Capítulo 6



Capítulo VI


Flashback – Último semestre do último ano
Local: Drayton Manor High School – Corredor
Horário: 09h
Quando:
08/FEVEREIRO – segunda-feira


Lily sabia que mais cedo ou mais tarde aquilo aconteceria. Era inevitável; iminente. A garota não sabia quando seria abordada, mas tinha consciência de que não demoraria muito. E se Kelly pudesse, teria feito bem pior.


Bem, na segunda-feira, antes que Lily conseguisse dar o último passo rumo à primeira aula do dia, viu que não tinha como fugir, assim, parou de bom grado na frente da Kelly, com os cadernos contra o peito. Não se sentia muito surpresa, apenas percebeu que quando avistou a outra menina seu estômago pareceu reclamar e se inundar de um medo gelado.


Com a saia curta do uniforme (que não era obrigatório) combinando com o cachecol azul claro, Kelly ofuscou Lily com o olhar. Sua personalidade condizia perfeitamente com o tipo de atitude que estava tendo. Era uma menina ciumenta e competitiva. Tinha que ser a primeira em tudo (não nos estudos, pois talvez não possuísse toda a ganância) e não admitia falta de liderança. Se entrava para jogar, seria ela a ganhadora. Um pensamento tão simples quanto medieval e necessário.


Afinal, é na escola que fazemos de nós o que queremos ser.


E Kelly, com aquele corpo esguio e invejável, sabia o que seria e onde chegaria. E via que seus esforços alcançariam seu sonho. Primeiro: não eram todas as meninas que conseguiam conquistar os votos de mais de cinqüenta por cento da escola. Kelly tinha aquilo. Segundo: o garoto mais popular do pedaço sempre acaba ficando com a Rainha do Baile de Primavera. Kelly era condecorada Rainha do Baile de Primavera desde os quinze anos. E terceiro: domínio. Kelly mandava em quem quisesse. Desde a menina do laboratório de Informática até a seu namorado. Bom, não? Não, tal feitio era brilhante. Era um dos itens de sua lista de Vantagens que a deixava mais orgulhosa e que a fazia acreditar que aquele seu pequeno império pessoal nunca desmoronaria.


Ela não sabia, mas seu império estava em risco. E sua inimiga não era alguém de sua altura. Literal e figuradamente falando. Quando chegasse a hora, Kelly odiaria ainda mais aquela aluna invisível irritante. Por que Lily não morria? Kelly só queria saber, todas as vezes que enxergava Evans conversar timidamente com a líder do Clube de Teatro. Teatro! Como alguém gostaria de teatro? Kelly, além de ambiciosa, era também o do tipo que detestava cultura. Ah, cultura inútil era ótimo. As fofocas das celebridades, quem beijou quem na festa passada. Mas cultura útil? Daquelas que a ajuda nas provas de história ou de geopolítica? Não entendia por que o noticiário televisivo ou a parte do jornal de Atualidades eram importantes.


- Hm, oi – a voz de Kelly não continha entonação. Era como se não fosse humanamente capaz de expressar sentimentos. Alegria ou tristeza. Nadinha.


Lily, mesmo longe de qualquer espelho, sabia que não precisava olhar seu reflexo para constatar seu rosto pegando fogo. Que grande momento!


Uma das populares fazendo tentativa para conversar com ela? Que tipo de psicose Kelly sofria? Lily tinha medo de conhecer, embora faltasse pouco para descobrir.


- Olá – Lily não pretendia demonstrar submissão, mas não pôde evitar que sua voz saísse trepidada.


Kelly esperou alguns armários se fecharem para colocar uma das mãos, perfeitamente lixada e pintada, na cintura e se virar do semblante de boazinha. Se Lily esperava guerra, teria um cataclismo.


- Olha aqui, sua coisinha – a menina não parecia tão comedida tanto Lily julgou que seria –, o que você quer com o meu namorado?


