Capítulo 13



Capítulo XII


Flashback – Último semestre do último ano
Local: Rua Union Street – casa dos Evans
Horário: 22:03h
Quando:
27/Março – sábado


De alguma forma totalmente inexplicável, James Potter tinha enxergado em Lily Evans algo que nem mesmo ela era capaz de enxergar. Criaram um tipo de ligação que não era necessário tantas palavras; pela primeira vez na vida, ela me sentia confortável se estivesse em silêncio, ao lado dele.


Poucas coisas definiam sua vida e quem ela era, mas tudo se resumia em uma só palavra: James Potter.


Estar apaixonada era estranho. Ela não tinha sentido aquele sentimento muitas vezes na vida e senti-lo tão intensamente quase a fazia perder a cabeça.


Saber que alguém – o capitão do time da escola – a amava por ser quem ela era, não era uma tarefa muito fácil de ser digerida. Lily ainda tinha suas dúvidas, mas fingia que se esquecia delas nos momentos em que estava com James.


James a fazia sentir a menina mais especial de todas, sempre deixando flores em seu armário ou bilhetinhos carinhosos (coisa que nunca tinha feito com uma menina antes). Lily retribuía com ainda mais intensidade todo aquele amor, ainda que ela não visse muito futuro nele.


Mas ela estava feliz, e era a única coisa que importava.


