O Berrador



3: O Berrador


 


Uma explosão alta quebrou o silêncio de uma sonolenta vila quando uma enorme figura, de uma caveira verde com uma serpente saindo por sua boca, apareceu no ar. Figuras cobertas corriam por todas as direções, flashes breves de luz, causados pelas maldiçoes lançadas, voavam em direção às costas de bruxos e bruxas que fugiam. O chão estava coberto de corpos – homens, mulheres e crianças – todas encarando, fixamente, o nada, sem vida. Gritos agonizantes enchiam o ar enquanto as maldições continuavam a voar. De repente, a cena cintilou e mudou. Um homem, em longas vestes, se ajoelhou no chão de um pequeno e escuro quarto, com um ligeiro tremor em seu corpo.


   -   O que você tem para contar? – uma voz fria sussurrou das sombras.


 


   -   Potter continua com seus parentes. Nós... nós ainda não achamos uma solução para a proteção de sangue.


 


   -   Eu quero que Potter seja trazido a mim, e eu quero isso rápido. Capture-o, mas não o mate; de qualquer forma, você está livre para usar força.


 


   -   Sim, milorde – disse Rabicho, tentando sair correndo do quarto.


 


   -   Não tão rápido. Você precisa ser lembrado de o quanto eu dou valor ao cumprimento total de minhas instruções...


 


   -   Não, mestre…


 


   -   Crucio!


 


Harry Potter sentou reto em sua cama, mordendo os lábios com força o bastante para fazê-lo sangrar e tentando conter outro grito antes que esse deixasse sua garganta. O suor descia por seu rosto e costas, e ele estava completamente enrolado em seus lençóis. Ele sentiu uma onda de náuseas o atingir quando sua cicatriz queimou novamente, e ele sabia que, em algum lugar, Rabicho ainda estava sendo torturado. A bile tentou sair de sua garganta enquanto ele corria para o banheiro e vomitava. Já que ele tinha pulado o jantar, não tinha nada mesmo para sair. Quando ele terminou, Harry tentou se levantar, e usando a parede de suporte, voltar para o quarto. Antes que ele conseguisse fazer todo o caminho da volta, ele ficou cara a cara com um lívido Válter Dursley.


   -   O que diabos há de errado com você, aberração? – ele cuspiu, saliva voando de suas bochechas.


   -   Desculpe acordá-lo – Harry resmungou. Ele tentou manter-se equilibrado na parede enquanto voltava para o quarto.


   -   Eu não vou tolerar você acordando essa casa todas as noites com seus malditos gritos. Alguns de nós realmente TÊM que trabalhar para viver, seu pedaço inútil de... toda noite que você ficou aqui você fez isso, e pra mim já basta. Ache um jeito de parar ou eu paro por você, garoto!


   -   Certo. – Oh isso era realmente brilhante. Se eu achasse que você podia parar esses pesadelos idiotas, eu deixaria.


 


Tio Válter pareceu ficar com mais raiva pela falta de argumento de Harry.


 


   -   Não ouse usar esse tom comigo!


 


A própria paciência de Harry já tinha avisado, ele estava prestes a responder.


   -   Que tom seria esse?


 


Tio Válter prensou Harry contra a parede e levantou a mão. Por um instante, Harry achou que ele ia batê-lo. Seu silêncio lhe deu permissão para fazê-lo, sentindo que merecia de qualquer modo. Aquilo não tinha realmente se repetido desde antes de ele receber sua carta de Hogwarts. Agora ele tinha outras pessoas na sua vida que sabiam de sua existência. Mas Tio Válter o soltou, talvez por causa da imagem de Olho-Tonto Moody em sua mente, e resmungou:


 


   -   Entre no seu quarto.


 


Enquanto Harry obedecia, ele ouviu a tranca bater.


 


   -   Você pode ficar ai até o inferno congelar, garoto.


 


Harry sentou em sua mesa e passou a mão pelos cabelos. Não tinha sentido aborrecer Tio Válter; ele só acabaria pagando por isso de qualquer modo.


