a minha força. Tinha de alcançar o que quero.


- Ai meu Deus, Lily. Quer parar? – a Alex reclamou ao meu encalço.


Não respondi. Estava ocupada demais pedindo “licença” e “desculpa” a todos que estavam à minha frente.


- Ai, meu pé, sua doida. Olha por onde anda! – uma menina do nono ano gritou.


- Foi mal – respondi, não me dando ao luxo de parar e analisar se ferira realmente o pé da garota.


Continuei correndo.


- Mas, Lily, aonde você vai? O que está fazendo? Temos prova daqui a dez minutos! – claro que a Alex não ia desistir facilmente.


- Não importa – ofeguei – Estou tentando salvar a parte colorida da minha vida branca e preta.


- O que isso quer dizer? – ela me perguntou irritada.


- Que não posso deixar o seu irmão embarcar naquele avião! – devolvi já me declarando fatigada. Mas eu não iria me render. Já tinha começado, não podia retroceder àquela altura.


- O quê? – a voz da minha melhor amiga se inundou de choque.


- É isso aí – falei e agradeci por já estarmos no pátio. Era só chamar um táxi. Ou melhor, esperar por um táxi.


- Ai, caramba, Lily – ouvi Alex gemer na minha orelha – O que você irá fazer? – ela parecia se lamentar.


Não lamente, querida. Trarei o nosso James de volta.


- Eu só preciso de um táxi – informei.


- Lily – ela me chamou, enquanto eu prestava a máxima atenção no cruzamento, esperando avistar algum táxi – Lily, me escute! – exclamou – Não adianta! Não vai adiantar, Lily! – repetia.


- Tem de adiantar, Alex. Simplesmente eu tenho de conseguir – rosnei.


Ah! Um taxi! Lá longe, mas um táxi!


Caminhei até o meio-fio, frenética. Sinalizei para o carro.


- Lily, não! Além de se ferrar, irá voltar de mãos vazias! – ouvi seu espanto dar lugar à irritação.


Entrei no carro.


- Me deseje sorte – pedi.


- Ai, Lily, você é uma idiota! – pude ouvi-la berrando, antes de acelerarmos.


Até agora já recebi sete mensagens dela, duas da Nichole e uma bem estridente do Sirius. Tipo: do Sirius. Sem contar as quase vinte ligações. Mas eu ignoro tudo. Porque eu vou conseguir. E nada me impedirá. Nem mesmo Merlin ou o Bule Voador. Oremos.


25/FEVEREIRO – 13:57h – SEGUNDA-FEIRA – TÁXI


I am finding out that maybe I was wrong
That I've fallen down and I can't do this alone
Stay with me, this is what I need, please?


AH MEU DEUS! Eu estou parecendo a Mia Thermopolis no oitavo volume de O Diário da Princesa! Eu estou indo de táxi o mais rápido possível até o nosso minúsculo e pacato aeroporto para tentar resgatar o amor da minha vida. Exatamente como a Mia. Mas, claro, a Mia, tragicamente, não conseguiu tal proeza. Apenas ficou chorando lá no meio do aeroporto enquanto o seu amor ia embora para longe dela. Já eu posso ter alguma chance. Eu tenho de ter essa chance, pelamor!


Certo, tenho mais dez minutos para conseguir estacionar na porta do saguão e sair à procura de James. Nem vai ser difícil. Nan, imagina.  


Respire, Lily, respire! Você vai conseguir.


25/FEVEREIRO – 14:43hh – SEGUNDA-FEIRA – SORVETERIA


You can walk away, say we don't need this
But there's something in your eyes, says we can beat this


Quase arranquei meu braço esquerdo ao sair do táxi, deixando o motorista traumatizado. O que foi, meu senhor? O amor tem pressa, sabia? Bem, pelo menos eu meu coração tem muita.


Derrubei bolsas de um carrinho de uma madame muito estilo minha avó, que berrou:


- Ai, sua desastrada! Minhas calças de espinha-de-peixe estão aí dentro!


Ainda assim, deixei as calças de espinha-de-peixe e a mulher taquicádica para trás, correndo, mas correndo tanto, que achei que daqui um pouco minhas pernas teriam vida própria e sairiam dando umas voltinhas por aí. Meu coração pulsava descontrolado e descompassado. Eu estava prestes a ter algum tipo de ataque. Parei, tentando oxigenar o cérebro, para não ter de parar no ambulatório. Arfando, olhei para os lados. Ali estava: as tevezinhas de plasma indicando os vôos e seus respectivos horários e partida e de chegada.


Cadê a linha que informa sobre o vôo para o Canadá? Cadê? Ah, por que nunca tem ninguém legal para me auxiliar nesses momentos? Porque, se eu fosse uma velhinha de cadeira de rodas aposto como os carinhas de informações parados logo ali, bem perto de mim, teriam o maior prazer em ler todo o quadro de informações sobre os aviões. Mas, não, obrigada, eu sou somente uma menina ruiva de praticamente dezoito anos tentando impedir a minha possível alma-gêmea de fazer a maior burrada de sua vida.


Certo. Inspire, expire. Ai, estou com uma baita vontade de correr até o banheiro e vomitar tudo o que já comi desde que levantei. Odeio ficar nervosa.


Ah, meu Deus. Por que as letras ficam dançando na frente dos meus olhos?


Ah, que se dane!


Vou é correr, que eu ganho mais.


Mais uma vez, eu estava o mais rápido que me obrigava a ir. As pessoas desconhecidas me olhavam com olhos de repreensão, que não fiz muita questão de me importar. Tenho uma coisa muito mais importante para me preocupar, ok?


Ali estava:


LINHAS AÉREAS CONTINENTAL


Ah, eu estou salva!


A fila estava comprida, mas parei o homem negro, último da fila, e lhe questionei:


- Oi, o senhor pode me dizer uma coisa? Sabe se o vôo para o Canadá já foi?


Ele ficou me olhando um bom tempo e então sorriu.


- Qual deles, querida?


- 132 – prontamente respondi. 


Ele olhou em volta. Por que acho que ele está tão mais perdido quanto eu?


- Acho que já vai decolar, se já não decolou, meu bem – ele me respondeu.


Ah, maravilha. Eu estava ferrada.


- Ok – gritei, já dando no pé, mais uma vez. Não sei o que o homem me respondeu.


AH, O PORTÃO DE EMBARQUE!


Muita gente passando por ele. Tentei olhar mais para dentro da sala, onde ficam os detectores de metais, de bomba e de drogas. Senhoras, senhores, crianças, jovens. Mas nenhum deles era parecido com o James.


Vamos, caramba, apareça, por favor. Você tem de ou estar quase embarcando ou já estar aí dentro, nessa salinha.


Fui para a moça de colete e de uniforme preto, que dizia “Tenha uma boa viagem!” e coletava os papeizinhos dos passageiros.


- Oi, com licença, pode me informar se esse é o portão para o vôo da Continental para o Canadá? – parei ao lado dela, na maior aflição.


Ela, que estava concentrada desejando uma boa viagem a todos naquela voz de aeromoça prostituta, piscou para mim, parecendo confusa.


- O que foi, querida?


Por que todo mundo resolveu ser simpático comigo aqui? Não quero ficar ouvindo as boas palavras das pessoas, tá legal? Só quero, ou melhor, preciso, encontrar o James! Tá muito difícil de entender, querida?


- O vôo da Continental para o Canadá. É esse o portão de embarque? – repeti, sem ter muita noção do que estava repetindo. Repeti certo? Não me parece. Parece que eu disse: “Oi, eu sou a cabeça-de-batata, tudo legal com você?”. Ok, mentira.


- Sim, é sim. Você vai embarcar? – a mulher me indagou, olhando para mim, sem mala alguma ou qualquer outra coisa que indicasse que eu estava de partida para outro lugar.


- Não, preciso saber se um amigo já embarcou – respondi de olho nas pessoas que passavam para o outro lado e de olho nas pessoas que já estavam do outro lado. Ninguém.


- Ah, com certeza já. O vôo está atrasado em dez minutos, por conta da névoa, então a maioria já está no avião, creio eu – ela sorriu.


Não sorria, moça. Isso não é nem um pouco reconfortante. Isso significa que vou ter de sair daqui e me enforcar no primeiro poste de luz. Ou que vou ter de passar a tarde inteira ouvindo Taylor Swift com um potão de sorvete de milho no colo. Igualzinho à noite que a Taylor descobriu que seu pai não a deixara ir para a festa da Suse, no sétimo ano. Mas sem a música da Taylor Swift nos ouvidos. Naquela época, tudo o que a minha ex-melhor amiga escutava era Mariah Carey. E, sinceramente, ela tem uma voz de golfinho que me deixa tonta. Digo, a Mariah.


- Ah, verdade? – tentei saber, mas não tinha mais tempo – Olha, não dá para eu entrar ali só para me despedir dele?


- O quê? No avião? Você quer entrar no avião? – seu olhar ficou perigoso, parecia que eu tinha acabado de lhe confessar que sou a Lindsay Lohan ou uma mulher-bomba. 


- Não, pode ser só até na sala de embarque, por favor – pedi, fazendo a minha melhor cara de Gato de Botas, com meus cílios batendo rapidinho e de modo inocente.


- Não mesmo, menina. Acha que só porque seu amiguinho vai para sei lá onde tem o direito de... EI! Seguranças! – ela começou a berrar, ao sentir que eu a empurrara para o lado e tentava passar pelas pessoas nas filas de detectores de coisas ilegais.


- Por favor, é... só... um... segundo.... eu...juro! – eu falava, em vão, claro. Logo os carinhas de azul vieram.


- Algo problema, Srta? – um deles me perguntou.


Sim, todos os problemas do mundo, já que resolveu me perguntar! Tá bom assim ou precisa de mais pânico e drama?


Por favor, diz que não e que posso entrar na salinha para averiguar se James está ali. Por favor, seja bonzinho comigo, eu nunca fui uma má pessoa. Sim?


- Eu preciso ver uma pessoa – finalmente parei de me debater e falei.


