Capítulo 7



Capítulo VII


Flashback – Último semestre do último ano
Local: Rua Great Russell – casa de Kelly
Horário: 22:12h
Quando:
10/Março – quarta-feira


- Então é isso? – a voz de Kelly estava tão gritada quanto se podia imaginar.


James não sabia bem como reagir àquilo. Certamente Kelly sempre tinha sido muito esquentada e fresca, mas a ponto de gritar de verdade? Aquilo nunca acontecera antes.


- Kelly, ouça, está bem?


- Não, não. Ouça você! Você... está terminando comigo! Ninguém termina comigo!


- Não estou terminando com você. Estou apenas pedindo um tempo, certo? O fim do ano letivo está se aproximando e eu tenho mesmo que enfiar a cara nos livros se quero passar na faculdade.


- Faculdade?! – Kelly tinha se espantado – Você nunca falou sobre essa porcaria comigo! Não quero falar sobre faculdades com você! Não quero nem mesmo ter essa conversa com você!


- Tudo bem, então eu vou embora e fingimos que nada disso aconteceu, está bem? Mas não venha me pedir para... – James passou uma das mãos pelo cabelo, impaciente.


Aquilo não estava ocorrendo da maneira como ele planejara em sua mente. Kelly não estava sendo nem um pouco compreensiva ou amiga.


- James! É com você que eu quero ir ao Baile, okay? Você não pode dizer que quer um tempo antes do final do ano! – Kelly disse.


- Kelly, será que só esse Baile idiota é que importa para você? – a expressão de James mudara; estava tensa e aborrecida.


- Tá legal, eu não quero nunca mais falar sobre isso – ela falou, febrilmente – Promete que não vamos mais falar sobre isso? – sua voz saiu tão melosa que James franziu a testa. Odiava quando ela agia daquele modo.


- Eu quero, eu preciso falar sobre isso, Kelly! – ele exclamou agora furioso.


- Ah, mas assim não dá! – ela revirou os olhos, muito abatida – Por que você quer falar sobre isso bem agora?


- Porque é importante para mim!


- Bem, eu não tenho culpa se você não tem pais que conseguem colocá-lo dentro de uma faculdade! – ela falou.


James pestanejou incrédulo.


Então tinha sido assim que Kelly tinha sido aceita na University Of London? Seus pais tinham tido conversinhas com os diretores? Bem, James não podia negar que não era bem típico da família dela.


- Eu quero merecer entrar em uma faculdade! – ele berrou.


- Ah, não, de novo não. Sem essa coisa de merecer, por favor. Já está me dando ânsia de vômito – ela agitou as mãos, irritada.


- Kelly, não dá para conversar com você – ele analisou, sacudindo a cabeça, cansado.


- Não dá para conversar com você. Até parece que estou ligando se estou entrando na faculdade por mérito ou porque meus pais falaram com o diretor – Kelly sussurrou de maneira bastante audível.


- Nos vemos amanhã, certo? – ele falou, direcionando-se para a porta do quarto da menina.


- James, sério? Você quer mesmo acabar com o que construímos? – a voz dela parecia tão pequenina, que James parou e a olhou.


- Não sei se construímos realmente algo de valor, Kelly – ele disse, por fim e se retirou do recinto.


x.x.x


Dois dias após a briga, na sexta-feira, Kelly estava conversando com suas amigas, quando viu Lily passar perto de seu grupinho. Estava sozinha e tentava ler um livro enquanto caminhava para a frente da instituição. Lily sentou-se em uma mureta, aguardando Jene sair da aula de Psicologia.


Kelly, então, despediu-se das amigas e caminhou até Lily.Não sabia o que a tinha levado a ser tão extremista, mas achou que poderia ser uma ajuda útil. Ficou cética por alguns segundos, até resolver se sentar ao lado da ruiva.


- Oi – Kelly lhe disse de maneira baixa, acolhendo melhor os livros em suas pernas de fora.


