O NOVO LAR



Depois que o avião decolou Gina mergulhou em uma profunda onda de pânico. Durante todos os longos minutos de viagem entre Londres e Bruxelas ela se amaldiçoou por não ter levado a vassoura consigo, pois caso aquela geringonça que conseguia voar sem nenhum feitiço caísse ela poderia salvar-se voando.

Por vários breves momentos teve vontade de enforcar Harry Potter: Fora ele o autor da idéia dela viajar de avião. Ela ainda se lembrava do sorriso dele enquanto dizia. "Viajar de avião não tem problema nenhum, Pequena. Os trouxas fazem isso o tempo todo! Eu vou pagar a viagem para você, será o meu presente!" Pronto! Ali estava ela, Virgínia Weasley, contando os segundos para sentir seus pés em uma terra bem firme. Logo ela que adorava voar!

Depois de intermináveis minutos de angústia ela correu até a porta de desembarque lançando um sorriso amarelo à aeromoça. Desceu do avião, pegou suas malas e encontrou um banheiro desocupado para aparatar na universidade, tudo sem maiores delongas e muita pressa. Em segundos ela estava na porta do campus da Universidade Especial para Bruxos recém-formados de Bruxelas.




— A Universidade Especial para Bruxos recém-formados de Bruxelas... – Gina estava em frente a um imenso portão com vários outros estudantes carregados de malas enquanto ouviam o veterano escolhido para dar boas vindas aos calouros – foi fundada em 1900 pelo Ministério da Magia da Bélgica. O Ministro, Sr. Dane, percebeu a necessidade de proporcionar aos estudantes um aperfeiçoamento específico após a prestação dos N.I.E.Ms. Conforme vocês poderão ver em instantes – o estudante acenou a varinha e o grande portão de ferro se abriu solenemente - cada prédio abriga um refeitório e um dormitório. Cada aluno deverá observar a placa logo adiante e dirigir-se ao seu prédio de acordo com a área do curso escolhido. Sejam bem vindos – o veterano finalizou sem nenhum entusiasmo na voz.

Gina caminhou temerosa em direção a placa que continha várias setas: "Biológicas" apontava para a frente, "Poções" para a direita, "História" para a esquerda, "Cursos ocultos" para o céu e assim por diante.
Ela apertou a alça da bolsa e só então se deu conta da grandiosidade do campus. Obviamente não chegava nem aos pés de Hogwarts, mas seu jardim era tão bonito quanto e os prédios eram muito bem distribuídos.
Ela respirou fundo, encheu seu coração de esperança e depois de dez minutos de caminhada chegou à recepção do prédio 568, seu novo lar.



Logo que chegou Gina reparou que a fila de espera estava relativamente grande e por isso preferiu colocar suas malas no chão. Na verdade, ela as tinha apertado tão forte desde que chegara na faculdade que estava sentindo dores nos dedos e soltá-las foi um grande alívio.
Como bruxa ela poderia perfeitamente ter usado magia por todo o tempo, mas como nenhum outro estudante ousou fazê-lo decididamente ela não seria a primeira.

Aproveitou os minutos para observar tudo ao seu redor. Era totalmente diferente de Hogwarts e ela ficou extremamente satisfeita por isso.
A Escola de Magia e Bruxaria ficava em um imponente castelo, a decoração era escura, fantasmas rondavam os alunos, uma lula gigante morava no lago e um campo belíssimo de quadribol sediava as partidas. Além disso tinham as quatro casas (Grifinória, Lufa-Lufa, Cornival e Sonserina) que sempre disputavam o título de melhor casa entre si.

A Faculdade Especial para Bruxos recém-formados de Bruxelas ficava em um imenso terreno – que aos olhos dos trouxas não passava de ruínas medonhas – com o prédio da bruxaria no centro e outros ao redor divididos por áreas. A decoração era clean, as paredes eram pintadas com cores claras e os quadros e afins variavam de acordo com o curso. Nas paredes dos corredores do curso de História da Magia ficavam quadros temáticos, como por exemplo, da revolta dos duendes. Nas paredes do curso de Poções estavam o primeiro caldeirão usado em toda a história bruxa e nomes de renomados bruxos que descobriram importantes poções.

Depois de alguns minutos Gina escutou a recepcionista chamá-la impaciente:

— Senhorita? Por favor senhorita, queria aproximar-se. – Gina pegou todas as suas malas e aproximou-se do guichê. A mulher sorriu bondosamente – Senhorita...?

— Weasley. Virgínia Weasley.

— Seja bem vinda à Faculdade Especial para bruxos recém-formados da Bélgica, srta. Weasley. – A recepcionista que atendia por Miriam falou enquanto estendia alguns papéis. – Preciso que a senhora responda algumas perguntas, tudo bem?

— Claro! – Gina respondeu entusiasmada. Na verdade ela estava tão nervosa que todas as suas ações e frases estavam saindo exageradas demais, mas a recepcionista parecia acostumada aquele tipo de situação.

— Muito bem senhorita Weasley, em qual ano a senhorita se formou em... Hogwarts? Um minuto, a senhorita estudou em Hogwarts? – Pronto, todo o sangue de Gina foi parar no fundo do estômago, pois ela soube imediatamente que não seria aceita.

— Sim, foi lá que eu me formei. – Gina respondeu temerosa enquanto estendia um envelope lacrado com o brasão de Hogwarts. – Trouxe uma carta de encaminhamento do diretor Alvo Dumbledore.

— Um minuto por gentileza – A recepcionista abandonou o guichê e sumiu atrás de uma porta. Gina estava tão nervosa que sentiu todos os seus ossos tremerem. A fila atrás de si aumentava e ela sentia os pesados olhares de reprovação dos outros alunos. Depois de alguns minutos Miriam voltou segurando vários pergaminhos e os entregou a Gina – Assine todas essas vias senhorita Weasley.

— Para que tudo isso? – Gina perguntou enquanto assinava folha por folha.

— A Faculdade Especial para bruços-recém formados da Bélgica atende apenas a população local, no máximo alunos da Beauxbeatons. Essa filosofia impede que a demanda seja maior do que aquela que a faculdade pode suportar.

— Entendo... – Gina respondeu suspirando enquanto sentia seu pulso doer depois de tantas assinaturas. – Eu serei aceita?

