A SOMBRA DO MAL



Gina acordou e, como fazia ultimamente, desejou que aquele pesadelo terminasse logo. Olhou ao redor e nem sinal de Draco. O pânico começou a tomar conta do seu corpo e cada segundo sozinha demorava uma eternidade para passar. Ela pensou em procurá-lo, mas logo desistiu. Existiam armadilhas por todo o lugar, e só de pensar em Draco entrando em um dos aposentos errados provocou um arrepio em toda a sua espinha.

Ela se levantou e resolveu checar todo o aposento onde estava, pois aquele com certeza era seguro. Na certa Draco tinha deixado algum bilhete ou um sinal, mas quanto mais ela procurava, mais tinha certeza que não tinha absolutamente nada. Ele havia desaparecido durante toda a noite. Algumas horas se passaram e logo chegou o momento em que toda a pirâmide mexia e as salas trocavam de lugar. Esse era o momento em que Gina tinha mais medo, pois como as saídas da sala mudavam alguma criatura podia aparecer repentinamente. Ela escutou um barulho de uma das portas e se preparou para lutar, mas não foi necessário. Saindo das sombras vinha Draco caminhando calmamente. Gina deu um grito, correu e o abraçou.

— Draco! Por Merlin, que susto você me deu!

— Fiquei perdido. – Ele respondeu.

Gina o soltou e o encarou desconfiada.

— O que aconteceu com você?

Ele estava diferente, sua voz, o seu tom, seu olhar e até mesmo a forma de passar a mão nos cabelos.

— Aconteceu uma coisa horrível. Fui procurar ajuda ou um modo de sair desse lugar medonho... Encontrei o Daniels.

— Onde ele está? – A esperança tinha voltado para os olhos de Gina e ela praticamente beirava o histerismo. Ela olhou para a passagem por onde Draco passara e logo veio a sua cabeça a cena de Joey tirando os dois dali sãos e salvos. – Onde ele está Draco? Onde?

— Ele está morto. – Draco a segurou pelos ombros e a olhou fixamente – Ele morreu comido por escaravelhos.

— O que? – Gina colocou as mãos na cabeça e a apertou, tinha a sensação de que se a soltasse perderia completamente o controle. Teve uma longa crise de choro e pânico enquanto balbuciava – Nunca vamos sair daqui! Nunca! Vamos morrer de fome, sede e medo!

Draco ainda a encarava fixamente e depois que ela se acalmou a abraçou.

— Nós vamos sair daqui. Eu encontrei uma passagem.

— Nós não vamos conseguir. Não vamos. Não vamos. Nós vamos morrer. – Ele a segurou pelos ombros e ela continuou – Você me ouviu? NÓS VAMOS MORRER!

Muito tempo se passou antes de Gina se acalmar por completo. Ela estava em pânico e sentia seu coração bater apressado e urgente. Depois de muitas lágrimas ela aceitou beber uma poção que Draco tinha preparado e caiu em sono profundo.



Draco Malfoy ficou sentado ao lado de Gina e a observou dormir durante alguns minutos. Afastou uma das mechas que teimava em lhe cair na boca quando ela respirava fundo e se levantou. Observou tudo ao seu redor como se procurasse alguma coisa e logo seu olhar se fixou em uma das pilastras. Uma faca majestosa, dourada com brilhantes e esmeraldas estava ali, esperando para ser apanhada. Draco a guardou com todo o cuidado em uma mochila e olhou novamente para Gina.

— Você deve ser bem pesada... – Ele sussurrou. – Pegou-a no colo, em segundos a pirâmide se mexeu novamente e as salas mudaram de lugar. Ele a olhou e entrou em uma das passagens escuras.







Gina acordou sentindo-se enjoada. Sua cabeça doía de forma lasciva e ela não entendeu o que estava acontecendo. Draco estava agachado em um canto e observava fixamente alguma coisa.

— Draco... – chamou, mas sua voz estava tão fraca que ele não ouviu. Ela olhou ao redor e só então percebeu que eles estavam em outra sala. O teto era cravejado de diamantes e esmeraldas e sua vista logo começou a ficar embaçada. Ela virou a cabeça para o lado esquerdo e viu várias mochilas empilhadas, provavelmente dos outros alunos que também ficaram presos na pirâmide. Quando olhou para o outro lado seus olhos arregalaram e sua boca simulou um grito. Tom Riddle estava deitado em uma cama tal qual um faraó.

