Ártemis



Capítulo 4 - Ártemis


Eu já estava no meu dormitório há bastante tempo. Está bem. Isso foi mentira. Não faz nem cinco minutos que me deitei aqui e eu não parava de pensar nos bilhetes e no jeito despojado das respostas que ele me dera. Eu já estava ficando louca. Como alguém conseguia me deixar assim? O pior é que eu não faço nem idéia de quem seja.


Olhei para a janela. Hoje tudo naquele céu parecia tão próximo. Eu via claramente as estrelas e a luz da lua cheia que incidiam ali. Levantei-me e fui ali sentir um pouco daquele ar. O tempo quente não duraria muito tempo, afinal já estava chegando à época em que só se veria uma cobertura branca sobre o terreno da escola. Eu tinha que aproveitar enquanto ainda tinha chance. Olhei para a lua e desejei boa sorte a Remus. Seriam dias difíceis para ele.


Mas havia outro motivo para chegar até ali. Queria abrir pra permitir que certa coruja entrasse. Isso se fosse enviada.


Sentei-me a beira da janela. Não me importei em lançar feitiço algum naquele quarto, até porque a janela estava aberta então não iria adiantar nada. Mas precisava tocar meu piano e cantar. Assim ficaria mais calma e desanuviaria meus pensamentos. Escolhi uma que eu adorava cantar quando tinha algum receio ou dúvidas me atormentando, como agora. Mas alguma coisa me fez pensar em Remus e desejei que se ele pudesse ouvir essa música, que ela fizesse alguma diferença para ele hoje.


I know there's something in the wake of your smile
I get a notion from the look in your eyes yeah
You've built a love but that love falls apart
Your little piece of heaven turns too dark


Mas logo em seguida sua imagem foi substituída por aquele sonho que tive mais cedo. Quase podia ouvir aquela voz ecoando em meus pensamentos. Aquela música me dominando, preenchendo um espaço vazio.


Listen to your heart when he's calling for you
Listen to your heart there's nothing else you can do
I don't know where you're going and I don't know why
But listen to your heart before you tell him goodbye


Meu coração deu três batidas apertadas para depois disparar. Alguma coisa me levou a pensar que a pessoa que cantava era o mesmo que deixara os bilhetes. Que me cedera gentilmente aquele travesseiro cheiroso do qual já sentia falta. Balancei minha cabeça tentando afastar tais pensamentos e me prendi a música.


Sometimes you wonder if this fight is worthwhile
The precious moments are all lost in the tide yeah
They're swept away and nothing is what it seems
The feeling of belonging to your dreams


Listen to your heart when he's calling for you
Listen to your heart there's nothing else you can do
I don't know where you're going and I don't know why
But listen to your heart before you tell him goodbye


Desejei que as pessoas que mais estivessem precisando pudessem ouvir a canção e que pudessem ter alguém por perto para ampará-las. And there are voices that want to be heard.


So much to mention but you can't find the words.
The scent of magic, the beauty that's been
When love was wilder than the wind.


Listen to your heart when he's calling for you
Listen to your heart, there's nothing else you can do
I don't know where you're going and I don't know why,
But listen to your heart before you tell him goodbye.


Listen to your heart mhmmmmm
I don't know where your going and I don't know why
Listen to your heart before you tell him goodbye


Assim que terminei de cantar me senti um pouco melhor. Hoje havia sido um dia e tanto. Olhei para o céu, não havia nada voando em direção a janela onde eu agora estava apoiada. Talvez ele não tenha chegado a Torre ainda ou preferiu não responder. Esperava que fosse a primeira opção.


Dei as costas à janela e fui me deitar. Cansada de tudo o que saiu dos eixos. Não demorou muito para que eu viesse a adormecer. Mas uma coisa eu podia afirmar.


Minhas coisas não pareciam mais tão confortáveis depois de experimentar aquele cobertor e travesseiro. E já não me sentia em casa como antes. E ainda havia mais uma coisa. Eu definitivamente não queria ter Fabian Prewett na minha vida nesse momento.