— O seu caso é especial senhorita Weasley. – Miriam respondeu enquanto conferia se todas os pergaminhos estavam devidamente assinados - Alvo Dumbledore conversou com o Ministro da Magia da Bélgica e ele abriu uma exceção. Entregue essas duas vias ao Heitor, aquele bruxo com roupa verde-esmeralda ali na frente. Ele irá programar sua varinha para que possa entrar no dormitório; bem vinda a nossa faculdade.

— Obrigada. – Gina pegou as duas vias, enfiou-as no bolso e saiu carregando as malas até onde o tal Heitor estava. Ele sorriu e ela sentiu-se um pouco mais segura.

— Bom dia! – Ele exclamou feliz e ela entregou as duas vias - Muito bem... Virgínia Weasley... – Ela entregou sua varinha bastante receosa e ele sorriu bondosamente – Você é um tanto quanto desconfiada hein?

— Eu nunca tinha ido tão longe de casa, estou um pouco insegura. – Ela sorriu encabulada. – Uma coisa que aprendi na vida é que não devemos entregar nossa varinha a quem não conhecemos, pois coisas horríveis podem acontecer.

— Ah!... – ele exclamou enquanto lia o pergaminho - Você é a garota que veio da Inglaterra, certo? Ano passado recebemos um ex-aluno de Hogwarts, inclusive ele deveria estar aqui me ajudando a dar boas vindas aos calouros, mas não sei onde se meteu...

— Um ex-aluno?! – Gina viu seu desejo de começar uma vida nova ser partido em mil pedacinhos: a última coisa que desejava era um conhecido ao seu redor e seu pior pesadelo tomou formas e cor.

— Weasley? – Ela sentiu cada fio de cabelo do seu corpo arrepiar ao ouvir seu sobrenome ser pronunciado por uma voz arrastada e extremamente familiar. – O que você está fazendo aqui?

— Ali está o garoto – Heitor falou desanimado indicando um canto no corredor – Draco Malfoy chegou aqui no ano passado, é uma pessoa extremamente presunçosa e arrogante. – Como se só então se desse conta de que Gina e Draco vinham do mesmo planeta ele perguntou - Você o conhece?

— Mais do que eu gostaria. – Respondeu revoltada.

— O quarto da senhorita fica na ala oeste, basta seguir esse corredor e...
— Obrigada – Gina respondeu sem escutar o que Heitor estava falando, já que estava ocupada demais dando-lhe as costas para se dirigir até onde Draco estava. Ela espumava de raiva assim como ele e logo uma briga iria começar.





Gina e Draco se odiavam por razões óbvias além de várias outras ocultas.
Na verdade, suas famílias eram arqui-inimigas desde sempre, o que colaborou para que o ódio fosse eternamente mútuo. Isso de uma certa forma não deixava de ser extremamente triste, já que todas as famílias de bruxos puro-sangue estavam interligadas de alguma forma, o que indicava que eles possuíam algum tipo de parentesco. (Por mais horrenda e inaceitável que fosse essa situação.)






— O que você está fazendo aqui? – Ele perguntou novamente dessa vez frisando o você, como se na verdade a garota fosse um trasgo e não uma bruxa capaz de viver socialmente. Em poucos segundos todas as atenções estavam voltadas para os dois e Draco simplismente adorou saber que era a estrela do dia. – Eu realmente fico impressionado com a qualidade do ensino superior bruxo nos dias atuais. Olha só, eles aceitam qualquer porcaria! Isso é uma vergonha, acho que vou querer meu dinheiro de volta.

Gina suspirou fundo enquanto deixava a raiva sair pela ponta dos dedos. Sem pensar duas vezes deu-lhe um tapa no rosto com toda a sua força e antes de dar-lhe as costas falou em alto e bom som:

— Essa é uma universidade pública Malfoy, os bruxos não pagam para entrar. Acredito que você tenha sido a única exceção, já que é burro demais para passar em qualquer teste.

Dizendo isso ela andou até o fim do corredor observando sempre as placas voadoras que indicavam a numeração dos quartos. Logo ela estava em uma encruzilhada, pois o corredor branco tinha se dividido em três: um amarelo mobiliado com móveis antigos e caquéticos, um azul com quadros de bruxos antigos e um verde-água, que parecia ser continuação do branco. Por fim jogou suas malas no chão enquanto ralhava consigo.

— Virgínia Weasley, que tipo de bruxa é você? – Tirou a varinha da manga e a colocou deitada sob a palma da mão. Olhou para um pedaço de pergaminho e lá estava o número 7896 – Oeste.

– Me oriente! – Sussurrou para a varinha que fez um giro completo e apontou para o corredor verde-água. Ela sorriu feliz e olhou para as malas – Wingardium Leviosa – As malas flutuaram e ela seguiu o corredor até finalmente sair em outro que tinha a placa 7000 ... 7999 – Oeste.

O tal corredor era muito bonito, embora sua cor cansasse a vista: rosa choque com babados cor-de-rosa. Vários quadros de bruxas famosas o enfeitavam e Gina escutou várias delas comentando sobre a roupa, o sapato, o cabelo e até as unhas de algumas estudantes.

— Por favor – Gina perguntou a uma que parecia ser a menos ocupada em criticar as novas alunas – Sabe me informar onde fica o quarto 7896?

— Claro. Duas portas para a frente, querida. – A bruxa respondeu sorrindo bondosamente. – Sua colega de quarto será a senhorita Isabel.

— Obrigada! – Gina respondeu satisfeita enquanto ouvia dois quadros contestarem-na a respeito da cor dos seus cabelos. – Eles são naturais sim, a família Weasley inteira possui cabelos cor-de-fogo. Com licença.

A porta do seu quarto era creme e estava apenas entreaberta. Ela bateu levemente e entrou. Seu queixo despencou, pois o quarto era muito maior do que ela imaginou. Duas camas, quatro criados-mudos, duas escrivaninhas, duas cômodas, um jardim de inverno e uma colega de quarto esparramada em uma poltrona de canto.

— Oi! – Ela se levantou de um pulo – Tudo jóia? Meu nome é Isabel Furts, mas pode me chamar de Babete. Qual o seu nome?