A ruiva não esperava ter ficado sem reação. Tinha inventado um milhão de conversas imaginárias com Kelly, para que, quando chegasse o momento verdadeiro, não se sentisse tão minoritária e oprimida, porém percebeu que apenas gastara tempo. Lily chegou a arregalar os olhos por um curto período de segundo, completamente espantada. Aquela pergunta não tinha sido feita pela Kelly Imaginária que morava em sua mente criativa.


- E-eu não quero nada. Não sei do qu... – apertando os cadernos, Lily falou, rezando para que algum professor se desse conta que havia duas alunas fora das salas de aula.


- Ah, não me venha com essa! – Kelly cortou-a, furiosa – Eu sei que as mais inocentes são as mais vadias!


Lily lembrou-se de se concentrar e de não esmorecer.


Mas... vadia? Nunca ninguém tinha chegado tão baixo com ela.


Esforçou-se para não parecer atingida demais: era o objetivo de Kelly. Todavia, o que poderia retorquir após aquilo? Um “Cale a boca”? Não, ainda era muito pouco. Não faria nem cócegas.


- N-não. Eu...


De repente, quis encontrar James e lhe dizer muitas coisas. Só porque este era o capitão do time de Futebol achava que tinha o direito de fazê-la passar por tal humilhação? Bem, ao menos não havia platéia. Não que isso a tivesse feito menos irritada. James Potter era um... como era a palavra mesmo? Ah, um aproveitador. Ou talvez até mesmo um manipulador. E dos bons.


- As meninas me contaram que você o beijou na festa da Wanessa! – Kelly a acusou. Lily quis gargalhar, posto que não sabia se teria forçar suficientes para tal reação.


- Não, não foi nada disso! – Lily rebateu mostrando-se aborrecida – Nós só dançamos.


- Não acredito! Você ainda admite! – a outra estava incrédula.


- Eu não o... beijei – Lily engoliu como dificuldade. Soava frio só de pensar em tal possibilidade. James Potter tinha dona, e a mesma não parecia ser tão amigável quanto o namorado – Ele apenas me convidou para uma dança.


- Ele a convidou para a porcaria da dança?


- Sim. E para a festa também. Mas eu achei que ele tinha contado a você – fez uma pausa, para analisar minuciosamente o rosto da pseudo-loura.


- Hm – murmurou a outra, cruzando os braços.


Lily não sabia mais o que apresentar para se defender. Sentia suas costelas martelando dolorosamente, iniciando leves pontadas em seu peito.


Esperou Kelly proferir algo como “Fique longe de James!”, mas Kelly continuou com a boca fechada, até que desanuviou em pouco da expressão dura e fria.


- O James... ele comentou alguma coisa sobre mim?


Lily, tal como minutos antes, surpreendeu-se.


Não esperava, de maneira nenhuma, isso.


- Bem – Lily tentou se lembrar das vezes que ela e James tinham dito o nome de Kelly na sexta-feira -, ele apenas me disse que você não iria à festa, porque estava em um jantar de família.


Kelly não ficou inteiramente satisfeita.


- E o que mais?


- Hm, mais nada. Foi... só isso – a ruiva lhe respondeu.


Kelly analisou a outra dos pés a cabeça.


- O que você tem que eu não tenho? – quis saber.


Lily fez o mesmo que a Kelly. O que a menina esperava encontrar em suas roupas? Ironicamente, Lily pensou na possibilidade de dizer “Inteligência”, mas percebeu que seria inconveniente. E até mesmo grossa.


- Por que pergunta isso?


- Você sabe – Kelly apertou os lábios, mas não estava lamurienta.


- Eu e James somos colegas de aula, não passa disso. Não sei o que quer com essa conversa. E eu compreendo que você esteja um pouco ciumenta, mas não sei se irá resolver essa questão conversando comigo – Lily falou nervosamente.


- O quê? Eu... você acha que eu estou com ciúme de você? – Kelly riu; Lily sabia que seu tom era para machucar – Caramba, olhe para você! Por que alguém teria inveja de você?


Lily passou os olhos em seu próprio corpo mais uma vez. Não via nada de tão errado. Talvez os All Stars?