- Não precisa mais, acho. Você não pode passar daqui – o moreno me informou. Ah é? Quer saber? Eu já sei disso, mas preciso realmente fazer isso. Preciso encontrar o James. Pode me ajudar, ao invés de ficar me dizendo o que posso ou não fazer?


- Só um minutinho – implorei, mas eles foram irredutíveis. Tiraram-me dali em dois minutinhos e eu estava começando a ficar seriamente histérica.


Ferrou, falei para mim mesma.


Peguei meu celular e disquei para casa. Não sei o que me fez querer falar com ela. Tudo bem, ela me ajudou muito me aconselhando a lutar por ele, mas, bem, tenho que ser realista: acabou.


- D. Julia? – chamei, assim que ela disse “Alô”. Minha voz estava tremida e quase a ponto de se romper em lágrimas.


- Lily? Ah, meu Deus, o que houve? Está passando mal? Quer que eu diga para seu avô lhe buscar na escola?  - ela respondeu em um tom muito diferente do que eu esperava. Desde quando a minha avó fala assim comigo?


- O quê? Não, não estou na escola. Estou no aeroporto – informei a ela. E, agora depois de muito segurar, minhas lágrimas estavam despontando. Encostei-me na parede, tentando fazer tudo voltar ao lugar.


- O que está fazendo no aeroporto, menina? – minha avó quis saber, com uma voz chocada.


- Estou, quer dizer, estava tentando encontrar o James e dizer tudo o que deveria lhe ter dito há muito tempo. Você sabe. Aquilo – choraminguei. Uma criança apontou para mim e logo puxou a mão do pai.


- Olha, papai, aquela menina está chorando – a menininha, muito parecida com uma Taylor em miniatura, riu com a mão na boca. Oi, meu bem, já ouviu falar em não rir das pessoas quando algo de ruim lhes acontece? Seus pais nunca lhe deram o mínimo de educação? Não? Hum.


Sorri para a pequena loirinha, que achou muito estranho isso, pois saiu correndo de perto de mim.


- Lily! – sua voz estava inundada de compaixão? Parecia que D. Julia estava... orgulhosa de mim? Isso é possível? Franzi a testa, duvidosa – Você está... mas... – de repente ela ficou em silêncio.


- Estou indo para casa, até já – disse-lhe.


- Não, Lily! Espera! – ela berrou, antes de eu desligar o telefone. Não estava a fim de ouvir o que quer que minha avó tenha a me dizer. Provavelmente era alguma coisa ruim, como sempre. Era como eu sou uma idiota em ficar correndo atrás de James, já que ele não liga para mim e está se mudando para outro continente. Então, não, obrigada, prefiro ficar com a minha mágoa e com as minhas lágrimas.


Se eu pudesse ter me rastejado até os bancos de espera ali perto de onde eu estava, eu teria rastejado. Mas só fui andando mesmo. Não queria que as pessoas me olhassem ainda mais. Afundei-me em um deles e encolhi minhas pernas para cima, abraçando-as. Não pude conter todas as lágrimas de arrependimento que caíam de meus olhos.


Por que eu não fui à festinha de despedida dele? Por que eu tive de ser tão orgulhosa? Eu poderia ter, ao menos, me despedido dele, o abraçado, lhe desejado uma boa viagem e um ótimo estudo. Mas não. Eu fiquei em casa, na maior birra. Como eu pude ser tão estúpida? Tão covarde, tão sei lá o quê? Como é que eu fui perdê-lo dessa maneira tão ridícula? Como é que...


Espera. Alguém também viu isso?


Por que esse cara se parece tanto com o...


- James? – murmurei com o coração espantado e a cara franzida – JAMES! – exclamei alto. Um pouco mais alto do que pretendia.


O garoto comprido, de olhos verdes, de sorriso encantador e de cabelos negros automaticamente se virou para mim com um ar curioso. Acho que também detectei uma onda de algo parecido com surpresa. Eu podia ter morrido ali. Sério. Um atirador treinado podia ter acertado todo mundo ali e eu ter morrido, que eu teria ido para o céu, ou para onde eu mereça ir, feliz, muito feliz. Um boi de feliz.


Descobri que podia ser pior. Aquela pessoa podia ser a Madonna, se afastando para entrar em seu jatinho particular, ou a Hayley, fugindo de algum fã histérico. Mas fiquei aliviada ao perceber que aquele corpo não era da Madonna ou da Hayley.


Pisquei litros. E parei de derramar minha lástima.


Não sei o que aquelas mulheres perto do banheiro feminino pensaram ao me ver correr novamente. Entretanto, não estava correndo sem rumo, sem saber o que fazer. Estava correndo para aquele cara. Para seus braços. Sei que foi algo total pretensioso e descabido, principalmente se considerarmos o fato de que este tal cara me odeia no momento. Não foi nem um pouco uma cena de reencontro fatal ou sentimental. Isso, claro, porque não era o previsto e até parece que ele estava super a fim de me abraçar ou de me ver em sua frente.


Em alguns segundos, eu e ele estávamos juntos novamente. Juntos naquele abraço. Não que ele estivesse envolvido em meus braços, como se estivesse igualmente feliz. Claro que não.


Soltei-o e olhei-o.


- Oi, hum, vim me despedir. Hum, atrasada – falei. Acho que no fundo, aquilo era para ser interpretado como uma brincadeira. Como as brincadeiras que ele próprio faz. 


James ficou parado, me olhando. Ele estava rindo internamente de mim? Talvez.


- Hey, parece que nunca me livro totalmente de você, não é? – certo, agora ele estava mesmo rindo. De mim.


- Você não pode viajar. Não quero que vá – afastei-me um passo dele, para que pudesse o encarar melhor. É mesmo difícil ficar convivendo com caras muito mais altos do que você. Sempre tenho que erguer muito minha cabeça. Mas acho que a genética da minha família podia ter sido mais generosa comigo, dando-me alguns dez ou quinze centímetros a mais. Só estou comentando. Abri a boca, sem fala. Mas logo a recuperei, a todo vapor: - James. Ah, James! Não faça isso. Não vá embora, por favor. Eu não vou conseguir viver sem você. Eu sei que fui a pior pessoa do mundo quando você se sentiu usado por mim, mas... mas... não vou ser feliz sem você por perto. Nós somos os melhores amigos, você é o meu melhor amigo, não quero que tudo acabe assim, desse jeito tão idiota. Entendo completamente que você esteja magoado comigo e até mesmo vá me odiar para sempre... mas você não pode ir embora. Não pode me ignorar - falei tudo muito rápido e muito alto também. Isso é o que acontece comigo quando estou pronta para ter alguma crise sentimental. Agora algumas pessoas que ali passavam nos olhavam. O que elas aguardavam?


- Você é engraçada, Lily – James assinalou. O que aconteceu? O que aconteceu com todos aqueles olhares gélidos e com todas as vezes que me evitou? E como assim? Eu não sou nem um pouquinho engraçada! Nem estava tentando ser àquela hora!


Discordei, fazendo meus cabelos berrantes chicotearem meu rosto.


- Lily, pare de falar. Você está assustando as pessoas – ele riu e eu me calei.


Não me importei com o emocional dos demais. Eles não sabiam o que eu estava passando. Eles não sabiam que não podia perder o meu melhor amigo e meu novo amor.


- Por favor, não vá, não vou suportar se não o ver mais – falei com a minha voz ainda chorosa. Ah, que vergonha. Não acredito que estava chorando na frente dele. Bem, mais ou menos, já que não estava toda histérica nem nada assim. Só meu nariz que ainda estava escorrendo e minha face que ainda estava banhada de água salgada. Mas não me importei; não havia tempo para me importar.


- Ah é? E por que não? O que a fez mudar de idéia tão rápido? Digo, você nem foi ontem me desejar um bom ano, ou algo assim – James me lembrou, mas ainda assim sua voz não estava aborrecida.


Senti meu rosto esquentar.


É, eu sei que fui uma ingrata com você, Jay.


- Não fui porque eu estava brava com você – admiti em um fiapo de voz. Que coisa mais humilhante. Tentei esconder meu rosto quente em meus cabelos, abaixando o máximo possível a cabeça e encarando o chão.


Não sei que expressão James fez ao ouvir minhas palavras, porém pude senti-lo se aproximar de meu corpo. Logo em seguida, seus dedos encontraram os meus, fazendo-me assustar e voltar a olhá-lo. 


- Acho que os papéis se inverteram, não acha? Eu é que estava agindo feito um idiota com você – a voz dele estava bem próxima ao meu pescoço. Que sensação boa, pensei.


Fiz uma careta para ele, mas acho que só pareceu que eu estava envergonhada.


- Mas eu desculpo você, total. Só não vou conseguir passar um ano longe de você – acho que, pela minha voz, eu estava implorando, ou choramingando feito a Taylor quando quer que seus pais a deixem usar o carro da família ou que a deixem usar o telefone por mais tempo. E isso é péssimo, porque minha avó sempre me disse que agir como criança mimada e birrenta é a pior coisa a se fazer, principalmente quando você já deixou de ter cinco anos há muito tempo.


- Humm, isso é bom. Um ano é quase tão insuportável quanto aturar a Paris Hilton por uma hora – James brincou.


Rolei meus olhos. Será que nem em uma hora crítica ele não consegue permanecer sério? 


- Espera, o que está fazendo aqui? – finalmente minha sanidade voltou a mim - Não era para você estar no avião? - hã, como assim? Eu estava dizendo alguma coisa que tivesse sentido?


- Não vou perder vôo algum. Não vou viajar, Lily – foi o que eu o ouvi me dizer, quase com uma voz risonha.


- O quê? Como assim não... vai? - arregalei os olhos banhados ainda de lágrimas.


- Já já lhe conto essa parte da história – ele me sorriu, prometendo.


- Mas... mas... O que aconteceu? E o francês? – agora eu fiquei séria. O que será que o fez mudar de idéia ou desistir do Canadá? Quero dizer, ele estava tão decidido a viajar sem ao menos dizer um “tchau” a mim! O que posso esperar de um cara que faz uma coisa dessas?


- Bem... Uma certa pessoa me ajudou a estar aqui para somente cancelar a minha passagem.


