Capítulo 12



Capítulo XII


Flashback – Último semestre do último ano
Local: Rua Union Street – casa dos Evans
Horário: 19:03h
Quando: 22/Março – segunda-feira 


Bateram na porta.


Lily não ouviu ou prestou atenção. Estava lendo Chocolate e estava com o i-pod ligado. Sua mãe já tinha lhe pedido para parar com aquela mania, mas Lily simplesmente ignorava. Não conseguia se concentrar sem uma trilha sonora.


Só notou que alguém tinha entrado em seu quarto porque viu a pessoa.


Não era sua mãe. Muito menos seu pai.


Levei certo susto, mas fingiu estar apenas surpresa pela visita. Ergueu a sobrancelha e piscou, incapaz de dizer algo.


- Oi – o menino ofegou – Vim correndo de bicicleta.


Lily deixou o livro de lado e tirou os fones de ouvido.


- Percebo – ela murmurou – Por que minha mãe o deixou subir?


- Eu disse que precisava falar com você – ele justificou rapidamente.


- James... – ela rolou os olhos, sem graça.


- Não, não. Só me escute, okay? Por favor, só desta vez – ele implorou, juntando-se a ela no colchão.


A face de Lily se intensificou e se endureceu. Ela não queria ouvir nada dele. Já tinha ouvido o bastante.


- Eu terminei com a Kelly.


Lily sentiu um baque surdo e doloroso no estômago.


- Então... é mesmo verdade? – ela se ouviu perguntar, com a voz muito, muito baixa, quase assombrada.


- Ouviu as pessoas comentarem?


- Não. Kelly me contou.


- Ah. Eu sabia que ela faria isso. Ela está com raiva de você. Mas peço que a ignore, por favor.


- James, ela me disse tudo, okay. E nós não podemos mais. Isso não é apenas por mim, mas por você também. Eu sabia que tipo de cara você era, mas mesmo assim permiti que aquilo acontecesse. Eu sabia que você iria me magoar, que estava apenas brincando comigo, mas eu não me afastei de você como deveria ter feito desde o início.


- Não, não, você não se afastou porque no fundo sabia que eu podia lhe amar do jeito que sempre quis.


- Não, não foi nada assim. Admito, eu já almejei o amor, mas tinha me conformado que ele nunca estaria ao meu alcance. E aí conheci você, que me deixou de cabeça para baixo. E isso não deveria ter acontecido. Você está apenas fingindo que sente tudo isso, e eu nem sei por que.


- Não estou fingindo. Eu a amo realmente. Eu nunca senti isso por outra menina.


- É o que todos os caras dizem.


- É, mas dessa vez é pra valer. Eu me apaixonei por você antes mesmo de ter aquela primeira conversa com você. Eu sempre a via pelos corredores, e meu coração pulsava de um jeito diferente, sabe. Como se ele ansiasse por você.


- James, pare com isso. Essas palavras não irão me encantar. Eu sei que fui apenas mais um jogo.


- Kelly lhe disse isso, não? – ele perguntou.


- E se for?


- Bem, é mentira! Você não enxerga? Ela quer atingi-la! Ela quer que você se magoe e não invista em mim.


- Você acha que quero investir em você?


- Eu sei que é isso que quer – James disse com convicção.


- Você não pode saber o que se passa em meu coração! – ela o acusou.


- Lily, eu vejo que você me ama. Seus olhos brilham de um jeito diferente. Sei que apenas meu nome a fez se arrepiar e sorrir.


Lily corou. Droga, será que ela era tão previsível assim?


- Pare com isso! – ela mandou.


- Está vendo? Você sabe que é verdade.


- Tudo bem, é verdade. E daí? Nós podemos... ou melhor, não, não podemos. Caramba, como você não vê que isso não vai dar certo?


- Como você sabe que isso não vai dar certo?


- James, encare a verdade. Eu sou uma garota invisível e você é o capitão do time! Mundos assim só colidem, não se fundem – Lily falou.