Os beijos de James, os sorrisos... tudo a fazia feliz.


~~~~ 


Narrado por: Lily Evans
Local: Prédio Lancelot
Horário: 19:28h
Quando:
28/DEZEMBRO – terça 


Aparentemente eu tinha me esquecido de ler aquele artigo sobre o que as mulheres grávidas não podem beber ou comer. E isso só provava o quanto eu e todo mundo que estava à minha volta era um zero à esquerda nessa coisa da gravidez. Éramos, com certeza, as piores pessoas do mundo. Por que ninguém (nem mesmo o Max, mas ele tinha admitido que também ainda não tinha chegado a ler o artigo por inteiro) em sã consciência me daria uma (duas, na verdade. Bem, eu acho. Foram duas certo?) taça de vinho do porto. Ou sei lá qual vinho era. Sei que era caro e de uma marca que eu nunca tinha visto. Mas tudo bem, não morri, morri? Estava bem e numa boa. Não podia culpar o James por aquilo. Mas, tudo bem, a culpa devia ser minha. Eu deveria ter lido aquele maldito artigo. Quem o encontrou foi minha mãe. E ela tinha me mandado por e-mail e eu o tinha enviado para o Max (porque ele, com certeza, cuidava bem mais de mim de que eu mesma; ainda que ele tivesse metido algumas coisas bem toscas na cabeça, tipo, não andar de ônibus ou comer ostras).


Mas tudo bem. De novo.


Eu estava quase me habituando com aquela coisa de gravidez (porque eu sempre chamava aquilo de “aquela coisa”, como se eu tivesse uma doença terminal?) e também estava pensando muito sobre aquela outra coisa.


O meu livro.


Talvez o James pudesse estar certo. Eu deveria tentar publicá-lo. Foi isso que todos os escritores mundialmente famosos fizeram, certo? Eles simplesmente terminaram seu primeiro livro e procuraram milhares de editoras. Eles com certeza não o imprimiram e o deixaram em uma gaveta esquecida no canto da sala. E tenho ainda mais certeza de que todos os escritores casados fizeram seu companheiro ou companheira ler o seu livro para ter, ao menos, uma base quase sólida. Mas é, eu também estava superando aquilo. Talvez um dia o Max fosse ler Milhões de Coração Sorrindo Pelo Ar. Eu não podia dizer muito sobre aquilo, porque, né, ele estava sendo um amor comigo em relação à gravidez. Ele estava sendo um bom, digamos, marido, ainda que não estivéssemos casados de fato.


Mas claro que os preparativos para a noite de Natal debilitaram um pouco meus pensamentos, porque minha mãe e todas as minhas tias fofoqueiras estavam lá em casa conversando e fazendo comida e rindo feito hienas. E claro, os pais do Max também estavam lá e o irmão dele (que não fazia muita coisa além de assistir Os Simpsons), o que me deixou completamente louca de verdade, porque, sabe, é tudo muito bom quando só estávamos eu e o Max, mas quando chegava o povo da família era o caos. Não que eu não gostasse do Natal, para reunir a família e tudo, mas o apartamento não era especialmente gigante, sabe. Comportava um número aconchegante de pessoas. Mas além da família, claro, eu tinha chamado alguns amigos (incluindo Kath, James e Maggie – não que eu desejasse que ela aparecesse) e Max também tinha convidado pessoas de fora do lar. Então aquilo significava que a casa estava abarrotada e muito barulhenta.


Minha mãe não parava de repetir para mim que eu e o Max devíamos sair em viagem de novo para comemorar o Ano-Novo em um lugar diferente, como se ela não tivesse plena consciência de que eu e ele estávamos trabalhando naquele período. Além do mais, ela também parecia ter se esquecido da viagem para Veneza.


Além das confusões habituais, o Natal foi aproveitado com poucas surpresas.


James estava lá e nós conversamos um monte sobre o meu livro, sobre a Mojo e sobre coisas bem menos substanciosas. Ele tinha me dito que a minha entrevista com o editor-chefe tinha sido marcada para a véspera do Ano-Novo e eu não pude me conter de tanta felicidade que tive de lhe dar um beijo (na bochechas, pessoas) na frente de todo mundo. A Kathleen, claro, quase morreu quando viu o que eu fiz (por que ela nunca estava longe de mim o suficiente para eu beijar quem eu quisesse?) e ficou dando pulinhos, como se soubesse que eu estivesse nutrindo mais uma vez o amor intenso que já tinha se apagado por James.


Além do beijo e das conversas amigáveis que o James e o Max tiveram (e que me deixaram altamente surpresa), a noite terminou cansativa, como todas as noites festivas, mas numa boa.


Na noite do dia vinte e sete, eu estava checando meus e-mails (porque o James me mandava alguns e-mails bem bonitinhos, daqueles que continham gatinhos e focas), quando me deparei com um da Mojo. Era o editor-chefe, dizendo que a entrevista tinha que ser antecipada para o dia vinte e oito, bem no dia seguinte. Eu, que não estava ansiosa nem nada (até parece), só fiquei torcendo para que tudo desse realmente certo. Porque eu estava sonhando com aquele dia há anos, sabe. Antes mesmo de terminar a faculdade.


Na manhã do dia seguinte, eu só conseguia pensar na entrevista. Quando disse para o Max aonde estava indo, ele não acreditou e acho que não ficou muito feliz por mim, não. Mas e daí, não? Eu não estava ligando para ele. A única coisa que ele me disse foi que me levaria até o prédio do editor-chefe, mas eu lhe disse que James iria me fazer aquele favor. E daí o Max ficou todo:


- Espere. O que o James tem a ver com isso?


Eu, que não era muito idiota nem nada e já sabia que não adiantava esconder as coisas de Max, resolvi falar a verdade. Bem, fazia meses que ele estava me vendo choramingar pela Mojo e nunca tinha conseguido nem falar com ninguém (além das secretárias), e do nada agora eu estava indo para fazer uma entrevista. Era muito diferente, mesmo.


- Bem, foi ele quem me arrumou a entrevista. Ele conhece o editor-chefe – não pude esconder o meu sorriso enquanto passava os dedos por meu cabelo.


- Você vai abandonar a Fifteen? – ele fez uma careta e sua voz, eu pude notar, não estava toda agradável.


- Bem, se eu conseguir um emprego na Mojo, talvez sim.


- Mas se você já trabalha feito uma escrava na Fifteen, que é uma revista pequena, imagine o tanto que irá trabalhar na Mojo, Lily! – ele exclamou com um tom altamente indignado.


- Depende do que eu farei, na verdade – corrigi-o, pensando bem naquilo. Porque realmente dependeria, se pararmos para pensar - Quero dizer, você sabe que meu sonho não era trabalhar em cima de layouts, Max – eu ri, rolando os olhos.


- Mas você tem aquela coluna! Achei que estivesse feliz com ela!


Parei por um momento.


Meu Deus, como era difícil ter uma conversa realmente feliz com aquele cara!


- Mas não é apenas isso que eu quero fazer. Lembra quando fomos para Veneza e eu fiquei aquela semana ajudando as Flocos de Amor? – ele assentiu, aborrecido – Então, quem sabe eu poderei abrir uma sessão assim, sabe. Para ajudar pessoas com conselhos – dei de ombros, sentindo-me meio envergonhada.


- Mas Lily! E como fica o nosso casamento?


- O que tem ele? – estranhei, fazendo uma careta e rindo, descrente.


- Se você trocar de emprego logo agora, vai trabalhar feito uma mula, e não terá tempo nem para ir passear comigo, caso queira.


- Max. Nós quase nem fazemos programas legais. Você sabe disso. E você nunca se importou com passeios.


- E o nosso filho?


- Ele ficará bem. Isso não o afetará!


- E se afetar?


- Não vai. De onde você tirou isso? – exclamei, zangada.


- Não acho que você esteja realmente se empenhando na gente, Lily.


Aí eu ri, sabe. Foi um riso completamente furioso e descrente, mas foi um riso.


- Tá bom, mais tarde nós conversamos, okay? Não estou com paciência nesse minuto – falei, passando um batom qualquer que eu tinha pegado da minha cômoda.


- Você o quê, Lily? – ele franziu o rosto - Não está nem um pouco pensando em nós?


- Meu Deus, Max. Não é isso. Eu só estou tentando ser alguém, sabe. Alguém que já faz muito tempo que quero ser. Dá para me apoiar, por favor?


- E você ainda duvida do meu apoio? – ele perguntou em um tom nada contido.


- Sinceramente? Duvido todos os dias – eu disse, suspirando.


E foi aí que o Max disse aquilo pela primeira vez:


- Então acho que não me ama o suficiente.


E, de verdade, aquilo foi a resposta mais estúpida do mundo.


Por que eu o amava, sim. Eu tinha o meu jeito esquisito de amar, mas ainda era amor.


Mas e o que eu poderia dizer sobre ele? Será que ele me amava o suficiente? Porque, muitas vezes, parecia que não, principalmente tenho em vista o comportamento dele em relação ao meu emprego.


Qualquer um teria ficado no mínimo contente por saber que eu estava prestes a realizar um dos meus sonhos, que era trabalhar na Mojo. A Kath estava quase parindo um dinossauro pelo umbigo de felicidade. Mas o Max? Ah, não, ele não. Ele só ficava preocupado com as horas que eu precisava trabalhar, como se eu nunca lhe desse atenção.


De verdade, que tipo de relacionamento era aquele? Ele nem ao menos tentou ler um capítulo do meu livro. Ele nem estava se importando se eu estava prestes a me tornar uma das meninas mais felizes do mundo.


- Sinceramente, depois dessa, só me resta ir embora – eu falei nervosa, pegando minha bolsa num repelão.


- Isso, vai, vai só pensar em você! – ele berrou do quarto.


Eu expirei e inspirei com muita calma (eu tentando fazer isso com muita calma) e andei a passos apressados até ao corredor.


Lá embaixo, James já me esperava. Não deixei de sorrir ao vê-lo.


