O RESGATE



Gina e Draco estavam encolhidos em um canto da obscura câmara. Era a primeira noite que os dois encontravam a paz nos sonhos. Ela abriu os olhos e sentiu um braço forte envolvendo seu corpo. Draco a abraçava e ainda dormia. Ela o olhou por alguns segundos e ele se mexeu. Ela fechou os olhos.
— Invasão de privacidade é crime. – Ele resmungou sem abrir os olhos.
— Eu não estou invadindo sua privacidade! – Gina respondeu ofendida.
— Está sim, me olhando dormir.
— Se é assim, você está invadindo meu espaço, me abraçando.

Inesperadamente Draco abriu os olhos, pulou em cima da garota (que quase morreu de susto) e começou a fazer-lhe cócegas.

Por alguns minutos nenhum dos dois se lembrou que estavam presos na pirâmide. As gargalhadas dela ecoavam pela câmara, enchendo o lugar de alegria. Depois de um tempo Draco a soltou e se levantou. Ela começou a falar alguma coisa, mas ele pediu silêncio.
—Estou ouvindo passos. – sussurrou – Venha, vamos nos esconder.
— Pode ser alguém procurando a gente, Draco! – Ela respondeu com os olhos brilhando de felicidade.
— Tenho minhas dúvidas. – Respondeu pensando nos monstros e obeliscos.
— Estou sentindo que é alguém bom.

Antes dela completar a frase Draco a puxou para trás de uma pilastra. Um cheiro podre invadiu todo o lugar e os dois sentiram náuseas. Caminhando a passos lentos e duvidosos, um animal com pouco mais de dois metros, oito braços e apenas um olho no meio da cabeça entrou na câmara. Ele comia alguma coisa. Gina e Draco forçaram a vista, mas apenas ele pôde enxergar o que o animal comia com tanta satisfação: era uma perna humana. Draco sentiu seu estômago revirar mais uma vez e puxou Gina para trás da pilastra.
— Parece que ele não consegue andar muito rápido – sussurrou – Temos que sair daqui. Esse bicho parece ser pior do que os outros.
— O que é aquilo que ele está comendo? – ela quis saber, um pouco receosa da resposta que receberia.
— Eu tenho certeza que você não vai querer saber. Vamos engatinhando sorrateiramente até a próxima câmara. Não-podemos-parar. E haja o que houver, não olhe para ele.

Draco olhou para trás novamente e o animal estava sem saída. Provavelmente a câmara tinha se mexido enquanto eles dormiam, e tinha bloqueado a passagem. A única que restava era aquela pela qual o monstro tinha passado. Ele olhou para ela novamente.
— Assim que atravessar a porta, não olhe para trás. Apenas corra o máximo que conseguir.
— Mas e você?
— Estarei logo atrás.

Gina assentiu com a cabeça e, antes de começar a engatinhar, enlaçou o pescoço de Draco e o beijou ternamente. Ele a olhou com um leve sorriso nos lábios.
— Obrigada por tudo que tem feito.
— Você não deve me agradecer. Estou fazendo apenas o que deve ser feito. – Ele levantou para a cabeça, o monstro continuava ali, o cheiro nauseante contaminando todo o lugar. – Pode ir, estarei logo atrás de você. Assim que você sair da primeira pilastra em direção a segunda eu sairei daqui e irei para a primeira. Nós vamos conseguir, você vai ver.

Gina ajoelhou e colocou as mãos no chão. Abaixou o corpo o mais próximo possível do chão. O monstro tinha apenas um olho, era muito grande. Ela preferia não arriscar sua vida. Começou a engatinhar até a primeira pilastra. Ao todo, teriam que passar por quatro até chegarem na porta da câmara. Quando começou a engatinhar rumo a terceira pilastra viu que Draco já estava na metade da segunda. A cada centímetro que engatinhavam percebiam que o cheiro piorava. Draco quase não teve coragem de olhar quando passos gigantes começaram a ecoar pelo aposento.