- É isso que vê? É assim que se enxerga?


- James, eu sei quem sou.


- Não, não sabe. Você não sabe quão linda fica quando está envergonhada ou quando está apenas de pijamas ou sem roupa alguma.


Lily corou mais uma vez, agora furiosa.


Não podia permitir que ele falasse sobre isso. Não queria recordar aquele momento tão vergonhoso de sua vida.


- James, pare. Isso não é certo. Eu sei o que vejo quando estou na frente de um espelho.


- Os motivos de me fazem amá-la não se refletem em um espelho – James disse.


Lily sentiu-se derreter com aquilo.


Ela era uma garota romântica, sem dúvida, mas não estava preparada por ver alguém sendo romântico com ela.


Muito menos um cara chamado James Potter, que era o menino mais cobiçado da escola.


- James... – ela disse incapacitada de olhar para ele.


- Olha – ele disse, chegando mais perto da menina -, eu não sou um cara perfeito. Eu tenho defeitos. Não preciso mais de amor do que de oxigênio para viver, mas eu sei o que sinto por você. E não é algo que eu possa ignorar. Sabe, quando a gente conquista o amor, o amor de verdade, não podemos simplesmente deixá-lo morrer em uma esquina escura. Temos de guardá-lo e alimentá-lo, para que ele nunca acabe. E é isso que estou fazendo. Estou cuidando do meu amor por você. Não quero que ele se acabe.


- Eu quero que isso dure, mas... por outro lado...


- De que está com medo? Do julgamento das pessoas?


Lily sentiu as lágrimas virem. Estava difícil de suportá-las.


- Eu já suportei julgamentos variados de todos que estão à minha volta. Eu experimento julgamento todos os dias. Estou ficando boa nisso, sabe. Em ignorá-los. Mas uma coisa é apontar para mim só para me deixar triste, outra é apontar para um sentimento para me magoar.


- Não vou deixar que isso aconteça. Prometo que você não irá se ferir com meu amor.


- E se seu amor acabar?


- Se ele acabar, sei que podemos reinventá-lo.


Lily sorriu lacrimosa.


James esfregou suavemente um polegar na bochecha de Lily. Não queria vê-la chorando. Ela parecia tão indefesa e magoada.


- Se não tentarmos nunca iremos saber se daria certo – James disse.


- E se você me magoar?


- Eu vou me magoar junto.


- Kelly vai ficar furiosa – Lily tentou rir.


- Eu não me importo. A única pessoa com quem me importo é com você.


Lily fez uma careta e abaixou os olhos.


- Por favor, diga que vamos tentar – ele sussurrou com a testa colada na dela.


Lily não tentou se desvencilhar de James. Ali, tudo parecia mais fácil e bonito.


- Eu não sei – ela falou, fechando os olhos, para tentar impedir que mais lágrimas rolassem por sua face.


- Dê-nos uma chance.


- E se tudo der errado?


- Não vai dar. Juro que não vai dar. Eu vou amá-la como se fosse o primeiro dia.


Lily fitou os olhos de James. Eles pareciam confiantes.


- Eu amo você – ela sussurrou.


- Acho que eu a amo muito mais – James revidou, brincando e afagando uma mecha do cabelo de Lily.


Eles ficaram apenas de olhando, sem dizerem mais nada.


- Minha mãe vai ficar feliz. Ela gosta de você – Lily disse, rindo.


James sorriu, desejando poder beijá-la.


E quando ele tinha desistido da idéia, Lily a concretizou para ele. Aproximou devagar seus lábios rosados até os dele, juntando-os em um beijo demorado e calmo.


Lily sentiu o quarto girar e seu corpo se projetou para frente, para poder agarrar mais a nuca de James.


- Eu preciso de você – James ofegou, abrindo os olhos, tonto.


- Você tem certeza disso tudo, não? – Lily perguntou.


- Tenho. Eu a quero para mim para sempre.


Lily sorriu.