~~~~ 


Narrado por: James Potter
Local: Prédio Lancelot
Horário: 23:00h
Quando:
01/JANEIRO – sábado


Lily, como tinha comentado no Natal, me convidou para retornar ao seu apartamento para comemorarmos o Ano-Novo.


Claro que não estávamos a sós. Sua família, seus amigos, a família de Max e seus convidados estavam também presentes.


Não que eu fosse adepto a ficar analisando sentimentalmente as mulheres que me cercavam, mas eu tinha notado algo de diferente em Lily. Algo que tinha se apagado, sabe? Algo que estava ali, e de repente tivesse desaparecido.


- Só estou cansada, sabe – ela me disse, quando lhe perguntei sobre – Final de ano é cansativo.


- Tem certeza de que não quer falar mais sobre o assunto? – indaguei-lhe, calmo, enquanto segurava a minha taça.


- Bem... – ela olhou para os lados e abaixou a voz – Desde que compareci à entrevista com o cara da Mojo, Max anda meio... – ela parou e olhou de novo para os lados - sabe? Ele acha que estou pensando apenas em mim.


- E isso tem mesmo fundamento?


- Claro que não – ela respondeu, balançando a cabeça, indignada – Ele sabe que eu sonho em trabalhar na Mojo desde a faculdade, mas ele não consegue aceitar, sabe. Ele acha que se eu trabalhar lá na Mojo estarei me matando ainda mais de tanto trabalhar. Ele lhe disse que é lógico que depende da função que irei praticar. Mas ele ainda não quer me escutar. Ele está chateado, sabe.


- Bem, do que adianta você estar ao lado dele se não pode ser feliz do jeito que quer? – perguntei, com um ar de amigo.


- Eu sei, mas e se ele nunca entender o meu lado?


- Apenas faça o que tem de fazer. Ache a sua felicidade – dei de ombros.


Ela abriu um sorriso vagaroso.


- O que foi? – eu quis saber, também abrindo um sorriso.


- Você sempre foi bom com conselhos – ela disse, rindo e colocando uma de suas mãos em meu ombro.