Lily parou de ler e ficou surpresa ao olhar para o lado e dar de cara com Kelly.


- Ah, oi – Lily respondeu rapidamente em tom agradável, porém não sorria.


- Eu já li O Pequeno Príncipe – a morena apontou para a capa do livro que Lily estava lendo.


Lily ficou chocada. Kelly conseguia ler?


- Ah, não. Eu já o li algumas vezes, mas perdi o meu exemplar e resolvi alugar o da biblioteca – Lily lhe contou.


- Ah. Eu ainda tenho o meu lá em casa.


Ficaram em silêncio por breves segundos.


- Tá bom, o que você quer? – Lily lhe perguntou, de supetão, olhando-a em incógnita.


Kelly se surpreendeu com a maneira direta de Lily e arregalou os olhos maquiados.


- Hmm, é que... – Kelly começou, brincando com os dedos, em um sinal claro de que estava apreensiva -... bem, eu e o James não estamos nos dando muito bem ultimamente... e achei que você soubesse de algo, já que vocês tem aula juntos. Achei que ele tivesse lhe contado algo. Se eu fiz algo errado ou se ele se cansou mesmo de mim.


Lily permaneceu calada brevemente.


O quê? Kelly Shantt recorrendo ajuda a uma impopular? Desde quando Kelly, ao menos, suportava olhar para as impopulares?


Lily suspirou, pensando no que Kelly lhe dissera.


Será que mesmo se tivesse algo errado no namoro de James, ele teria lhe contado?


Lily não tinha muita certeza quando àquilo. James parecia-se muito com ela naquele aspecto: era muito reservado e intimista.


James e Lily pouco falavam sobre relacionamentos amorosos. Claro, ele tinha lhe falado como conhecera Kelly e ela já tinha lhe dito que não sabia muito sobre beijos, mas não era realmente como se eles pudessem generalizar o tipo de assunto. E com certeza James nunca tinha falado muito sobre Kelly. Nada mais do que um simples “Kelly é muito diferente de mim”. Bem, tivera aquela vez, logo após a festa da Wanessa, que ele tinha quase contado algo. E tinha se referido à namorada como “só mais uma”, mas Lily não tinha tornado a questionar aquilo e tampouco tinha se interessado por aquele assunto. Sabia que amizades de apenas dois meses não podiam ser tão íntimas quanto um “a gente se vê mais tarde”.


- Bem... ele não fala muito sobre você – Lily ficou feliz em poder ser sincera.


- Ah, mesmo? – Kelly pareceu se decepcionar.


- Acho que você deve conversar com ele – Lily aconselhou. Espere, Lily dando conselhos a garota mais popular da escola?


- Antes de ontem ele quis conversar comigo, mas ele só quer falar das aulas e da faculdade... e depois nós nem nos vimos mais fora daqui. Você acha que ele quer mesmo terminar comigo?


- O quê? Ele lhe disse isso? – Lily se esforçou para não levar os dedos na boca.


- Ele pediu um tempo. Tipo, um tempo! Nunca ninguém pediu um tempo para mim! – Kelly pareceu chocada.


Lily fez uma careta solidária.


- Talvez ele só esteja sobrecarregado.


- De quê, pelo amor de Deus? Ele é o maior nerd em matemática!


- Talvez você o esteja sufocando – Lily disse e desejou imediatamente que as palavras ditas pulassem de volta em sua boca.


Kelly se surpreendeu e mordeu os lábios.


- Mas... como? Nós estávamos bem até que... – então a morena estreitou os olhos e soube qual era a resposta.


Só podia ser aquela menina.


Desde que James fizera amizade com Lily, tudo começou a desandar com seu namoro com Kelly.


Então a resposta estava mais perto do que Kelly jamais imaginava.


Porém, fingiu fofura, como se não estivesse louca da vida.