— Virgínia Weasley, mas pode me chamar de Gina. – Ela sorriu alegremente para a garota e Gina não pôde deixar de notar que ela era muito bonita. Tinha cabelos loiros extremamente claros presos em um rabo de cavalo, o que deixava em maior evidência seu olhos muito azuis e seu nariz e boca pequenos. Gina imediatamente a assimilou a uma boneca, principalmente devido a roupa lilás que ela usava.

— Foi um tédio ficar aqui sozinha um semestre inteiro, estou muito feliz que tenha chegado! – Babete falou entusiasmada e em seguida apontou para o lado esquerdo do quarto – Aquela é a sua cama, sua escrivaninha, suas prateleiras e sua cômoda, depois eu posso te ajudar a desfazer a sua mala. O banheiro fica no fim do corredor, você pode usar a lavanderia que fica lá embaixo todas as terças e sextas, o café da manhã é servido as 7:00, as aulas começam as 8:00. – Depois de falar tudo Babete respirou fundo (já que estava quase sem fôlego) e olhou para Gina como se esperasse uma expressão extremamente entusiasmada.

— Hãn.... Ok. – Como a colega a olhou decepcionada Gina ofereceu seu mais sincero sorriso. – Vou demorar para decorar todas essas informações.

— Ahá! Por isso eu fiz um caderno semanal com todos os horários para você! – Babete disse enquanto apontava para um quadro de avisos que ficava atrás da porta. - É por aqui que as colegas de quarto de comunicam, eu tenho aulas a tarde e a noite, vamos nos encontrar muito pouco.

— Ok... – Gina respondeu de novo pouco entusiasmada, pois teve a leve impressão de que a colega falava um pouco mais do que seus ouvidos poderiam suportar.

— Rápido, precisamos trocar de roupa! – Um sino soou em alto e bom som – A aula inaugural começará em vinte minutos, precisamos correr! – Babete abriu a gaveta e jogou uma veste vinho para Gina enquanto tirava sua própria e colocava outra – Esse é o uniforme Gina! Rápido!

Sem pensar duas vezes Gina tirou o jeans e a camiseta e colocou a roupa que a colega ofereceu. Olhou-se no espelho e descobriu que o tom vinho não lhe caía muito bem, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa Babete a puxou para fora do quarto e a arrastou pelos corredores.

As duas corriam como loucas, atravessaram um longo corredor e então logo Gina reparou que iam de encontro a uma parede no fim do corredor.

— Babete, pára! Vamos ba...

Mas não deu pra concluir a frase, pois nesse instante as duas atravessaram o que parecia ser uma sólida parede.

— Trilegal né? – Babete falou entusiasmada diminuindo o passo – Descobri isso ontem, vamos cortar um bom caminho.

Gina aproveitou para observar tudo a sua volta. Os móveis eram muito escuros, várias estantes abarrotadas de livros além de tocos de velas acesas davam à passagem um aspecto sinistro e sombrio. Um quadro chamou sua atenção e ela se aproximou para observá-lo melhor, pois um homem absolutamente idêntico a Harry Potter a encarava.

— Quem é você? – Ela perguntou interessada, mas ele apenas deu os ombros e a olhou com superioridade. Gina viu que abaixo do quadro tinha uma inscrição – Príncipe Osíris. Esse nome é egípcio.

— E daí? – Babete a olhou com indiferença enquanto lia os títulos dos livros.
— O que o quadro de um egípcio está fazendo aqui?

— Não sei Gina, mas com certeza essa é uma das coisas que iremos aprender. – Como se só então se desse conta Babete arregalou os olhos e gritou – Corre! Estamos atrasadas!

As duas correram até atravessar o obscuro corredor. Quando chegaram no final Babete puxou um candelabro, a parede se abriu e pronto: estavam em uma grande sala.

— Vamos entrar pela porta lateral – Babete sussurrou – Não faça barulho ok?

A aula inaugural nada mais era que um almoço comemorativo para iniciar o semestre letivo. Várias mesas de quatro lugares estavam espalhadas pelo imenso salão; Gina e Babete ocuparam a primeira que encontraram e só depois de respirar várias vezes Gina teve tempo para examinar o lugar. Tudo era tão azul que ela sentiu como se estivesse no céu e uma intensa sensação de paz invadiu seu espírito.

— Trilegal o salão né? – Babete cochichou – O salão é enfeitiçado para deixar todo mundo calmo.

Na hora Gina percebeu que aquilo era verdade pois ela mal tinha vontade de falar. Nesse momento o coordenador do curso terminou seu discurso e o professor de Magia Negra Avançada tomou a palavra. Gina percebeu que o olhar do bruxo correu por todo o salão até chegar nela, onde pousou por vários e intermináveis segundos.

— Pessoa... - o homem começou com um tom jovial. Na verdade ele era realmente muito jovem, seus cabelos negros e curtos faziam um belo conjunto com seus olhos castanhos, sua pele bronzeada e seus 25 anos. – Meu nome é Jack Myers, sou professor de Magia Negra Avançada e é uma grande honra ter vocês por aqui. Eu tinha preparado um longo discurso – ele sorriu – mas antes que comecem a me odiar vou desejar a todos apenas um bom ano letivo e um ótimo apetite.

Os pratos ficaram cheios e todos começaram a comer. Gina deixou seu olhar correr curiosamente por toda a mesa dos professores e quando chegou em Myers percebeu que ele retrebuia o olhar. Entretanto, dessa vez ele não despistou: segurou o cálice firmemente e o levantou oferecendo um brinde silencioso a ela.

— Ele é lindo não é? – Babete sussurrou novamente pela milésima vez – pena que fica tão pouco aqui na faculdade.

— É mesmo? E por que?

— Ele é professor de Magia Negra avançada, essa matéria é dada no último ciclo, lá no Egito.

Só então Gina associou a matéria, o professor e a viagem e ficou feliz por ter certeza de que tudo aconteceria dali um ano.





Depois do almoço Gina decidiu que conheceria um pouco mais o campus da faculdade. Na verdade, aquela passagem secreta tinha mexido com seus instintos e ela logo soube que várias outras esperavam para serem descobertas. Ela andou distraidamente por vários corredores, sempre atenta a todos os detalhes ou qualquer eventual anormalidade.

— Oi Gina! – Pronto! Gina pensou, ali estava Babete novamente falando com sua voz esganiçada.

— Oi Babete – ela respondeu seca.

— Dando um role pela faculdade?