Nada poderia tê-la feito ficar mais satisfeita. 


~~~~


Narrado por: Lily Evans
Local: Cobertura Albert Towers
Horário: 22:08h
Quando:
17/DEZEMBRO – sexta


Ele estava se esforçando. Eu sabia que ele estava mordendo a língua toda vez que me encontrava para não abrir a boca sobre aquele assunto. Claro que às vezes era um pouco inevitável, mas ele estava se saindo bem. Estava, na verdade, se controlando bem mais do que meu namorado.


Tudo bem, James era um amor, porque enquanto eu tentava realmente me livrar daquele assunto, ele realmente fazia aquilo por mim. Ele fingia que eu nunca tinha lhe contado sobre a gravidez e arranjava outros assuntos para conversarmos.


E eu ficava muito, muito mesmo agradecida àquilo.


Naquela sexta-feira fria e chuvosa, eu tinha saído da Fifteen com muita dor de cabeça, e ainda que o Max tivesse insistido para me levar até lá pela manhã, não podia me pegar (e eu não podia ir de carro, porque não estava com ele nem de trem, porque o Max tinha me proibido, como se fazer uma coisa daquelas fosse tirar a vida do nosso bebê, aham), então eu inventei de dar uma passadinha no restaurante de James.


Tudo bem, admito, nós estávamos nos saindo muito bem, sabe. Juntos, quero dizer. Nós estávamos saindo quase todas as semanas (até mais de uma vez por semana) e ele, como está supracitado acima, não fez muita questão de me atormentar com o assunto “eu e o bebê de Max”. Sabe? Ele estava sendo muito legal, de verdade. Tão legal quanto ele era antigamente, na época que nos conhecemos na escola.


Quando o James me viu, sorriu. Ele fazia isso todas as vezes que me via, na verdade.


- Final de dia? – ele me perguntou enquanto averiguava alguns cheques.


- É. Acabei de sair da Fifteen. E você, terminando? – respondi, tentando não parecer tão curiosa. Mas, sabe, é isso que sempre acontece conosco. Se tentamos não demonstrar interesse ou curiosidade, lá está o nosso interesse e a nossa curiosidade dando as caras para estragar o nosso disfarce.


Porque, é, eu estava meio que interessada se ele estava prestes a ir embora. Hey, eu precisava de uma carona para casa. Não tinha sido ele mesmo que me dissera diversas vezes em nossos passeios que, caso eu estivesse precisando dele, era para eu pedir ajuda? Então, aquele me parecia um momento justo para lhe pedir ajuda.


- Quase. Preciso ver algumas guias – ele me disse, sem erguer os olhos dos papéis, o que me fez ficar impaciente. Eu odiava quando não olhavam para mim – Já vai para casa?


- Não posso – sorri sem graça – Estou sem o meu carro.


- Quer uma carona? – ele levantou o olhar, sem expressar nenhuma alegria - Em quinze minutos tenho certeza de que estarei saindo – ele me assegurou agora interessado em minha resposta – Comeu alguma coisa desde o almoço?


Eu ri. Ah, sim até parece que eu tinha bastante tempo para fazer outra coisa a não ser cuidar de layouts ou de assuntos pendentes na minha sala.


- Podíamos sair para comer, se quiser.


- Você tem um restaurante – analisei.


- Achei que já estivesse cansada da minha comida. Eu ia fazer macarronada em meu apartamento. Se isso não lhe custar uma briga com o Max, poderia me acompanhar.


Eu ri mais uma vez.


Bem, certamente Max discutiria comigo, porque ele estava achando que vida de grávida era equivalente a vida de doente terminal, e ele me recomendava milhões de coisas todos os dias que me afastasse de problemas que ele achava perigoso para o bebê. Tipo, balões, táxis, trens, ônibus ou até mesmo molho shoyo.


Ele iria achar que passar mais uma hora longe dele e da nossa cama (onde eu deveria ficar descansando pela eternidade) era um ultraje ao nosso filho.


Mas, é, com o Max eu me resolvia depois.


