Gêmeos



Capítulo 14
Gêmeos


 


- Ela brigou com você? – Coloquei o livro de Herbologia dentro de minha mochila enquanto andávamos em direção a estufa. A aula começaria em cinco minutos. 


- Não. – Seu tom de voz, como nos últimos dias, era baixo e triste. – Perguntou o que estava acontecendo. – Chutou uma das pedrinhas. Colocou uma de suas mãos no bolso e continuou com a cabeça baixa. 


- E você disse a verdade? – Assentiu. – Toda? 


- Sim. – Ficamos por um tempo sem falar nada. – Desde quando tomei o liquido daquele copo até o... – Pigarreou. – Natal. 


- Ela disse alguma coisa sobre isso? – O olhei enquanto entravamos na estufa e ficávamos o mais longe de todos os alunos que estavam ali, tanto da Grifinória quanto da Corvinal. 


- Que Rony não fez por mau, ele estava apenas a protegendo. – Por um breve momento vi seus lábios se abrirem em um sorriso pequeno e singelo, que logo se desfez. – E disse que Fernanda é tão cabeça dura quanto ele. – Sorri. Isso sim era verdade. 


- Realmente sinto muito. – Olhei seu braço que estava engessado. – Tentei convencer Fernanda, mas ela não quis me ouvir. – Deu de ombros. 


- Eu que devo sentir muito, por causa de mim vocês não se falam a uma semana. – Olhei para ela que estava bem distante de nós. Lia um livro, ou pelo menos fingia. 


- E acho que será por um longo tempo. – Suspirei. 


- E você? O que mamãe conversou com você? – Tirei a mochila das costas e a coloquei no chão. 


- Perguntou por que fiquei de detenção. – Dei de ombros. – Só disse a verdade. 


- E ela falou alguma coisa? 


- Disse apenas que a minha atitude de não acusá-lo foi uma das melhores que eu já fiz. – Sorriu. – Você sabe que eu não sou muito de ficar protegendo ninguém. – Finalmente consegui fazê-lo rir, e acho que não fui apenas eu que percebi. No mesmo momento que olhei para Fernanda ela voltou sua atenção para o livro. Até quando tudo isso vai durar?   


- Muito bem queridos. – Começou a professora. – Alguém poderia me dizer o que é isso? – Apontou para algumas sementes. Levantei a mão. – Sim senhorita? 


- São sementes de Athelas. – Respondi. 


- Muito bem. – Sorriu. – Dez pontos para Grifinória. – Luan deu tapinhas nas minhas costas como se uma criança tivesse feito alguma coisa certa. 


- Não sei se você percebeu. – Comecei cochichando. – Mas estamos bastante, hum, “unidos” essas ultimas semanas. 


- E isso é ruim? – Levantou uma sobrancelha fingindo interessado no que a professora falava. 


- Não, digo, isso é bom, eu acho. – E mais uma vez consegui fazê-lo rir. 


- Então? – Fiz carinha de anjinho. Ele revirou os olhos. 


- É que faz alguns anos que não ficamos assim, entende? – Ele parou por um instante, talvez estivesse pensando. – Estou gostando disso. 


- Melissa Potter, admitindo que gosta de passar um tempo com seu irmão? – Fingiu chocado. 


- Mentira. – Fiz uma careta. – Tudo bem, mas não vai se acostumando. – Falei sério e bati em seu ombro arrancando outra risada dele.


 


**


 


- Eu. Não. Vou. Conseguir. – Disse pausadamente andando de um lado para o outro. 


- Tem como parar? Esta me deixando mais nervosa. – Estava sentada em um dos bancos do vestiário onde os alunos que praticavam quadribol sempre se arrumavam para o jogo. 


- Eu não posso voar com um braço engessado. Lembra? Eu o quebrei. – Revirei os olhos e levantei. 


- Lembro irmãozinho. Mas partes dos seus dedos não estão engessadas. 


- Você quer que eu faça o que? Como vou segurar a vassoura e pegar o pomo ao mesmo tempo? – Peguei sua vassoura que estava encostada na parede e fiz com que ele segurasse com a mão machucada. – O que você esta fazendo? 


- Espera e veras. – Com um feitiço fiz com que uma pequena corda transparente aparecesse e a passei pelo punho de Luan a prendendo na vassoura. - Mesmo se você não conseguir segurar a vassoura seu punho estará preso nela e você não cairá, claro, ela esta presa com um feitiço que apenas eu sei. – Pisquei. 


- Você tem certeza que vai dar certo? – Olhou desconfiado o punho preso na corda que mal podíamos ver. 