— Pois é... Como dizem os trouxas, estou reconhecendo território.

As duas andaram por vários minutos até encontrarem o corredor que levava ao dormitório. Babete não parou de falar sequer um segundo e Gina sentiu que seus nervos estavam a flor da pele.

— O Prof. Myers não tirou os olhos de você durante todo o almoço.

Gina engasgou e colocou a ponta da sua varinha na fechadura da porta, que logo foi destrancada. "Bem vinda senhorita Weasley" uma voz feminina falou e as duas entraram no quarto.

— Você está delirando Babete. – disse jogando-se na cama.

— Não estou não. – A voz da garota não estava mais tão esganiçada; seus olhos estavam vidrados e opacos e Gina achou aquilo realmente muito estranho. – será que você será a Escolhida?

— Escolhida? Como assim? – Gina sentou na cama e encarou a garota firmemente – Do que você está falando?

— O Jack. Ele sempre escolhe um aluno para ser seu assistente na viagem ao Egito.

— Eu não sabia que existia isso.

— Ele sempre escolhe o aluno mais aplicado, aquele que possui mais conhecimento, coragem e honra. – Babete piscou os olhos consecutivas vezes e logo sua voz voltou a ficar esganiçada e seus olhos brilharam – Trilegal né? É só mostrar serviço que dá tudo certo.

Gina ficou muda enquanto um lindo sorriso iluminava o seu rosto. De repente o sorriso sumiu e ela indagou:

— Como vou mostrar serviço se não tenho aula com ele?

— Por Merlin! – Babete colocou a mão na testa e exclamou com impaciência – Você não leu nenhum dos documentos que recebeu?

— Não... – Gina respondeu timidamente. Na mesma hora lembrou-se de Harry Potter em Hogwarts, ele não sabia absolutamente nada sobre a escola e no começo só dava mancadas. – Vou arrumar minhas coisas e depois leio a papelada.




Então ela pegou todas as malas e com acenos da varinha todas as roupas voaram até a cômoda, os livros até as prateleiras e os pergaminhos para a escrivaninha. Dentro de um envelope verde estavam todos os documentos da faculdade. Ela pegou um deles e começou a ler. "Srta. Weasley..."

Quando Gina terminou de ler percebeu que Babete olhava fixamente para o fundo da sua mala.

— Você conhece Harry Potter? – A menina perguntou pausadamente, como se conhecer Harry Potter fosse uma coisa inimaginável.

Gina pegou o porta retrato e sorriu carinhosamente.

— Eu o conheço há longos 8 anos. – Disse entregando-lhe o porta retrato – Esses são meus pais Arthur e Molly, meus irmãos Fred, Jorge, Percy, Carlinhos, Gui, Rony, as namoradas Angelina e Katie, e os amigos Hermione e Harry.

— Vocês estão abraçados nessa foto. – Babete observou – Vocês são namorados? – De repente Babete deu um gritinho agudo – Você é a namorada misteriosa do Harry, saiu uma matéria sobre vocês na revista Bruxixo!

— Nós não somos namorados!

— Eu li essa matéria mais de mil vezes, mas nunca imaginei que fosse você! – Babete falou como se Gina não tivesse dito nada – "E Harry Potter mais uma vez não quis falar nada sobre o seu namoro secreto. Quando abordado pela revista Bruxixo apenas afirmou não ter nada a declarar além do fato de ambos (ele e a namorada secreta) serem apenas bons amigos".

— Meu Deus, você decorou a matéria! – Gina falou horrorizada.

— Eu amo o Harry! – Ela exclamou com a voz carregada de adoração - Afinal de contas, ele salvou nosso mundo das ameaças daquele bruxo louco, ele é um herói, um príncipe, além de ser maravilhoso! E você, Virgínia Weasley é a namorada do bruxo mais lindo de todos os tempos!

— Nós – não – somos – namorados! – Gina repetiu mais uma vez – Ele e meu irmão foram colegas desde o primeiro ano em Hogwarts, acabamos ficando... próximos!

Babete se afastou para o outro canto do quarto inconformada. Gina gostou, embora o ambiente tenha ficado melancólico, mas foi bom ter um momento de silêncio. Ela aproveitou para reler os documentos da faculdade.





"(...) Os alunos terão o prazo de uma semana a partir do início do semestre para entregarem os relatórios ao professor Myers. É importante ressaltar que o cargo a ser ocupado pelo estudante requer responsabilidade, cautela e auto-controle. A dissertação será sobre qualquer assunto referente a Magia Negra.(...)"





Gina recostou-se no travesseiro e deixou seus pensamentos vagarem.
Estava longe dele a apenas um dia e parecia que seu coração explodiria de saudades a qualquer minuto. Nesse instante uma coruja branca entrou voando no quarto; Babete gritou e se encolheu na poltrona com o susto e Gina pulou contente.

— Edwiges! – A menina acariciou a ave – Que bom te ver!

A recíproca era verdadeira, pois a coruja bateu as asas excitada e aceitou de bom grado o carinho. Depois esticou a pata para que Gina pudesse tirar a carta e em seguida bateu as asas e alçou vôo.





"Hey Gina, como estão as coisas? Sei que você foi embora há apenas um dia, mas já estou morrendo de saudades. Era bom saber que você estava logo ali nA Toca e que poderíamos nos ver a qualquer instante. Agora você está tão longe e tudo parece tão ... vazio! Amanhã eu e a Mione viajaremos para a Floresta Uivante, ficaremos aproximadamente 10 dias fora. Mande notícias logo, ok?

Beijos,

Harry Potter"





— Carta da sua mãe? – Babete perguntou tímida.

— Não, carta do Harry.

— Harry Potter? – A garota perguntou excitada – Sabia que eram namorados! Reconheci a coruja dele!

— Qual a parte do "não somos namorados" você não entendeu? – Gina perguntou brava. – Você já está ficando inconveniente Babete!

A menina se afastou muito magoada e caminhou em direção a porta. Antes de sair sussurrou.

— Eu só queria que fôssemos amigas.

— Nós podemos ser amigas, mas não é me forçando a falar mentiras que vamos ter um relacionamento legal.

— Ok, te vejo depois. – Dizendo isso Babete saiu e bateu a porta com toda a sua força.