Eu não sabia há quanto tempo eu estava dormindo. Nem quando as meninas entraram. Eu simplesmente apaguei. E sonhei. Novamente aquele garoto. Mas era como uma continuação do sonho de antes. Ele me viu e se levantou. Fiquei assustada. Ele não parecia muito contente por ter alguém o espionando. Podia sentir a fúria fluindo dele. A escuridão tomava conta do lugar, nem sequer seu rosto eu enxergava. Mas senti seu toque indelicado no meu pulso. O que ele havia feito eu não conseguia entender, mas eu senti como se puxassem a pele de minhas mãos e pulsos em pequenos pedaços. Acordei assustada balançando minha mão. E senti que bati em algo. Vi uma sombra no chão próxima a minha cama.


Olhei para a cama de minhas amigas todas estavam com o cortinado fechado. Agradeci muito por isso. Peguei minha varinha, puxei uma parte do cortinado para impedir que a luz invadisse os cortinados vizinhos e acordasse alguém. Apontando para o lugar onde a pequena sombra estava pronunciei Lumus.


Levei um susto. Aparentemente eu esbofeteei uma pequena coruja. Ela era a origem do sonho estranho. Olhei para minha mão. Marcas fracas de pequenas mordidas estavam ali. A peguei gentilmente e lancei um feitiço na asa quebrada. Pedi muitas desculpas a ela. Ela me respondeu com um piado baixo. Perguntei se ela conseguiria voar e ela voou para meu ombro, encostando a pequena cabecinha na minha bochecha.


- Desculpe. Pelo visto meu sono foi bem pesado. Não era intenção machucar você. – sussurrei enquanto fazia um carinho leve nela. – Mas o que você faz aqui?


Não havia reparado no pequeno pedaço de pergaminho que jazia no chão até ela voar e pega-lo para mim. Não havia remetente. O abri.


Fico feliz por ter conseguido salvar seu estômago. Peguei o que achei necessário pra te dar energia, te fortalecer. Não é bom ficar sem jantar. Respondendo a sua pergunta, eu sabia que você não desceria, pois ouvi de relance suas amigas dizendo isso a Prewett. Seu namorado, certo?


Sente-se melhor agora?
Não precisa agradecer por nada.


Boa noite.
p.s.: como sabia que eu responderia?


Eu sorri. Olhei para a pequena corujinha.


Separei pergaminho, tinta e pena e comecei a escrever. Assim que terminei a prendi na perna da coruja e pedi para que ela não o acordasse se ele estivesse dormindo.


######


Eu descia a escada do dormitório masculino quando a vi dormindo tranquilamente na sala comunal. Não resisti e fui até ela. Deixei que minha mão vagasse pelo rosto delicado dela, sobre aquela pele macia.


Mas a posição em que ela dormia era desconfortável demais. Como não poderia levá-la ao dormitório feminino e não queria acordá-la, a peguei no colo e a deitei no sofá. Fiz com que meu cobertor e travesseiro viessem ate mim e a ajeitei ali. Ela estava com um sorriso suave nos lábios. Devia estar tendo bons sonhos. Fiquei ali velando o sono dela até ver uma pequena movimentação dela. Escondi-me atrás do sofá.


Fiquei ali até que ela subisse para o próprio dormitório. Ela demorou um bom tempo por lá. As meninas que chegaram à Torre mais tarde desceram bem antes dela. Preocupadas. Aparentemente ela não estava se sentindo muito bem. Quando ouvi passos na escadaria delas me escondi. Ela deixou o cobertor e o travesseiro no sofá e um bilhete em cima. Sorri.


Ela não ficou ali. Peguei as coisas e li o que dizia o bilhete. Deixei tudo no dormitório e fui jantar.


Como não tinha a mínima intenção de deixar que ela adoecesse por ficar sem comida levei os pratos que ela mais adorava. Eu a observava tanto que sabia todos os gestos, manias e gostos alimentares dela.


Deixei tudo no salão comunal e saí. Hoje era dia de lua cheia, precisava me precaver. Fui para meu esconderijo nessa época. A Casa dos Gritos. Mal acabara de chegar ali e ouvi uma garota cantando. A música era linda, porém a voz era triste. Durante algum tempo fiquei sentado, apenas me concentrando na canção.


Não tardou muito para que meus amigos viessem me fazer companhia. Trouxeram consigo um pedaço de pergaminho com aquela caligrafia delicada e conhecida. Eu havia contado a eles.


Eles já sabiam que eu seria incapaz de deixá-la sem uma resposta, fora que eles pareciam estar se divertindo com isso. Minha coruja chegou trazendo tudo que eu precisaria para responder. Talvez esse fosse o melhor jeito de me aproximar dela. Escrevi a resposta e enviei Ártemis. Já era madrugada provavelmente ela só a leria pela manhã.