- Claro que sim, acha que esta falando com quem? Luan Potter? 


- Você é muito engraçadinha sabia? – Sorri vitoriosa. 


- Não se esquece que me deve uma. Agora vá antes que todos venham lhe procurar. E será fácil vocês ganharem, afinal, estamos falando da Corvinal certo? 


- Se eu cair da vassoura você será a única culpada de tudo isso. – Levantei os braços em sinal de defesa. 


- No final você agradecera a mim. – Bati em suas costas caminhando na direção oposta. 


Juntei-me aos milhares de alunos da Grifinória que estavam ali, mas não deixei de procurar uma pessoa em especial: Fernanda. Olhei várias vezes no meio de toda aquela multidão, mas não a encontrei. Desisti e sentei em um pequeno espaço que encontrei dali conseguia ver Luan voar e ficaria atenta somente a ele. Se algo acontecesse seria por minha culpa, então, se ele corresse perigo eu o ajudaria. 


Não estava prestando muita atenção no jogo em si e muito menos estava pulando e gritando como muitos faziam. Meus olhos estavam fixos em um moreno de olhos verdes, é muito difícil fazer outra coisa sendo que algo poderia acontecer porque uma irmã doida convenceu o irmão gêmeo a participar de jogo mesmo não estando em condições. 


- Mimoso. – Lembrei. Que dono esquece-se de colocar comida para o seu animal de estimação? É essa sou eu. Olhei para Luan. Ele estava sorrindo e voava como se nada estivesse acontecido. – Ora vamos, não será tão demorado assim. Vou correndo coloco comida para ele e volto o mais rápido que minhas pernas permitirem. – Olhei mais uma vez meu irmão e levantei. 


Nunca pensei que fosse tão longe do campo até o dormitório. Cheguei ao salão comunal e mal conseguia subir a escada. Abri a porta do quarto e vi mimoso andando pelo quarto. 


- Calma, estou aqui e vou dar comida para você. – Peguei sua tigela e enchi de comida. Ele se aproximou, mancando um pouco por causa da patinha quebrada, e começou a comer. – Devagar. – Avisei. 


Fui até a porta e quando estava a fechando escutei alguns barulhos. Olhei para uma das janelas do quarto e vi uma coruja acinzentada com um envelope no bico. Levantei uma sobrancelha e caminhei até a janela. Abri e deixei à coruja entrar. Peguei a carta e comecei a ler. 


- Mãe. – Sorri continuando. Ela dizia que estavam todos bem e que Harry conversava com Rony quase todos os dias sobre o que ele fez com Luan. Lily estava bem e os gêmeos Thais e Allan Weasley estavam perfeitamente bem. Perguntou se Luan sentia alguma dor e para entrar em contato com eles o mais rápido possível. – Um enorme beijo para você e Luan. – Sorri. – LUAN. – Deixei a carta na cama e corri para o campo de quadribol. 


Sede. Era a única coisa que sentia, porque meu corpo não sentia mais. Cheguei ao campo e não havia mais aquelas gritarias e muito menos vassouras voando. Que legal acabou o jogo e estou aqui correndo igual uma louca. 


Aproximei-me mais do campo e ouvi alguns cochichos, aproximei mais e vi um enorme circulo, todos olhavam indignados para o centro dele. 


- Essa não, matei meu irmão. – Corri para perto e tentei me enfiar em meio a todos que estavam ali. – Deixe-me passar ele é meu irmão. – Empurrei um dos alunos da Corvinal e cheguei ao centro do circulo. – Espera! Ele não é meu irmão. – Disse apontando para menino caído no chão. 


- Vamos, todos para suas casas. – Minerva dizia batendo palmas. – O levaremos para a Ala Hospitalar. 


- O que foi Melissa? – David apareceu ao lado de Luan. 


- Disseram que tinha uma louca dizendo que era irmão dele. – Apontou para o menino. 


- Não é hora de brincadeiras. Poderia ser você. – Cruzei os braços. 


- E onde você estava? – Forcei meus lábios formarem um sorriso. 


- Não importa. – Pigarreei. – O que aconteceu com ele? 


- Vamos até a Ala Hospitalar que no caminho contamos tudo. 


- Mas antes, preciso que “desgrude” meu punho da vassoura. – Pediu Luan.


 


**


 


- Me deixa ver se entendi. Um balaço estava atacando o Luan? – Ri sarcástica. 


- Sim, mas ele desviou e atingiu o... Qual é o nome dele mesmo? – David apontava para o menino que estava sendo medicado pela enfermeira. 


- Não faço a mínima idéia. – Luan balançou a cabeça. 