Eu estava bastante a fim de passar um tempinho com o James, porque ao menos ele se esforçava para me manter longe do assunto que mais me aborrecia (o bebê, sabe. Claro que bebês são uma bênção, mas eu não estava disposta a conversar sobre eles o tempo todo, sabe, como a minha mãe estava fazendo ultimamente. Ela ligava para mim só para ficar falando do quarto do bebê, do time que o bebê torceria ou sobre canções para acalmar bebês).


Ao menos o James sabia que aquilo não estava me agradando.


- Claro que o acompanho. Estou com vontade de comer qualquer coisa, sério – eu falei, mantendo na cabeça que aquilo seria apenas um jantar entre amigos. Nada de mais.


Sim, James tinha (mais uma vez) se tornado meu amigo. E um amigo bastante fofo, sabe?


- Imaginei – ele me sorriu.


Aguardei um pouco em uma das mesas já vazias. Liguei para o Max para que ele não colocasse a polícia atrás de mim e para lhe dizer que eu estava viva (ele achava que grávidas eram um imenso alvo para terroristas, sei lá por que).


Ainda que eu soubesse que ainda éramos somente amigos (estava claro demais, sabe. O James não ficava mais tentando dar em cima de mim ou sei lá), fiquei um pouco tensa, sabe. Porque, ei, como eu poderia ficar sozinha em seu apartamento sabendo que ainda havia um tipo de resquício sentimental de minha parte?


Não diria que ainda era amor, mas como eu poderia explicar o meu coração sempre martelando quando o encontrava?


Eu poderia com muita facilidade ter rejeitado seu convite, realmente. Na verdade, eu sentia que uma parte de meu coração necessitava fazer essa objeção. Mas o que a outra parte dizia? Que eu devia ficar quietinha e partir para o apartamento de James, vê-lo preparar macarrão ao molho quatro queijos e tomar vinho do porto com ele. Então eu optei pela parte positiva. A que dizia que eu deveria esperar pelo James e desfrutar de um jantar em sua casa.


E foi o que fiz.


Eu esperei.


E, então, quando eu estava quase desistindo (hey, mulheres grávidas se cansam de esperar, sério), assustei-me com James batendo as palmas das mãos uma vez.


- Vamos? – indaguei, com um ar realmente cansado. Ou talvez até mesmo deplorável, se considerarmos a minha apaticidade.


- Claro – ele disse, apagando a luz do almoxarifado.


Ele catou as chaves tilintantes (?) do bolso da calça e fez um aceno para mim, para que eu me movesse até a porta, coisa que eu fiz com gosto, porque eu não suportava mais ficar inalando aquele cheiro de gordura que pairava no restaurante.


Eles deveriam fazer uma faxina mais pesada naquele lugar, sério.


Fomos até seu carro (que tinha cheiro de carro novo, por mais que eu soubesse que ele não fosse novo) e James dirigiu tranquilamente até seu apartamento. Conversamos sobre amenidades a maior parte do trajeto, o que não me fez exatamente me sentir especial. Só parecia que eu estava entediada. E não sei se o James notou isso, porque não parou de falar e de rir (por mais que eu tivesse lhe dito que estava com dor de cabeça. Mas tudo bem, porque sua voz era agradável).


Quando me sentei em seu sofá e aceitei a taça de vinho de uma marca desconhecida (bem eu era jornalista, não enófila), comecei a achar que não tinha sido tão ruim a minha insinuação para cima de James. Ali estava quieto e bastante quentinho. Eu disse que precisava de um pouco de quietude, então James foi para a cozinha preparar a refeição, como se estivesse tudo bem para ele. Como se ele tivesse entendido que eu precisava de um pouco de paz. Mas ele não fazia a mínima idéia, já que não morava comigo nem era eu, então não tinha como ele saber.


Mas mesmo assim, ele me deixou quietinha no sofá enquanto eu bebia goles pequenos de vinho.


