UM ESTRANHO NO NINHO



Virgínia Weasley abriu os olhos vagarosamente. A cama confortável, os cobertores quentes e os travesseiros macios eram muito gostosos, mas ela não fazia idéia de onde estava. Sentou-se na cama e só então viu que usava calças de pijama e camiseta regata. O fogo crepitava na lareira, tornando o ambiente quente e acolhedor. Levantou-se, pegou o roupão imaculadamente dobrado no pé da cama e vestiu-o. Olhou ao redor. O quarto era grande e ricamente mobiliado. Ela andou até a lareira e abaixou-se diante do fogo.
— Olá desconhecida. - Gina tentou se virar assustada e caiu sentada no chão. Draco a olhou e se espreguiçou gostosamente na poltrona. Seu cabelo estava desalinhado, o olhar cansado, olheiras e estava pálido. – Bom te ver acordada.
— Bom estar viva. – Ela disse sem graça. – Onde estamos?
— No meu apartamento. Em Londres. – Ele escorregou para o chão e sentou-se de frente para a garota. – É mais seguro, pelo menos por enquanto.
— O que aconteceu?

Draco suspirou várias vezes antes de falar. A garota reparou que ele tinha os ombros curvados, como se levasse o mundo nas costas.
— O que importa – Ele disse num fio de voz – É que você foi curada e o faraó foi mandado de volta para o inferno.
— Mas eu... – ela começou a falar, mas foi interrompida.
— Estou cansado. Você dormiu quatro dias e três noites e fiquei com tanto medo de que não acordasse mais que não consegui desviar os olhos de você. Preciso descansar. Prometo lhe contar tudo amanhã de manhã. – Ele se levantou e ela também. Reparou que ele usava calça e camisa social pretas e um sapato muito bonito. – Estarei no quarto em frente caso precise. O banheiro – ele apontou para o extremo do quarto – é ali. Tem toalhas limpas, shampoo, pasta de dente. Fique a vontade.
— Obrigada. – Ela sussurrou de volta, acompanhando-o apenas com o olhar. Assim que ele alcançou a porta ela voltou a falar. – Preciso falar com meus pais.

Draco Malfoy parou de andar e apoiou uma mão e a testa na parede, como se fosse difícil demais suportar o próprio peso ou ficar de pé. Ele a olhou e sorriu.
— Seus pais sabem que você está em segurança. Acho que mandar uma coruja seria muito arriscado e com certeza as lareiras estão sendo vigiadas. – Ele respirou cansado. – Conversaremos amanhã, tudo bem?
— Ok, boa noite.

Draco saiu do quarto de hóspedes e cambaleou até o seu. Encostou a porta, sentou na cama, tirou os sapatos e a camisa. Jogou-se para trás e antes mesmo de encostar no edredon estava dormindo.

Virginia Weasley sentou-se de frente para a lareira e deixou o calor do fogo a aquecer. O quarto estava fracamente iluminado, mas ela conseguiu ver as horas no relógio digital ao lado da cama: 2:58. Olhou para a roupa que usava por baixo do roupão. A calça era, sem dúvida alguma, do seu anfitrião. E a camiseta só podia ser da sua mãe. Ou de alguma amiga. Ou namorada. Ela sentiu uma pontada de ciúme e se odiou por isso. Só porque o cara te salva duas ou três vezes e você já acha que ele te ama desesperadamente, Virginia Weasley? Faça-me o favor! Ralhou consigo mesma.

