A CICATRIZ





Gina entrou na câmara apertando a mão de Draco com toda a sua força. Assim que olhou para a frente soltou um grito horrorizada e virou o rosto para o lado ao sentir a golfada de vômito subir pela sua garganta. Draco estava em choque. Fixou o olhar nas gotas de sangue no chão, caindo repetida e incansavelmente.

A garota limpou o vômito na manga do casaco e, desejando que aquilo não passasse de uma miragem demoníaca, olhou para frente.
— Uma cerca fantasma – Draco sussurrou tão baixo que Gina sequer ouviu.
— O que é aquilo Draco?

Os dois estavam em algum lugar na redoma, a alguns metros da cerca. O lugar estava parcialmente iluminado e eles conseguiam enxergar vagamente as prateleiras de pedra, do chão ao teto, abrigando milhares de páginas de papiro.
— O que é aquilo Draco? – Gina repetiu a pergunta, impaciente.
— Uma cerca fantasma. – Ele responde engolindo em seco – Não sabia que tinha como fazer uma de verdade . É magia negra extremamente avançada.
— Mas nós percebemos que não estamos lidando com estudantes primários há séculos. – Gina suspirou derrotada - Não podíamos esperar outra coisa.
— Gina... – Ele a olhou e a segurou pelos ombros – Nós podíamos esperar qualquer coisa. Menos isso.
— O que você sabe sobre a cerca fantasma?

Draco a olhou por um longo momento e em seguida correu em direção às cabeças presas nas estacas. Uma força invisível o jogou para trás, ele bateu na parede e caiu no chão. Gina correu e o ajudou a se sentar.
— É só isso que eu sei. A cerca só permite que as pessoas certas a atravessem. Cada pintura em cada rosto significa um feitiço de proteção, ou algo do tipo. – Ele suspirou derrotado – Eu não sei mais nada sobre essa aberração.
— Quem são essas pessoas? – Gina quis saber.
— Provavelmente aquelas que tem alguma ligação sanguínea com essas daí. – Ele disse apontando para as cabeças com o queixo.
— Então o que vamos fazer? – Ela olhou para os rostos ensangüentados e sentiu uma corrente gelada percorrer toda a sua espinha. Lembrou-se da vez que abriu o armário do banheiro do dormitório para pegar a pasta de dentes e, quando fechou, viu a imagem de um monstro refletida no espelho, sua própria imagem, como se fosse uma múmia. Os olhos saltados, brancos. A boca escancarada, como num grito eterno. Exatamente como aquelas pessoas.
— Eu não sei. – Ele olhou para trás e começou a apalpar a parede, buscando a porta por onde tinham entrado. Mas ela não existia. Tinha sumido. – Precisamos encontrar uma alternativa. – Ele a olhou e segurou suas mãos com delicadeza. - Como está o sangue nas unhas?
— Não parece evoluir. – Ela disse olhando para a ponta dos dedos, mas sem soltar a mão do garoto. – Draco... – Ela olhou para a cerca e novamente para o garoto. – São nove pessoas. E se eles foram os sacrificados?
— E daí? – Ele perguntou sem entender.
— E daí que se eles forem os sacrificados eu tenho ligação sanguínea com eles. O sangue deles e o meu correm agora no faraó. Talvez eu consiga.
— Você pode tentar. – Ele tentou sorrir – Mas não se esqueça de proteger a cabeça se for jogada para trás.
— Me lembrarei disso.

Gina caminhou temerosa até às cabeças. Quando estava a poucos centímetros sentiu o cheiro de sangue fresco ficar ainda mais forte e a ânsia de vômito aumentar. Fechou os olhos.

E passou.


— Achei! – A menina sussurrou triunfante. – Aqui Harry, venha ver.
— Os estigmas? – Ele perguntou colocando um imenso livro de lado e contornando uma das pequenas mesas da Biblioteca Nacional de Bruxaria de Londres.
— “Estigmas são cicatrizes que aparecem em pessoas que tiveram contato com seres divinos, independente de sua época ou origem. Como o contato com tais seres é extremamente forte e pouco suportável a maioria dos bruxos não resiste e falece pouco tempo depois. – Ela parou de ler e olhou para Harry, suspirando baixinho. Em seguida continuou - Quando o contato é muito rápido, mas o bruxo não é forte o suficiente ele é condenado a ser espectro para sempre: uma pessoa imortal, mas absolutamente sem alma ou sentimentos que vaga pelo mundo sem objetivo algum. Em casos extremamente raros os bruxos apresentam os estigmas. São sinais simbólicos e provas incontestáveis de que a pessoa realmente teve contato com alguma divindade. Em casos ainda mais raros, quando a divindade é familiarizada com a Arte das Trevas, pode transmitir, através do contato com o bruxo, todo o sofrimento que teve pouco antes ou após a sua morte. O destino do estigmatizado passa a ser o mesmo que o da divindade que o marcou”.
— Isso significa que... – Harry começou a falar, mas parou.
— A Gina falou o nome do faraó... Qual é mesmo?
— Seth. – Harry murmurou - De Gizé.
— Meu Deus... – Hermione soltou um muxoxo. – Harry, segundo as lendas egípcias, Seth foi condenado ao inferno. Caso não encontremos um feitiço potente o bastante para livrá-la dos estigmas... – Ela sussurrou e baixou os olhos. – Vamos perdê-la.
— Então precisamos procurar uma solução para os estigmas. – O tom de Harry aumentou e ele fechou o livro com toda a sua força. - Uma cura. – Gritou - Qualquer coisa! – Seu rosto ficou vermelho e ele deu um murro na pequena mesa. – Eu preciso daquela menina VIVA!