Tudo bem, Lily tinha que ser coerente e verdadeira. Não tinha como compará-la a Kelly. O que Kelly possuía, Lily nunca poderia se gabar, exceto as notas, mas quem, ali, dava atenção àquilo?


- Hmm – Lily buscou urgentemente alguma resposta.


Nada encontrou. Sua mente estava vazia, apagada.


- Você não tem nada a oferecer a ele, querida. Eu sinto muito, mas algumas pessoas são melhores do que outras – Kelly riu.


- Caramba, Kelly, qual é o seu problema?


As duas meninas olharam ao redor.


Marlene Mckinnon.


O que ela estaria pretendendo?


- Ah, Mar! – Kelly cumprimentou em um tom falso de alegria.


- Coisa nenhuma, garota! Pode parando aí – Marlene disse, olhando para a amiga muito desgostosa; seus olhos foram parar em Lily, no segundo posterior – Quer alguma ajuda?


Lily, incapaz de se mover, apenas abanou o cabelo.


- Pois acho que precisa, sim, de ajuda – a morena disse, convicta – Venha, vamos para a aula – aproximou-se sem hesitação da ruiva e apoiou sua mão gentil em seu ombro.


- Marlene! O que está fazendo? – Kelly quase gritou.


- Ela é minha colega em biologia – a morena informou.


- E por que está sendo legal com ela? – cochichou a outra em seu ouvido.


Marlene se desvencilhou da amiga.


- Porque todos somos iguais. Se você se acha melhor, então deveria estar ganhando algum Prêmio Nobel por isso.


- Eu... – Kelly observou Marlene guiar Lily para longe.


Kelly permaneceu parada no corredor. O que estava acontecendo ali? Será que tinha perdido crédito? Não, tal pensamente era incabível e impossível.


Mas por que Marlene arrancando a menina ruiva dela a deixou tão irritada e confusa?


- A Dorcas me contou sobre você – Marlene começou, achando que Lily estava tímida demais.


- Hm.


- O Sirius tentou dar um jeito no Tommy.


- Por que está querendo ser legal comigo? – Lily soltou, olhando diretamente para a garota morena.


- Por que acha que ninguém tem o direito de ser legal com você? – Marlene devolveu, erguendo as sobrancelhas.


- Bem, porque nunca ninguém foi – deu de ombros.


- O James parece querer ser legal com você – assinalou a outra.


Lily sentiu seu estômago se revirar.


James Potter tinha que ser tirado imediatamente de sua vida.


- Olhe, eu não estou tentando roubá-lo, entende? Eu nunca faria isso. Eu sei o que significa respeito.


Marlene lhe sorriu. Lily sentiu-se estranha.


- Você não sabe nem da metade que acontece com aqueles dois.


- Ela parece bastante ciumenta – Lily contou, sem jeito.


- Ela é completamente louca – Marlene disse – Faria tudo para manter o James longe de qualquer outra menina. Tem ciúme dele até comigo ou com Dorcas. Vê se pode! – ela riu.


- Não sei o que você está achando que está acontecendo entre mim e ele, mas...


- O que acho é que não você não deveria fugir de um cara tão fofo quanto o James. Muitos garotos não são fofos como ele – Marlene observou.


Lily não soube o que falar.


Então... James estava sendo fofo com ela? A troco de quê?


- Eu deveria ser amiga dele, mesmo sabendo que a Kelly me quer longe? – Lily questionou confusa.


- A maioria das pessoas daqui não fala, não faz e não veste o que quer por causa da Kelly. E privar nossas vontades não é saudável. Portanto, não deveria ter medo de querer aproveitar o seu tempo com o James. Todos, depois que o conhecem, querem passar o resto de suas vidas ao lado dele.


- Hm. Certo – Lily disse.


- Ei, não deveríamos ser todas felizes? E se para isso acontecer você tiver que ignorar a Kelly, apenas faça – a morena falava com alegria.


- Você tem certeza que isso não me trará conseqüências?