- Bem... James só quer ficar conversando e fazendo epifanias sobre o futuro... é tão chato que às vezes eu não quero nem ficar tão perto dele. É tão ridículo, não acredito que ele prefere ficar conversando a transar comigo! – Kelly estava possessa. Com os dois. Com James e com Lily.


Lily sentiu suas bochechas em brasa. Não acreditava que estava tendo aquela conversa na escola. Ainda por cima com Kelly Shantt.


- Ah... –Lily proferiu, ainda muito corada – Talvez ele só queira organizar o futuro. Muitas pessoas ficam esquisitas no final do ano letivo.


- Mas ele não ficou esquisito. Ele mudou. Completamente. Ele até fica conversando com o meu pai sobre os negócios do restaurante da minha família! E até conseguiu receitas com a minha mãe! Eu só... não entendo.


- James quer ser cheff de cozinha – Lily disse, assim que se lembrou.


- O quê? – Kelly arregalou os olhos.


- Você não sabia? Ele nunca lhe contou?


- Não! Quero dizer, cheff de cozinha? Por que não banqueiro ou cirurgião plástico?


- É o que ele gosta de fazer. Cozinhar. Do mesmo modo como eu amo escrever e ler. Isso se chama aptidão.


- Bom, então eu não tenho aptidão para nada – Kelly riu.


- Por que não tenta algo ligado à moda?


- Muito trabalho. Só gosto mesmo é de ver os desfiles.


- Então o que quer fazer?


- Tanto faz – a morena respondeu, dando de ombros.


Lily ficou abismada.


Como alguém não poderia estar pensando no futuro?


- Bem, preciso ir – Kelly se levantou da mureta, passou as mãos na saia, para desamarrotá-la e sorriu – Vou almoçar na casa da Shari. Nos vemos por aí – abanou e seguiu seu caminho.


