Aprendendo a Voar



Capitulo 15
Aprendendo a Voar


 


Nesses últimos cinco dias tenho treinado bastante com Scorpius. Ele explicou tudo o que pode sobre como ser batedor. Aconselhou-me a ler alguns livros que aprenderia mais rápido. Em nenhum momento dessas cinco noites que passamos juntos, brigamos. É engraçado porque parece que nos conhecemos a tanto tempo que é difícil deixar de conversar de qualquer coisa por mais que não tenha sentido. 


Esta noite será a minha primeira aula de vôo. Tento não pensar nisso desde o momento em que ele me avisou. Preencho meu pensamento com qualquer outra coisa que não seja eu em cima de uma vassoura. 


Nossos treinos eram à noite, entre nove e dez horas. Não queríamos ser vistos juntos, por sermos de casas diferentes, famílias diferentes, e principalmente porque não sei jogar. Qualquer aluno gosta, gostou, joga ou já jogou. Acho que sou a única que nunca sentiu tanto interesse. Até agora. 


Olhei para o relógio. Sete e trinta em ponto. Caminhei até o dormitório dos meninos e entrei sem bater, mas antes olhei para me certificar de que ninguém me veria entrando. Seria a hora perfeita. 


- O que você esta fazendo aqui? – Perguntei segurando a maçaneta. 


- A pergunta é o que você esta fazendo aqui? – Olhou desconfiado. 


- Onde o Luan guardou o mapa e a capa? 


- De baixo da cama. – Apontou. 


Abaixei e vi o malão dele. Abri e não havia mais nada ali além do mapa e a capa. Os peguei. Coloquei o malão de volta para que ele não percebesse nada. Sempre fui a mais bagunceira, entre eu e Luan. Por isso que Harry deixou o mapa e a capa – sem que nossa mãe saiba – com ele. Mas agora, por um simples descuido de não ter escondido direito – e do tagarela do David – eu os tenho em minhas mãos. 


- O que você pretende fazer? – Não respondi. 


- A gente se vê amanhã. – Sai do quarto o mais rápido que pude. 


Deixei o mapa e a capa perto da cama. Olhei novamente para o relógio que marcava sete e quarenta e cinco. Sentei na cama para terminar um dos livros que Scorpius indicou. Quando terminei esperei mais um tempo até que todas as meninas estivessem dormindo. Coloquei um moletom, tênis e sai sem fazer barulho do quarto. 


Cheguei ao campo e encontrei Scorpius sentado com o uniforme de quadribol que ficava perfeitamente em seu corpo. Suspirei e tirei a capa. 


- Cheguei. – Sorri deixando a capa e o mapa no chão. – E estou pronta. 


- Ótimo. – Levantou pegando a vassoura e caminhando em minha direção. – E a sua vassoura? 


- Aqui. – A tirei do bolso. Tinha a diminuído, assim ninguém suspeitaria de nada. – Falei que ia conseguir. Mandei uma carta para minha mãe e ela comprou para mim. 


- Então vamos começar. – Em um piscar de olhos ele já estava no ar. O que eu faço. Olhei para os lados em uma tentativa de me livrar daquilo, mas como? Eu estava ali pronta para aprender voar. A questão é que ele não sabe que não sei voar. - O que foi? – O olhei sem graça. Olhei para a vassoura. Com a outra mão cobri meu rosto de medo ou vergonha. Nem sei ao certo. – O que foi ? – Repetiu. 


- Não... – Engoli em seco. – Sei... – Pigarreei. – Voar. – Sussurrei. 


- Não sabe o que? – Se aproximou mais tentando ouvir. 


- Não sei voar. – Minha voz saiu mais alta do que imaginava. – Tenho medo de altura. 


- Tudo bem, eu acho. – Disse pensativo. – Deveria ter me dito antes, não sei ensinar alguém a voar. – Falou. – Mas vamos tentar. - A vassoura ainda estava entre suas pernas. Aproximei-me e esperei para que ele dissesse alguma coisa. – Fica na minha frente. – Minhas mãos começaram a suar. Subi na vassoura ficando em sua frente como ele pediu. 