— Quieta! – Draco pulou em cima dela e tapou sua boca. – Cala a boca!

Gina arregalou ainda mais os olhos enquanto tentava se desvencilhar. Logo ela sentiu o torpor tomar conta do seu corpo; Draco fazia muita pressão em sua cabeça.

— Eu vou contar o que aconteceu. Posso soltar a sua boca? – Ela fez sinal afirmativo com a cabeça e ele a soltou lentamente. Então, para seu espanto, ele tirou uma varinha da manga e fez um feitiço para que fosse amarrada. Entretanto, o feitiço não ficou muito bom, apenas os seus tornozelos ficaram presos.

— O que está acontecendo? – Ela perguntou incrédula – Você surtou?

— Quieta! Já estou ficando nervoso com você! O mestre já está vindo.

Alguns segundos se passaram antes de uma pesada porta de pedra ruir e um belo homem sair das sombras: Jack Myers.



Gina ficou aproximadamente um minuto atônita olhando para o seu professor, sem saber se devia ficar triste ou feliz em vê-lo. Desejava intensamente poder ficar feliz, mas seu coração lhe dizia que alguma coisa estava muito errada.

— Professor Myers... – ela tentou, mas logo o homem olhou para Draco.

— Eu te falei que não era para ela estar acordada, idiota!

— Ela vai morrer de qualquer jeito, mestre. – Ele respondeu temeroso.

Ela preferiu ficar em silencia como se realmente estivesse desacordada, e os dois logo esqueceram-se dela. Ambos andaram até o corpo de Tom Riddle e Jack fez um leve carinho em seu cabelo.

— Esperei muito tempo por esse momento, mestre. Hoje começa uma nova vida, um novo reino. – Dizendo isso pegou um objeto semelhante a uma cruz, mas chamou-o por outro nome: Ank. Colocou-o cuidadosamente sobre o peito de Riddle, onde supostamente estaria seu coração, e o objeto emitiu uma forte luz verde. Em seguida o professor pegou outro objeto dentro da bolsa; uma pirâmide com pontas muito agudas e a colocou na testa do corpo, com a ponta virada para baixo, fincada na pele. Uma nuvem densa e prateada saiu da pirâmide e firmou-se sobre o corpo. – É hora. – Falou, e olhando para Draco ordenou – Afaste-se!

Draco se afastou como uma aranha assustada e foi se juntar a Gina, deixando que Jack fizesse todo o ritual.

— Você vai morrer. – Ele disse olhando fixamente para ela. – Está com medo?

— Não. – Ela respondeu sustentando o seu olhar.

— Devia estar.



A verdade era que Gina estava apavorada, mas tinha certeza que não morreria sem lutar. Em um momento de distração ela pegou uma faca dentro da mochila de Draco e a escondeu na manga da veste.

— O que está acontecendo, Draco? Você está sob o feitiço imperius, não está? – Ela falava suplicante – Sou eu, a Gina, fala comigo, por favor!

Draco gargalhou de forma sinistra e a olhou com superioridade.

— Você ainda não entendeu nada, não é mesmo menina tola? Sabe quem está diante dos seus olhos?

— Tom Riddle – Ela respondeu sem emoção.

— O que??! – Ele gritou – Como ousa dizer isso, como ousa não conhecer o mestre supremo? - Gina olhou para Draco e em seguida para o corpo. Sim, era Tom Riddle, ela tinha certeza disso. Draco riu da confusão da garota e continuou. – Esse é Seth, o rei mais poderoso e supremo que já existiu em todos os tempos. Ele é o dono dessa pirâmide, foi o dono de uma população bruxa egípcia inteira. – Ele a olhou novamente, seus olhos brilhavam de forma sombria e cruel. Seth foi o bruxo que iniciou a Magia Negra, o grande inovador e dominante sob todas as raças! Dono de maior poder em todo o mundo! E sabe o que estamos fazendo? Você é a escolhida, Tom Riddle, jovem de Lord Voldemort, da linhagem do senhor Seth escolheu você há 9 anos. É hora de retribuir a honra. Nós vamos ressuscitá-lo!