Estava completamente enganado. Ártemis voltara. Ela estava acordada.


Desculpe, mas sua coruja não vai poder voar rapidamente e, por favor, não a faça voar longe demais, ela não agüentaria. Eu a machuquei por acidente. Estava dormindo e bem, não estava tendo um sonho muito bom. Acordei sobressaltada e ela acabou pagando por ele com uma bofetada. Desculpe mesmo. Espero realmente que ela fique bem. Sua coruja é bem insistente quando quer acordar alguém. Mas ela é um amor.
Obrigada pela preocupação. Estou muito melhor agora. Embora possa dizer que prefiro ficar trancafiada na torre até as coisas se normalizarem para mim. Ainda é cedo para dizer namorado. Não sei nem se tenho essa intenção. Pelo menos não com ele. Foi rápido demais para meu gosto e acho que não posso confiar tanto nele. Digamos que eu esteja com um pé atrás em relação a ele. [estou confiando que não vá dizer nada a ninguém].
P.S.: eu sabia que responderia pelo simples fato de você ter se demonstrado um cavalheiro.


- Tenho que me lembrar de não acordar uma garota...


- Acho que você nem tentaria, Sirius. Ela não te deixaria escapar tão fácil.


- O que posso fazer se sou um ser irresistível.


- E muito modesto também.


- Para que ser modesto meu caro, Pontas. A perfeição é para se por a mostra. E eu tenho muito para mostrar.


- Mudando de assunto... – James interferia ainda rindo. – O que vai fazer Remus?


Remus nem se deu ao trabalho de responder a pergunta do amigo. Já estava com pergaminho e pena na mão.


#####


Já era de manhã quando Emmeline acordou com o pio suave de uma coruja em seu travesseiro.


Bom dia! – disse ainda sonolenta, pegando o pergaminho que a corujinha estendia. Sentou-se colocando a coruja em seu colo e abriu a carta.


Querida Srta. Vance,


Obrigado por cuidar de Ártemis, minha coruja. Ela gostou muito de você. Ficou ansiosa esperando que eu lhe escrevesse uma resposta. Como foi que fez isso? Ela geralmente não é tão amigável. Espero que ela não tenha lhe causado nenhum ferimento.


Ficar trancafiada na torre? Acho que isso não seria algo típico seu, mas sim de uma de suas amigas. Quanto ao seu não namorado, estimo que você consiga achar uma solução adequada para esse problema e acrescento que pode confiar em mim. Seu segredo está guardado. Em relação a sua saúde, estimo melhoras.


Atenciosamente,


Um amigo.


Fiquei encantada com a gentileza demonstrada por ele. Imediatamente tratei de responder. Molhei a pena, mas parei. Não sabia como começar. Ele havia educadamente me chamado de "querida" como geralmente se faz a amigos ou a família. E eu nem mesmo tinha um apelido pelo qual chamá-lo. Era melhor manter-se como antes.


Acho que ainda não vou parar de te agradecer.
Realmente ficar trancafiada aqui não faz meu tipo. Esse é mais o perfil da Lily quando discute com o James. Hahaha
Para falar a verdade já estou cansada de olhar para essas paredes e cortinados. Gosto de ar puro. Se bem que se você notar o clima já está mudando. Na verdade fiquei surpresa ao ver que quando chegamos ainda não havia neve cobrindo todo o terreno.
Quanto a Fabian eu ainda estou decidindo o que fazer. Entenda, não sou o tipo de pessoa capaz de magoar alguém. Quero fazer tudo da melhor forma possível. Embora algo me diga que ele não mereça minha preocupação.


A propósito Ártemis é um amor, também gostei muito dela. Não se preocupe ela só havia deixado marcas finas na minha mão que já desapareceram. E se eu tivesse me ferido seria bem merecido, ela levou um tapa que acabou resultando em uma asa quebrada.
Sabe isso não é justo. Você sabe meu nome, mas eu nem imagino quem você seja. Eu gostaria de saber qual o seu nome. É estranho falar com alguém que está tão próximo sem saber exatamente quem é. A propósito pode me chamar de Emme. É assim que minhas amigas e o Sirius...hahah, costumam me chamar.


Atenciosamente,


Emme.

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