- Sei. Quem? A sua nova amiguinha? – ah, Lily, cala essa boca! Você não pode ficar dizendo coisas que somente fazem parte de sua fértil imaginação!


James riu. Riu mesmo. E muito.


- Na verdade, ela faz muito mais parte da sua vida do que da minha – seus lábios desenharam um sorriso sincero.


Do que ele falava? Então não tinha nada a ver com a Michelle? Sério? Não, claro que não era sério. Então, que maldita pessoa é essa? E o que ela fez para fazê-lo ficar?


- Hum. E quem ela é? – perguntei.


Pausa. Eu fiquei olhando para aqueles olhinhos tão brilhantes enquanto o dono deles brincava com os meus nervos, fazendo um grande silêncio e suspense. Odeio suspense!


- A sua avó, Lily – ao final, ele me respondeu.


Ok. Desde quando eu vejo duendes pelados dançando na minha frente? Provavelmente a Taylor os enxergue, nos seus momentos de droguice total, mas eu? Eu nem nunca quis ver nenhum cara sem roupa! Imagine duendes!


- A MINHA AVÓ? QUE HISTÓRIA É ESSA? – eu berrei, chocada até a última célula do meu corpo.


Novamente ele riu.


- Ei, calma aí, Encrenca. Não berre – ele me falou, colocando as mãos nos meus ombros, como se pudesse me passar alguma energia que desativasse minhas cordas vocais. – O negócio é que eu vou estudar em John Locke High School, que fica em Londres e não no Canadá.


Absorvi suas palavras de forma tosca e devagar.


Aí me lembrei de uma coisa. Uma coisa muito importante.


- Espere aí! Essa era a escola que a minha avó iria estudar se não tivesse ido para o internato só de meninas! Ela sempre quis estudar em John Locke, mas meu bisavô não era adepto ao liberalismo defendido pelas teorias de John, então a mandou para Sally Mount! – falei, com as mãos na boca e os olhos arregalados mais uma vez.


- Exatamente. Mas acho que ela não lhe contou a parte em que fugia aos fins de semana para John Locke de trem, contou?


- Não, nunca me contou. Uau, ela fazia isso? – achei muito impossível. Oi, é a minha avó! Ela nunca faria uma coisa dessas! Ela sempre me diz que trens são transportes de gente sem tempo e sem dinheiro. Além de carregar milhões de vírus e bactérias.


- Sim. E, por isso, por conta de suas escapadas, ela se tornou amiga de um monte de gente influente lá de dentro. Com isso, conseguiu convencer os diretores de me receber por um período limitado – James pareceu muito satisfeito.


- Então... você vai viver em Londres? – perguntei. Bem, tenho de admitir que Londres fica muito mais perto de Bedford.


- Sim. Mas, claro, não viverei na escola, já que somente terei aulas de francês com todos os outros alunos. Por sinal, é muito bom que eu seja aceito na Imperial College London para facilitar a minha locomoção – ele me disse.


Dã. É claro que James será aceito na Imperial College London. Ele é um dos melhores alunos do nosso ano, provavelmente quase tão melhor quanto o Remus. Além disso, essa é a sua primeira opção. A segunda é a City University, mas sei que ele totalmente prefere a Imperial, pelo fato ser mais contundente em relação à engenharia e seus derivados. E se ele não for aceito, vai ser a maior injustiça do mundo.


- É. Claro que sim. – acho que eu estava um pouco bêbada de choque, de surpresa e de felicidade.


Porque, olha só! James não irá se mudar para outro continente! Isso já é uma enorme conquista! Certo?


Ele continuou sustentando um sorriso lindo e de tirar o fôlego. O meu fôlego, obviamente.


Senti minhas mãos suarem frio. Ah, perfeito. Ok, Lily, respire fundo, muito fundo, e diga. Somente diga. Você não irá saber se nunca tentar. Ele tem o direito de saber. Tem, não tem?


Ah, meu Deus! Por todos os bois do mundo! Por que eu sempre estou ferrada? Quero dizer, analise: eu estou em um aeroporto, tentando impedir que o meu melhor amigo, e possivelmente algo mais que um simples amigo, parta para longe de mim para sempre. E então, descubro que a minha avó lunática e plastificada até os dedinhos dos pés já fez isso por mim. Ela simplesmente mexeu uns pauzinhos e colocou o James em uma linda e maravilhosa escola que tem como língua-mór o francês. Exatamente, tudo é ensinado em Francês. Matemática em francês, Inglês em francês, biologia em francês. Tudinho em francês. Portanto, ele somente tem que se mudar para Londres, a nossa capital (que por sinal, é o lugar mais amado pela minha avó que o ajudou e é o último lugar em que eu moraria).


Certo, até aí, eu estou contente.


A parte que eu não sei se consigo fazer é a que tenho que lhe dizer o que já deveria ter dito muito tempo atrás. Muito antes de ele ser escolhido, por sorteio, o meu par da aula de violão. E muito antes de eu ter percebido que chega uma hora que a gente se dá conta que deixa os sentimentos passarem batidos por nós e não os alimentamos.


- Certo – tomei um fôlego do cão e comecei: - James, é muito estranho entender o que estou sentindo no momento, ou melhor, entender o que venho sentindo desde que o conheci, já que ainda era para eu estar amando o meu ex-namorado. Ainda sim, você é meu amigo e deveria ouvir isso, só por uma certa consideração. Eu realmente acho que... – parei. Não podia fazer isso. Não podia. Ele já é meu amigo. O que mais posso querer dele? Não posso querer lutar por ele desse jeito, sabe como é. Desse jeito que eu o quero, de fato. Como meu namorado. Possivelmente ele já tem a Michelle e não vai querer nadinha comigo. Por que quereria? Por mais que a minha avó e a Nichole estivessem com uma imensa esperança, até parece que iria me rebaixar assim. Tipo assim, ele nem queria nada comigo.


Abaixei a cabeça. Não, Lily. Pare. Isso não pode estar certo. Não está.


- Qual é o seu problema, hein? – James tocou meu rosto com a ponta dos dedos e eu senti um arrepio. Sua voz estava preocupada e carinhosa.


Ai, alguém me mate. Eu estou apaixonada pelo meu melhor amigo, tá legal? Quer coisa mais clichê e idiota do que isso? Se ele fosse, sei lá, um príncipe de um reino distante e tivesse destinado a uma princesa loira, de vestido de lantejoula rosa, seria menos clichê e idiota.


- Você. Você tem sido o meu problema, e é muito irracional, porque eu não quero o ter como problema – disse a ele.


- Então não me tenha como problema – aconselhou ele.


Olhei para minhas mãos. James parece nunca entender a gravidade dos problemas. Tudo para ele é fácil demais. Quem dera se as coisas fossem assim para mim também.


- Não posso mais continuar com isso. Acho que... – eu juro que tentava pensar em qualquer coisa para lhe dizer.


- Não sei se contei a você a verdade sobre a minha viagem – de repente ele me disse.


Fiquei olhando para ele, confusa. Tinha algo errado, disso eu sabia.


- Ah é? E que verdade é essa? – eu quis saber, agora com um enjôo no estômago. Ah, pronto! Eu não queria ouvi-lo. Ele diria que eu sou, de fato, a menina mais criança que já conheceu. Ou que eu nunca fui digna da amizade fofa dele. Ou que nunca mais quer me ver. Ou que me odeia. Ou que...


- A verdade é que eu estava indo viajar porque queria fugir de uma pessoa – ele me obrigou a olhar pra ele, para seus olhos, fazendo suas mãos grandes e macias levar meu rosto perto ao dele – De uma garota, para ser mais preciso.


- O quê? – acho que eu estava prestes a vomitar. Minha cabeça estava girando – Por que você estava fugindo dela?


- Por que estou apaixonado por ela. E não sei se isso iria me fazer bem – ele não sorria; estava sério, muito sério.


Bati minha mão direita na minha testa. COMO SOU BURRA.


É ÓBVIO. Ele gosta mesmo da Michelle! Eles se beijaram, não foi? Talvez até mesmo mais, só que saí correndo da festa. Até parece que quero ver alguém mandando ver. Principalmente o James. Com a MICHELLE. Oi, ela tem umas quatro vezes mais peito do que eu! Que injustiça comigo, Deus! POR QUE não podia ter sido mais generoso comigo e ter me concebido em uma família com uma genética mamária melhorzinha?


Ai, que burra que eu sou.


A MAIOR de todas.


Acho que vou ali no canto começar a chorar feito um bebê, dá licença.


Tudo bem, exagerei. Eu não fui para o canto para chorar. Não fui, porque minha boca começou a falar sem o auxílio de meu cérebro, que já estava implorando para derreter.


- Ah. Então... vá atrás dela. Eu não sei onde a Michelle mora, mas talvez você saiba, já que estava tentando... – minha voz estava tão furiosa e tão decepcionada que acho que não era eu falando naquela hora.


- O quê? Opa. O que a Michelle tem a ver com isso? – o James levantou uma de suas mãos, colocou a palma para fora, em minha direção e me calou instantaneamente.


- Ué, ela é a garota, não é? – isso foi um soluço? - Pode me dizer, não vou me importar – acho que meu choro estava voltando com a velocidade e a intensidade de um cataclismo, de tão potente – Juro – terminei.


Acho que o James começou a enxergar mais lágrimas tentando ser liberadas de meus olhos, porque me agora ele parecia muito preocupado e até mesmo colocou suas mãos em meus ombros. Ele disse:


- Ei, ei. Eu já disse: não vou mais embora! – ele tentou sorrir, mas minhas lágrimas não se emocionaram o bastante para voltarem para meus canais lacrimais – Não precisa voltar a chorar – ele tentou limpar uma lágrima que tinha escorrido sem querer, mas eu o repeli.


- Você... você gosta dela! Você não tinha que estar aqui comigo, explicando tudo isso a mim! – acho que eu estava quase berrando.


- Não estou entendendo o que a Michelle tem a ver com a gente – ele sacudiu a cabeça, assustado com a minha reação.


Ofeguei.


- Com a gente? – repeti, reprimindo qualquer sentimento, qualquer reação, qualquer respiração. Aquela frase pareceu importante e diferente.