Foi então que sentiu um vento frio passando pelas suas costas. Seu sangue ficou gelado e ela não conseguiu respirar.
— Quem está aí? – Perguntou sentindo-se imensamente tola. Com certeza era apenas uma corrente de ar que, com toda a certeza, não responderia.
— Perdoa July senhorita Weasley. – Uma voz esganiçada respondeu. O sangue de Gina congelou, mas ela conseguiu virar-se de sopetão. E foi então que deu de cara com um elfo doméstico imundo, trajando nada mais que farrapos e com medo nos olhos. – Perdoa July, perdoa! Não era para a senhorita ouvir July, mas July não sabia que a senhorita tinha acordado. – O elfo começou a bater a cabeça na poltrona furiosamente e Gina impediu que seu cérebro lhe saísse pelas orelhas.
— Está tudo bem July, eu te perdôo. – Gina a olhou com curiosidade. Ela conhecia os elfos domésticos de Hogwarts, mas na Toca eles não eram utilizados. – O que você está fazendo?
— É dever de July manter o quarto da senhorita Weasley aquecido e confortável. – O elfo respondeu fazendo uma enorme reverência e em seguida falou em um tom estranhamente alegre. – O amo de July falou que se July não fizesse isso ele açoitaria July até a morte.
— Ahn... – Gina não soube o que dizer enquanto imaginava Draco açoitando o pobre elfo até a morte – Mas está tudo bem porque eu estou muito confortável, July.
— Isso é muito bom senhorita Weasley – July falou balançando a cabeça. – Muito bom, é sim muito bom. July ficou com medo de que a senhorita não acordasse. – E dizendo isso bateu com a cabeça na poltrona. – July não podia ter dito isso, não podia, não podia. – E tentou bater a cabeça novamente, mas Gina a segurou.
— E por que teve medo que eu não acordasse, July? – Gina quis saber.
— Porque meu amo estava com medo. Ele disse para July dar banho na senhorita Weasley todos os dias e colocar roupas limpas e roupas de cama limpas e era só nessas horas que o meu amo saía do quarto. Ele disse para July que estava preocupado com a senhorita e July também ficou preocupada com a senhorita.
— E por que ele estava preocupado, July? – Gina apertou os ombros do pequeno elfo, para evitar que ele se batesse novamente. - Ele falou?
— Ahngh... – O elfo tentou se soltar desesperadamente dos braços da garota. – July não pode falar, não pode, não pode.
— Pode sim July. – Gina disse num tom de voz calmo. – Se eu estou te perguntando é porque você pode me dizer.
— O amo de July disse que a senhorita Weasley tinha tomado uma poção e ele não sabia se a senhorita acordaria e ele teve medo disso acontecer.
— Entendo. Que dia chegamos aqui July?
— Há quatro dias, senhorita Weasley. – July respondeu satisfeita. Estava extremamente feliz, pois nunca tinha sido tão útil para um bruxo como agora e já não sentia mais medo. – A senhorita Weasley chegou dormindo e o senhor Malfoy chegou muito machucado, muito machucado mesmo. Mas ele pediu que July cuidasse dele e July cuidou com magia élfica e ele ficou melhor.
— Ele chegou machucado? – Gina repetiu assustada.
— Ó sim, muito machucado. Mas July cuidou do senhor Malfoy e ele ficou bom e ele ficou aqui com a senhorita Weasley durante todo o tempo, muito preocupado com a senhorita Weasley.
— E ele falou alguma coisa com você July?
— Não, o senhor Malfoy não fala muito com July. – Ela disse com uma pontada de tristeza e em seguida abriu um largo sorriso. – O que July pode fazer pela senhorita Weasley?
— Não preciso de nada agora July, obrigada. – Gina sorriu – Pode ir agora.

Com um estalo surdo a elfo sumiu, deixando Gina sozinha no imenso quarto. Ela sentia um pouco de sonolência, embora não entendesse o porquê e quis andar um pouco pelo apartamento. Atravessou o quarto e caminhou pelo corredor que estava fracamente iluminado. Aproveitou para observar os quadros. Em um deles uma mulher muito bonita usava um vestido branco, segurava um buquê de rosas vermelhos e sorria feliz. O homem ao seu lado era extremamente parecido com Draco, embora tivesse um constante olhar de desdém e sorriso de deboche no rosto. Gina não teve dúvidas de que era Narcisa e Lúcio Malfoy no dia do casamento. Ela deu alguns passos para o lado e viu outro quadro, dessa vez sem dúvida nenhuma era Draco. Não devia ter mais de sete anos; era uma criança pálida e magricela que empunhava uma varinha com olhar superior.