 


Maldição, eu pratiquei Oclumência a noite passada também, como todas as noites desde... bem, que eu voltei pra cá. Por que esse sonho entrou de novo? Ele estava perdido em pensamentos quando uma coruja de jardim marrom entrou por sua janela carregando um envelope vermelho de aparência sinistra. Quem me mandaria um berrador? Em pânico, ele agarrou o envelope e tentou segurá-lo do lado de fora para que abrisse, mas a voz estridente de Gina Weasley ecoou por toda a casa, parecendo fazer tremer as estruturas da casa dos Dursleys.


 


 HARRY JAMES POTTER, EU TIVE O BASTANTE DISSO! SE VOCÊ NÃO QUER FALAR COM O RESTO DE NÓS, ESSA É SUA ESCOLHA, MAS VOCÊ NÃO TEM O DIREITO DE TRATAR MAMÃE DESSE JEITO! ELA ESTÁ LOUCAMENTE PREOCUPADA COM VOCÊ! SUA RECUSA A RESPONDER A QUALQUER CARTA A FEZ CHORAR ONTEM! É ISSO QUE VOCÊ QUER? ESCUTE-ME, HARRY, E ESCUTE BEM! PEGUE UMA PENA E UM PEDAÇO DE PERGAMINHO AGORA E ESCREVA UMA MENSAGEM PARA MAMÃE! E É MELHOR VOCE DEIXÁ-LA SABER COMO VOCÊ ESTÁ E NÃO OUSE DIZER: “BEM”, JÁ QUE VOCÊ É UM PÉSSIMO MENTIROSO, E NINGUÉM ACREDITA QUANDO VOCÊ DIZ ISSO, DE QUALQUER JEITO! LEVANTE SEU TRASEIRO DAÍ E SE AJEITE COM ELA AGORA, OU EU VOU FAZER DA SUA VIDA UM INFERNO QUANDO VOCÊ CHEGAR AQUI, HARRY! ESCREVA A MAMÃE!


 


O berrador explodiu em chamas quando ambos Válter e Petúnia entravam bruscamente no quarto de Harry.


 


   -   Qual é o significado disso? – Tia Petúnia sussurrou numa imitação perfeita da voz que Voldemort tinha usado no sonho de Harry


   -   Olha, eu não pude fazer nada. Era um berrador; eles abrem não importa o que você faça. Eu não...


   -   Não mencione essas anomalias nessa casa. Eu lhe disse mil vezes, sua aberração miserável. – Valter disse furiosamente – Falo sério Petúnia; Eu já tive o bastante desse... desse... desse canalha inútil!


 


Tia Petúnia olhou para Harry como se ele fosse, de algum modo, arrumar isso tudo.


 


   -   Você ficará aqui durante o tempo que permanecer nessa casa, e espero que o resto das aberrações venham lhe tirar logo de debaixo de nossas asas. Se você conseguir manter o barulho baixo, ai você terá refeições novamente.


 


Com isso os dois saíram tempestuosamente e colocaram as travas da porta de volta no lugar.


 


Ele sentou furioso e escreveu uma carta rude a Gina. Ela queria saber como ele estava, ele iria dizer como ele estava. No meio caminho de suas reclamações, ele amassou o pergaminho e jogou no lixo. Ele nunca mandaria de qualquer forma. Com um suspiro, ele voltou à cama, esperando que não tivesse mais sonhos. Como ele caiu em sono pesado, Edwiges deixou sua gaiola e pegou o pergaminho amassado do lixo. Sem seu conhecimento, sua coruja da neve leal, foi procurar ajuda.

______________________


Gina Weasley tinha dormido e acordado para encontrar outro dia chuvoso.


 


   -   Oh, isso é brilhante – ela resmungou, vestindo seu roupão sobre o pijama.


 


A cozinha estava vazia quando ela chegou, então ela preparou seu café da manhã. Ela estava sentando, com uma tigela de mingau, quando Edwiges voou pela janela, carregando um pedaço de pergaminho amassado em seu bico.  Isso é estranho, Gina pensou. Por que Harry não mandou um envelope? Eu espero que não tenha nada errado. Ela pegou o pergaminho e começou a ler.