- É, Lily. A garota por quem me apaixonei, e sou apaixonado, não é a Michelle! – o James parecia bravo e surpreso, ao mesmo tempo - É você.


Ok, meu coração foi a mil, agora. Eu o sentia e o ouvia muito perto de meus ouvidos. Parecia que meu peito iria estourar. O enjôo estava querendo se acalmar, ainda que sem muito sucesso. Minhas mãos tremilicantes começaram a suar.


Tinha alguma coisa muito estranha em mim.


Algo que não conseguia entender ou suportar.


- O... quê? – minha boca ligeiramente aberta falou.


- Eu tentei, ok? Juro que tentei não me apaixonar por você. Mas acho que sou um fraco – ele riu, voltando a colocar as mãos grandes em meus ombros – Eu a amo. Desde praticamente a quinta série, desde a primeira vez em que a vi no corredor – ele explicou sorrindo e rindo de um modo que só posso descrever como absurdamente envergonhado, mas ainda assim, muito feliz – Esse seu cabelo... agradeça a ele – James riu.


Fiquei olhando mais um pouco para ele.


O quê?


Isso não está certo. O que... foi isso? O James... Ele... Ele me ama?


Engoli em seco. Acho que meu ar estava acabando. E minha garganta fechando.


Fiquei ali, o encarando, com a minha boca aberta, extremamente entorpecida.


Tirei, lentamente, suas mãos de mim e encarei o chão. Antes de observar a pedra fria do aeroporto, vi James morder os lábios.


O que eu tinha agora, pelamor? Por que eu não o agarrava e o beijava, como tem que ser todos os finais felizes? Por que eu estava hesitando feito uma covarde ridícula? 


Wow. Desde quando um dos livros da Meg Cabot se tornou a minha vida? Quero dizer, tudo bem, eu namorava o capitão do time de basquete e tinha a menina mais popular da escola como melhor amiga. Mas isso também? Será que por mais que eu tivesse perdido o namorado e a amiga, eu ainda tenho mais uma chance de ter uma vida encantada e feliz? Com James? Com o meu melhor amigo?


Alguém pode me beliscar? Ah, droga, a Zora não está aqui, porque senão ela poderia me beliscar.


- Seria muito ridículo se eu lhe dissesse que sinto o mesmo por você? – indaguei-lhe, sem jeito, voltando a fitá-lo.


Ele sorriu daquele jeito feliz que eu tanto estava sentindo saudade.


- Acho que não. Não em minha opinião – James me respondeu.


Sorri ainda desconfortável.


- AimeuDeus – murmurei, atônita demais para arrumar palavras inteligentes. 


- Sabe – seus dedos junto aos meus. Parecia que estava elétrica agora -, achei que você não fosse entender – declarou.


Por um segundo, olhei para baixo, para nossos dedos entrelaçados. Eu me sentia quente. Um quente bom. Como no momento em que eu e ele tocamos e cantamos My Hero, na terça. Só que sentia aquela sensação esquisita pulsando por todo o meu corpo. Voltei a conectar meus olhos aos dele. Aqueles olhos verdes brilhantes e profundos nadavam em um sentimento bom demais; acho que era amor. E esse amor agora é todo só para mim.


- Entender? – eu ri baixo, querendo relaxar completamente, abraçando-o, ou colocando meu queixo em seu ombro.


- É. A coisa toda de fazer você acreditar – respondeu.


Ergui um pouco as sobrancelhas, perdida. Acho que não queria muito ouvi-lo. Só queria beijá-lo e coisas assim. Porque é o tipo de coisa que meninas fazem quando escutam o que queriam escutar há três dias.


- Ah – falei. Mas daí franzi meu rosto completamente.


- O que foi?


- Minha avó. De novo – retorqui espantada – Ela me disse que você estava tentando me enviar sinais de que me ama também – minha voz continuava assombrada. Com a genialidade da minha avó, sabe como é.


- Ah é? – ele não pareceu surpreso. Nem admirado. Estava confortável.


- Sim – confirmei – Só que eu não acreditei nela – sorri sem graça, mas James não se importou, já que não fez uma cara de bravo nem nada. Ele só riu. De mim, sabe.


- É. Como eu sempre concluí: você tem sérios problemas – agora seu riso estava fofo demais.


E, por mais que estivesse dizendo que provavelmente tenho síndrome de Tourette ou de Asperger, estava perfeitamente amabilíssimo. Não me senti insultada ou irritada. Também porque é altamente impossível ficar chateada com o James. Tudo bem que ele me magoou ao beijar a Michelle, mas e daí? Desde meus quinze anos namorava o Jason, e o James me via com outro cara cinco vezes por semana e nunca tentou, sei lá, dar o troco no meu ex-namorado, tipo trocando o creme de baunilha por cola plástica – como o Sirius já fez com o Walter Buck. E isso – o fato de que o James nunca quis se vingar do Jason porque já foi meu namorado – só comprova o quanto ele é muito fofo e apaixonante.


Não consegui dizer nada. Quando é que iríamos, sabe como é, nos beijar? De novo, quero dizer.


- Provavelmente – falei depois de algum tempo e de o James só ficar lá me olhando.


- Bom, mas acho que conseguirei livrar você de todos os seus males – seu sorrisinho, aquele sorrisinho, me garantiu.


- Ótimo. Quero que você expurgue meus males completamente – ainda de mãos dadas com ele, aproximei-me ainda mais dele e o apertei contra mim, levemente.


E agora? Será que agora podíamos nos beijar? Quando é que eu iria experimentar mais uma vez seus lábios junto aos meus? Estava com uma saudade louca de sentir tudo girando ao meu redor.


- Heey, ainda quero estar completo daqui a cinco minutos – o James alegou rindo, colocando sua outra mão, que não estava trançada com a minha, em meus cabelos.


- Desculpa – pedi baixo, não me desgrudando dele. Mas claro que eu não sentia por estar apertando-o contra meu tórax.  Pre-ci-sa-va beijá-lo.


“Que estranho”, pensei.


Não era nada estranho estar segura ali, entre os braços fortes de James. O que era estranho era eu não me sentir estranha ali. E envergonhada. Porque, bem, não sou o tipo de menina que faz demonstrações em público. Sou mais o tipo que prefere guardar todas as exposições de carinho e de amor para a privacidade de um quarto ou de uma sala vazia. E, além de não achar estranho aquilo, estava, de fato, amando ficar sentindo o calor dele e tudo. Porque foi diferente das vezes em que eu abraçava o Jason. Com o Jason não sentia nem a metade das sensações que fluía naquele momento.


E eu estava feliz. Feliz de verdade.


Só que, ainda bem, não tive muito mais tempo para permanecer quietinha, com a minha bochecha afundada no cheiro que seu suéter exalava – que era algum cheiro de shampoo de bebê, igualmente ao que senti lá na festa da Alicinha -, já que James logo passou uma das mãos pelas minhas costas, como se estivesse me amparando, e me perguntou, no pé do meu ouvido:


- É agora que a gente se beija?


Eu ri baixinho.


- De acordo com a minha lembrança, acho que é sim – respondi e levantei meu queixo, fazendo assim nossos olhos caírem um no outro, mais uma vez. Arrepio. 


Não gosto de ficar aos beijos no meio de pessoas desconhecidas. Acho meio... bom, meio atirado demais. E aeroporto tem muita gente. Gente até demais. Concorda? Porém, sabe de uma novidade? Não me importei nem um pouquinho com todas aquelas pessoas que passavam por nós. E nem com aquelas poucas que nos observavam como se estivéssemos gravando algum episódio tosco de novela. Eu simplesmente o deixei encaixar suas mãos em minha cintura e igualmente o deixei selar seus lábios nos meus. E sabe de mais uma coisa? Eu perdi meu fôlego e quase desmaiei ali. De novo. Durante o beijo, tudo girava e girava, exatamente como aconteceu no nosso primeiro. Nunca me senti tão segura em toda a minha vida. Parecia a coisa certa a se fazer, independentemente dos julgamentos alheios. Uma felicidade corrosiva jorrou de meu peito, mais do que nunca.


- Woow, você tem de parar de me fazer perder meus sentidos toda vez que faz isso – brinquei reclamando, assim que nos separamos um pouco. Nossos lábios já não mais se tocavam, mas sentíamos a respiração um do outro e ele ainda permanecia com suas mãos em mim.


- Ah, assim perde toda a graça da coisa – ele reagiu, rindo e colando a testa na minha.


Awwn, sentia tanta falta de tudo isso!


Mas ainda não conseguia acreditar no que tinha acabado de me acontecer.


Será que daqui a pouco não vou acordar e descobrir que só estou em meu quarto e que tudo não passava de um sonho? Um lindo sonho, é verdade. Mas mesmo assim.


Fiz uma careta e me afastei de seu rosto. Olhei ao redor: pessoas nos encaravam sorrindo, como se estivessem acompanhando um episódio de alguma série romântica ou sei lá. Eu ri e James fez o mesmo, depois que constatou o estrago que fizemos ali.


- Vem, vamos embora – ele me puxou.


Acho que não me mexi. Eu não conseguia me mexer. Acho que, exatamente como eu fiquei no show do Oasis há três semanas, fiquei naquele momento. Eu me sentia estuporada, como se tudo estivesse acontecendo muito devagar e sem nenhum sentido. Bem, aquilo não fazia mesmo sentido. O James me ama também. Isso era para fazer algum sentido? Quero dizer, e a Michelle e todas as outras meninas louras ou morenas que todos os caras preferem?


Por todos os bois do mundo! Eu, Euzinha, Lily Evans, fui escolhida por ele. Eu poderia estar mais feliz? Bem, poderia, se bem ali, a Hayley aparecesse e eu conseguisse um autógrafo dela ou uma foto, MAS como é extrema e terminantemente impossível de uma coisa dessas acontecer por aqui, não, eu não poderia estar mais feliz. Aliás, é muito melhor amar uma pessoa que está realmente ao seu lado e que você realmente conhece, do que achar que daria a vida por uma pessoa que está a muitos quilômetros de você e que diz que a ama, quando na verdade ela nem nunca a viu. Desculpe, Hayley, só estou falando, amor.