Lily permaneceu sentada com seu livro no colo. Não sabia muito bem o que pensar sobre aquilo. Certamente nunca faria sobre aquela conversa com o James. Ele era o namorado de Kelly, afinal. Quem tinha que consertar as coisas eram eles, não Lily. 


~~~~ 


Narrado por: Lily Evans
Local: Prédio Lancelot
Horário: 08:31h
Quando:
31/AGOSTO – sábado


Maxxie, como eu previra, estava ótimo. Falamo-nos por telefone na noite anterior e ele me contara muito sobre o caso do Sr. Tolledo. Ele também falou sobre voltar só terça-feira.


- Querida, eu também não queria isso, mas a conferência acabou ontem e o Sr. Tolledo ficará na cidade até segunda, e eu terei que cuidar do caso dele com muito cuidado e de perto, porque as audiências dele começam semana que vem, e ele me procurou de última hora. Você entende, não entende? – Max tinha me dito ao telefone, enquanto eu estava tomando o meu banho de espuma com sais de rosas, porque eu precisava relaxar, considerando que eram quase uma da manhã e eu tinha que acordar às sete e meia, porque às oito e quarenta e cinco tínhamos uma reunião sobre a nova edição com a Maggie, e ela odiava atrasos.


Eu disse que entendia, mas Max não parou de falar. Não que eu não soubesse que ele não falaria um monte (como sempre), mas naquele momento tudo o que eu queria era o silêncio e uma musiquinha baixa para me fazer dormir. Estava entre a Colbie Caillat e a Taylor Swift, porque ambas eram bem boas nisso. Sabe como é, em me fazer dormir.


- Max? Importa-se se desligarmos? Você deve estar cansado e eu estou destruída. Precisamos de uma boa noite de sono, não? – falei em tom hesitante, porque sabia que ele detestava quando era interrompido.


- Não, não. Tudo bem. Amanhã nos falamos. A que horas vai sair? – ele me respondeu em tom também impaciente.


- Não sei. Tenho uma reunião com o pessoal bem cedo – informei, esperando que assim ele dissesse que não queria atrapalhar a minha noite de sono.


Mas Maxxie não parou por aí. Ficou explicando como seria a sua manhã no dia seguinte, e eu quase dormi o escutando. Então, quando ele perguntou “Lily? Você continua aí?” em um tom nada agradável, eu soltei um grande bocejo (que tive certeza de que ele percebeu) e disse:


- Continuo, mas não podemos desligar agora? Estou realmente exausta.


- Ah, claro – ele pareceu magoado, mas não me importei. Eu também estava bastante magoada por ele ainda não ter lido o meu livro e nunca conseguir controlar a língua, mas eu não reclamava em tons irritados, porque no fundo eu sabia que de nada adiantaria – Fique bem. Boa noite, querida. Amo você.


- Okay. Eu também – e desliguei.


Enxuguei-me ali mesmo, coloquei uma camisola e me atirei na cama.


Despertei com o despertador tocando pela terceira vez e vi que já eram 08:15h. Arregalei os olhos e me sentei de qualquer modo no colchão. Passei as mãos pelo meu cabelo ainda úmido (porque tinha me esquecido de secá-lo à noite) e desliguei o relógio. Parecia que acordara ainda mais cansada e ainda tinha que sair correndo para ter uma reunião do mês com a Margareth. Maravilha.


Engoli uma barrinha de castanhas enquanto decidia o que vestir. Peguei um vestido vintage salpicado de cerejinhas em um fundo preto e uma sapatilha clássica vermelha.


Disquei para Kath enquanto descia no elevador. Já eram 08:37h.


Maggie iria nos matar. Eu era a única que entendia de layout! Por quê, Senhor? Por que a Maggie não contratara outras chefes de departamento de layout? Por que tudo tinha que cair em cima de mim, sempre?


Droga, droga, droga!


- Kath? – rugi. O sinal era péssimo dentro do elevador. Interferência demais.


- AhmeuDeus,cadêvocê? – ela logo perguntou. Pelo seu tom eu estava duas vezes encrencada.


- Já estou chegando, juro. Estou saindo de casa.


- Saindo de casa, Lily? Caramba, você odeia o seu trabalho?


- Desculpa – pedi e saí apressada pelo lobby do prédio, sem nem dar oi ao porteiro – Acordei atrasada. Cheguei em casa quase à meia-noite, uma loucura! A Maggie está me escravizando, é sério.


- Acho que deveríamos colocar isso em pauta. Pelo que sei, somos pagas por apenas trabalharmos doze horas por dia, não por quatorze ou quinze! É sério, ela está mesmo abusando da sua fofice.