Gina acordou sobressaltada ao escutar o barulho forte e alto de uma sirene.
Ela esfregou os olhos várias vezes antes deles tomarem foco e então viu Isabel trocando de roupa. Ela ergueu as sobrancelhas e falou sem emoção.

— Você precisa se trocar, o jantar será servido em breve.

— Obrigada Babete – Gina levantou da cama e se espreguiçou gostosamente. – Acho que peguei no sono depois que você saiu... O estranho é que eu nem estava cansada!

— Essas coisas acontecem. Te vejo no jantar, ok?



Gina percebeu que a colega de quarto continuava magoada, mas não podia fazer nada. Tomou um rápido banho, colocou um vestido azul turquesa e caminhou a passos rápidos para o salão central. Quando entrou percebeu que tinha se atrasado mais do que imaginava e todas as cadeiras estavam ocupadas. Deixou seus olhos correrem por todo o salão e encontrou uma cadeira vaga. Sem pensar duas vezes correu até a mesa e sentou-se. O professor Myers estava falando sobre a viagem com os alunos do 2 ano e a escolha de um aluno recém chegado para ser seu assistente. Ao pensar na possibilidade de ir para o Egito dali algumas semanas fez com que seus cabelos da nuca se arrepiassem.

Depois que ele finalizou os avisos e todas as travessas ficaram cheias de comida ela ouviu:

— Weasley, você consegue acabar com meu apetite só de ficar perto de mim.

— Você deve provocar o mesmo nojo nas pessoas, por isso sua mesa é a única que tem lugar vago. – ela respondeu encarando-o nos olhos – Vamos lá Malfoy, dá um tempo!

Draco levantou as sobrancelhas como se não tivesse entendido o pedido de Gina. Sua boca de repente se descontraiu em um sorriso e ele desviou sua atenção para uma loira que estava sentada ao seu lado.

— Mal posso esperar para ir para o Egito! – A menina falava entusiasmada – Daqui três semanas estaremos lá aprendendo na prática tudo sobre História Bruxa!

Os dois conversavam animadamente e Gina só então percebeu o quanto os efeitos calmantes do salão eram realmente maravilhosos. Draco Malfoy estava sendo uma pessoa agradável com a garota e isso fez com que seu queixo despencasse um metro.

— Você não acha legal irmos para o Egito?

Gina tinha acabado de colocar uma farta garfada na boca e só então percebeu que a garota loira a olhava candidamente. Ela tentou engolir a comida, engasgou e o resultado foi desastroso: ela começou a tossir e voou lentinha para todo lugar.

— Mary querida, acho que a emoção da srta Weasley é tanta que ela não tem palavras.

Gina percebeu que Draco não falava de forma ofensiva, mas acabou se levantando e deixando o salão. Seu rosto ardia de vergonha e não parava de se perguntar como pôde cuspir a comida daquela forma.

— Weasley, Weasley! – Ela corria pelo corredor e ouviu a voz de Draco ficar cada vez mais próxima. Em segundos uma mão a agarrou pelo ombro e ambos pararam de correr. – Você corre hein? – Um sorriso iluminou o rosto do garoto, mas em apenas uma fração de segundo seus olhos passaram do cinza claro para o cinza escuro e ele voltou a ser quem realmente era.

— O que foi Malfoy? – Gina o encarou com as sobrancelhas franzidas.

— Na verdade nada! Eu vim saber se você estava bem, mas juro que nem sei o por que. – Ele cruzou os braços na frente do corpo e a encarou friamente. – Eu vou jantar, você vêm?

— Não.

— Vai ficar com fome. – Gina pensou que existia preocupação em seu tom, mas logo viu que não e seu ódio aumentou consideravelmente.

— Tanto faz. – Ela deu-lhe as costas e avançou dois passos. O encarou novamente e completou – E obrigada pela quase gentileza que você fez.

Draco Malfoy virou as costas, colocou as mãos nos bolsos e voltou assoviando para o salão. Gina o observou sumir atrás da porta e assim ficou alguns minutos. Virou as costas e voltou caminhando lentamente para o seu quarto.

Amanhã era um novo dia e, definitivamente, uma nova vida.


Gina acordou sobressaltada na manhã seguinte. Um ursinho panda projetado pela varinha lhe fazia carinho na testa e em seguida a abraçava carinhosamente.

— Mobby, será que você não aprende? - O ursinho a abraçou novamente e ela o encarou – Você está me sufocando! Já acordei ok? – Ela levantou da cama e o ursinho sumiu.

Babete já estava de pé arrumando sua mochila e apenas ergueu as sobrancelhas como cumprimento. Gina arrumou sua cama, tomou um banho, trocou de roupa e escovou os dentes. Quando saiu do banheiro a colega de quarto já tinha saído para o café da manhã e ela sentiu-se péssima com o clima entre as duas. Pegou os livros necessários para as aulas da manhã e saiu.

Logo que entrou no salão central a mesma sensação de paz e conforto tomou conta até da ponta dos seus dedos. Ela escolheu uma das mesas vazias, colocou a mochila em uma das cadeiras e sentou-se. Assim que tomou um longo gole de suco de abóbora alguém chegou e lhe desejou bom dia. Ela olhou para trás e quase caiu da cadeira.

— Bom dia Sr. Myers. – Ela disse.

— Srta. Weasley... – ele mostrou os dentes perfeitos em um lindo sorriso – está gostando da nossa faculdade?

— Sim, Sr. Myers.

— Pode me chamar de Jack – ele disse tocando levemente a ponta dos seus dedos nos dela, que puxou a mão rapidamente.

— É uma bela faculdade – Ela disse ignorando o pedido dele.

— Ah, claro... – ele recostou-se na cadeira – Nós nos esforçamos muito para sermos a melhor.

— Tenho certeza que sim. – Gina olhou para os lados e percebeu que alguns alunos a encaravam, mas Jack não parecia se importar.

— Acredito que você fará uma dissertação para acompanhar os alunos do último ciclo, acertei?

— Não tenho certeza Sr. Myers. Acredito que ainda não estou habilitada para tal trabalho.

Jack se levantou da cadeira e olhou ao redor passando as mãos nos cabelos. Então se abaixou e disse no ouvido e Gina:

— Eu sei que você sabe magia negra mais do que qualquer aluno. E sei que você nunca esqueceu o que viveu. – Dizendo isso ele saiu do salão deixando para trás uma garota abismada e centenas de alunos intrigados.