- Lily? Você está me ouvindo? – James agitou a mão na frente de meus olhos.


- Oi, estou, sim – respirei fundo e pisquei – Vamos para a minha casa, acho que estou muito a fim de ver a minha avó – falei, dando um passo em direção aonde James pretendia me levar.


Tudo bem, eu deveria ter dito que deveríamos ir para a aula, já que ainda estamos em aula a esse horário, mas quem se importa? Eu? Eu definitivamente não me importo. Por que deveria? Eu sou a menina mais sortuda de Bedford, ok? O meu melhor amigo, que eu pensava que só fosse meu amigo de verdade, assumiu a menos de cinco minutos que me ama. E, por sorte do destino ou das estrelas cadentes divinas e brilhantes, eu também o amo, exatamente da mesma forma. O que mais posso querer? Voltar a ser amiga da Taylor? Não, desculpe, mas eu não quero. E isso não tem a ver com orgulho ou mágoa. Não, não mesmo. Tem a ver com o que sou agora. Tem a ver com o que me interessa agora. Pode parecer insano – e talvez deva ser mesmo difícil de entender ou aceitar -, mas um mês causa muitas mudanças nas pessoas. Aprendi que sempre iremos perder algo, qualquer coisa, seja ela valiosa ou não para nossa vida e formação de caráter. Pode ser a nossa mãe, ou o nosso melhor amigo peludinho e babento, ou a nossa melhor amiga, ou a nossa calça preferida, ou aquele ídolo que colocávamos em um pedestal e que depois de um ano ficou chatinho.


Mas perder essa coisa ou pessoa não quer dizer que nada será ensinado a nós sobre o que acontece ao nosso redor ou sobre o que acontece dentro da nossa própria vida. Eu perdi a Taylor. Certo, perdi-a, e daí? Alguém aí acha que estou sentindo falta dela? Não. Bem, claro que os nossos momentos de risadas ou de amor intenso ficarão em minha mente, afinal, todos nós temos lembranças das mais variadas situações por que passamos. E, sabe, não sentir falta dela não significa que nunca a amei ou que ela não fez diferença na minha vida, porque as pessoas – até mesmo aquela pessoa mais ignorada por você e que você nunca vai saber o nome – entram e saem da nossa vida por muitos motivos. Pode ser para nos confortar. Pode ser para nos fazer sorrir. Pode ser para nos fazer cair do morro mais alto para aprendermos a nos reerguer com a melhor cara possível. Pode ser para nos fazer se redimir. Pode ser para darmos carinho às outras pessoas. Pode ser para nos ajudar no trabalho de biologia. Pode ser para nos acompanhar ao show da nossa banda favorita. E pode ser para trazer paz e amor a nossa vida, depois de um período turbulento. A Taylor não somente me ensinou a amar praticamente incondicionalmente uma imagem errada de alguém (dela própria) como também me proporcionou as conseqüências desse meu amor. E sabe de uma coisa? Eu posso ter sofrido com essa nossa separação e com todas as conseqüências, mas ainda assim, foi a melhor parte de toda essa nossa amizade. Porque confio cegamente no fato de que as crises de relacionamento – qualquer tipo de relacionamento – somente existem por que têm condições de acrescentar algo a nós. Pode ser que depois de muito lutarmos acabemos cedendo e voltando ao estágio inicial, anulando e perdoando todos os atos que nos foram proporcionados, entretanto, pode ser que não queiramos fingir que tudo está bem, porque sabemos que no fundo nada está bem e que de nada vale continuar a mentir somente por acomodação. E, no final, estufamos o peito e, sozinhas, vamos à procura de um novo caminho. Esse novo caminho pode ser a descoberta da felicidade ou mais um buraco no qual você vai se enfiar. Porém, independentemente do que esse novo caminho vá lhe oferecer, ele sempre, em qualquer e todas as circunstâncias, vai lhe devolver algo. No começo você pode achar que o que está recebendo é ruim, muito ruim, e que preferiria continuar a fingir uma vida de conto de fadas que nunca existiu, mas depois de um tempo você vai entender e enxergar a nova lição. Porque de nada adianta nascer e morrer sem fazer algo por alguém ou aprender lições.


Nossa, sobre o que estou falando? Já me perdi aqui. Sério. Uia, preciso parar de fazer discursos na frente das pessoas.


Bem, e daí que o James fez que não com a cabeça e eu fiquei na interrogativa.


- Não, antes de irmos para a sua casa eu tenho que a levar a um lugar – seus dedos se encontraram de novo com os meus de modo confiante e ele fez seus lábios tornearem mais um sorriso.


Isso me deixou curiosa e surpresa.


O James, apesar dos que estão a sua volta pensam, é muito imprevisível. Eu nunca sei, por exemplo, qual é o próximo passo que ele vai seguir. Então, quando ele mencionou que precisava me levar a um lugar, eu fiquei: “Opa, o que o James quer agora?”, porque ele sempre quer algo, claro. Tá, tudo bem, todo mundo quer. Mas esse meu pensamento não foi de jeito algum negativo, como ele pretendesse me levar a um penhasco e me fazer pular de lá (hahaha, isso seria muito Bella Swan) ou me levar a algum clube ilegal de prostituição, o que, claro, seria totalmente engraçado e assustador. Mas, dã, ele não faria isso. Eu só fiquei curiosa e surpresa mesmo.


- Ah é? Aonde? – minha voz saiu tão ansiosa que eu quis me bater.


James me puxou por mais alguns metros, e quando estávamos passando pelas portas, com um ar risonho, disse-me:


- Shhiu. Não posso estragar a surpresa agora.


Franzi a testa. Certo, sabe aquela coisa de suspense que eu disse que odeio? Pois é, eu realmente odeio. Ele não podia fazer isso comigo! Odeio ficar na expectativa. Porque, e se ele fosse me levar mesmo a algum clube de strip? Eu tinha que, ao menos, recusar!


- Ah, não, James, pode começando a falar. Você sabe que eu detesto esse tipo de coisa! – ainda com a minha testa enrugada, reclamei.


- Garanto que não vai detestar quando chegarmos lá – ele me garantiu.


Ah, maravilha, acho que vou fazer o meu cérebro se autodestruir durante o percurso a esse lugar.


- Hum, sei – retruquei desgostosa.


Entramos em um táxi. Ele falou ao motorista o nosso destino antes que eu pudesse me sentar no banco, de modo que eu fiquei muito furiosa por isso. Qual era o segredo que ele não queria me contar?


Sério, sabe quando você tem a mais plena vontade de bater na pessoa que está ao seu lado, tipo, DE VERDADE? Eu estava com essa vontade. Eu perguntei a ele mais um bilhão de vezes aonde iríamos e ele totalmente me ignorou, somente me contando como foi que recebeu toda a ajuda da minha avó.


- Então, foi realmente engraçado quando a Alex abriu a porta de casa e se viu na frente da sua avó. Ela disse que teve um pesadelo naquela noite envolvendo a sua avó vestida de Marilyn Manson a perseguindo com todas as roupas que ela odeia terminantemente. Bem, e a sua avó, após dizer oi para nós, disse que precisava urgentemente falar comigo, porque não agüentava mais você agindo feito um cachorro de rua – ele me disse todo rindo, como se fosse a grande mágica da manhã.


- Nossa, ela me reduziu a um cachorro de rua? – cruzei os braços.


- Sim, mas foi engraçado – e daí ele viu a minha cara e se apressou a dizer: - Um pouquinho engraçado. Eu, claro, ainda todo enrolado por causa das recomendações da minha mãe para o Canadá, totalmente fiquei tipo “Ah, que legal, o que a avó da Lily está fazendo aqui justamente para falar da neta?”, mas daí, quando ela me disse que eu estava fazendo a pior coisa da minha vida comecei a me interessar pela história.


- Ah, que maravilha. Ela lhe contou sobre todos os potes de sorvete que devorei?


- Ah, isso também. Mas me contou, primeiramente, que você não iria se perdoar se me perdesse, e eu me senti, sabe, um pouco culpado por isso, porque todo aquele sentimento de mágoa que vinha sentindo desde o dia que a Taylor falou comigo estava diminuindo e eu estava começando a me sentir arrependido de ter aceitado ir para o Canadá.


- Ah, sério? – levantei uma sobrancelha, irônica - Mas você iria mesmo assim, não é? Se a minha avó não tivesse aparecido para você – comentei, o que foi uma estupidez, porque, acorda, o que isso importa agora? Ele não foi viajar e está aqui. Pronto. Acabou.


- Bem, iria, é verdade, mas acho que acabaria retrocedendo depois de um tempo – confessou ele.


Fiz uma cara de duvido muito e ele riu.


- Enfim, voltando à coisa toda...


- Espera, ela lhe disse que eu estou apaixonada por você? Foi por isso que você largou tudo? – interrompi-o.


- Não! Ela não me disse sobre o que você sente por mim, totalmente não. Somente disse que você estava muito mal em perder a minha amizade e que estava se sentindo um lixo por ter pensado aquelas coisa sobre mim enquanto era amiga da Taylor. E, sabe, antes eu pensava que você não estava nem aí se me machucou e que não se importava se tinha perdido a minha amizade, mas quando a sua avó me disse que você estava passando as noites escrevendo freneticamente todas as letras da Taylor Swift eu me preocupei, porque, uau, isso não deve fazer bem a ninguém. Quero dizer, nada contra a Taylor Swift, ela parece bem legalzinha, mas você já estava obcecada pelas músicas de um jeito totalmente doentio.


- Eu sei, eu costumo fazer isso quando estou mal – me defendi.


Ele balançou a cabeça, como se me achasse a pessoa mais insana de todas.


- Pois é, então. Eu comecei a perceber que estava enxergando a situação toda de um modo totalmente equivocado, porque se você não ligasse para mim, para o que me fez, totalmente a sua avó não teria aparecido lá na minha casa para me dizer que a Taylor Swift estava abduzindo a sua mente e auto-estima. 


- É, e eu totalmente pensei que ela me deixaria morrer e não faria nada. Uau. Ela... me salvou – arregalei os olhos ao constatar a verdade. Sabe de uma coisa? A minha avó merece um beijo de neta, sério mesmo, porque depois dessa, eu vou ficar devendo a minha alma a ela.