- Não, não tenho. Mas não se deixe rebaixar.


- “Ninguém pode fazer você se sentir inferior sem o seu consentimento” – recitou Lily.


- Exato. Eleanor sabia do que falava! – concordou a outra.


x.x.x


Lily não estava muito feliz. A menina que a acompanhara até Biologia estava sendo um grande apoio. Ela sendo o tipo de amiga que Lily desejava ter encontrado há muito tempo. Desde que entrara no colégio, ao menos. Porque, o que adiantava, pensava ela, ser boa em todas as matérias se não tinha uma amiga sequer? O que valia a pena enfrentar sem pessoas para apoiá-la?


Entretanto, apesar do recém pequeno conforto que lhe inundou o estômago por saber que existia alguém que se importava com ela de verdade (alguém que não estava tentando pregar uma peça nela ou derrubá-la de algum modo, competindo por objetivos bestas), necessitava procurar James e lhe fazer algumas perguntas.


Então, além da fofice, estava, talvez, com pena dela? Estava sendo seu amigo por caridade?


Lily não sabia muito bem o que queria saber, mas sabia que não queria continuar a levar aquilo adiante. O ano já estava bem ruim sem ter que explicar à menina mais linda do colégio o que estava fazendo com o namorado desta em uma festa a qual não fora propriamente convidada.


Justamente quando entrava pela porta da sala de Matemática Avançada àquela tarde, James também tentava atravessar para dentro.


- Hey – ele lhe disse.


Lily não queria mostrar o seu lado raivoso, por isso apenas fingiu um sorriso.


Sentaram-se lado a lado, calados.


James tratou de puxar as folhas do trabalho da sua mochila com cuidado.


- Tudo bem – ele começou, virando-se para Lily, com paciência – Deixa que eu falo sobre o lado A, e você fica com lado B. Com estatística. Você é melhor do que eu nisso. E não se esqueça de mencionar sobre a taxa de nascimento nos últimos três anos, porque você sabe que...


- É, eu sei, não se preocupe – Lily prontamente cortou-o – Eu me lembro o que foi que conversamos na semana passada.


- Maravilha – James comemorou – E como foi o resto do seu fim de semana?


Lily estreitou os olhos, sentindo-se ameaçada.


- O que foi? – James quis saber, notando a expressão da menina.


- Olha, entendo que você, hm, goste de mim, mas você está tornando tudo muito complicado.


- Complicado para quem? – James perguntou confuso, mantendo a voz baixa.


- Para mim! – exclamou Lily, enfezada.


James esperou um segundo. Não estava entendendo aquela conversa.


- Por quê?


Lily lançou um olhar afiado a ele, como se o culpasse de tudo.


- A sua namorada, logo na entrada, logo me abordou querendo saber sobre o que rolou na festa!


- Ah, ela... bem... Kelly é meio... hm, esquisita. Ela se importa com coisas bobas - James gaguejou.


James, Lily começou a pensar, era muito leviano.


- Okay, primeiro: ela até pode ser um pouco fútil, mas ela ainda é a sua namorada. Segundo: você não deveria ter me convidado para a festa. E terceiro: se você ousar a dançar comigo outra vez nunca mais saio com você. Aliás, é melhor eu não sair mesmo. A sua namorada vai vir toda atacada pra cima de mim, então...


- Lily – ele a interrompeu.


- O quê?


- Pare, okay – pediu gentilmente – Esqueça-se da Kelly. Ela é.. bem, só mais uma.


- Como assim? – Lily franziu a testa.


- É difícil de explicar.


- Não me diga que você não gosta mais dela! – ela lhe disse severamente.


- Eu costumava gostar. Mas isso agora é só por acomodação.


- O que isso significa?


- Que se eu pudesse eu...


- James Potter e Lily Evans! – a professora lhes chamou fazendo um estardalhaço.


Lily se assustou. James livrou-se do semblante arredio e olhou para a frente da sala.


- Vamos? – a professora retornou.