Outros três monstros gigantes tinham aparecido na câmara. Dois seguravam alguma coisa, enquanto o outro tentava brigar para conseguir um pedaço. Draco engatinhou rapidamente até a segunda pilastra e olhou para os monstros. Um estava comendo um torso humano, dois com as pernas e o outro sem nada. Ele parecia furioso. Investiu para cima de um dos monstros. Os oito braços, que no final eram dezesseis, começaram a fazer muito estrago dentro da câmara. Por sorte ela era grande, o que permitia que eles poderiam brigar até que os dois jovens bruxos conseguissem fugir. Faltava pouco... No final, todos os monstros gigantes começaram a brigar entre si, abandonando a comida de lado. Um deles jogou a perna humana longe.

Gina observava tudo de forma objetiva. O que ela poderia fazer? E se outros monstros estivessem vindo pela passagem por onde eles pretendiam sair? E os monstros brigando? E se os descobrissem? Foi então que a perna arremessada foi parar no único lugar que não poderia: aos pés de Gina. Ela olhou e sentiu seu estômago revirar, uma sensação de fraqueza, ânsia de vômito. E sem conseguiu conter um sentimento de repugnância automática, gritou.

Draco a olhou desesperado, acenando para que ela ficasse quieta, mas foi em vão. Ela gritou uma, duas, três, quatro vezes seguidas. Gritos longos e agudos; de medo e horror. Aos poucos o barulho de briga ficou menor, até que parou. O único barulho que ecoava em toda a câmara eram os gritos da garota. Foi então que Draco tomou uma das decisões mais ousadas da sua vida. Levantou e correu até a próxima pilastra. Pegou Gina pela mão e conseguiu levanta-la depois de alguns segundos. Os monstros do outro lado da sala já os tinham visto e corriam para pega-los. Os dois começaram a correr em direção a porta, sem olhar para trás. A única coisa que sentiam em suas costas era a respiração dos monstros, cada vez mais perto.

Os dois abandonaram a câmara e entraram no primeiro corredor a esquerda. Em seguida a direita. A esquerda de novo. E foi então que uma pequena passagem os salvou. Eles iam passar direto, mas Gina enxergou uma imensa rachadura na parede da pirâmide. Apertou a mão de Draco o indicou o lugar. Como ela era pequena e magrinha, rapidamente conseguiu entrar. Já o garoto precisou murchar a barriga.
— Se isso daqui desmoronar, nós vamos morrer. – Draco disse.
— Antes morrer soterrado do que destroçado por aqueles monstros. – Ela respondeu, mas ponderando mentalmente o que realmente seria pior.
— Eu não os vi mais depois da última curva.
— Graças a Deus! – Ela esticou a mão e sentiu um vento frio correndo. – Draco, acho que isso daqui não é apenas uma rachadura. Acho que vai servir de passagem pra gente. – Ela o pegou pela mão e os dois foram andando devagar.

A passagem era estreita e vez ou outra um morcego aparecia batendo suas asas na cabeça deles. Eles não sabiam exatamente para onde estavam indo, mas Gina acreditava que pela primeira vez em dias conseguiriam abandonar o centro da pirâmide. Pela direção que estavam andando e o tanto que estavam percorrendo, era muito provável que conseguissem voltar para algum lugar mais seguro, onde câmaras não se movessem, revelassem monstros, ratos carnívoros e corpos decepados.

Foi então que chegaram no final da rachadura. Gina passou primeiro e colocou os pés em um lugar totalmente novo. A terra no chão era mais escura, e uma inscrição de ouro reluzia na parede. “Quis custodiet ipsos custodes”

Draco passou pela rachadura também e se aproximou da placa:
— Quem guardará os guardiões.
— O que? – Ela perguntou o encarando.
— É o que está escrito. “Quis custodiet ipsos custodes.” Quem guardará os guardiões.
— O que será que significa?

— Acho que vocês não vão querer saber. – Uma voz ecoou pela câmara.

Draco colocou Gina atrás de si, protegendo-a com seu corpo. Mas a garota se livrou dele e olhou para cima.
— Andrew?