Tentei tirar qualquer tipo de pensamento da minha cabeça, mas era inevitável. Ele colocou sua mão sobre a minha para que segurasse firme na vassoura. Seu rosto ficou ao lado do meu e podia escutar suavemente sua respiração. Posso estar ficando louca, mas alguma coisa esta acontecendo comigo. Em um movimento rápido sai da vassoura ficando o mais distante que conseguia. 


- O que aconteceu? – Respirei fundo tentando fazer com que minha voz saísse sem gaguejar. 


- É que, acho melhor, é, ver você primeiro. – Passei minha mão na nuca em um gesto nervoso. 


- Como quiser. – Antes de sair do chão explicou como se posicionar o que fazer quando estiver voando. Falou tudo o que eu deveria estar prestando atenção, mas não estava. Agora a única coisa que conseguia prestar atenção não me ajudaria a ganhar o jogo.


 


**


 


- Atenção. É isso que você precisa Melissa. – Disse pela milésima vez enquanto caminhava até o campo. Ajeitei a mochila nas costas e continuei andando. 


Sentei na arquibancada o mais longe que pude de todos que estavam ali. Deixei minha mochila no chão, abri o caderno e peguei a caneta. Anotei tudo o que pude. Noite passada não consegui fazer absolutamente nada com aquela vassoura, mas hoje estava disposta a voar. 


Estudei durante o dia todas as anotações que fiz no treino da sonserina. Levei o caderno para o salão principal e durante o jantar repassei todas as anotações, assim, na hora do meu treino não faria muito besteira. Juntei os cadernos e os livros em meu braço e comecei a andar em passos rápidos até a saída. 


- Olha se não é Melissa Potter. – Disse a hiena alfa. Victorie. 


- Você não consegue ser mais ridícula e infantil que isso? – Alfinetei. 


- Mais que você? Oh não querida, impossível. – E todas começaram a rir. Olhei para Fernanda e sustentava seu olhar frio em mim. 


Abaixei sussurrando irônica em seu ouvido: - Como eu queria estar no seu lugar. Dever ser tão divertido ter primas como elas. Parabéns. 


Sem dizer mais nada sai do salão principal caminhando direto para o dormitório. Embora devesse ainda não me acostumei a andar sozinha pelos corredores, Fernanda sempre estava comigo e agora me sinto tão sozinha e vazia. Mas ela quis assim. Suspirei tentando impedir meus olhos de derramarem uma lagrima sequer e entrei no quarto deixando os livros e os cadernos na cama. 


Vesti uma calça de moletom e uma regata branca. Não estava frio, na verdade, estava mais calor do que nos últimos dias. Peguei uma pequena mochila e coloquei uma blusa, caso fizesse frio mais tarde. Coloquei também o mapa, a capa, minha varinha e a vassoura.   


Não demorei a chegar ao campo e Scorpius, como sempre, já estava a minha espera. 


- Estou pronta. – Disse jogando a mochila no chão e segurando a vassoura. – Onde esta a sua? – Perguntei percebendo que ele não estava com a sua. 


- Hoje, apenas você ira voar. – Apontou para mim. – Ficarei aqui embaixo apenas te observando. – Forcei um sorriso. 


Que segurança terei estando sozinha lá em cima? Ok, não entre em desespero. Pelo menos, não agora. Suspirei não conseguindo tirar os olhos dele. Minhas pernas já estavam moles o suficiente antes de começar a encará-lo. Agora nem as sinto mais. 


- Algum problema? – Talvez ele tivesse percebido que meus pensamentos estavam distantes. 


- Não nada. – Sorri. 


- Então vamos começar. Lembre-se do que falei aula passada. Tenha autoconfiança. 


- Ok. – Me posicionei. 


- Quando estiver pronta. – Colocou a mão no meu ombro. 


Pronta? Não, não estou. Como estar pronta se ele esta aqui ao meu lado. Argh! Melissa o que você esta fazendo? Porque não sinto minhas pernas, minhas mãos estão suando e meu coração esta acelerado? A última vez que senti isso foi quando conheci... Balancei minha cabeça tentando tirar qualquer tipo de pensamento que não seja conseguir voar. Ok, autoconfiança. Lembrei mentalmente varias vezes. Sim, você esta pronta.  


- Estou pronta. – Puxei todo o ar que podia e soltei. 