- Não tenho fofice – contradisse-a e logo corri para o carro. Era muito melhor correr com sapatilhas do que com saltos-altos – Estou passando aí daqui dez minutos. A Maggie simplesmente vai ter que nos engolir. Afinal, ela pode começar sem nós.


E desliguei.


O tráfego estava quase desafogado, menos na linha expressa, mas literalmente fui à casa de Kathleen na velocidade da luz. Fiz o melhor que pude.


- Sua louca – ela me respondeu no minuto em que entrou em meu carro, rindo – A Maggie vai arrancar seu coração e fazer uma poção com ele.


- Não desacredito – comentei, olhando atenta para o semáforo.


Liguei o rádio e ficamos em silêncio escutando as canções dos anos setenta.


Quando entramos no lobby do prédio da Fifteen, a Andrea, a recepcionista da manhã, olhou para nós com cara de quem alguém estava sendo enforcado.


- Maggie acabou de interfonar. Ela começou a reunião. É melhor correrem, meninas – ela nos disse.


- Obrigada, Andie – Kathleen disse.


- O nome dela é Andrea – cochichei, porque a recepcionista nunca retrucava para ninguém se esse alguém errava seu nome.


E muitas pessoas trocavam os nomes das recepcionistas, porque a Andie trabalhava à tarde.


- Tanto faz – Kath deu de ombros, tentando andar mais apressadamente com aqueles Scarpins verdes de salto dez.


Eu nunquinha que usaria um Scarpin verde-limão. Eu tinha um, mas era preto com caveirinhas brancas. Era bastante fofo, se quer saber. Mas eu nunca o usara.


Apertei o botão do décimo andar, onde ocorreria a reunião. As reuniões eram sempre no dácimo andar, porque as salas eram mais amplas.


Então, meu celular começou a tocar. A música era uma antiga da Cindy Lauper, mas logo o pesquei de dentro de minha bolsa cor de creme.


- Alô? – falei, porque não tive tempo de averiguar a tela para saber quem estava me ligando àquela hora.


- Lily?


Ah, caramba. Era o Max. Será que ele estava me ligando para dizer que voltaria mais rápido?


- Oi, amor – falei – O que foi? Estou atrasadíssima para a reunião com a Maggie.


Eram 09:03h e eu estava desesperada.


- Ah. Eu sabia que você acordaria atrasada. Normalmente você sempre acorda – ele riu.


Franzi a testa. Não gostei nadinha.


- Tá bom. O que quer, Max? Sério, preciso desligar, estou quase chegando à sala de reuniões.


- Ah, não quero nada – ele pareceu acanhado, mas logo continuou:- Digo, quero. Só quero saber se você está bem. Achei que você ficou um tanto quanto diferente depois que lhe disse que não voltarei amanhã – ele falou.


Apertei os olhos. Kath quis saber por que eu não desligava logo.


- Mande-o calar a boca, é sério – ela cochichou.


Lancei-lhe um olhar afiado e ela revirou os olhos, impaciente.


“Décimo andar, sejam bem-vindos”, a mulher invisível do elevador nos disse.


- Ah, não, Max. Eu estou bem. Eu só... ah, droga, preciso mesmo desligar – eu disse, atravancada, quase sussurrando.


- Tem certeza?


- Tenho. Agora é sério, preciso desligar. Um beijo. Amo você – eu falei em minha voz mais fofa possível, para não magoá-lo.


- Certo. Também a amo – ele me disse, parecendo feliz e desligou.


- Caramba, esse cara é um C-3PO humano! – Kathleen logo reclamou.


Hey, meu namorado não era nenhum andróide de outro mundo! Ele apenas se entusiasmava demais.


- Haha – falei, descontente e sarcasticamente – Vê se para com isso – mandei.


- Mas você sabe que é verdade – ela me respondeu, no minuto em que pisamos no corredor do andar.


Eu a ignorei, como sempre, quando ela falava de meu namorado.


- Ah, aí estão vocês! – alguém gritou. Era uma mulher baixinha e velha. A recepcionista daquele andar. Odiava aquela mulher. Kath mais ainda. Ela conseguia ser quase tão pior quanto Maggie no quesito horários – Estão mais do que atrasadas, sabem disso, não sabem?


- É verdade? Sabe que nem reparei? – Kathleen lhe disse com a voz mais nojenta de todas.


- Não me venha com gracinhas, Srta. Morgan! – a Cleméce disse para Kath com um olhar de buldogue raivoso. A cara de buldogue Cleméce já tinha.


Então eu e Kath entramos quase correndo na sala de reunião, recebendo olhares furiosos de nossos colegas e um olhar de rachar a cara da Maggie.


- Então? Será que podem se acomodar nas cadeiras ou querem que eu as coloquem sentadinhas como se tivessem cinco anos? – Maggie nos perguntou.


Finalmente sentamo-nos e aguardamos a pauta do dia.