- Acho que sim, no final de contas – ele concordou.


- Meu Deus – murmurei incrédula.


Ele me sorriu, todo fofo, como sempre.


Minutos depois, finalmente paramos. Eu não tinha olhado para fora da janela uma única vez, porque olhar para o James é muito mais legal e bonito (: Eu estava tão a fim de saber como foi que a minha avó me salvou, que não prestei atenção nas ruas, só para ter uma vaga idéia do nosso destino final.


- MEU DEUS – eu falei isso alto demais. Como sempre. Eu saí do carro, olhei ao redor e gritei isso.


Os berros estridentes das crianças correndo pelo gramado com suas nuvens de algodão-doce nas mãos ou os gritos destas nas estruturas metálicas me absorveram. Aquele cheiro típico de parque encheu meus pulmões e desejei um pacote gigante de pipoca caramelada para eu devorar. Olhei para James. Eu já não queria bater nele. Ao invés de lhe socar, pendurei-me em seu pescoço e disse:


- Você é um louco.


Porque, ei!, ele tinha me levado a um parque de diversões! Sabe qual foi a última vez que entrei num evento desses? Acho que eu tinha uns 15 anos. Desde que namoro o Jason que não piso em um lugar desses. Jason sempre odiou essas coisas, porque se achava muito maduro para enfrentar uma fila para andar de roda gigante ou andar no Túnel do Terror. É incrível ver que a maturidade dele não passa de uma criança de 10 anos. E eu pensava que crianças de 10 anos gostassem de parques de diversões. Pelo jeito, o Jason é uma criança muito atípica. Daquelas que vão para a escola armada e atiram nos coleguinhas, porque todos são malvados com ele.


- É, eu achei que você fosse gostar – ele comentou, assim que eu o beijei na bochecha e demos as mãos, para entrar em alguma fila.


- Tá brincando. Eu amei. Awwn, que amor, nem acredito que eu estou aqui com você ao invés de estar presa em uma sala de aula – meus olhos afoitos batiam nos brinquedos mortíferos e nas casinhas de lanches por duas libras.


- É, mas não se acostume. Digamos que só estamos aqui por um motivo especial – ele piscou para mim de um modo divertido.


- Não me importo. Sério – falei – Qualquer coisa é legal com você. Pode ser a aula do Sr. Benner ou a detenção.


Ele riu, acho que desaprovando, mas ignorei. Sabe aquelas menininhas de dez anos que nunca foram a um parque de diversões antes e que nunca experimentaram Pretzel na vida? Não que eu ache que deva existir alguma menininha assim. Não nas grandes cidades, pelo menos, porque lá na África é bem provável que existam milhares delas, mas acho que elas não se preocupam com o fato de que nunca andaram de roda gigante, mas sim com a realidade de que sua família de 15 pessoas tenha que dividir um pacote de farinha para fazer a única refeição do dia. E é por isso que quero me formar em Jornalismo: para ir para a África e relatar toda a miséria e tristeza daquela gente, porque é realmente um absurdo a Taylor reclamar que não tem água quente no chuveiro quando uma criança africana nunca viu água potável na vida.


O quê? É melhor eu estar me preocupando com essa gente do que com o que o Robert Pattinson fez ontem à noite. Não me interessa nem um pouco se ele comeu sushi ou arroz com milho no restaurante a que foi. E o mais legal é pensar que com tudo o que ele gastou ontem dá para sustentar um consulado pobre lá do outro lado do mundo. Palmas para toda essa gente :(


Mas enfim. Voltando à menininha que nunca viu um Pretzel na vida. Eu estava parecendo aquela menina àquela hora. E sabe, com o James ao meu lado eu posso agir da forma mais tosca do mundo que não vou me sentir a grande babaca da vez, porque com ele as coisas são simples e fáceis. Se eu pareço ridícula, ele me faz sentir bem se fingindo de ridículo também. É assim que as coisas funcionam entre nós. É meio engraçado, mas eu gosto. Ele me faz sentir especial e bastante normal.


Brincamos de atirar nos patos de papelão, ganhei um urso gigante - não tão grande quanto aquele que o Taylor Lautner deu para a Taylor Swift em Idas e Vindas do Amor, graças a Deus - e James me convenceu a entrar na cabine da roda-gigante.


Ficamos lá nos beijando um pouco, abraçados, e às vezes contemplávamos a vista - que era preenchida por milhões de árvores e prédios. Conversamos sobre a apresentação de terça, sobre Montreal – dava para ver que, ainda que ele estivesse disfarçando muito bem, não estava cem por cento feliz por ter ficado. Ele queria ir para Montreal – e sobre a minha avó. Sério, ainda não acredito no que ela fez. Ela salvou a minha felicidade! A minha vida! Ela é demais – por mais que não aparente.


Andamos pelo parque de mãos dadas enquanto dividíamos um algodão-doce e ele sugeriu que eu voltasse para a escola. Como eu tinha deixado todas as minhas coisas lá, até que não era uma má idéia.


- Imagine as caras de todos! – comentei feliz.


- É, eu não falei a ninguém sobre a minha mudança de planos.


- Nem para a Al? – fiquei surpresa. Ele sempre divide tudo com a irmã.


- Surpresa é surpresa – ele sorriu, encostando sua testa em meu ombro.


- Como seus pais reagiram?


- Meu pai ainda está viajando. A turnê do All Time Low ainda não terminou e ele tem que ficar nos Estados Unidos até o fim. Ele não sabe. Mas minha mãe sabe. Bem, acho que sabe. Eu disse a ela, vagamente, que não estava mais pensando em Montreal, mas sabe como ela é superocupada. Acho que nem me ouviu – ele me disse.


- Então ainda é segredo?


- É. Digamos que sim.


- Maravilha. Não acredito que a minha avó não me contou isso ontem. Quando foi que ela lhe ajudou?


- Ontem à tarde.


- Ah, foi por isso que ela ficou pendurada por horas no telefone? – ri.


- Provavelmente – ela também riu – Sabe que tem que agradecê-la, não sabe?


- Por que não agradeceria?


- Sei como é a sua relação com a sua avó.


- Mas eu vou agradecê-la. Ela merece. Dessa vez.


- É melhor eu estar junto para fotografar a cena.


- Bobo.


- Não?


- Não. Ela é legal quando quer.


- Sei que ela não é tão amorosa quanto você gostaria, mas... ela faz o possível.


- Agora está fazendo.


- Você nunca concorda comigo?


- Nunca – respondi.


Arranjamos outro táxi e partimos para a escola. Não estava muito a fim de ir lá, mas era a minha única opção. James não me deixaria fazer nada diferente, e naquele momento, eu não podia reclamar.


Logicamente, já estava bem tarde. Muitas pessoas já estavam ao lado de fora, no gramado; o horário de aulas já tinha se esgotado.


- Ah, meu Deus, o que foi que perdi aqui? – berrei, assim que dei de cara com Remus e Alex se beijando, escorados na mureta.


Alex se desgrudou de Remus tão surpresa quanto eu.


- Eu é que digo! – ela respondeu – O que você está fazendo aqui? – seus olhos lunáticos foram parar em James.


- Pulei do avião. É um milagre eu estar vivo – James respondeu,


Eu ri.


Agora Sirius, Peter e as outras meninas se juntaram a nós.


- AHMEUDEUS! – Zora gritou, como sempre muito ativa e escandalosa.


- É, eu sei. Eu mereço ser um superstar, já percebi – James comentou.


Eu me abracei a ele e vi Sirius fingir vomitar. James riu e meramente beijou o topo de minha cabeça (eu sou baixinha, oras).


- Caramba, Lily, quando você diz que as coisas vão dar certo, você faz acontecer, hein, garota? – Alex, carregada de felicidade e ainda de surpresa, me disse.


- Mas o fato de eu ter recuperado o James – eu olhei para James com cara de idiota, só pode – não explica porque você estava quase sendo engolida pelo Sr. Certinho aí – indiquei com a cabeça o Remus, que rapidamente corou loucamente.


Alex se retraiu e se afastou um pouco de Remus, um tanto menos envergonhada do que ele.


- Bom, digamos que eu também recuperei o meu homem – ela sorriu.


Sirius continuou encenando vômitos falsos.


- Awwnnn – a Nichole juntou as mãos com cara de Gato de Botas. Sabe qual, quando o gatinho faz aquela carinha toda manhosa e fofa.


Então, nós concordamos em vir para cá (para a sorveteria) e comemorar os últimos acontecimentos (que eram relativos ao coração e ao amor. O Sirius nem ficou chateado com aquilo. Até parece. Mas tinha sorvete, então ele veio mesmo assim).


25/FEVEREIRO – 16:55h – SEGUNDA-FEIRA – QUARTO
Parece que as coisas estão estranhas.


Não estranhas estranhas. Só estranhas de um modo inimaginável. Como quando você alcança um sonho que julgou dificílimo.


A questão é que James não precisa mais me chamar de Encrenca. Na verdade ele mesmo me garantiu que só vai me chamar assim se esquecer que a palavra “namorada” existe (o que, convenhamos, é bastante improvável).


Olha só. Eu sou namorada de James Potter. O cara que eu julgava esquisito.


A vida é mesmo esquisita, não?


Eu me afastei da minha melhor amiga e ganhei um namorado.


Uau.


Eu nunca fui o tipo de menina que reclama que não tenho oportunidades amorosas o suficiente. Porque, acorda, eu tinha outro namorado. E agora tenho um novo. Mas o bom disso tudo é que eu sempre sei onde estou pisando, sabe. E eu e James temos muitos gostos em comum (tudo bem, ele prefere The Pretty Reckless a Paramore, mas mesmo assim. Eu também adoro muito a Taylor Momsen cantando. Isso eu posso completamente relevar). Sem contar que acho que vou me acostumar rapidamente em ouvi-lo proferir “eu te amo” sempre que acha que não tem ninguém por perto nos observando.