- Talvez – eu considerei, fazendo uma cara de modesto e uma careta mínima.


- Não, é sério. Desde o colégio – ela confirmou, ainda rindo.


Mas nisto, Max chegou um pouco sério demais ao lado de Lily.


- Anabeth quer falar com você. Quer reclamar do presente de Natal – ele segurava o antebraço de Lily com muita vontade, como se estivesse com raiva.


- Diga a ela que já vou – ela se desvencilhou rapidamente e com um gesto gentil do namorado.


Ele soltou um muxoxo alto, fez uma expressão zangada e olhou de novo para Lily.


- Eu preciso falar com você – ele disse, entre dentes, olhando-me de esguelha.


- Max – seu tom de voz estava pesaroso – Agora não – ela sorriu para mim, como se não estivesse falando com Max com um pouco de fúria.


- Agora sim, venha – ele a puxou para longe de mim, antes que eu pudesse dizer qualquer palavra.


E essa foi a penúltima vez que vi Lily, porque a última foi quando eu me despedi dela, na porta. Apenas restava sua família ali e a família de Max.


Lily não me pareceu muito feliz, no final da noite. Parecia estar ainda mais aborrecida.


- Vemo-nos por aí – ela me disse.


- Eu lhe mando um e-mail. Sobre, você sabe, a editora ou sobre a Mojo – ele lhe disse em seu ouvido.


- Certo. Ficarei esperando – ela tentou sorrir, mas suas feições estavam muito abatidas para a tentativa dar certo.


E então eu fui embora.


E ainda que eu estivesse com muito ânimo para continuar ao seu lado, preferi realmente ir para casa para cuidar de seu futuro. Não havia mais nada que eu quisesse fazer além de fazê-la estar ao lado de sua felicidade.


Eu já tinha tentando a editora Bloomsbury, mas o Percy tinha me garantido que eu me daria bem com a Faber & Faber.


Percy também tinha me garantido que tinha gostado muito de Lily, e que fazia anos que não via uma jornalista que amasse tanto o seu trabalho, então eu estava esperançoso.