Quando me chamou para ver se o macarrão já estava ao meu gosto (quanto ao cozimento), deixei a taça em cima da mesa de vidro e me dirigi para onde ele estava. Tudo parecia estar um pouco deprimente e girando. Não sei. Vai ver eu estava ficando bêbada com uma só taça de vinho. O que, para muitos, é altamente impossível. Mas talvez eu fosse uma pessoa fraca para bebidas alcoólicas.


- Parece ótimo – respondi, comendo o fio de macarrão que ele tinha me oferecido para experimentar.


Sentamo-nos silenciosos à mesa e ele me abasteceu de mais vinho. Tentei impedi-lo, mas já era tarde demais, e eu achei uma desfeita não aceitar mais.


- Você tem que me ensinar a receita desse molho. Está maravilhoso – eu disse, tentando sorrir ao mesmo tempo em que caçava o meu guardanapo embaixo do prato.


- Na verdade é como os outros. Mas eu acrescento um pouco de coentro e cebolinha – James me falou, parecendo se deliciar por me ver comer tão perto dele. Não parava de sorrir ou de tentar arrancar risadas minhas (coisa que não estava acontecendo, devo dizer).


- Eu não sou muito de me arriscar na cozinha, mas essa receita parece fácil.


- É fácil, sim – ele continuou a sorrir para mim, como se nada mais importasse. Como se um meteoro atingisse o solo e não provocasse efeitos tardios.


Ficamos novamente em silêncio.


- Você não parece muito bem – ele comentou, analisando meu rosto com cuidado.


- Só estou cansada – dei de ombros, parecendo com uma universitária que explicasse qualquer teoria a seu professor - Maggie nos faz trabalhar demais – expliquei.


Ele permaneceu me observando, como se eu não tivesse lhe dito nada.


- Eu não deveria tê-la convidado para vir aqui. Você realmente parece que precisa da sua cama – ele pareceu tão sério, que achei que eu estivesse doente.


- Não se preocupe. É bom sair da minha casa ou da minha sala na Fifteen.


Ele demorou a responder. Ficou lá piscando com calma, como se nada pudesse o afetar, e voltou sua atenção para seu prato. Eu fiquei com uma cara interrogativa e ele tornou a me encarar.


- Já conseguiu se comunicar com alguém da Mojo? – ele me perguntou, sem demonstrar tensão na voz.


Eu, que há muito tempo tinha me cansado de ficar indignada ou brava por conta daquele assunto, apenas respondi:


- Não. Tentei falar com a secretária da editora-chefe mês passado, mas ela não retornou a minha ligação.


- Lily, de verdade, por que gosta tanto de ostentar o seu orgulho, quando sabe que eu posso lhe ajudar?


Isso me fez ficar um pouco sensível. Não que ele tivesse falado aquilo com uma voz ameaçadora ou desagradável. O negócio era que eu não era orgulhosa. Eu apenas queria conquistar as coisas do meu jeito. Só que ninguém entendia aquilo e ficava me julgando como orgulhosa.


- Você pode mesmo marcar uma reunião com o editor que conhece? – perguntei como quem não quer nada, mas com um ar acabado.


- Claro. Ele almoça no meu restaurante quase todos os dias. Ele diz que a minha lagosta é a melhor da cidade – ele riu.


- E o que eu lhe devo por isso? – esquadrinhei meus olhos, mostrando-me perigosa - Porque está bem claro que você quer alguma coisa em troca por esse favor.


- Quero – ele disse – Quero uma noite com você. Tudo bem?


Eu fiquei lá piscando enquanto corava.


E foi aí que ele caiu na risada.


- Você precisava ver a sua cara. Está hilária – ele apontou para mim ao mesmo tempo em que tentava respirar, por conta do riso incessante.


Fechei a cara.


- Eu não quero nada em troca, Lily – ele juntou nossas mãos, e riu mais baio - Só quero lhe ajudar – ele assentiu, afirmando com a cabeça.


- Você não faria isso em troca da minha amizade.


- Eu já tenho a sua amizade.


- Então, o que quer?


- A sua felicidade. É isso. Nada mais. Quero vê-la feliz.