Eles escutaram um leve bater de asas e Andrew, o homem-morcego, apareceu. A pouca claridade da câmara irritava muito seus olhos, que passavam do vermelho para o amarelo. Mas ele estava disposto a encontrar a única pessoa que tentou ajuda-lo. Quando Gina o viu correu até ele, abraçando-o. Ele estava magoado.
— Pensei que fosse voltar.
—E eu tentei! Mas tinham obeliscos e monstros de um olho só e... me perdoe. Não consegui.
— Ele é o outro bruxo? – Andrew perguntou apontando para Draco, que não disfarçou a cara de nojo.
— É sim. – Gina disse fazendo cara feia para Draco. – O nome dele é Draco Malfoy.

Andrew levantou a mão espalmada na direção do garoto que, pensando se tratar de um cumprimento, acenou de volta.
— Você guarda muitos segredos. – Andrew falou, enquanto Draco sentia algo estranho percorrendo sua espinha. – Devia ser mais fiel ao seu coração.
— Ô... Batman! – Draco falou irritado – Pára com isso, que sensação horrível. E além disso, nada de conselhos.

Gina o olhou encantada.
— Você pode ler pensamentos?
— Na verdade não. Mas posso sentir o que sentem. Foi um dom que recebi.

Draco olhou para Andrew de cima a baixo.
— Olha Batman, sem querer ofender. Mas olhando pra você de onde estou parece muito mais uma maldição.

Gina estava quase morrendo de tanta vergonha: Draco estava sendo extremamente grosso. Andrew se aproximou e tocou sua mão com a ponta dos dedos.
— Não se preocupe com isso – Sussurrou – Agora venham, precisamos sair daqui antes que ele acorde.
— Quem é ele? – Gina perguntou confusa.
— O guardador dos monstros. – Andrew disse indicando a placa. – Os monstros das pirâmides são os guardiões. E ele é o guardião dos monstros. O maior de todos, o mais temido. Vindo do inferno.
— Mostre-nos o caminho Batman. – Draco disse.


Embora Andrew estivesse há pouco tempo livre, ele parecia conhecer muito bem todos os caminhos das câmaras. Ele enxergava muito bem no escuro e sua sensibilidade apurada os livrava dos perigos. Chegaram na câmara dele e Gina abriu a passagem, sorrindo para Draco. O sol estava se pondo no horizonte. Draco caiu de joelhos no chão, agradecendo a Deus por aquele pesadelo ter terminado.
— Podemos esperar o sol se pôr e corrermos até a vila. – Ela disse olhando para Andrew.
— Não. Vocês não suportariam a temperatura. A queda é muito brusca, e vocês estão sem casaco. Vão. Eu sei que você voltará para me buscar.

Ela riu e o abaçou.
— Pode apostar. Muito obrigada por salvar nossas vidas.

Ela fez sinal para Draco, que o olhou e murmurou.
— Obrigado, Batman.

Os dois atravessaram a passagem. Gina levantou as mãos para o alto e deixou o sol tirar toda a umidade e sombras do seu corpo e da sua alma.
— Você está muito estranha. Primeiro fica amiga do Batman, agora faz essas poses esquisitas.
— Vamos embora, Malfoy.


Os dois começaram a correr. As vezes as pernas não obedeciam. A falta de alimento por tanto tempo estava surtindo um efeito muito maior do que o esperado. Mas eles estavam decididos. Correram sem saber ao certo para onde. Era como se a vila estivesse muito mais longe da pirâmide, devido ao lugar por onde tinham saído. O sol de punha ao longe, manchando a areia de amarelo e laranja e o céu de vermelho. O vento começou a ficar frio. Gina olhou para Draco preocupada.
— Vamos morrer congelados se anoitecer e ainda estivermos no deserto.
— Não fale nada. – Ele respondeu – Poupe suas energias para correr.

Gina ia um pouco mais a frente, mas Draco sempre estava em seus calcanhares. Ela viu uma silhueta aparecer no alto de uma montanha e, sem duvidar, gritou.
— Harry! – Correu ao encontro do amigo que tanto amava e o abraçou apertado. – Draco! Estamos salvos! – Mas quando olhou para trás, não tinha ninguém ali.