- Claro, professora – os dois disseram juntos.


~~~~


 Narrado por: James Potter
Local: Cobertura Albert Towers
Horário: 09:32h
Quando:
30/AGOSTO – sexta-feira


Sextas-feiras não eram especiais. Eram, exatamente como os outros dias, comuns. Eu despertava entre sete e quinze e sete e meia, tomava uma chuveirada energética, preparava algum lanche rápido, ingeria-o e dirigia até o restaurante. Às vezes ia conferir a lista de “afazeres” só para saber se Hannah não tinha me dito algum lembrete ou necessidade. Então, esperava Hannah, Harry, Emily, Edwin, Finn e os cozinheiros chegarem para poder discutir assuntos pendentes ou corriqueiros (como alertar ao Finn que deveria ter mais atenção e coordenação). Sorvíamos alguns cafés com leite e preparávamos o restaurante aos clientes. Hannah, como sempre, muito diligente em tudo, deixava as mesas jeitosas e logo partia para suas revistas de moda e de fofoca.


No entanto, naquela sexta-feira, diferentemente das antecedentes, não peguei o carro logo tão cedo. Levantei-me no mesmo horário, mas não corri para tomar um café da manhã insípido depois de um banho matinal. Tudo o que fiz foi ligar para o loft de Hannah e dizer a ela que deveria servir café com leite, sozinha, para os colegas de trabalho, porque eu merecia algumas horas de descanso. Então, fui até o bistrô do Sr. Hannigan para falar sobre o campeonato de Rugby e para tomar o café extra forte que a mulher dele preparava todas as manhãs. Era muito desestressante e conveniente me livrar de uma manhã de gerenciamento. Hannah, como subgerente, poderia muito bem se virar com os meninos e Emily; ela gostava de pensar que era dona daquele lugar, mesmo que não recebesse mais do que os outros. Após uma pequena caminhada pelo quarteirão para acenar aos velhos vizinhos (principalmente para agradecer a Sra. Matilda pelos pães fresquinhos de domingo, retornei à cobertura.


Meu prédio era composto por duas torres. Amarelo canário nas sustentações e tijolo cru nas sacadas longas. O outro destoava um tantinho mais: azul-céu e tijolos crus pintados. Era o menor condomínio do bairro. Hannah vivia dizendo que com o dinheiro que eu ganhava com o restaurante poderia muito bem pagar mais de mil libras por mês, só que minha perspectiva nunca foi viver no luxo, ou algo acima de um apartamento que possuísse três suítes, três banheiros, um pequeno loft na cobertura e espaço suficiente para a criação de um mini-jardim com laguinho para carpas. Tudo bem, pense o que quiser: que muitas famílias não têm a chance de morar nem na metade de uma cobertura ou que eu vivia em um lugar muito maior do que realmente necessitava, porém achava que era o certo. Logo eu acharia alguém e desejaria constituir algum tipo de família, e famílias precisam de um lugar para começar. E a cobertura Albert Tower era um bom começo, o começo que eu achava que poderia oferecer.


Ali estava silencioso, como todas as manhãs. A Sra. Esfelton (a mulher que sempre fritava omeletes com bacon para o café da manhã dos filhos) já tinha saído com o marido para a Company Esfelton (algum tipo de companhia de postes de luz), de modo que eu não precisava mais aspirar àquele odor enjoativo de fritura, o que me deixou aliviado. Coloquei o primeiro álbum do X-Rays Specs para tocar, só para não perder o costume de ouvir alguma trilha sonora de fundo (que ocorriam todas as manhãs). Eu me concentrava bem mais ouvindo alguma voz ecoando em minha cabeça, por isso Hannah aprendera a sintonizar na rádio das Dez Melhores do Dia todos os finais de tarde. Levei meu lap top até a sala para ler e mandar e-mails. Não que não tivesse que fazer aquilo no restaurante (claro que tinha), mas em casa era muito mais tranqüilo e harmonioso. Não precisava ver o Finn correndo até mim para me informar que tinha quebrado ou seccionado algum membro de seu corpo nem ouvi-lo deixar cair pilhar de louças na cozinha. E muito menos havia Hannah para me atazanar sobre o assunto “Lily Evans” ou sobre calcinhas modeladoras que vira em alguma revista.