Estava tão esperançoso sobre aquilo quanto estava sobre ser alguém para Lily.


~~~~ 


Narrado por: Lily Evans
Local: Prédio Lancelot
Horário: 10:00h
Quando:
03/JANEIRO – segunda-feira 


Um dia de folga.


Realmente eu poderia ter ganhado mais, mas Maggie era uma megera, então nós só ganhamos um dia de folga.


Não que eu estivesse excessivamente reclamando. Porque naquele dia eu tinha planejado dar um pulinho no obstetra, porque eu estava começando a achar que parar de sentir enjôos logo no início da gravidez era algo bem estranho. Sei que a maioria espera a época de enjôos terminar, mas eu estava começando a ficar preocupada.


Claro que eu chamei o Max para ir junto comigo, ainda que eu e ele não estivéssemos enfrentando os nossos melhores dias. Eu ainda esperava a resposta da Mojo e o James tinha me prometido que arcaria com o trabalho de arranjar uma editora que quisesse meu livro, já que ele o tinha adorado (por mais que eu soubesse que houvesse uma pitada de exagero naquilo tudo).


Max até que se animou um pouco quando eu disse que o queria junto a mim na consulta.


Mas tinha algo estranho, sabe.


Não em Max, depois da consulta. Eu me lembro de ter perdido o meu chão. Não que eu estivesse realmente rejeitando aquele filho (bebês, como eu já disse antes, são uma bênção), mas ainda que eu estivesse aliviada, eu também estava decepcionada.


Claro que quando o Dr. Klent me disse “Mas houve algum erro aqui”, eu fiquei aturdida de imediato e um calafrio percorreu o meu corpo, de medo.


Então o Max quis entender. Perguntou:


- Como assim?


O doutor olhou para mim com uma cara não muito contente e disse, com uma voz de quem sente muito:


- Você não está grávida.


Eu fiquei lá piscando, como se fosse uma criança de cinco anos que estivesse no meio do parquinho e não encontrasse mais a minha mãe.


- O quê? – eu e Max perguntamos.


Max tinha empalidecido.


Eu levei minha mão à minha barriga.


Como assim eu não estava grávida?


Eu tinha o que dentro de mim então, todo aquele tempo? Um pé de jabuticaba?


- Bem, na verdade é bastante normal. Algumas gestantes simplesmente perdem seus fetos logo nas primeiras semanas.


- Mas eu não o perdi. Eu saberia – eu comecei a negar, perdida.


- Talvez pudesse ter sido gravidez psicológica. Nesses casos, tudo indica realmente uma gestação, mas não há nada, entendem?


Eu levei a outra mão (que não estava na minha barriga) à cabeça. Fechei os olhos por um instante e recostei um pouco.


- Eu não posso acreditar nisso – eu disse, bem devagar.


- O senhor está errado! É claro que Lily está grávida! Ela é mulher, ela sabe – Max parecia tão pior quanto eu, mas carregava também raiva.


- Sinto muito, mas... não, ela não está. Não há nada na barriga dela além do café da manhã.


Eu estava mesmo prestes a chorar. Eu sei que era ridículo, mas, hey, era meu filho, entende. Ele tinha mesmo vindo em uma hora completamente errada, mas ainda assim era meu filho. Claro que Max estava mais feliz do que eu em relação àquela novidade, e eu não o podia culpar, porque... bem, não sei. Alguns caras são mesmo estranhos. Não são todos que aceitam a paternidade tão bem quanto o Max tinha aceitado.


Olhei, então, para Max. Ele parecia um garotinho que tinha feito seu pirulito cair no chão. Sabe aquela cara? Exatamente. Era a cara do Max naquele momento.


- Max? Está tudo bem – ele sorri pequeno, tentando controlar a situação e fazer com que ele não batesse no doutor.


- Mas... era nosso filho. Era nosso – ele falou como quem fala com uma criança.


- Teremos outras oportunidades – eu disse, tentando me recompor.


- Mas isso... era... ah, meu Deus – Max repetia.


Então, eu coloquei de novo minhas roupas. Não havia muito que debater depois daquela incrível revelação. O doutor me recomendou um pouco de descanso e eu assenti. O Max só parecia que estava no mundo da lua.


Voltamos para o apartamento, completamente abatidos (é, eu não estava muito feliz com a gravidez, mas eu não estava também comemorando a perda, porque né). Max se trancou em seu escritório e me deixou na sala, sozinha. Eu sei que ele estava sofrendo (ele queria o filho bem mais do que eu, convenhamos), mas o que custava me dar apoio também? Tipo, dizer um “eu te amo”, ou um “vou preparar algo para você comer”? Mas eu sabia qual era o problema do Max. Ele ainda estava chateado com a situação da Mojo. Com certeza ele estava até mesmo torcendo para que eu não fosse admitida pelo editor-chefe.


Então, esquecendo-me que era uma segunda-feira normal para todos os outros cidadãos, disse para o Max que iria dar uma volta. Ele insistiu que iria junto, mas eu disse que não era necessário. Então, ele apenas disse:


- Tudo bem – e tornou a fechar a porta do escritório.


Eu fiquei parada na sala ainda por alguns segundos e então peguei a chave do meu carro e dirigi até a pessoa que eu sabia que poderia me ajudar naquele momento.


Não era a minha mãe. Ela estava ocupada demais fazendo uma viagem pela serra com meu pai.


Não era a Kath (ainda que ela também estivesse de folga), porque daquela vez conversar com ela não iria me melhorar em nada.


Dirigi para o apartamento de James.


E fiz uma besteira, porque tinha me esquecido que ele estava trabalhando.


Perguntei por ele para o porteiro do prédio, mas o porteiro me disse que ele tinha saído logo pela manhã e não sabia a que horas voltaria.


E foi aí que me lembrei do restaurante.


Dirigi até lá ouvindo uma canção melosa, que me fez pensar um pouco naquela minha nova situação.


Um dia eu acordei e descobri que estava grávida. E de repente acordei de novo e não estava mais.


Esquisito, não?


- James?  - chamei, logo que pisei no restaurante. Não o via na parte da frente, mas caminhei até o balcão, onde ele sempre estava. Nada também. Meu peito se apertou. As lágrimas quiseram vir.


- Lily? – Hannah me chamou, com uma voz preocupada.


- Ah, Hannah! – eu sorri, respirando com rapidez – Cadê o James?


- Por quê? Você irá assaltá-lo? – Hannah perguntou.


- Não!


- É que pela sua expressão, parece que você está bem a fim de bater em alguém.


- O quê? Eu só... eu só preciso vê-lo. Onde ele está?


- Lá na cozinha ensinando um novo molho para os... – ela andou mais rápido - Mas, hey, você não está autorizada a entrar na cozinha! – os saltinhos de suas botas me incomodavam enquanto ela corria para me alcançar.


- É só um segundo – eu disse a ela – James? – perguntei, enfiando a cabeça para dentro da cozinha.


Ele não respondeu.


- James? – perguntei de novo, agora com cautela.


- Lily? Uau, quer aprender também a...