Draco deixou que Gina corresse um pouco mais a frente. Ele tinha ouvido um barulho estranho e sombras na areia. Tinha certeza absoluta de que alguém os estava procurando, e sabia que ela seria salva. Estava concentrado em saber o que estava acontecendo, quando sentiu uma forte dor no peito e um solavanco no umbigo. Ele não estava mais no deserto do Egito.



Harry a olhou sério. Gina jurava que Draco estava ao seu lado há poucos segundos, mas ele não tinha visto ninguém.
— Você tem certeza? – Ele perguntou.
— Se eu tenho certeza? – Ela estava histérica de novo – Claro que tenho certeza, ele estava bem aqui, do meu lado! Como alguém pode sumir assim de repente? Venha, precisamos procura-lo!
— Gina, querida... – ele disse ternamente – Não há onde procurar. Olhe ao seu redor. Estamos no meio do nada. Se ele estava ao seu lado, com certeza conseguiríamos enxerga-lo. Mas ele não está em parte alguma.
— Mas precisamos encontra-lo. – Ela gritou. – Ele salvou minha vida. Você consegue enxergar isso? Ele salvou minha vida!
— E todos seremos eternamente gratos por isso. – Ele a olhou sério. – Onde está sua varinha?

Ela colocou a mão no bolso de trás da calça e o olhou espantada.
— Estava aqui.
— Vai ver ele a pegou e aparatou assim que saíram daqui.
— Duvido. – Ela disse ofendida. – Ele mudou muito, Harry. Não é mais aquele mesmo menino chato com o qual convivemos. Ele não me deixaria aqui sozinha nunca.
— Vamos sair daqui. – Ele disse colocando um casaco nos ombros dela. – Vamos para casa.




Draco sentia um formigamento estranho e incômodo no peito. Estava deitado no sofá de um escritório. Ele escutava vozes nervosas de fundo. Compreendia apenas algumas palavras.
— ... alguma coisa... agora!... se eu não chegasse... morto...
— ... morto ... garota ... sabem demais...

O garoto sentiu alguém levantar sua cabeça e lhe dar um líquido quente para beber. Ele sentiu o líquido escorrer por sua garganta, queimando desde a língua até o estômago. Instantaneamente, a dor no peito passou. Ele sentou no sofá e sua vista tomou foco. Quatro homens com longas capas pretas andavam em círculos e falavam rápido.
— O que está acontecendo? – Draco murmurou, as palavras arrastadas.

Um dos homens se virou e era ninguém menos que seu pai, Lucius Malfoy.
Ele estava furioso, os olhos quase vermelhos como os de Andrew.
— Eu sabia que não podia lhe dar essa missão! – Gritou – A única coisa que precisava fazer era deixa-la morrer.
— Você me deixou lá para morrer. – Não tinha nenhuma mágoa na voz de Draco, apenas rancor.
— Não diga bobagem. Você só fez com que tudo ficasse mais difícil. Tive que matar um dos Comensais por sua culpa. Ele tinha recebido ordens de te matar. Se eu não chegasse você estaria morto.
— Podia ter me deixado morrer. Era isso que você queria mesmo...
— Não seja ridículo. – Lucius disse jogando a capa para trás. – Agora fique longe do meu caminho. E afaste-se daquela garota. Ela é uma bomba ambulante, que pode explodir a qualquer minuto.
— Tudo bem, pai. Eu vou ficar.




N/A - Ah.... Eu nem queria ainda tirá-los da piramide, tinha imaginado tantos monstros e aventuras mirabolantes que, por mim, eles podiam ficar presos lá mais um tempão. Mas não tem jeito, pessoal. Como eu tô formando em Jornalismo e fazendo projeto final preciso agilizar essas aventuras. Estão gostando? Quero agradecer muito pelos comentários, fico muito feliz com todos. Vamos ver se até dia 20/08 eu posto o capítulo 13 para vocês. E aguardem muitas aventuras!!!

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