~~~~


Narrado por: James Potter
Local: Prédio Lancelot
Horário: 20:12h
Quando:
31/AGOSTO – sábado


Bem eu tinha dito a ela. Eu simplesmente disse. Não foi? E foi o que fiz. Fiz exatamente o que prometi.


Estacionei, às 19:05h, em frente ao prédio de Lily, o luxuoso Lancelot, e pedi para o porteiro interfonar para seu apartamento. A princípio ele disse que não tinha permissão para incomodá-la (e pelo visto tinha sido recomendação expressa de Lily), mas então, quando lhe disse que tinha marcado com ela (certo, e daí que menti?), ele relaxou um pouco e interfonou.


- Oi, Srta. Evans, não quero lhe atrapalhar, mas seu amigo chegou – o porteiro disse. Lily disse algo e então o senhor me olhou bastante bravo e desligou – Você não tem permissão para subir, sinto muito. Ela me disse que não marcou nada com o senhor.


Fiquei parado em frente ao balcão bonito.


- Não, é brincadeira dela. Eu e ela iremos jantar. De verdade – eu assenti, tentando amaciar o velho.


- Aparentemente, não – ele me respondeu seco.


- Deixe-me subir, por favor.


- Ela deixou bastante claro que não queria ser incomodada. E você é exatamente o tipo de encrenca que tenho que manter longe daquele apartamento – o senhor me falou sem olhar para mim, pois remexia em alguns papéis.


- Tudo bem. Irei ligar para ela – eu disse.


- Pode telefonar – ele deu de ombros.


Disquei os números de Lily. Eram os do celular, mas ela tinha que atender, não?


- Alô? – ela perguntou, com a voz abafada.


- Lily, é o James – eu comuniquei decidido.


- Ai, não. Eu disse para o Ploo que você não tem permissão para entrar. Não me diga que está em frente à minha porta.


- Não estou – eu tive de rir – Estou aqui no lobby. E quero convencê-la a sair comigo.


- Não me venha com isso. Você não sabe o quanto estou cansada. Praticamente acabei de chegar da redação. A Maggie nos fez trabalhar como cachorros. E a reunião foi um desastre, e a Kathleen mandou o Jordan calar a boca. Estou em um dia péssimo. Até já tomei um remédio para dormir – ela me disse e fiquei contente em constar que sua voz aparentava ser de alguém muito cansado mesmo. Ao menos ela não estava mentindo – Juro que podemos sair outro dia, se você quiser. De verdade, porque não quero que você pense que estou fugindo de você ou sei lá. Por que meio que não estou. Só estou confusa, entende? Você desaparece por seis anos da minha vida e do nada volta e eu fico como uma criança chorando. Estou muito péssima por isso também. Então, não me faça sair da minha cama hoje, por favor. Ainda tenho que fazer um relatório de layout para amanhã, porque senão, a Maggie vai comer o meu pulmão e aí eu vou ter que fazer um transplante e aí ela vai me despedir, porque ela não oferece plano médico completo. Só odontológico.


- Woo, woo, está tudo bem. Acalme-se – pedi, porque achei mesmo que ela fosse começar a chorar no telefone – Não quer um chá? Eu posso fazer um chá.


- Não, pelo amor de Deus – ela quase gritou – Mas já que está aí embaixo, você podia ir até na loja de conveniência na outra esquina e comprar uma Coca Diet para mim.


- Sério? – fiz uma careta.


- Você não quer fazer algo por mim? Então.


- Quero, mas, hm, isso significa que vou ter que entrar aí. Percebeu? Achei que não quisesse me ver.


- Não quero – afirmou ela -, mas estou mesmo precisando de cafeína.


- Ah, certo. Eu vou comprar, já volto – eu disse.


- Obrigada. Geralmente eu tenho que descer e ir comprar sozinha ou pedir à senhora T, porque o Max nunca está em casa ou está muito ocupado para largar seus casos e a empresa. Obrigada por isso – ela me agradeceu.


- Certo, de nada – e desliguei.


O porteiro me olhou atentamente. Quando estava deixando o lobby, escutei-o ao interfone. Provavelmente era Lily admitindo a minha subida, depois que voltasse do mercadinho.


A loja de conveniência ficava muito perto. Caminhei até lá e comprei a Coca Diet e uma aspirina.