- Vocês são loucos, isso sim. – Revirei os olhos. 


- Vamos, deixe o menino descansar. Coitado se continuar do jeito que esta terá que levá-lo ao St. Mungus. – Ela nos empurrou para fora. Fechou a porta atrás de nós e a única coisa que podíamos fazer é ir para o salão comunal. 


- Coitado. – Suspirou David. 


- Vocês não acham tudo isso muito estranho? – Analisei os fatos. 


- O que? – Perguntaram. 


- O balaço misteriosamente querer atingir Luan. – Apontei para meu irmão. – Alguém enfeitiçou o balaço. 


- Quer dar uma de detetive agora? – Bufei. 


- Claro que não David, mas é esquisito tudo isso. – Cruzei os braços. 


- E se foi a... – David olhou para Luan e eu sabia que ele diria Fernanda. 


- Não, ela não teria coragem. – Neguei. 


- A louca sempre foi a Melissa. – Luan sussurrou. 


- Eu ouvi. 


- Pois era para ouvir. 


- Então porque não falou mais alto? 


- Você quer que eu grite? 


- Já esta gritando. 


- Não me provoque. 


- Você não manda em mim. 


- Mando sim, eu sou o homem. 


- Não manda não, e eu sei me cuidar sozinha. 


- É eu sei disso muito bem. – Disse irônico. 


- O que você quis dizer com isso? 


- Você entendeu. 


- Não, não entendi. Quero que me explique melhor. 


- Cérebro de ervilha. 


- Para Luan. Já esta me irritando.   


- Para você Melissa. 


- Parem os dois. – Gritou David. – Acho até que estou ficando com dor de cabeça.   


- Melissa, Melissa. – Ouvi alguém chamando meu nome. Tirei meus olhos dos meninos e vi no final do corredor Demétria Smith correndo em minha direção. – Preciso falar com você. – Sua voz era animada. Seu sorriso ia de uma orelha até a outra. 


- Pode falar, então. – Sorri. 


- Adivinha quem entrou para o coral? – Começou a pular. 


- Não sabia que gostava de cantar. – Na verdade não sei de nada sobre ela. 


- Bem, quase ninguém sabe. – Deu de ombros. 


- Não é emocionante Melissa? – Luan afinou a voz, talvez tentando imitar Demétria, e fingiu animado. 


- Cala a boca. – Falei sem tirar os olhos de Demétria. 


- Vocês são irmãos? – Ela apontou para nós. 


- Gêmeos. – Dissemos os três ao mesmo tempo. 


- Você também? – Apontou para David. 


- Não. – Levantou a mão para o céu. - Graças a Merlin nasci em uma família muito distante da deles. É uma loucura ter os dois juntos, imagina se fosse um deles? 


- Engraçado, pois você adora dormir lá em casa. 


- Sabe como é eu amo meus amigos. – Ele passou o braço sobre o ombro de Luan que revirou os olhos.  


- Bem. – Ela mudou de assunto. – Vim perguntar também se você gostaria de estudar com a gente amanhã na biblioteca... 


- A gente quem? – David se intrometeu. 


- Eu, minha irmã Amanda e minha amiga Alexandra. – Respondeu. – Se vocês quiserem podem ir também. – Falou para os meninos. 


- Eu topo. – David levantou a mão. 


- David? – Luan o olhou sério. 


- Qual é? Não posso querer estudar? – Luan bufou. 


- Tudo bem, eu vou. – Ela me abraçou. 


- Espero vocês lá amanhã. – Acenou e pegou outro caminho. 


- Você? Querer estudar? – Luan olhou para mim rindo. – Sei. 


- Não acredita em mim? 


- Não. – Falamos juntos. 


- Gêmeos. – Nos lançou um olhar de desdém. Começamos a rir. 


- Acho que vou sozinho a Ala Hospitalar amanhã então. 


- Não seja mau, não o trocarei por nenhuma garota. – Ele piscou e Luan o empurrou. 


- E começar os testes para o novo batedor também. 


- Não precisa. – Disse mordendo o lábio inferior. – Eu serei. 


- Você? – Os dois começaram a rir. – Estou falando sério. 


- Pois eu também. – O olhei feio. Já faz um tempo que quero entrar para o time e essa é uma ótima oportunidade, mesmo sendo por pouco tempo. 


- Você tem medo de altura, e mal sabe as regras do jogo. 


- Eu aprendo. – Disse convincente. 


- Em uma semana e meia? Até o próximo jogo? – É pegar ou largar Melissa. Vamos, mostre a ele que você é capaz. 


- Sim. 


- Duvido. – Cruzou os braços. 