O que, claro, foi uma missão impossível, já que estamos aqui em casa e a minha avó (eu sei, eu devo a minha felicidade a ela, mas bem que ela podia ser menos urubuzenta, não?) não parava de falar um monte com o James e sempre que el ia me beijar, ela vinha e nos atrapalhava. A minha mãe já estava entrando em estado de combustão de tão irritada com a D. Julia. E eu então? Eu estava prestes a nem agradecê-la por ter me ajudado.


O que, no final, acabou acontecendo. Digo, eu ter agradecido a ela e tal. Por ter se intrometido em minha vida e feito o meu namorado (namorado! É tão estranho isso! Não a parte de ter um namorado, porque eu já tive um namorado, mas sim a parte do James ser meu namorado) não estar agora à milhas de distância de mim.


Eu e James mal entramos em casa e D. Julia estava sentada (ah, onde mais?) na poltrona de sempre. Estava assistindo a um filme sobre etzinhos. Ela nem levou nenhum susto quando nos viu. Só disse:


- Ah, oi, meninos – como se, tipo, fosse muito normal e entrar de mãos dadas com um cara que a menos de três horas estava partindo para o Canadá.


Eu, claro, olhei-a desconfiada. Como assim a mulher não leva nenhum sustinho?


- Oi, Senhora Evans – James cumprimentou-a com o melhor jeito fofo dele.


Eu revirei os olhos e fiz um aceno. Eu sei que ela me devolveu toda a paixão de se viver, mas, hey, ela continua aquela mulher minha avó. E a minha avó – a que eu conheço e que sempre irei conhecer – não é do tipo que me dá balinhas de hortelã ou um novo pulouver.


- Olá, querido – sua voz estava melosa ao cubo. Ela nunca usaria esse tom comigo. Ela prefere gritar comigo.


James respondeu-lhe com um sorriso.


- Hm – comecei, porque eu tinha que falar alguma coisa -, obrigada – foi a única coisa que arranjei para falar.


- Pelo quê? – ela se fez de desentendida, porque ela claramente sabia do que eu estava falando. Claro que eu não estava lhe agradecendo por estar ocupando a minha casa e não me deixando assistir ao canal da Disney.


- Bem – eu fiquei com raiva -, você ajudou o James com a escola de Francês. Obrigada.


Fala sério. Eu estava me sentindo uma idiota ali na frente dela, com o James bem ao meu lado, sorrindo como se estivesse na frente do Johnny Depp.


- Ah – ela fez um movimento com a mão, indicando que não estava se importando com aquilo -, apenas me pareceu a coisa certa a fazer.


- A senhora sabe que nunquinha poderei lhe agradecer o bastante, não? – James riu, ainda segurando a minha mão.


- Imagine! – ela voltou a fazer o gesto com a mão. Ela parecia lisonjeada.


- Hm – resmunguei, pensando seriamente em deixá-la ali sozinha -, precisamos, hm, subir – inventei.


- Não vão mais tocar aquelas coisas, vão - D. Julia franziu o rosto, desesperada - Porque acredito piamente que minha audição...


- Não, não – James deixou bem claro – Só vamos, sabe, conversar.


- Sei – ela balbuciou, mas eu li nas entrelinhas de seu tom de voz. Ele dizia: “até parece que você vai ficar apenas conversando com ele, Lily! Eu sei o que vocês irão fazer!” A o que eu ignorei totalmente. Porque, é, e daí se eu e o James iríamos ficar, digamos, um pouco mais a vontade? Sem, sabe como é, aquilo.


No todo, eu e ele acabamos mesmo ficando no quarto praticando a nossa música (segundo ele mesmo). Sabe qual, My Hero.


Na verdade agora nós paramos um pouco, mas só porque ele está conversando com o meu avô sobre tijolos antigos (só nerds falam sobre isso. E o meu avô nem é um nerd. Antigamente ele era engenheiro civil, daí ele se casou com a Bruxa Má de Londres e acabou tendo que largar a profissão). O que me dá tempo para escrever. E para respirar um pouco, porque nós não paramos de nos beijar desde que entramos aqui.


Ah, ele voltou. Awn. Mais beijos! Yeey.


25/FEVEREIRO – 23:09 – SEGUNDA-FEIRA – QUARTO
O James continua aqui. Não no meu quarto propriamente, porque agora ele está na cozinha esperando a pipoca ficar pronta e eu estou, hm, escrevendo. E ele nem se incomoda com isso. Com o fato de eu sempre escrever. Ele diz que me adora ver escrevendo, porque isso define quem sou (e que eu fico muito fofa com a minha franja caída nos olhos, haha).


Ele e eu estávamos assistindo a alguns episódios da nova temporada de House no meu lap top. Eu sabia que ele gostava de Charles Chaplin, mas de House? Quero dizer, o que é isso? Eu e ele nascemos ou não um para o outro?


Ah, meu Deus, nós somos, tipo, almas gêmeas!


Claro que minha mãe ficou um tanto quanto cética em deixá-lo tanto tempo assim comigo (principalmente quando o meu quarto estava fechado, mas, hey, nós estávamos fazendo nada além de nos beijar. Tudo bem, teve aquela vez que ele beijou o meu pescoço e eu me senti arrepiar pra caramba, mas mesmo assim. Não era nada tão grave), mas a minha avó foi bastante incisiva, sabe. Disse para a minha mãe não estragar o meu dia perfeito (olha só! Quem diria isso sair da boca de D. Julia!).


Maneiramos um pouco com os beijos, claro, porque não consigo assistir e beijar ao mesmo tempo, mas sabe como é, o James sempre encontra um jeitinho de fazer isso. É tão estranho. Quero dizer, o Jason nunca fez uma coisa dessas. Ele nunca se desviava da TV (principalmente se estava passando algum jogo de Basquete) e nunca tinha tanto entusiasmo assim de ficar me beijando todo hora. E tá, tinha também aquela outra coisa, a pressão de irmos para cama.


Mas, bom, por mais que eu saiba que o James e um cara, ele não me forçaria a nada. Sei disso, porque eu me lembro bem daquele dia no terraço da escola em que ele me disse que gosta de mim do jeito que eu sou. Sabe, provinciana e tal.


Ah, as pipocas. Eca, é de queijo. O meu quarto está fedendo. Mas tudo bem. Qualquer coisa que tenha o James junto fica legal.


E vamos para mais um episódio, que vai ser o último da noite, porque a minha mãe foi bastante explícita quanto à tolerância de horários. À meia-noite ele tem que estar dando tchauzinho para nós (e me dando o último beijo do dia).


26/FEVEREIRO – 00:42h – TERÇA-FEIRA – QUARTO
Poxinha, o James foi embora. As pipocas terminaram antes mesmo de nós conseguirmos ver a primeira meia hora do episódio, então ficamos nos beijando um pouco com aquele bafinho de queijo. Foi meio... nojento, mas bom. Sabe?


Porque, bem, era o James. E ele beija tão bem. Agora eu sei por que a Michelle estava correndo atrás dele. Mas, ha, meu bem, agora ele já tem dona! Euzinha aqui. Yeey.


Depois que finalmente eu e ele fomos lá para o pátio nos despedir com mais um beijo (e a minha mãe nos espionando na janela), foi meio difícil de cair na cama, sabe. Aliás, estou na cama, apenas com a luz do meu abajur escrevendo isso. É meio ruim porque não tem muita luz, mas tudo bem.


Mas mais estranho do que tentar adormecer sem fazer meus pensamentos me remeterem ao James, foi quando a minha avó apareceu aqui. Achei que ela tivesse de novo perdido alguma coisa, tipo um sapato ou o seu curvex. Mas não, dessa vez não. Ela entrou toda exultante.


- Oi – ela me disse.


Eu estranhei. Ela nunca foi de conversas preliminares, sabe?


- E aí – respondi alegre. Afinal, por que não estaria? Agora eu tenho um namorado completamente, divinamente, irrefutavelmente maravilhoso.


- Dia bom, não? – ela perguntou, olhando para o pôster gigante da Hayley Williams e fazendo uma expressão amarga.


- Total – falei.


- Sabe, Lily. Quando eu tinha a sua idade...


- Iiiih – eu comecei a rir e notei que ela sorriu genuinamente – Não venha com esse papo, não!


- Só queria lhe dizer que você é uma menina muito corajosa – ela me disse por fim – Não achei que você teria coragem suficiente para bular as regras da escola e ir atrás de James no aeroporto.


- Bem, isso só comprova o fato de que você pode se surpreender comigo – dei de ombros.


- Você merece o James, Lily.


- É estranho, mas eu concordo com você. Aliás, como sabia que eu e ele tínhamos, tipo, uma química especial? Como sabia que no final acabaríamos juntos?


- Era só olhar para vocês – ela repetiu o meu gesto.


- Você é fantástica – eu lhe disse.


Ela sorriu. Não é muito comum vê-la sorrindo, principalmente quando é elogiada, mas eu me senti bem ao vê-la sorrindo.


Ela se aproximou de minha cama, inclinou-se um tanto e beijou o topo da minha cabeça.


- Durma bem – ela me disse, e com isso se retirou.


Eu fiquei tão perplexa (D. Julia me dando beijinhos de boa noite? Na cabeça?) que nem consegui responder qualquer coisa babaca. Apenas fiquei contemplando-a deixar meu quarto da maneira mais suave possível.


Será que acordei em Nárnia hoje e não sei?


Mas mesmo assim, Deus, ou Aslan, muito obrigada pelo dia de hoje.


26/FEVEREIRO – 09:00h – TERÇA-FEIRA – AULA DE INGLÊS
Como eu bem suspeitava.


As pessoas agora não estão mais apontando por eu ter dedurado a Taylor e Cia. Estão apontando para mim porque eu estou de mãos dados com James Potter. Mas, bom, o que eles queriam que eu fizesse, desse o pé para ele?


O Sririus já me disse que eu era bem mais legal quando eu não estava toda apaixonadinha e amorosa para o lado de James. Mas o que eu posso fazer? Eu o amo. Amo. Amo. Amo. É difícil (impossível, talvez) segurar o amor. Vai ter uma hora que ele vai explodir e explodir legal, sabe. Pode até matar (tudo bem, talvez não).


O que posso fazer se preciso demonstrar a minha felicidade? Eu não estou deturpando os direitos de ninguém, pelo o que sei.