Depois de se recuperar do choque Gina se levantou, jogou a mochila nas costas e rumou para a sala onde seria sua primeira aula. A classe estava realmente cheia; cerca de 50 bruxos conversavam animadamente enquanto o professor não chegava. Ela escolheu uma cadeira no meio da sala e tentou relaxar. Quando o relógio marcou oito horas uma bruxa com cabelos extremamente loiros e lisos e olhos azuis brilhantes entrou na sala dizendo bom dia. Sua voz esganiçada combinava com suas roupas cor de laranja berrante e todos logo perceberam que ela era uma bruxa que adorava ser o centro das atenções.

— Bom dia turma! – Disse entusiasmada enquanto esperava que todos se sentassem – Meu nome é Cristal e sou a professora de História Bruxa I. – Ela ouviu um murmúrio correr a sala e logo explicou – Sei que muitos de vocês tiveram essa matéria na escola de onde vieram, mas saibam que ela está na grade curricular a não há nada que possamos fazer – Ela encarou os alunos e deu um gritinho excitado – Adoro alunos do primeiro ciclo! Vocês são tão... frescos!

Ninguém entendeu o comentário, mas todos sorriram de maneira simpática. Ela começou a aula contando sobre as famílias que fizeram toda a história bruxa desde os mais antigos povos. Gina aos poucos sentiu sua atenção se dispersar e deixou sua mente pensar na conversa com o professor Myers no começo do dia. Pelo seu tom de voz ele sabia que ela fora “possuída” por Tom Riddle no seu segundo ano. Mas como? Além da sua família apenas Harry, Hermione e Dumbledore sabiam disso. Sem prestar a menor atenção no que a professora dizia pegou um pergaminho e começou a escrever.
Depois que o sinal tocou anunciando o horário do almoço Gina jogou a mochila nas costas e desceu apressada para o refeitório. Pegou uma mesa de dois lugares e começou a comer saboreando cada garfada: sem dúvida todos os elfos domésticos do mundo eram perfeitos chefes. Não que ela não gostasse da comida da sua mãe, mas é que variar as vezes era muito bom! Enquanto deixava um pouco da saudade tomar seu coração a cadeira na sua frente foi ocupada.

— Weasley... – Draco Malfoy disse calmamente com o esboço de um sorriso nos lábios. – Por que está almoçando sozinha?

— Malfoy – ela disse jovialmente – não adianta tentar ser legal comigo, ambos sabemos que o feitiço do salão faz com que todos sejamos agradáveis, mas também não dá para exigir milagres.

— Eu sei, mas tem algo me fazendo querer conversar com você – ele se inclinou para frente – Os alunos dessa faculdade não gostam de pessoas de fora; é claro que eu não tive problemas porque sou bonito, rico, simpático, interessante e inteligente.

— Você esqueceu de acrescentar o modesto – Ela disse de forma irônica. Ele optou em ignorar o comentário dela.

— Como eu ia dizendo – ele continuou – todos aqui gostam de mim... mas, você ?!? Tadinha...

— Não preciso de caridade Malfoy – Ela sentiu que apertava o garfo com mais força que o usual – E nem sou o Gasparzinho-fantasminha-camarada, que procura desesperadamente por um amigo.

— Fico mais tranqüilo sabendo disso. – ele sorriu e ela mostrou todos os dentes em um sorriso amarelo – Preciso achar Myrian, você a viu por aqui?

— Quem é Myrian? – Ela ergueu as sobrancelhas ao perguntar – Não a conheço.

— Como não a conhece? – ele falou em tom óbvio - Nós jantamos juntos ontem a noite, ela é a minha namorada.

— O que? – Gina tentou abafar a gargalhada, mas por fim não conseguiu se conter – Você ... namorando? Essa faculdade oferece algum tipo de ajuda bruxicológica? Olha, acredito que essa tal de Myrian tenha um certo distúrbio de personalidade.

— Qual o problema? – Ele perguntou ofendido. – Não entendi qual foi a piada.

— Não tem problema nenhum Malfoy, eu que me descontrolei. – Ela disse controlando o riso e piscando diversas vezes.

— É você quem precisa de ajuda bruxicológica. – ele disse ainda ofendido – Você é doida.

—Eu já te pedi desculpas, ok? Quer me contar alguma outra coisa?

— Não, eu já fiz a minha boa ação de hoje. – E foi-se embora.

Gina terminou seu almoço e ficou alguns segundos estática pensando na sua vida. Respirou fundo, e então sentiu-se desesperadamente só. Sentia falta da família, dos amigos, de Harry... “Ah Harry, quanta saudade...” , pensou melancólica. Saiu do refeitório e pensou em procurar o quarto do professor Myers, mas isso não foi necessário. Ao dobrar o primeiro corredor os dois se encontraram e ele sorriu feliz.

— Vejo que escreveu o texto. – Ele disse olhando fixamente para o rolo de pergaminho que ela segurava.

— Pois é, resolvi escrever. – Ela entregou o pergaminho e sorriu sem graça. – Quando sai o resultado?

— Daqui quatro dias – Ele respondeu ainda sorrindo e só então Gina percebeu o quanto o sorriso dele a deixava nervosa – Viajaremos para o Egito na próxima sexta-feira. Agora com licença Srta Weasley, eu preciso ir.
O bruxo se afastou a passos muito rápidos e logo Gina o perdeu de vista. Ela foi até o seu quarto, identificou-se no painel, abriu a porta e jogou sua mochila em um canto. Babete estava sentada em sua poltrona cor de abóbora e lia um livro, mas ergueu as sobrancelhas e sorriu quando a viu.
— Olá Babete – Gina disse automática. A menina fechou o livro, colocou-o na escrivaninha e abraçou os joelhos.

— Como foi o primeiro dia de aula?
— Foi bom, parece que a Cristal é uma professora muito bacana. – Repondeu jogando-se na cama e colocando as mãos atrás da cabeça.

— Eu diria que ela adora um palco para conseguir brilhar, a faculdade não oferece muito espaço para os professores. – Babete baixou os olhos e perguntou com uma voz sussurrada – Você escreveu o texto para o professor Myers?

— Escrevi – Babete baixou os olhos novamente e Gina não agüentou – Olha Babete, eu não to entendendo o que está acontecendo. Você poderia por gentileza me explicar qual é o problema?