A garota olhou para a porta do quarto entreaberta e sentiu um vento frio. Pé ante pé se aproximou e a empurrou vagarosamente. Draco estava deitado na cama atravessado, seus pés no chão. Estava sem camisa e descoberto e a janela aberta dava entrada a corrente de ar frio. Sentindo seus ossos doerem pelo ar gelado Gina empurrou a porta a entrou. Foi até a janela, fechou-a e puxou as cortinas para escurecer ainda mais o quarto. Em seguida aproximou-se da cama, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa ele estava segurando a varinha em sua direção.
— Draco, sou eu! – Gina gritou assustada.
— Que susto! – Ele respondeu colocando a varinha novamente ao seu lado e fechando os olhos. – Não te vi entrar.
— Você estava descoberto e a janela estava aberta... – Ela disse em tom de desculpas. Percebeu que ele já estava dormindo novamente, beirando o sonambulismo. – Levante-se e deite direito, caso contrário vai acordar todo dolorido e com um baita resfriado amanhã.

Draco fez o que a garota mandou, embora seus olhos estivessem fechados. Levantou-se, ela puxou o edredon, arrumou os travesseiros e ele voltou a deitar. Ela o olhou com carinho e ia dar meia volta quando ele voltou a falar.
— Deite-se aqui comigo. – Pediu.
— O que? – Ela perguntou surpresa.
— Dormir aqui... – Pediu novamente – Comigo...

Ela se aproximou e puxou o edredon mais uma vez, repetindo para si mesma todo o tempo que ele estava dormindo e que nada daquilo fazia muito sentido. Colocou a cabeça em um travesseiro e puxou o edredon até o queixo. Draco nem parecia ter reparado que ela estava ali, o que confirmou sua desconfiança de que ele já estava hibernando e falando coisas sem sentido. Pensou seriamente em voltar para o seu quarto, mas antes que pudesse se mexer ele passou um braço em sua cintura, enlaçando-a frouxamente. Gina ficou um pouco embaraçada, mas logo deu os ombros, fechou os olhos e adormeceu.

— Se eu ganhasse um centavo a cada vez que você dorme estaria rico.

Gina abriu os olhos lentamente e ali estava Draco. Ele sorria e estava maravilhoso.
— Você já é rico. – Foi a única coisa que ela pensou em responder. Realmente estava dormindo demais, mas sua mãe sempre disse que quanto mais a pessoa dorme mais sono sente. As cortinas do quarto estavam abertas, mas não devia ser muito tarde.
— Eu sei. – Ele disse - Mas você entendeu, não é mesmo? – Gina quase não conseguia parar de olhar para o sorriso dele. – E então, vai me contar o que aconteceu desde que eu hibernei no sono profundo? – Ela perguntou sentando-se na cama e arrumando os travesseiros em suas costas.
— Claro. – Ele sentou-se de frente para ela. – O que quer saber?
— Que tal me contar tudo?
— Bom... – Ele suspirou longamente – Acho que você vai ficar um pouco decepcionada... Assim que desmaiou eu enfiei o punhal na garganta do Seth e a rasguei de fora a fora. – Gina tapou a boca com uma das mãos horrorizada. – Elizabeth tentou me matar, algumas azarações me acertaram, fiquei ferido. Por sorte, depois de um tempo, consegui estuporá-la. E fugi de lá com você. – Ele fez uma longa pausa. – Quando estava saindo da Sala de Registros eu... ouvi vozes... Eram pessoas do Ministério da Magia. Fiquei feliz em saber que eles tinham ido atrás de nós dois. Mas foi então que vi que eles estavam lá não por nossa causa. E sim por causa de Elizabeth. Eu me escondi com você. Ouvi Fudge e Elizabeth discutindo e em seguida ele lançando Avada Kedavra, mas não sei quem ele matou e se matou. Eles não estão do nosso lado, Gina. Por isso estamos aqui, escondidos.
— Draco – Gina o olhava bestificada – Preciso conversar com meus pais agora! Eles devem estar correndo um sério perigo!
— Não Gina, eles não estão. – Draco a olhou nos olhos – Seu pai estava com eles.

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