- Não – eu o cortei – Preciso falar com você. É só um minuto. Pode sair daí, por favor?


Ele largou o avental e o chapeuzinho branco. Parecia feliz por me ver, tanto é que sorria (mas tudo bem, ele sempre sorria quando me via).


- Seu horário de almoço está um pouco adiantado, hein? – ele brincou, olhando as horas no relógio.


- Estou de folga. Não vim aqui para almoçar.


- Ah. Quer saber sobre a resposta do Percy, não? Então, ele me disse que lhe ligava para confirmar... e sobre a Faber & Faber... nada ainda... sinto muito. Mas pode ser que agorinha mesmo alguém da editora esteja lendo o seu livro, nunca se sabe! – ele falou rápido demais, todo feliz.


- Não, não, não! – eu disse, gesticulando com as mãos – Não é isso – eu respondi – Eu não estou grávida.


- Então... o quê? Você o quê? – ele arregalou os olhos, eu bem vi.


- Acho que nunca estive grávida de verdade. Acabei de confirmar com o médico. Acho que perdi meu bebê.


- Woe, woe, como assim? – ele me amparou, colocando suas mãos em meus ombros.


O legal é que estávamos tendo essa conversa no meio da cozinha, sabe.


Levei minhas mãos à cabeça. A vontade de chorar parecia mais forte agora.


- E-eu não sei – respondi – Só sei que... não estou mais grávida.


- Como o Max reagiu?


- Você sabe, ele ficou um pouco surpreso, daí ficou triste e acabou se trancando no escritório.


- Caramba. Mas você tem certeza disso?


- Tenho. Eu perdi, sabe. Simplesmente perdi.


E foi bem aí que ele sugeriu que entrássemos em meu carro, porque o cheiro era enjoativo ali e havia muitas pessoas em volta.


No carro, eu não suportei e chorei.


Estava tentando me fazer de forte, porque eu sabia que não estava tão triste quanto Max, mas mesmo assim. Não é toda hora que você é mãe e do nado lhe dizem que não é mais. É complicado, sabe?


O James ficou lá ao meu lado, apenas me vendo chorar, como costumava fazer quando éramos namorados e eu ficava reclamando sobre coisas insignificantes para ele (mas ele sempre me escutava e tentava arranjar uma solução). Ele me abraçou e eu fiquei lá em seu peito chorando.


Eu sei que deveria ter feito aquela cena com o Max, sabe. Chorado junto ao Max, não junto ao James, mas naquele momento eu estava me sentindo tão, mas tão distante de Max, que nem mesmo a notícia sobre a perda de nosso bebê poderia nos juntar como sempre.


No final das contas, James me ofereceu um chocolate-quente, que eu aceitei apenas por educação.


James se ofereceu para dirigir e me levar até em casa. Eu aceitei, porque ele estava sendo uma fofura comigo e não queria que ele soubesse que eu estava mesmo com muita vontade de apenas morrer em algum lugar, no frio e na neve.


Despedimo-nos e ele pegou em táxi. Eu disse que pagava a corrida dele, mas ele não aceitou (e como eu estava muito debilitada até mesmo para brigar com ele, deixei quieto) e foi embora.


Quando voltei para a sala do apartamento percebi que o Max continuava em seu escritório. Quis entrar lá e fazer com que ele me abraçasse do mesmo modo carinhoso e protetor que o James tinha feito minutos antes, mas desisti da idéia, assim que percebi que havia um e-mail novo de uma tal de Alicia Conor. Eu não conhecia nenhuma Alicia Conor, mas resolvi abrir. E não me arrependi, porque naquele e-mail estava a segunda coisa que me faria a menina mais feliz do mundo.


De: Alicia Conor
Para: Lily Potter     
Assunto: contrato de publicação
Prezada Lily Evans, acabei de ler o seu livro, Milhões de Coração Sorrindo Pelo Ar, e quero lhe oferecer um contrato de publicação. Senti-me lisonjeada lendo-o e queria muito que você retornasse esse e-mail, com sua resposta.
Atenciosamente,
Alicia Conor
Assistente Editorial
Faber&Faber


Eu parei de respirar por um segundo, disso que tive certeza.


Tudo o que eu fazia era reler e reler o e-mail.


Um contrato de publicação?


Alguém tinha oferecido um contrato de publicação ao meu livro?


Então, saído correndo (literalmente) da cadeira e abri a porta do Max, com estrondo.


Ele levou certo susto.


- Você já voltou? – ele me perguntou.


- Claro. E você não sabe! – eu sorria profusamente.


- O quê? – ele parecia deprimido em cima de todos aqueles casos.


- Meu livro.


Ele suspirou.


- O que tem ele?


- Recebi um contrato de publicação! – eu grite, mais do que feliz.


- Vão publicá-lo? – ele fez uma cara de extrema surpresa, mas não ficou exatamente feliz. Só estava surpreso mesmo.


- Sim! Sim! Você acredita nisso?


- Lily, nós acabamos de perder o nosso filho e você fica aí toda animada por causa do um livro idiota? – ele me perguntou com toda a sua fúria.


Recebi aquela resposta como se fosse um soco.


- Um livro idiota? Você acha? Um livro idiota? Você sabe quanto tempo eu gastei para escrever esse livro? Quanto tempo eu gastei lendo sobre doenças e sobre escravidão e sobre caras dinamarqueses? Não, você não sabe. Sabe por que não sabe? Você nem leu o prólogo do meu livro. Você simplesmente me deixava escrever todas as noites e nunca se interessou em me perguntar sobre o que o meu livro se trata. E mesmo depois de ele receber uma proposta, você fica aí agindo como se soubesse de tudo! – eu estava arquejando, porque meus berros estavam sugando todas as minhas forças – Dê-me licença, Max! Mas você não sabe nem um pouco sobre a minha história com esse livro. E não tem o direito de chamá-lo de idiota!


- Ah é? E sobre o que se trata? Você uma menininha que acha que o mundo gira ao seu redor e que se apaixona pelo melhor amigo? – ele berrou.


- O quê? – meus olhos se estreitaram.


- Porque está bem claro que esse James a está ajudando mais do que deveria. Foi ele também que lhe arranjou esse contrato?


- Foi, e preciso agradecê-lo, porque esse é um dos momentos mais felizes da minha vida – gritei de volta.


E saí da sala. Ele me seguiu.


- Sinceramente, Lily – Max disse, agora com a voz mais baixa -, por que está fazendo isso comigo?


- O que estou fazendo contra você, hein? Só porque estou cuidando um pouco da minha vida, você acha que tem o direito de interferir? – berrei, morrendo de raiva, porque eu sabia que aquela era a verdade.


- Você é louca – ele disse, balançando a cabeça.


- Sou, sou mesmo louca. Porque eu sei por o que lutar ou por quem verdadeiramente se apaixonar. E sabe o que estou percebendo agora? Que eu não sei por que estou prestes a me casar com um homem que não consegue ficar feliz por uma conquista minha.


- Ótimo, então não se case. Vá procurar esse tal de James.


- Sabe de uma coisa? É exatamente o que irei fazer – peguei de volta a chave do carro, a minha bolsa e parti de casa.


Bati a porta com toda minha força.


Nunca tínhamos brigado tão feio.