— Você vai ser a escolhida.

— Esse papo de que eu vou ser a escolhida já foi, eu não entendo porque diz isso o tempo todo!

— Vamos ser práticas Gina: Você é amiga de Harry Potter que enfrentou Você-Sabe-Quem inúmeras vezes! Com certeza aprendeu muito sobre Magia Negra!

— Não é bem assim. Além do que, seria imoral aproveitar os momentos de perigo pelos quais o Harry passou para tentar ir para o Egito.

Babete a encarou e não disse mais nada. Gina se levantou, foi até a estante e trocou os livros: Pegou os que usaria a tarde e devolveu os que tinha usado de manhã.

— Tenho aula agora Babete, depois a gente se fala. – Dizendo isso atravessou a porta e deixou para trás uma colega de quarto extremamente mal-humorada.

As aulas da tarde passaram sem maiores surpresas, assim como as da manhã e as dos três dias seguintes. Gina era muito tímida e quieta, e embora todos os alunos do primeiro ciclo fossem totalmente desconhecidos uns para os outros e buscassem novas amizades ela ficou apreensiva. Somente no jantar do terceiro dia que um colega de sala se aproximou e perguntou se poderia sentar-se com ela.

— Claro, fique a vontade! – Ela disse tirando sua mochila da cadeira que ele em seguida ocupou.

— Weasley, certo? – Ele perguntou.

— Certo. – Ela sorriu – E você é.. ?

— Andrew Stevens, sou americano. Muito prazer.

Os dois conversaram animadamente durante todo o jantar, ambos contando sobre suas respectivas escolas de Magia. Andrew tinha estudado na Escola de Magia Oxford, uma das mais bem conceituadas dos EUA. Gina o escutou maravilhada enquanto ele contava histórias mirabolantes que aconteceram enquanto era estudante.

— E você, quais as suas histórias? – Ele perguntou interessado.

— Eu não tenho nenhuma que seja realmente interessante. – Ela disse quase de imediato.

— Ok... – Ele olhou para o relógico no pulso – Já são quase 9:30, acho melhor irmos andando.

— Ah, claro!... – Ela respondeu pesarosa. Era tão bom ter com quem conversar que a idéia de voltar para o quarto e continuar solitária era extremamente deprimente. – Qual o seu quarto?

— Eu estou no 1584 – Sul. E você?

— 7896 – Oeste. Sempre fico perdida nesses corredores.

— Eu também! – Ele disse empolgado – Fico impressionado com o tamanho dessa faculdade.

— Isso é porque você ainda não viu Hogwarts que deve ter no mínimo vinte vezes o tamanho desse nosso prédio. A diferença é que lá é bem organizado, quero dizer, somos divididos em casas e cada casa tem sua própria torre. Menos a sonserina, lógico, eles ficam nas masmorras.





Os dois chegaram no corredor que levava cada qual para o seu dormitório, se despediram e seguiram seu caminho. Ela andou calmamente por todo o corredor, sem se importar com os comentários que alguns quadros faziam a seu respeito.

— Boa noite, Srta Weasley. – Era ele.

— Boa noite, professor Myers. – Ela disse sorrindo.

— Nervosa para amanhã? – Ele mostrou a fileira de dentes perfeitos.

— Na verdade não. – Ela respondeu indiferente – O que, exatamente, vocês estudam no Egito?

— Que pergunta estranha Srta. Weasley. Vamos estudar a magia negra prática.

— E porque você escolhe um aluno para acompanhá-lo?

— Não sou eu que escolho. Ele é o escolhido. - Gina o olhou curiosa, mas ele a ignorou. – O resultado será anunciado no café da manhã, Srta. Weasley, uma boa noite.





Gina saiu perambulando pelos corredores, sem sono demais para ir dormir e cansada demais para fazer alguma coisa realmente interessante. Deixou que suas pernas a levassem para onde quisessem e quando deu por si estava em frente a parede falsa que Babete tinha lhe mostrado.

Sem pensar duas vezes encostou uma mão na parede e sentiu que o frio na ponta dos dedos. Deu um grande passo e tudo ficou gelado.





O corredor ainda tinha o mesmo aspecto sombrio; cores e móveis escuros, velas e candelabros. A sensação de Gina era de que aquele lugar escondia um segredo, mas não podia sequer imaginar o que era. Foi até uma das prateleiras e deu uma olhada nos títulos “A história Antiga”, “O que os deuses querem de nós”, “O poder de dar a vida”, “Renascimento”, “O lado oculto da história bruxa”, “Magia Negra avançada” e vários outros títulos. Ela se perguntou se “Magia Negra avançada” seria o mesmo livro que o seu e assim que o puxou ouviu uma exclamação de reprovação.

— Você não tem o direito de estar aqui. – Uma voz masculina falou e ela sentiu seu sangue gelar.

— Por que não? – Perguntou enquanto guardava o livro novamente e quando se virou viu que quem falava com ela era o Príncipe Osíris.

— É errado. A passagem é oculta exatamente para ninguém saber que ela existe. Se esses livros pudessem ser consultados estariam na biblioteca.
— Eu só queria saber se esse livro era o mesmo que o meu. – Ela disse indicando o livro que tinha olhado.

— Não existem outras cópias desses livros. Eles são únicos, objetos de desejo de vários bruxos, entre eles o diretor da Durmstrang.

— Quem é você? – Gina perguntou mudando de assunto.

Ele a encarou com horror e um meio sorriso apareceu em seus lábios.
— Já é tarde Srta. Weasley. É melhor voltar para o seu dormitório. E por favor, não volte mais aqui.

O pedido do príncipe beirava o absurdo, mas ela logo sentiu suas pálpebras pesarem. Quando estava saindo notou um vulto preto parado no fim do corredor. Entre o medo e a curiosidade ficou com a segunda opção e se aproximou. Constatou que era apenas um quadro com um pesado pano preto na frente. Quando pensou em puxá-lo para ver do que se tratava Osíris deu um grito.

— Não faça isso Srta. Weasley, será um erro inimaginável. O retrato que vive atrás dessa cortina é uma criatura maléfica. Não vale a pena ser visto e tão pouco admirado.

Gina lembrou-se da casa de Sirius e da mãe dele que gritava por trás da cortina. Achou melhor realmente não abusar da sorte, afinal de contas, Osíris já estava ficando com raiva da sua curiosidade excessiva. Quando estava saindo o encarou novamente.