Fiquei surpreso em passar os olhos nos remetentes da lista da caixa de e-mails e ver um de Lily.


Em mim prevaleceu aquele sentimento de nostalgia assim que o terminei de ler. A “nova” Lily estava sendo muito diferente: suas palavras deixaram de ser carinhosas e coerentes. Havia raiva, eu sabia. E talvez teimosia, claro, já que eu tinha certeza de que no fim ela cederia. Lily sempre cedia. Okay, não sempre, mas na maioria das vezes. Com certeza não cedera naquele dia que me dissera que faria faculdade em Liverpool; não adiantara eu implorar, pois ela já tinha traçado uma meta. E, por mais que eu odiasse pensar, a meta não me tinha como peça principal.


Ri depois de um tempo: apesar das palavras, ainda existia algum resquício da “antiga” Lily ali. Era a parte da teimosia. Respondi prontamente, quase como se necessitasse estar em contato com ela.


Sei que tinha escrita naquela carta que pusera naquela caixa de sapato revestida de papel brilhante que não atormentaria sua nova vida, mas convidar para jantar (juntamente com membros de restaurantes importantes da região) não era bem invadir ou aborrecer. E ela tinha aceitado (meio contra a vontade, é verdade) a almoçar comigo no dia anterior, não tinha? Se não me quisesse mais por perto não teria aparecido nem se a Christina Aguilera a forçasse andar até o Spring Restaurant. Certo? E ainda mais importante: se dera ao trabalho de me responder por e-mail. Mesmo que fosse para me atingir e para me fazer desistir dela. Pessoas que não mais suportam outras não arranjam cinco minutos para escrever uma mensagem não muito polida a elas. Disso eu bem sabia, tanto é que nunca mais tinha escrito uma só linha para a Condessa Del Fiotti. Ela detestara a comida do restaurante e tinha dito isso por e-mail. Não me incomodei em excluí-lo e nunca mais me lembrar que aquela mulher se sentara em uma das mesas que Hannah tão bem arrumava.


Eu não podia esconder o fato de que ansiava por vê-la novamente. Sei que a tinha achado maravilhosa naquele vestido simples a menos de vinte e quatro horas, mas quando nos sentimos bem ao lado de alguém, sempre ansiamos esta pessoa. E eu, mesmo depois de seis anos, não tinha ansiado muitas outras mulheres além de Lily. Como já escrevi em algum ponto acima, Lily era sempre a minha prioridade, a minha primeira opção. Nunca deixaria de pensar nela.


Muitos homens discordariam de mim, logicamente. Lily tinha me deixado, me magoado e por seis anos preferira me excluir de seu novo estágio de vida. E eu deveria ter me envolvido com alguma outra mulher, ter feito filhos com ela e tê-la convidado para morar comigo. Assim eu não teria que mais voltar a fazer meus pensamentos encontrarem o nome de Lily, toda hora, todo o tempo. Mas, como pode deduzir, os acontecimentos não se concluíram desta forma. Não me envolvera mais do que três mulheres, tinha feito sexo com elas, mas não filhos, e não as tinha convidado para dividirem suas vidas em minha cobertura. Não negava: passava dias e dias sentindo-me solitário, renegado