Ah, droga, o Sr. Hugh chegou. Bem que ele podia ter atirado no próprio pé hoje de manhã, não? Okay, brincadeirinha, porque pode até ser que ele ficasse aleijado por conta disso.


26/FEVEREIRO – 13:00 – TERÇA-FEIRA – ALMOÇO
Ai, caramba. Como assim? O que foi que aconteceu lá? Porque, uau, eu não estou entendendo nadinha. A Taylor... bem, nunca mais vai mesmo voltar a ser minha amiga.


I could go back to every laugh
But I don't wanna go there anymore
And I know all the steps up to your door
But I don't wanna go there anymore


Taylor estava sentada no alto da arquibancada da quadra poliesportiva. Seu corpo perfeito, torneado por todas aquelas costumeiras roupas caras e lindas, estava contraído e acuado. Suas mãos seguravam a cabeça loura, agora baixa, quase na altura dos joelhos. Soluços baixos era o que eu podia ouvir vindo dela. Parei e suspirei. Oh, não. De repente, senti-me muito frágil e com uma vontade imensa de correr até ela e a abraçar, como sempre fazia quando ela brigava com o Zac. Mas claro que dessa vez o Zac não tinha muito a ver com isso. Coloquei meus pés de novo a funcionar, mas ao invés de simplesmente sair dali, tracejei uma linha reta até Taylor.


- Taylor? – chamei, ignorando o desejo de minhas mãos em acariciar seus cabelos, e sentando-se ao seu lado.


Ela continuou a soluçar e fungou:


- O que você quer, sua fracassada? – sua voz estava tão entrecortada que achei que não a iria entender.


Mordi meus lábios. Ah, cara. O que eu estava fazendo? Oi, será que preciso lembrar a mim mesma o que essa menina é? Ou o modo com que ela vem me tratando? Ou o que a nossa amizade já não mais representa a mim?


- Está tudo bem? – perguntei.


- Desde quando você se importa? Ou por que se importa? Você não deveria estar rindo pelas minhas costas exatamente como todo mundo agora? Eu perdi o posto de líder de tudo nesse lugar!– ela me falou, mas acho que não havia raiva em sua voz, apenas alguma coisa parecida com mágoa.


- É, mas algo me impediu de fazer isso. Não foi necessariamente a eleição, e todo o meu discurso acerca dela, lhe proporcionou, mas você. Porque, apesar de tudo o que tem nos acontecido, e são acontecimentos bastante tristes, você já foi a minha melhor amiga – expliquei, muito, muito devagar.


- Eu costumava pensar que você também era a minha melhor amiga, mas aí você decidiu que eu era a pior pessoa de todas e me largou – a Taylor estava sofrendo, cara. Ela estava sofrendo por ter perdido a minha amizade? É isso?


- Não foi bem assim. Eu estive há três anos segurando a sua barra e lhe dizendo o que era o melhor para você, mas você nunca quis me ouvir.


- Mas você me largou mesmo assim! – ela levantou a cabeça dos joelhos e me olhou. Seus olhos vermelhos deixavam de transparecer toda a doçura perdida daquelas bolas de cristais azuis que todos adoram.


- Você é que surtou e me largou, Taylor. Você deu o primeiro passo – lembrei-lhe.


- Você é a maior criança, sabia? – ela decretou em um tom decidido.


- Eu sei. Sinto muito – diminui-me perante meus pensamentos.


Ficamos em silêncio. Ela tornou a espalhar os cabelos lisos nas pernas, mas o choro cessara.


- Você sente a minha falta – falei. Não era uma pergunta. Era uma afirmação. E ela entendeu isso, com certeza.


- Não. Não sinto, não – foi o que ela me respondeu.


- Então você está muito bem? – debochei, mas sem deixar estampar muito isso. Nunca é bom zombar de Taylor. Você pode acabar muito mal. Assim como eu.


- Só sinto um vazio... – ela reclamou uns segundos depois. Sua voz voltara a ficar choramingada.


- Porque você sabe que falta alguma coisa.


- Isso é irrelevante, vou achar algo pra completar esse vazio, eu tenho as pessoas que me amam – ela retrucou. Uau, a Taylor usou a palavra “irrelevante” em uma frase. Achei que ela nem soubesse que isso existe. Alguém está estudando, hein?


- Você está procurando nos lugares errados e está achando sentimentos parecidos em outras pessoas, não é a mesma coisa – eu lhe disse.


- Pára de tentar forçar algum sentimento entre nós novamente – ela me mandou.


- Não estou forçando nada, só quero fazer você enxergar.


- Não tenho nada para enxergar, eu estou bem assim – sua voz ficou arrogante.


- Se você abrisse os olhos veria que lhe falta alguma coisa...


- Eu sei que falta, mas não é você. Não sinto a sua falta, já disse.


- Bem no fundo você sabe que só eu posso acabar com esse vazio – ergui minha sobrancelha com um quê de razão.


- Pára de pensar que sabe mais sobre mim do que eu mesma.


- Mas eu sei! Convivi dez anos com você, Taylor. Se eu não soubesse seria muito estranho. Estou apenas lhe alertando sobre os seus erros, não quero lhe forçar a nada – bati o pé.


- Eu sei o que estou fazendo! Não preciso de uma puritana ridícula e fracassada para me dizer o que devo fazer!


Represei meu ar nos pulmões, absorvendo o impacto de suas palavras. Isso magoa, sabia, Taylor? Ao menos, um pouco, já que estou mais do que habituada a ouvir todos me chamar de fracassada.


- Se realmente soubesse não estaria na situação que se encontra, não é?  - retruquei.


- Chega, não preciso ficar ouvindo suas idiotices mais uma vez! – acho que sua vontade era gritar, mas não o fez.


 - Não, claro que não. Mas talvez eu não esteja aqui quando você resolver abrir os olhos – falei e me levantei. Não me importei se deveria ficar ao lado dela. Agora, não quero mais. Simplesmente a deixei, exatamente como ela fez comigo. Saí da quadra sentindo-me uma perdedora, mas ainda assim, aquela chaminha minúscula de esperança tentava permanecer intacta e viva.


Adeus, Taylor. Foi bom enquanto durou, querida.


Ignorance


If I'm a bad person, you don't like me
I guess I'll make my own way
It's a circle a mean cycle
I can't excite you anymore
Where's your gavel? Your jury?
What's my offense this time?
You're not a judge but if you're gonna judge me
Well, sentence me to another life.


Don't wanna hear your sad songs
I don't wanna feel your pain
When you swear it's all my fault
But you know we're not the same
We're not the same, oh, we're not the same
That the friends who stuck together
We wrote our names in blood
But I guess you can't accept that the change is good
It's good, it's good


Well you treat me just like another stranger
Well it's nice to meet you sir
I guess I'll go
I best be on my way out
You treat me just like another stranger
Well it's nice to meet you sir
I guess I'll go
I best be on my way out


Ignorance is your new best friend
Ignorance is your new best friend


This is the best thing that could've happened
Any longer and I wouldn't have made it
It's not a war no, it's not a rapture
I'm just a person but you can't take it
The same tricks that once fooled me
They won't get you anywhere
I'm not the same kid from your memory
Now I can fend for myself


Ignorance is your new best friend
Ignorance is your new best friend
Ignorance is your new best friend
Ignorance is your new best friend


Sinto muito, ex-melhor amiga, mas está na hora de eu deixar de ser uma fracassada e encontrar o meu próprio caminho sem a ajuda de ninguém.


26/FEVEREIRO – 14:23h – TERÇA-FEIRA – AULA DE BIOLOGIA
Cara, eu estou aqui pensando (que é segunda coisa que mais faço, depois de escrever). Acho que eu sou muito sortuda. Tudo bem que antigamente eu ficava reclamando que eu tinha um namorado babaca (que apenas se interessava por basquete) e que a minha avó era a Bruxa Má de Londres (talvez ela não seja tão má quanto eu pensei, sabe)... Mas e agora? De que eu posso reclamar? Da minha vida perfeita com o meu novo namorado que é um fofo? Fala sério. Até sei que não poderia reclamar de uma coisa dessas.


E aparentemente (mais uma alegria na minha vida, yeey) minha avó só vai ficar lá em casa até a semana que vem. Isso que dizer que poderia assistir aos episódios de Law & Order e House sempre que eu quiser (já que a minha mãe só assiste as reprises de Friends) e continuar com a minha mania de criança de ficar vendo o canal da Disney! E melhor ainda: não precisarei fazê-la sair do meu quarto ou enxotá-la do banheiro (que é onde ela anda fumando com mais freqüência) nem ouvi-la dizer que eu deveria ir ao clube ou dar um passeio pela vizinhança ou invés de ficar lendo e/ou escrevendo.


Mas, bom. Eu também estou pensando no James. Tá, tudo bem, ultimamente eu só fico pensando nele, mas não é daquele jeito, sabe. É só que, sabe, uau, como eu poderia imaginar que eu acabaria o ano letivo namorando um cara que eu nunca dei valor?


Isso só serve para dizer que nós sempre julgamos as situações de modo equivocado.


Eu achava que tinha uma ótima amiga e depois que ela virou as costas para mim fui entender o que é realmente amizade verdadeira com a Alex, com a Zora, com a Nick e com os meninos.


Eu só posso concluir que em cada país, em cada escola existe uma pessoa que pode mudar o resto da sua vida escolar com uma simples palavra, com um simples gesto ou com um simples olhar. Uma pessoa que decide se você entrará no Céu ou no Inferno. Uma pessoa que pode mudar para sempre o seu destino.




___

N/a: HEY HEY, FINALMENTE, NÃO? Sinceramente, quero me desculpa ao cubo vezes dois com vocês! Eu não achei que fosse demorar tanto tempo para escrever esse capítulo. Depois de, sei lá, acho que quatro meses o capítulo - finalmente - está prontinho. Obrigada por terem acompanhado a fic, vocês me fizeram muito feliz. Uau, a fic quase completou um ano, caramba. Mas, bem, comentem, pode ser? Só assim eu ficarei sabendo se eu os agradei (: Beijo beijo, até a próxima (: 

Nina H.


26/03/2011

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