- Agora incline levemente para frente dando impulso com os pés. Mas para cima. – Apontou para o céu. 


- Autoconfiança. Autoconfiança. – Disse varias vezes. 


- Confio em você. – Sussurrou em meu ouvido. 


Não sei exatamente o que aconteceu, a única coisa que lembro foi de ter dado um impulso para frente com o impacto que as palavras dele no meu ouvido tiveram. Meus pés não estavam mais grudados no chão. Estou voando? 


- Merlin eu vou cair. – Gritei quando olhei para baixo e percebi que estava a uma altura significativa e se caísse me machucaria. 


- Autoconfiança. – Gritou para que ouvisse. – Continue. – Incentivou. 


- Não sei o que faço com minhas pernas. Elas parecem mais duas bandeiras, quando o vento bater elas vão embora.   


- Com o tempo você se acostuma. Agora continue. 


- Isso é tão patético. – Disse olhando para baixo e vendo um pequeno Malfoy. 


- Não olhe para mim. – Falou. – Continue sem olhar para mim. 


Conforme os minutos foram passando, fui me acostumando com tudo aquilo. Melissa você precisara de muitas aulas para se acostumar com isso. Tudo bem, mas é como se todo o medo que sinto de voar fosse embora. Talvez ele tenha ido. Será? Ou talvez ele nunca tenha existido mesmo. É talvez tenha colocado isso na minha cabeça. Talvez.  


Depois de um bom tempo no ar seguindo as instruções que ele me dava, pediu para que voltasse ao chão. Mas, como? 


- E como eu volto? – Comecei a tremer. De medo ou de frio?Não sei. 


- Incline-se para baixo devagar. – Fiz o que ele pediu. A vassoura começou a descer mais rápido do que imaginava. – Não incline tanto. – Assenti fazendo novamente o que ele mandou. – Agora pode vir. – Assim que ele terminou de falar inclinei sem medo na vassoura. Não estava tão longe do chão, se quisesse poderia pular dali mesmo que não me machucaria. – Não tão rápido. – Gritou quando perdi o controle da vassoura e voei em sua direção. 


Gritei alto quando cheguei perto de Scorpius e não consegui parar a vassoura. Com medo de que o machuca-se soltei a vassoura caindo em cima dele que me segurou e juntos caímos no chão. Quando senti meu corpo colado caído no chão com o de Malfoy comecei a rir. Talvez tudo isso tenha sido uma idiotice, mas estava me divertindo muito. 


- Desculpa. – Falei deitada ainda rindo. Ele levantou e esticou a mão para me ajudar. 


- Tudo bem. – Começou a rir percebendo que não conseguia parar. 


- Sabe esses dias ando me divertindo muito com você. – Confessei sentindo minhas maças do rosto queimar. 


- Eu também. – Abaixou para pegar minha vassoura. – Acho que quebrou. – Disse entre risos me entregando as duas partes dela. 


- Amanhã mando outra carta para minha mãe contando o que aconteceu. – Peguei a diminuindo e colocando na mochila. 


- Acho melhor colocar a blusa. – Assenti. Peguei a blusa e a vesti. 


- Posso então lhe considerar um de meus amigos? – Mordi o lábio inferior. 


- Olha, não é porque estou me divertindo com você que serei seu amigo e... 


- Não seja chato, vamos. Ter amigos é bom e nunca é demais. – Sorri esperançosa. 


- Ta. – Revirou os olhos. Por instinto o abracei forte. Ele retribuiu sem jeito. O que você esta fazendo? Afastei-me rápido e peguei a mochila a colocando nas costas. 


- Acho que já podemos ir. – Coloquei as mãos no bolso da blusa e comecei a caminhar.


 


**


 


- Sua casa não é por este caminho. – Quebrei o silêncio. 


- Eu sei, mas a sua é. Assim que estiver lá irei para a minha. – Cavalheiro? Talvez. 


O silêncio voltou, mas não por muito tempo. Assim que cochichos invadiram nossos ouvidos nos olhamos. Dei de ombros e começamos a seguir as vozes. Parei assim que vi alguns alunos fazendo um enorme circulo. 


- O que... 


- Shhh. – Scorpius tampou minha boca. 