e infeliz. Dakota, Angie e Summer não tinham feito meu sentimento por Lily se atenuar ou desaparecer. Ele continuava quietinho ali, apertado em meu coração, tentando dar as caras, mas nada acontecia pelo mero fato de Dakota, Angie e Summer não eram o meu primeiro amor. Nenhuma daquelas mulheres era ruiva ou sardenta ou alegremente tímida. E a minha Lily tinha todas as características que me tinham feito querer terminar com a minha namorada de colegial e pedi-la em namoro. Claro que não pude enxotar Kelly tão rápido; ela era a única candidata perfeita para ser a Rainha do Baile de Formatura e era linda. Não era loura, mas isso não incomodava a escola.


E eu sabia que havia algo de errado em meus colegas ao aceitarem Kelly e rejeitarem Lily.


Muitos me consideravam o garoto mais sei-lá-o-que do colégio, sempre me elogiavam, corriam para serem simpáticos e para conseguirem se infiltrar na mesa que dividia com Sirius, Marlene, Remus, Emmy, Dorcas, Peter e Kelly. Depois de quase três anos suportando a pressão, tentando não me decepcionar e não decepcionar meus colegas, lembrei-me por que aquilo começara a me incomodar. Percebi que o herói do time de futebol não mais agüentava ser julgado como o melhor, o mais qualquer-coisa do mundo. Eu, James Potter, só esperava ser um dos garotos normais de lá: nem importante de mais ou de menos. Queria ser apenas eu, deixar de sustentar aquela máscara. Ao final, aquilo de fato me deixou. Kelly se magoou ao me ver dar mais atenção à Lily do que à ela, eu tinha deixado o futebol e meus “seguidores” não aceitaram a minha nova perspectiva de ano. Entretanto, por mais que tivesse perdido algumas coisas, ganhara a conquista mais valiosa da minha vida. A princípio Lily se surpreendera, mas (não que fosse uma menina fraca) concedeu seu desejo e seus sentimentos a mim.


Eu não acreditava que ganhara a menina mais comum (e diferente) de todas. Aqueles meses de jogos de “melhor amigo” tinham acendido todos os tipo de sentimentos em mim. Não soubera quando começara a enxergá-la com outros olhos; talvez naquela mesma tarde em que nos conhecemos. Ou mesmo antes: eu adorava vê-la pelos corredores. A única de nossa série de cabelos vermelhos vibrantes e a que mais lutava contra o mundo ao seu redor.


Como, eu me perguntava, os outros meninos não sentiam o que eu sentia por Lily? Eu era mesmo um louco idiota, como a própria Kelly tinha me acusado, na época? Não, não era possível. Não queria acreditar. Quem estava errado, eu julgava, eram os outros. Aquelas mesmas pessoas que apoiavam o meu namoro com Kelly, a menina mais desejada dali.


Mesmo sentindo aquela excitação por estar em contato (virtual) com Lily, tive de me concentrar para responder outros e-mails, que nada tinham a ver com a mulher da minha vida.


Bebi mais dois copos de café e me senti pronto para dar mais uma descansada. Minha cama, constatei mais uma vez, era grande demais para mim. Precisava urgentemente de um cachorro. Ou de uma mulher. Uma que fosse ruiva, com sardas e que crescera, deixando assim de usar seus All Stars coloridos ou roupas mais simples. Não que Lily não estivesse encantadora com seu novo guarda-roupa. Provavelmente seu namorado a tinha ensinado certas táticas femininas. Ou apenas apreciava mais as mulheres de vestidos. Eu, por outro lado, achava que ainda estava preso naquela Lily do passado. Aquela que odiava saltos ou saias ou vestidos. Eu me apaixonara por uma Lily muito mais simples e comum. E sentia falta dela.


Muito mais do que desejava. 