Olhei-o desconfiada. Ele relaxou a expressão.


Mordi meu lábio, indecisa.


Aquele James ainda carregava o sentimento do James de Antes, sabe. Eu tinha certeza daquilo.


Ele ainda era o mesmo James meigo e fofo. Sem a parte de querer me beijar. Porque se ele quisesse me beijar, já teria feito.


- Tudo bem – eu disse, dando-me por vencida.


A verdade é que aquela guerra não ia nos levar a lugar algum, então achei melhor cortar o mau pela raiz mesmo.


Ele ficava feliz por me ajudar e eu ficava feliz por trabalhar em um lugar que dava mais valor ao meu talento.


- O quê? Você aceita? – ele ergueu as sobrancelhas, muito surpreso.


- Aceito – assenti – Mas só se você me prometer que fazer uma coisa por mim.


- Qualquer coisa! – ele ofegou, mostrando-se muito feliz.


Eu não sabia muito bem como abordar o assunto, mas fazia dias que eu vinha pensando naquilo.


James já tinha se tornado novamente parte de minha rotina, e eu não podia negar aquilo. Ele era um cozinheiro apaixonado e gostava do renome. Então achei que ele – por ser tão auto-realizado – podia dar uma opinião. Mesmo que ele não tivesse nenhuma ligação a o que eu iria lhe pedir para fazer.


Bem, ainda que ele fosse do tipo que gostava de ler, eu não podia dizer que ele iria apreciar ler o tipo de história que eu estava prestes a pedir para acompanhar.


- Bem... você sabe que desde a escola eu gostava dessa coisa de escrever, não sabe?


- Claro. Eu me lembro das matérias que você escrevia no jornal da escola. E com certeza faz um ótimo trabalho como colunista na Fifteen.


- Obrigada – agradeci pelo elogio, mas decidi que não podia me atrapalhar, senão nunca iria pedir a ele o que queria – Então, hm, eu escrevi uma coisa.


- Que coisa?


- Um livro, quero dizer – corrigi – Escrevi-o na faculdade e queria que você lesse, se quisesse, sabe.


- Um livro? – ele pareceu ficar muito admirado. Seu sorriso nunca pareceu tão brilhante – Que genial!


- Bom, só a Kathleen o leu. Ela diz que ficou fantástico, mas você sabe, ela é minha amiga. Pode ser que ele nem seja fantástico.


- Aposto como ele é – ele disse.


Eu ri.


- Você ainda nem o leu! – acusei-o.


- Eu sei que você é uma ótima escritora. Qual o nome do livro?


- Chama-se Milhões de Corações Sorrindo Pelo Ar. É, hm, uma comédia romântica. Tipo, sei lá, o filme Letra e Música, sabe?


- Hm, na verdade, não – ele riu – Mas prometo que vou ler.


Comecei a examinar minhas unhas com a pior das sensações. Como se eu tivesse feito a burrada mais estúpida da minha vida.


Agora eu sabia por que o Max nunca quis ler o meu livro. Garotos não lêem nada que tenha amor no meio. A menos que eles sejam gays. Mas o Max não era gay.


Mas, mesmo assim, como eu podia explicar a felicidade do James para começar a ler meu livro?


- Se você não gostar, pode falar. É para isso que o estou mandando, sabe. Não sei realmente se você irá apreciar, porque meu livro parece que é mais destinado à meninas de 14 à 21 anos, mas sei lá.


- Lily. Mande-o e eu leio. Amanhã é sábado, posso lê-lo o dia inteiro.


- E o restaurante?


- Seu livro parece que vai prender a minha atenção – ele sorriu.


- Mas você nem sabe do que se trata!


- Mas foi você que o escreveu. Você é espeta o bastante para escrever sobre algo que interesse a maioria.


- Mentira. Quando estudávamos juntos, eu escrevia sobre assuntos que nunca a maioria dava atenção.


- Mas aquele pessoal era lesado – ele me explicou, rindo. Eu o acompanhei no riso.


- Bem, vou mandá-lo por e-mail, okay?


- Certinho – ele disse, sorrindo-me.


Fechei os olhos por um segundo.


Era impressão minha ou eu tinha acabado de fazer a coisa mais imbecil da minha vida?