Voltei rapidamente e sorri satisfeito para o porteiro. Sacudi o saquinho pardo e disse que precisava ver a Lily.


- Acredito. Ela me disse para deixá-lo subir – ele pausou e eu me direcionei para o elevador – Às vezes fico muito preocupado com ela, sabe. É bom que ela tenha um amigo. O namorado dela nunca faz nada decente por ela. Só se enfia no escritório.


Virei-me.


- Como sabe disso? – perguntei curioso.


- Há dias em que ela está tão cansada e magoada que me conta sobre a sua vida – o porteiro deu de ombros, constrangido.


- Hm. É, ele parece ser mesmo bem ocupado. O namorado de Lily.


- Ele é. Nunca tem tempo suficiente para a Srta. Evans. É uma coitadinha, aquela lá.


Meu estômago despencou.


Não acreditava que Lily pudesse estar tendo uma vida nada boa e nada estar fazendo para mudar aquilo.


- Certo – falei e parti para dentro do elevador.


Lily morava no terceiro andar e ao lado da porta tinha uma flor gigante e verde dando oi aos recém-chegados.


Bati na porta. Aguardei.


Um minuto depois, uma Lily de roupão macio me atendeu.


- Ah, oi – ela me disse. Ela estava com olheiras e aparentava estar com muito sono.


Talvez o remédio já estivesse fazendo efeito.


- Oi, como está? – perguntei bobamente.


- Não sei. A Maggie vai me matar, de verdade – ela me falou.


- Estou vendo – eu disse, enquanto analisava sou rosto sem vida. Olhei para o saco pardo – Aqui está. Comprei a Coca e uma aspirina.


- Oh, obrigada. Entre – ela me convidou, abrindo a porta mais ainda.


Olhei para dentro do apartamento. Podia enxergar um sofá de couro e um abajur comprido. As luzes estavam apagadas e The Tide Is High tocava baixinho, vindo de algum lugar.


Entrei e vi como aquele apartamento era muito maior do que o meu, e olha que eu já achava o meu uma beleza.


- Olha, mil desculpas, mesmo – ela começou, usando uma voz que me deixou preocupado; era como se estivesse debilitada até mesmo para falar - Eu até estava mesmo pensando em sair com você, mas aí lembrei que tenho o relatório para amanhã.


- Você nunca tem folga?


- Raramente. Mas os jornalistas de verdade têm muito mais trabalho do que eu, você precisa ver – ela me disse.


- Não tem como você mandar o relatório por alguém?


- Não, ele tem que ser impresso e levado na minha pasta. Aliás, amanhã temos outra reunião, às nove, de modo que é impensável eu faltar – Lily me contou, com uma das mãos na cabeça, me conduzindo para o sofá de couro.


- Caramba – soltei, quando me sentei e passei a ela o saquinho que continha a Coca Cola Diet e a aspirina.


- Às vezes acho que nem durmo direito.


Eu não queria comentar nada a respeito disso, por causa das olheiras dela, então apenas disse:


- A sua chefe tem que pegar menos pesado com você.


- Isso só vai acontecer se eu sair da Fifteen.


E isso me recordou sobre a conversa da Mojo, sobre o cara que eu tinha conhecido. Mas achei um saco mencionar aquilo.


- Talvez você devesse procurar outras ofertas – aconselhei cético.


- Não tenho outras ofertas no momento – ela me disse.


- Eu... – calei a boca antes que começasse.


- Eu sei, o Max também vive dizendo que eu deveria parar com isso, mas eu gosto do que faço. Não é bem o que eu queria fazer de verdade, mas estou feliz.


- Você não parece feliz, Lily – observei.


Ela sorriu cansada e abriu a Coca. Tomou alguns goles e então falou:


- Só estou com muito trabalho.


- Talvez você precise descansar de verdade por alguns dias.


- Não sei quando – ela suspirou.


Aí ela engoliu a aspirina junto com a Coca e olhou para mim com uma cara de dor.