~~~~ 


Narrado por: Lily Evans
Local: Prédio da Fifteen – 4º andar
Horário: 12:02h
Quando: 30/AGOSTO – sexta-feira 


Só podia ter sido a Kathleen. Bem, foi ela mesma. Seu nome estava no destinatário. Nem sabia por que não pensara naquilo. Era mesmo possível. Ela me infernizaria eternamente. Não que eu fosse do tipo que julgasse as pessoas, mas Kath era uma maldição, igualzinha ao James, só que um pouco pior, porque ela era a minha melhor amiga. O James era só... bem, o cara que me fizera fugir de cidade. 


De: Kathleen Morgan
Para: Lily Evans
Assunto: James
LILY! E SE ELE CONSEGUIR O SEU EMPREGO NA MOJO? O QUE VAI FAZER? EU ACHO QUE VOCÊ DEVE MESMO ACEITAR A AJUDA DELE! VOCÊ NÃO SABE, MAS ELE PODE ESTAR REALMENTE INTERESSADO EM SEU FUTURO. VOCÊ NÃO PODE DEPENDER DO MAX PARA LHE FAZER ALGUMA OFERTA DE AJUDA, POIS SABE QUE ELE NÃO ESTÁ NEM AÍ PARA O QUE VOCÊ ESCREVE. NÃO ACHA MELHOR SER AJUDADA POR UM CARA QUE ESTÁ PREOCUPADO COM O SEU BEM-ESTAR DO QUE POR UM QUE NUNCA NEM LEU O LIVRO QUE VOCÊ ESCREVEU? ALIÁS, ACHO QUE, DO MESMO MODO COMO O JAMES ESTÁ INTERESSADO EM AJUDÁ-LA COM A MOJO, ELE TAMBÉM PODERIA ESTAR NO SEU LIVRO. POR QUE VOCÊ NÃO O DEIXA LER O SEU LIVRO? ELE PODE GOSTAR! ELE VAI GOSTAR. PORQUE ELE AINDA É APAIXONADO POR VOCÊ *-* VOCÊ SABE QUE É VERDADE, ENTÃO PARE DE SER EGOÍSTA E ENTRE EM CONTATO COM ELE IMEDIATAMENTE. ELE PARECE UM AMOR. O TIPO DE CARA QUE VOCÊ DEVERIA ESTAR. NÃO QUE EU NÃO GOSTE DO MAX, ELE É LEGAL. MAS ELE NÃO A APOIA. NÃO VAI QUERER SE CASAR COM UM CARA ASSIM, VAI? ENTÃO, VÊ SE LEVA A SÉRIO O MEU CONSELHO.
Kath.


Eu não lembro se eu comecei a responder o e-mail da Kath antes ou depois de pegar um café com leite, mas eu estava mesmo muito furiosa com ela.


De: Lily Evans
Para: Kathleen Morgan
Assunto: a sua falta de amizade
Okay, Kathleen. Você sabe que eu já estou suportando muitas coisas nesse dia. Sabe que eu não quero que a Maggie se enfie aqui minuto após minuto porque eu não acabei os relatórios semanais e que as pessoas me atrapalhem ainda mais a fazer esses relatórios, então vê se para de infernizar o meu dia com os seus e-mails, porque eu NÃO irei aceitar a “ajuda” do James. Você sabe que ele provavelmente só quer uma noite de sexo comigo. E eu estou MUITO feliz com o Max. Ele é MESMO ocupado e não tem realmente interesse um ficar lendo um livro romântico, porque ele é melhor do que eu. Quero dizer, o que eu tinha na cabeça ao começar a escrever um livro ROMÂNTICO? O Max tem razão, eu sou melhor do que isso. Se eu tenho que seguir o conselho de alguém, não vai ser o seu nem o do James, mas sim do meu NAMORADO QUE ME AMA MUITO.
E vê se para de gritar comigo.  


Ela, que leva muito a sério essa coisa de e-mails, não me procurou mais o resto da manhã. Ela não veio na minha sala nem mesmo para me perguntar se eu almoçaria com ela (o que não fiz, porque estava ocupada com os relatórios e a Maggie estava em cima de mim como um urubu). Não que eu tenha ficado ofendida, porque eu tinha a impressão que quanto mais eu precisava trabalhar, menos eu de fato trabalhava.


____

N/a: demorei, mas postei. Na verdade o capítulo estava quase pronto quando esqueci-me um pouco dessa fic. Mas aqui está ele. Sei que não tem nada de especial, mas prometo que melhorarei os capítulos (: Sei que não tiveram muitas pessoas pedindo a continuação da fic, mas não estou decepcionada. Sei o quanto é chato ficar esperando por postagens. Então, comentem mais que logo posto o capítulo sete (: Adoro vocês!

Nina H.


24/01/2011

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.