— É a hora. – Jack falou com uma voz grave – A faca está com ela.

Gina lutou em vão; em segundos Draco pegou a faca da sua manga e a levou até seu mestre.

— Você será de muita ajuda. – Jack disse referindo-se a Gina.

O homem segurou a faca firmemente e encostou a lâmina na pele fria do peito do faraó. Gina fechou os olhos pelo fato de já saber o que ia acontecer; Jack fez um corte vertical do peito até três dedos abaixo do umbigo de Seth. Um cheiro fétido de sangue coagulado e decomposição invadiu o lugar e Gina sentiu seus olhos e estômago revirarem. Jack olhou para ela com um sorriso insano nos lábios.

— Agora é a sua vez minha querida. Segure-a! – Ordenou a Draco.

Ele a pegou pelos braços e estendeu o esquerdo em cima do corpo aberto. Jack falou várias coisas em egípcio e latim e encostou a lâmina no pulso de Gina. Sem dizer mais nada o cortou; deixou a faca ao lado do corpo de Seth e estendeu os braços para o céu.

Gina viu seu sangue jorrar e escorrer enquanto sentia sua consciência se perder lentamente. A dor era insuportável e quanto mais sangue perdia mais cor o corpo do faraó ganhava. Em um gesto único e desesperado pegou a faca ao lado de Seth e a cravou na garganta de Draco. Ele arregalou os olhos e caiu, morto, e só então o feitiço que imobilizava o seu braço esquerdo se desfez. Quando ela olhou novamente para Draco teve uma grande surpresa: Pedro Pettigrew estava morto. E não Draco Malfoy. Isso explicava o comportamento extremamente estranho e suspeito dele nas últimas horas.

— O que você fez sua idiota? – Jack a olhava horrorizado. Ela ainda segurava a faca (que agora estava suja de sangue) e apontava para ele. – O processo está finalizado Virgínia Weasley. A hipótese de me matar não vai influenciar nada.

— Também acho que não, mas tenho certeza que já será um começo. O que está acontecendo aqui? Esses... sacrifícios humanos acontecem há quanto tempo?

— Ora mocinha... Você se acha muito esperta, não é mesmo? Por que não descobre sozinha? – Ele a olhou sorrindo, mas o olhar dela era tão ameaçador que ele deu os ombros. - Ok, eu vou te contar.

Gina segurava a faca e a varinha de Draco e tinha certeza que as usaria caso fosse necessário. Jack sabia disso e preferiu não arriscar.

— Isso acontece há 10 anos – começou – O senhor deixou uma lista com o nome de todas as pessoas escolhidas.

— E você simplesmente as traz e sacrifica?

— Não é assim tão simples – ele respondeu impaciente. O tom de voz agudo de Gina o estava deixando nervoso – O ritual exige muita concentração.

— Pra que isso?

— Será que não é óbvio? – Ele olhou para o corpo que a cada segundo parecia mais vivo.

— Todo mundo sabe que não existe magia capaz de trazer uma pessoa morta de volta a vida. – Ela disse.

— Você está enganada. A magia que eles te ensinam no colégio não é nem um milésimo do que realmente podemos fazer. Olhe a sua volta. Você acha que as pessoas que construíram essa pirâmide queriam que o bem dominasse a Terra? – Ele jogou a cabeça para trás e uma gargalhada sinistra ecoou por todo o lugar.

— Você é louco! – Ela disse com cara de nojo. – E eu te desprezo. Onde estão os outros estudantes?

— Srta. Weasley, sua ajuda foi muito útil. Obrigado. – Com um aceno de cabeça, ele desapareceu.

Gina ficou olhando ao redor, sem entender absolutamente nada. Deixava seu olhar correr do corpo de Seth para o corpo de Pettigrew passando por onde Myers estava. Era uma situação tão louca e sem sentido que ela não conseguia acreditar. Mas tinha acontecido, estava ali, na sua frente. “Nunca duvide de uma coisa que seus olhos podem ver.” Ela repetia mentalmente. Como se só então recuperasse os sentidos, olhou mais uma vez para os dois corpos e abandonou a câmara: precisava, desesperadamente, encontrar Draco Malfoy.

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