- Então vamos apostar. – Estiquei minha mão direita. – Medo de perder? 


- Não. – Apertou minha mão. – Se eu ganhar vou poder fazer o que quiser com você e não poderá reclamar. 


- Fechado. – Sorri vitoriosa. – Mas se eu ganhar, você apenas terá que sentir o gostinho da derrota. 


- Isso vai ser interessante.


 


**


 


Estávamos quase atrasados, bem, não diria exatamente atrasados porque não marcamos hora exata para nos encontrarmos com as meninas. Mesmo assim não gosto de me atrasar mesmo não tendo marcado nada. 


- Vamos. – Chamei David que estava atrás de mim. 


- Para que você esta correndo? – Ele gritou me alcançando. 


- Não reclama. – Peguei em sua mão e apertei o passo o puxando. 


- Então me diga. – Começou. – Quem são as meninas? – Solei uma gargalhada. 


- Estava demorando. – Continuei o puxando. – Amanda Smith tem os cabelos longos e incrivelmente pretos. Não é muito de dar risada, mas você saberá quando ela realmente achar alguma coisa engraçada. E um pouco sarcástica. – Soltei sua mão e diminui os passos quando estávamos perto da biblioteca. 


- E a outra? – Perguntou parando poucos passos da porta. 


- Alexandra Malfoy? – Perguntei. 


- Malfoy? – Arregalou os olhos. – Olha as horas. – Ele disse olhando o punho direito que não havia relógio nenhum. – Estou atrasado, preciso ir. – Virou para ir embora, mas o segurei pelo colarinho. 


- Não seja medroso, ela é simpática. E não fará mal alguma a você. – Entrei na biblioteca avistando Amanda e Alexandra sentadas em uma mesa distante e logo em seguida Demétria aparecendo entre as enormes prateleiras. 


- Não é dela que tenho medo. – Sussurrou. Continuei o puxando até a mesa e acenei para elas que sorriram menos Amanda que apenas acenou com a cabeça. 


- Meninas esse é meu amigo David. David essas é Amanda e Alexandra. – Ele ajeitou a camisa que havia bagunçado e sorriu tímido. 


- E as novidades? – Perguntou Demétria animada enquanto arrumava alguns pergaminhos. 


- Bem. – Mordi o lábio inferior. Olhei para David que revirou os olhos. 


- Ela esta pensando que vai conseguir entrar para o time de quadribol, como substituta do, bem, do batedor que sofreu o pequeno acidente. 


- Que bom. – Disse animada. 


- Bom? Ela tem medo de altura, quero só ver como aprendera em uma semana e meia a voar. – Amanda riu do comentário de David o que o deixou sem graça. 


- Sejamos francos. – Amanda sussurrou. – É impossível em uma semana e meia alguém aprender a voar perfeitamente. 


- Seria legal se alguém me desse um voto de confiança. 


- Eu dou. – Disseram Alexandra e Demétria ao mesmo tempo. 


- Obrigada. – Agradeci. 


- Essa não, devo ter esquecido meu pergaminho em uma das prateleiras. Vou lá buscar. 


- Não se preocupe eu vou. – Disse. – Onde esta? 


- Acho que perto da seção de Herbologia. – Assenti e caminhei até a prateleira. 


Entrei entre no meio de todos aqueles livros. Procurei a seção de Herbologia e logo achei o pergaminho. O peguei e abri. Como vou saber se é dela? Não sei nem como é a sua letra. Suspirei olhando o resto da seção e vendo se achava mais algum perdido. 


- Desculpa. – Pedi assim que bati em alguém. – Ah, hum, Malfoy. 


- Prazer em revê-la também. – Disse sarcástico. 


- Como esta? – Perguntei olhando para o tornozelo. 


- Bem. – Olhou também para o tornozelo. – Queria falar uma coisa, na verdade, fazer uma pergunta. 


- Então faça. – Cruzei os braços esperando. 


- Sem querer ouvi você falando com a amiga da minha irmã sobre entrar para o time de quadribol... 


- Sem querer? – Ele não deu atenção ao que disse e continuou. 


- Escutei também que você tem medo de altura e apenas uma semana para conseguir aprender. – Parou por um breve momento. – Estou disposto a ajudá-la. 


- Por quê? – Perguntei sem entender. 


- Você me ajudou naquele dia na floresta, mesmo você tendo me colocado naquela situação.  E quero agradecê-la de alguma forma. Se você aceitar ficaremos quites. 


- Não sei. – Aceitar ou não aceitar eis a questão.  


- Você aceita ou não? – Perguntou impaciente. Mordi o lábio inferior o olhando. 


- Aceito.




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