~~~~ 


Narrado por: James Potter
Local: Cobertura Albert Towers
Horário: 08:35h
Quando:
20/DEZEMBRO – segunda


Não consegui ler o livro de Lily em um só dia. Meus olhos começaram a formigar de tanto olhar para a tela do laptop e eu tive que continuar no domingo.


Mas ter parado na melhor parte (na parte em que a menina descobre que vai morrer, porque os médicos simplesmente não sabem como tratar a Doença de Lyme, pois o caso da menina é muito avançado e ainda eram anos oitenta e não existia a penicilina), não me prejudicou muito, porque isso só serviu para eu ansiar por ler mais.


Bem, eu não era um entendedor muito bom nessas coisas. Os únicos livros que liam eram relacionados à culinária ou à culturas diversas. Nada de livros de romance entre uma menina escrava e um dinamarquês. Mas eu realmente não posso dizer que não tenha apreciado o livro de Lily.


O modo como o dinamarquês lidou com a situação foi bem sensato.


E por eu ter gostado tanto de sua história não me refreei em já lhe mandar um e-mail acerca disso, logo na manhã de segunda-feira.


Para: Lily Evans
De: James Potter
Assunto: Milhões de Coração Sorrindo Pelo Ar
Oi, Lil (:
Então, eu li o seu livro. Não consegui lê-lo no sábado, desculpe. E devo pedir desculpas também por não ler com muita freqüência livros românticos para poder opinar com mais afinco sobre o seu. Mas de uma coisa eu sei: você é uma excelente escritora e você tem um futuro muito promissor. Já tentou publicá-lo? Acha que é uma idéia que você deveria considerar.
Vemo-nos por aí. 


~~~~ 


Narrado por: Lily Evans
Local: Prédio da Fifteen
Horário: 09:41h
Quando:
20/DEZEMBRO – segunda


Tudo que eu pensava era: “será que ele já leu? E agora? Será que agora ele já acabou de ler?”. Porque, hey, ele estava lendo o meu livro. Um livro que falava sobre um amor entre uma escrava e um dinamarquês, ambientada da década de oitenta. Sobre o que mais eu poderia escrever? Eu não sabia ser engraçada, nem contar história de terror. De modo que apenas me restou o gênero do romance. Não era culpa minha.


E tudo começou a ficar mais intenso quando eu percebi que tinha recebido um e-mail de James.


Não que eu estivesse pensando que ele estivesse mentindo, ao dizer que eu era uma excelente escritora. Mas será mesmo que aquilo livro tinha um futuro promissor? E se eu o publicasse e ninguém o comprasse?


Eu não queria ser uma escritora pobretona e frustrada. Alguma coisa tinha que dar certo, não tinha?


Será que era uma boa idéia tentar publicá-lo?


Quem se interessaria por uma escrava virgem e por um dinamarquês cafeicultor?


Além de mim, da Kath e do James (aparentemente), claro.


___

N/a: oi oi *-* eu apareci de novo. Olha, esse capítulo estava difícil de sair, sabe. Eu estava meio manca das idéias. Mas, é, ele enfim saiu. /palmas/ Só quero que comentem, certo? Estou mesmo meio triste por que os comentários diminuíram. Comentar não fere, juro. Vai, na verdade, fazer uma pessoa muito feliz. Beijo beijo ;*

Nina H.


07/03/2011

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Comentários (1)

  • camila prongs.

    James é um fofo. OMG como a Lily me deixa um desses em Londres? Eu quero um desses para mim. Será que ela vai publicar o Milhões de Corações Sorrindo Pelo Ar? ((((:

    2011-03-08
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