~~~~


Narrado por: James Potter
Local: Prédio Albert Towers
Horário: 11:47h
Quando:
03/JANEIRO – segunda-feira 


Ela tinha voltado.


Não fiquei feliz por vê-la, porque sabia que tinha algo ainda mais errado com ela.


Sua feição delicada estava contorcida em um misto de angústia e fúria.


- Acho que não vou mais me casar! – ela me contou, com uma voz fingida de animação.


- De que está falando?


Ela veio até mim, ficou nas pontas dos pés e beijou a minha testa.


Arregalei os olhos. Muitas pessoas pararam de comer para olhar a ação de Lily.


- Adivinha! Fizeram uma oferta pelo meu livro! Recebi um e-mail da Faber&Faber!


- O quê? Que coisa fantástica, Lily! – eu exclamei feliz.


- É, mas o Max não pensa igual a nós, então acabamos brigando e acho que estou por um fio para terminar com o meu noivado.


- Mas Lily...


- Shhi, apenas fique feliz por mim! Meu livro vai ser publicado, cara! – ela estava saltitando na minha frente.


- Tudo bem, tudo bem, mas... – olhei ao redor e era claro que o restaurante queria saber o que aquela mulher maluca queria com o dono do estabelecimento.


- Pode largar isso por algumas horas? – ela me perguntou.


- Por quê?


- Estou pensando em comemorar.


- Mas Lily...


- Vamos para a sua casa. Você pode me ensinar a fazer aquele molho que fez para mim naquela outra noite. Venha! – ela me puxou alguns metros.


- Meu Deus, você está bem?


- Claro! Só estou feliz!