— Draco – A voz da menina tremia. Ela olhou para trás e lá estava o garoto, do outro lado da cerca. – Preciso de você aqui comigo, sozinha não vou conseguir.
— É claro que você vai. – Ele disse num tom de voz calmo e controlado, em seguida se aproximou o máximo possível da cerca, evitando olhar para todos aqueles rostos. – Você é muito forte. Muito mais do que eu. Eu não tenho como passar.
Os olhos dele se fixaram nos dela, tentando passar uma força invisível. Sem dizer nada ela voltou e o abraçou forte. Encostou sua testa na dele e fechou os olhos, enquanto o sentia acarinhar seus cabelos ruivos. A boca dele procurou a dela.
— Acho que esse não é o momento mais apropriado para beijos, Draco.
— E quem aqui falou em beijar? – Ele disse sério, parando de acariciar os cabelos da garota. Assim que ela abriu a boca para sorrir, ele a beijou.

Impossível dizer quanto tempo ficaram ali, um nos braços do outro. Mas foi tempo suficiente para Draco saber o que fazer. De repente ele a afastou.
— Preciso de algo cortante. Um canivete, uma faca, qualquer coisa!
— Para que? – Ela perguntou assustada.
— Me ajude a procurar, não temos tempo!
— Não precisa procurar, eu tenho um canivete bem aqui... – Ela pegou um pequeno canivete no bolso interno do casaco e o estendeu para o garoto – Só não entendo para que você quer um canivete e AI!! – Gritou.

Assim que Gina lhe estendeu a pequena faca Draco a abriu e cortou a palma da própria mão. Em seguida cortou a dela sem nem ao menos avisar e esfregou as duas com intensidade. Foi então que Gina entendeu.
— A partir desse momento, temos um elo. Esse corte vai sarar em breve, mas sempre teremos uma cicatriz na palma das nossas mãos. Sempre estaremos ligados. – Gina o olhou erguendo as sobrancelhas e ele deu os ombros - Não custa nada tentar, não é mesmo? – Ele disse dobrando a lâmina, e a entregando para Gina, que a guardou no mesmo bolso. – Dê-me sua mão, essa não, a do corte, eu vou tentar passar.

Gina lhe estendeu a mão recém-cortada e assim que Draco a segurou sentiu um formigamento estranho percorrer todo o seu corpo. Ela o olhou no mesmo instante e soube que ele também tinha sentido. A mão dos dois ardia em brasa, o sangue pingava. Gina usou a outra mão para acariciar o rosto do rapaz.
— Obrigada.

Draco suspirou diversas vezes. E então, sem receio ou medo algum, deu o grande passo.



— Por onde vamos começar? – Gina perguntou soltando a mão do garoto e correndo até uma das prateleiras mal iluminadas. – Devem ter no mínimo um milhão de maldições nesse lugar.
— Não estamos procurando maldições e sim feitiços para reverter essas maldições. – Draco falou se aproximando da garota lentamente. – Será que existe alguma lógica na organização desses papiros?
— Quer que eu pergunte para a bibliotecária? – Gina perguntou em tom de deboche – Acho que vi uma múmia em algum lugar por aqui.
— Sabe de uma coisa? – Draco parou de olhar os papiros e a olhou de relance - O que me deixa mais impressionado é que você nunca perde o bom-humor.

— Isso é típico dela. – Uma voz soou no fundo da Sala. Os dois garotos se viraram e Draco voltou a proteger a garota com o corpo. – A senhorita Weasley é uma menina muito bem comportada, muito correta, muito feliz.
— Apareça covarde! – Draco gritou – Quem está aí?
— E não posso esquecer de que ela também é muito... como posso dizer?... Útil.

Algumas risadas explodiram no local e Draco voltou a gritar para que os bruxos aparecessem. E então, saindo das sombras, apareceram dois homens grandes e fortes, ambos usando máscaras e longas capas pretas. Depois de alguns segundos a bela mulher apareceu no meio dos dois. Ela não usava máscara, os cabelos loiros estavam soltos e caiam em cascata sob a capa preta.

Gina apertou os olhos para ver melhor. Seus olhos já estavam acostumados com a fraca iluminação, mas ela simplesmente não conseguia acreditar no que via.
— Isabel? – Gritou horrorizada – É você? – Seus olhos não mentiam. Ali, na sua frente, estava sua colega de quarto na Universidade Especial para Bruxos recém-formados de Bruxelas. A mulher a olhou com desdém, mas Gina insistiu. – Isabel, fala comigo, o que está acontecendo?
— Meu nome é Liz. – A mulher falou pausadamente. – Agora você fará a gentileza de vir até aqui ou teremos que usar a força bruta?







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