- Não. – A voz da Minerva silenciou todos os cochichos. – Devemos avisar à senhorita Potter sobre isso. 


- O que? – Olhei para ele que também não estava entendendo. – Avisar sobre o que? 


- Não vá. – Segurou meu braço. O puxei soltando as mãos de Malfoy. 


- Você não irá me impedir. – Caminhei até onde aqueles alunos estavam e empurrei todos para poder chegar ao centro onde Minerva estava. – Estou aqui, pode me falar... 


Todos ficaram em silêncio novamente no mesmo instante que as palavras fugiram de minha boca. A única coisa que poderia ser ouvido agora ecoando pelos corredores era o grito de desespero que saiu de minha garganta. Todos me olhavam como se não fosse uma pessoa, me olhavam como se fosse algo estranho. Como se ser uma bruxa já não fosse estranho o suficiente. E mais uma vez meu grito de desespero invadiu os ouvidos de todos ali. 


- Sinto muito. – Minerva se aproximou. Sem ao menos ouvi direito o que ela dizia e a empurrei para chegar perto de mimoso. – Não toque nele. – Sua voz era baixa. 


As lagrimas estavam por todo o meu rosto, minhas mãos e pernas tremiam incontrolavelmente. O que esta acontecendo? Tentei de alguma forma poder tocá-lo, mas foi inútil. 


Seu corpo estava magro podia ver seus ossos, como se ele não comesse há anos. Suas patas estavam machucadas. Seu rosto estava deformado, não parecia o mesmo mimoso que havia visto hoje pela manhã. Seu pelo estava sem cor, sem vida. Mais lagrimas começaram a tomar conta de meu rosto quando finalmente a ficha caiu. Mimoso estava morto. 


- Acho melhor sairmos daqui. – Scorpius se aproximou pegando em meu braço me ajudando a levantar do chão. Fui tirada de todos aqueles olhares curiosos, mas o que me importava mesmo era mimoso. Saímos de tudo aquilo, mas meus olhos estavam fixos nele. 


- Como esta se sentindo? – Perguntou. 


- Não sei. – Respondi entre soluços. – Foi o primeiro presente que ganhei do meu pai. – Comecei. – Tinha onze anos, nem podia imaginar que ele fosse meu pai. – Minha voz estava fraca. – Ele esta morto. – Disse em um fio de voz. 


Tampei meu rosto para que ele não me visse chorando. Esperava que ele me dissesse alguma coisa ou que me levasse até a grifinória. Mas ele fez algo diferente, algo que não imaginava que faria. Ele me abraçou. Envolveu-me em seus braços quentes e fortes. E me permiti chorar em seu peito. 


- Querida preciso falar um minuto com você. Serei breve. – A voz rouca de Minerva me despertou daquilo.  


- Desculpe professora, mas acho que não é um bom momento. – Scorpius falou. 


- Não, tudo bem. – Limpei as lágrimas com as mãos. – Pode dizer. 


- Devo ser o mais breve possível, esta tarde e não quero levá-los até minha sala e tomar a noite de sono de vocês. – Parou por um instante. – Mas, isso que aconteceu com seu gato foi realmente repugnante. Sinto muito. – Engoli o soluço. – Temo que isso seja algo relacionado à magia das trevas. Por isso não permiti que o tocasse. 


- Acha que tem haver com a pessoa que mandava as cartas nas férias? 


- Não sei querida, mas quero lhe pedir mais uma coisa. Quero que deixe seu gato comigo para poder examiná-lo e assim darmos a nossa palavra final.   


- Tudo bem professora. Mas com uma condição. 


- E qual seria? – Perguntou curiosa. 


- Quando você terminar tudo o que quiser fazer com ele, me devolva para que eu possa enterrá-lo. Independente do tempo que demore. 


- Farei isso. – Formou um sorriso fraco em seus lábios. – Agora vão para suas casas, não quero mais nenhum aluno pelos corredores a essa hora da noite. – Assentimos enquanto ela se afastava. 


Scorpius me abraçou mais uma vez. Um dos abraços mais sinceros que senti, mas agora uma pergunta, uma única pergunta que não saia da minha cabeça era quem poderia ter feito aquela maldade com mimoso.




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