Então, nós realmente fomos para meu apartamento. Ensinei-a a preparar o molho de quatro queijos e tomamos vinho. Ela não parecia mais aquela Lily que tinha chorado no carro, sabe? Parecia que tinha se livrado de algo. Estava diferente.


E tudo acabou de um jeito também diferente. Ou ao menos do que eu pensava que terminaria.Tudo começou quando sentamo-nos ao sofá. Ela disse que ainda estava muito feliz, mas que precisava dormir.


- Por que está fazendo esse papel? – ela me perguntou, com voz de quem não está muito acordada.


- Que papel? – eu ri, não entendendo.


- Esse. Você está sendo muito bom para mim. Você não deveria. Eu ainda me lembro o que fiz com você. E garanto que você também se lembra.


- Não precisamos reviver o passado agora – eu falei, ajeitando sua franja, que caía nos olhos.


- Por que você não me procurou? Minha mãe poderia ter lhe falado onde eu estava.


- Lily.


- Eu senti a sua falta – a voz de Lily chegou aos meus ouvidos, sussurrada e calma.


Sorri discretamente, sentindo seu corpo sorrateiramente se aproximar do meu, e quando ela entrelaçou nossos dedos, uma onda formigante percorreu meu corpo.


- Eu também – respondi.


Senti-me ser puxado por um turbilhão de emoções desconexas. Por todos aqueles anos eu sufocara meus sentimentos por Lily, tentando afastá-la ao máximo de mim, empurrando-os para fundo de minha alma. E de repente, aqueles sentimentos presos extravasaram, deixando-me irracional. Lembrei-me dos beijos, das carícias...


E tudo começou a ser consumido por minhas lembranças.


Ela se aproximou ainda mais de mim e me beijou. Plantou seus lábios nos meus como quem estava sofrendo. Senti-a relaxar e se entregar. Afrouxou os braços em torno de meu pescoço e colou seu corpo junto ao meu.


Separei-me dela, ofegante.


- Lily – eu disse.


Ela colocou um dedo sobre minha boca.


Então, peguei sua mão e a levei para o quarto. Ela riu.


- Você pensa rápido demais – ela disse.


Ela deitou e me olhou, como se me convidasse para junto dela.


Minhas pontas dos dedos delinearam seu nariz e cheguei mais perto dela.


- Você está perdendo a cabeça.


- Perdi no momento em que não o tinha mais comigo – ela decretou, e me beijou mais uma vez.


Agora ela me beijava com pressa, desejo e paixão, enquanto eu tentava explorar timidamente seu corpo com as mãos. Sentindo a mesma boca quente e gentil de antigamente me fazer perder o fôlego, não pude reprimir os ofegos e os gemidos. 



____

N/a: oi oi *-* passei o dia ouvindo Paramore assiduamente e deu nisso: mais uma capítulo, tão rapidinho. Own own. Espero que eu os tenha deixado felizes *-* Eu fiquei feliz, tri o/ Só quero que comentem, certinho? Porque, poxinha, por esses dias me senti tão unicórnio perdido e tal, sabe? Tudo bem, esquece a parte do unicórnio. Mas, tá. Vou tentar escrever os outros capítulos rapidamente assim também (: Aliás, a fic está terminando, povo! É, pois é. Tudo termina um dia (e eu levei quase um ano para fazer essa fic terminar, muito tempo não?). Bem, vou indo. Não se esqueçam de comentar, por favorzinho. Beijo beijo ;*
#ps: obrigada a dominique, por me lembrar que mulheres grávidas não podem/devem beber coisas com alcool. Eu simplesmente tinha me esquecido disso. Mas, é, a Lily se redimiu, rsrs. 

 Nina H. 
 


08/03/2011


 

Compartilhe!

anúncio

Comentários (2)

  • Vanessa Sueroz

    ohhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh cara!!! eu adorei!! não acredito que terminou o cap!!! meu deus!!! ela perdeu o filho, conseguiu publicar o livro e ainda esta com o james??? o que mais faltou acontecer?? adoreiiii!!! é o melhor cap de todos!!!! Sò espero que continue assim!!

    2011-03-09
  • camila prongs.

    AAAAAAAAAAH *pulinhos de alegria* aaaah a Lily ta com o James *O* aaaaaaaaaaah aaaaaaaaaaah aaaaaaaaaaaaaaaaaaah não estou no meu estado normal (percebe-se), o.k. Fiquei tão feliz com o capítulo 13 *-* no próximo capítulo voltarei. auhauhaua

    2011-03-08
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.