- E você?


- O que tenho eu? – perguntei.


- Muito trabalho?


- É, mas muito menos que você.


- Ah. Que bom. Ser dono de alguma coisa deve facilitar as coisas.


- É, de vez em quando eu me dou folga – eu ri.


Ela também, mas bem mais baixo.


- E então, o Max vai chegar amanhã? – perguntei displicente.


- Não. Só na terça. Ele achou um caso realmente necessitado lá na cidade e precisa de mais alguns dias, por causa das audiências do cliente.


- Ele também trabalha muito, não? – comentei.


- É, tanto quanto eu.


- Conversou com ele sobre a empresa? Digo, sobre o dinheiro?


- Não, não tive tempo, quero falar com ele quando chegar. É meio frio tratar esse assunto por telefone ou por e-mail, não é mesmo?


- Provavelmente.


Ficamos em silêncio, só nos olhando, por alguns minutos.


Até que Lily disse que já voltava, indo em direção ao quarto.


Esperei.


Ela voltou com o lap top vermelho e o colocou em cima do colo, enquanto se sentava ao meu lado.


- Você não tem um jantar a comparecer? – ela me indagou, olhando-me com as sobrancelhas erguidas.


- Tenho, mas...


“... você é mais importante”, completei em minha mente.


-... hm, precisa de algo mais? – perguntei ao invés de falar aquilo.


Ela riu divertida.


- Não, obrigada. Pode ir, se quiser.


- Você já jantou?


Lily me olhou com a testa franzida.


- Não. Digo, mais ou menos. Comi um pedaço de Taco Bell que tinha encomendando ontem – ela me disse.


- Quer comer alguma salada? Eu posso lhe fazer uma – ofereci.


- Caramba, não. Só vai embora! – ela exclamou, mas aí ficou com uma cara estranha e emendou: - Digo, não, não precisa. Eu só quero fazer o relatório da reunião e ir dormir.


- Ah, certo – eu falei decepcionado.


Droga de jantar!


Então eu me levantei e me curvei para seu rosto.


Beijei-lhe as bochechas e disse:


- A gente se vê por aí.


Ela ficou um tanto quanto desconcertada pela minha atitude.


- Hmm, claro. Qualquer dia, saímos juntos – ela me disse, sorrindo calma e cansada.


- Exato. Um dia que você estiver com menos trabalho – eu complementei.


- Aham – ela fez.


Então ela se levantou do sofá, colocou o lap top na mesinha ao lado do sofá e me acompanhou até a porta.


- Se precisar almoçar durante o almoço, sabe onde comer – eu brinquei, referindo-me ao meu restaurante.


- Claro, vou ver se arrasto a Kath mais vezes para lá. O seu restaurante é muito bom.


- Obrigado – falei – Até mais – acenei.


- Até. E muito obrigada por ter, você sabe. 


- Imagine. Você sabe que pode contar comigo.


- Hm, certo – ela ficou sem jeito e abanou a mão mais uma vez, fechando a porta, logo em seguida.


Desci os andares nas nuvens. Bem, de elevador, mas a sensação que meu peito tinha era de algo bem mais legal.


Não acreditava que eu tinha tido um “encontro” com Lily daquela forma. Ela de roupão e de chinelos.


Será que nem tudo estava perdido?



____

N/a: nem sei como esse capítulo está pronto. Passei os últimos dois dias escrevendo capítulos para essa fic (que, tudo bem, resolveu os dois capítulos) e agora um está aqui. Segunda posto o próximo, antes de ir viajar (porque passarei duas semanas sem postar nada, certinho?) 
#ps: dominique. e Cá Black , muito obrigada por gostarem da minha fic. Estava até começando a achar que nunca a continuaria escrevendo, porque quase ninguém realmente pareceu se importar de verdade com essa história. Aguardem, porque eu irei terminar, sim, essa fic *-* 

Nina H.


29/01/2011

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