— Não sei porque não me conta quem é, mas pelo menos foi mais simpático do que da outra vez.

— Não diga coisas que não sabe, é sua obrigação saber quem sou. E por favor, não volte mais aqui. Boa noite.






Gina atravessou novamente a parede mágica e caminhou até seu quarto. Jogou a mochila no chão e deitou na cama. Ficou pensando no que o Príncipe Osíris havia dito ”Você tem obrigação de saber quem sou”. Não conseguia parar de pensar também nos livros... Mas logo se lembrou que no dia seguinte seria anunciado o resultado do teste.

Essa era a chance de concretizar o quanto antes o seu sonho de vingança.
Gina acordou no pulo na manhã seguinte. Na verdade ela tinha dormido muito mal durante a noite. Quando Babete chegou já eram quase 00:00 e ela ainda estava tentando encontrar uma posição confortável para dormir. Momentaneamente sentiu-se arrependida por estar tão longe de casa por um motivo tão egoísta. Estava sacrificando sua família, seu amor e a si mesma por uma vingança boba e relativamente infantil e tinha plena consciência disso. Entretanto, o que realmente desejava parecia valer a pena e cada segundo de saudade seria recompensada depois do que estava disposta a fazer. Pensando no Egito ela repassou cada um dos planos que tinha arquitetado e aprimorado em sua cabeça durante os longos anos em Hogwarts e estava decidida a concretizá-los. Nada, em hipótese alguma, faria com que mudasse de idéia.

Depois de tomar um belo banho e arrumar a mochila ela saiu em direção ao Salão Central. Muitos estudantes já estavam tomando o farto café-da-manhã, que consistia em torradas de todos os sabores, geléias especiais, leite, sucos, frutas e pães típicos da região. Dessa vez Gina percebeu que os murmúrios e cochichos estavam mais altos do que o habitual e logo percebeu também que alguns poucos estudantes olhavam diretamente para ela.

— Você passou! Parabéns! – Andrew se aproximou com um sorriso genuíno no rosto. – Você é a escolhida.

Gina o olhou e depois de alguns segundos sorriu.

— Eu vou para o Egito? – Ele confirmou com a cabeça e ela sentiu que ia explodir de felicidade. – Eu vou para o Egito! Preciso ir Andrew, a gente se vê na sala!

Voltou correndo para o quarto e pegou dois rolos de pergaminho. A felicidade era tanta que ela queria gritar para que todos escutassem. Molhou a pena na tinta e começou.






"Família, Vocês não vão acreditar: Vou para o Egito amanhã a noite! Não sei ainda porque isso acontece, mas parece que todo ano um aluno do primeiro ciclo é escolhido para acompanhar os alunos do último. Estou muito contente, ainda não tive maiores informações, provavelmente ficaremos lá apenas 3 meses e depois voltaremos para o natal. Estou com saudades de todos, vocês fazem muita falta.

Beijos,

Gina."





A segunda carta era mais difícil de redigir e ela ficou vários minutos pensando em como o faria. Quando terminou de escrever





"Harry, meu amor"




alguém bateu na porta. Ela abandonou o pergaminho e deu de cara com um professor desconhecido que a olhava atentamente.

— Srta. Weasley, o professor Myers e a turma no nono ciclo estão esperando por você na sala de reunião, ao lado do salão central.

— Ok, obrigada.

Ela fechou a porta atrás de si e correu até sentir que não tinha mais ar nos pulmões. Quando entrou na sala todos olharam para ela.

— Srta. Weasley... – o professor Myers – Sente-se ao meu lado, estou dando algumas coordenadas aos alunos e acredito que serão extremamente úteis para você também. – Ela ocupou o lugar que ele indicava – Como eu estava dizendo turma... Partiremos hoje a noite no Noitibus Andante. Repito que nenhum aluno terá ônus algum, já que a faculdade arcou com todas as despesas. O primeiro dia será livre, a viagem é longa e cansativa e eu não quero nenhum aluno cansado explorando a pirâmide de Gizé. Por favor, todo o cuidado é pouco com os objetos. Alguns estão esfarelando, tudo é extremamente antigo, valioso e importante.

— Por que não usam feitiços reparadores? – Uma aluna com voz tímida perguntou e só então Gina olhou para o resto da sala. Cerca de 30 alunos estavam sentados no chão absorvendo cada palavra do professor.
— Nós já tentamos isso, Srta. Farley. Nem os feitiços mais fortes conseguiram restaurar o que perdemos.

— Como será o nosso dia-a-dia? – Um aluno no fundo da sala perguntou.

— Isso conversaremos lá. Agora podem ir; arrumem suas malas e aproveitem o dia. Nos encontraremos as 19 horas no Salão Central para o jantar e em seguida a viagem.

Os alunos foram saindo aos pares, todos conversando animadamente. Gina também estava empolgadíssima, louca para voltar correndo ao dormitório e arrumar suas malas.

— Um segundo por gentileza Srta. Weasley! – Um homem falou. Gina o olhou atentamente e teve certeza de já tê-lo visto antes: Cabelos e barba claros e muito bem cuidados, olhos escuros congelantes e um ar aristocrático. – Meu nome é Richard Williams, sou professor de Arqueologia Bruxa e esse é o primeiro trabalho que faço com o professor Myers. – Ele olhou ao redor e constatou que agora estavam sozinhos – Eu avaliei sua redação de Magia Negra e fiquei impressionado. A forma que descreveu os feitiços imperdoáveis foi excelente e por isso a escolhi para nos acompanhar nessa viagem e é muito bem vinda a equipe. Será sua responsabilidade organizar os relatórios e ter controle sobre entrada e saída dos estudantes na pirâmide. Obviamente poderá participar de todas as escavações e cursos que oferecemos aos estudantes e isso contará pontos quando concluir o curso.

Ele parou de falar e a olhou esperando uma resposta. Ela sorriu, mas como o rosto dele continuou sério ela sentiu o sorriso morrer em seus lábios.

— Obrigado professor Williams.

— Pode sair – Ele disse fazendo um movimento com a varinha e a porta se abriu. Quando ela colocou o pé no corredor ele falou novamente – 19 horas no Salão Central, não toleramos atraso.


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