 


Ei, Gina,


 


Muito obrigado pelo berrador. Chegou às 2 DA MANHÃ, para a felicidade sem fim dos Dursleys. Felizmente, todo mundo já tava acordado, graças ao meu costumeiro grito a meia-noite. Tio Valter e eu tínhamos brigado, e eu realmente achei que ele ia tirar o cinto e me bater. Agora eu estou preso nesse maldito quarto de novo. Então, você quer saber como eu estou? Eu vou dizer como eu estou! Eu estou horrível e eu me sinto como lixo. Eu não posso comer, eu não durmo, eu tenho que aturar esses trouxas na minha frente sem parar, pessoas me seguem a todo canto que eu vou e eu me sinto completamente morto para tudo isso. Eu acho que talvez os Dementadores...


 


A carta simplesmente parava ai. Gina estava horrorizada; ela não tinha intenção de mandar a carta no meio da noite e ela não tinha nem pensado na reação dos trouxas. Por que a carta terminava ali?
 


   -   Edwiges, Harry te deu essa carta ou você simplesmente pegou? – ela perguntou começando a compreender. Edwiges apenas piou e piscou os olhos.


   -   Droga – Gina amaldiçoou.


 


De repente, havia uma comoção no hall de entrada, e Gina saiu pra ver o que estava acontecendo. Olho-Tonto Moody estava chamando o Professor Lupin e Kingsley Shacklebolt.


 


   -   Nós temos Comensais da Morte escondidos por toda Rua dos Alfeneiros!


 


O coração de Gina bateu forte no peito. Comensais em Little Whinging? Oh, Harry, por favor, esteja bem, sua mente sussurrou. Esteja salvo.


 


Moody estava dando ordens quando seu pai e os gêmeos entraram na confusão. O olhar sério na cara de Fred e Jorge parecia estranho na face, geralmente, travessa.


 


   -   Nós temos Comensais agindo por toda Little Whinging, a maior concentração está no final da Rua dos Alfeneiros. Eles estão procurando por ele. Fred e Jorge, eu quero que vocês peguem essa chave de portal diretamente para a residência dos Dursleys e tirem Potter imediatamente de lá.- Ele disse enquanto jogava um pedaço velho de pergaminho, com um desenho de serpente, para as mãos de Jorge.


 


   -   Não esperem um sinal, só o peguem e saiam. Nós vamos garantir a segurança dos seus parentes e tirá-los de lá se precisar. Vocês dois só o tirem de lá. Se tiver qualquer sinal de problema, deixem as coisas dele e vão.


 


Os gêmeos assentiram, e os dois agarraram o pergaminho e desapareceram.


 


   -   Arthur – continuou Moody, mas Gina não prestou atenção.


 


Por toda a casa, vários aurores e outros membros da Ordem se preparavam para ir a Surrey. Eles continuavam abrindo a pesada porta da frente. Como na casa de Harry, em Surrey, não se podia aparatar para dentro ou fora de Grimmauld Place.


 


A mente de Gina estava a mil. Harry não deveria estar a salvo na casa de seus parentes? Pra começar, não foi essa a razão por que Dumbledore sempre insistiu para ele ficar com aquelas pessoas horríveis? Alguma coisa tinha acontecido pra mudar tudo isso?


 


Gina, mais uma vez, amaldiçoou a falta de notícia de Harry esse verão; ela queria saber o que estava havendo. Ela não estava realmente brava com ele, porque ela sabia que ele estava sofrendo. Era verdade que ela tinha um temperamento explosivo. Seus irmãos já a acusavam disso o bastante.


 


Porque sua mãe estava tão chateada, ela tinha perdido o controle e mandado aquele berrador rude. Se ela tivesse tomado um tempo para se acalmar ela nunca teria mandado. O berrador? Merlin, ela esperava que o fato de ela ter mandado um berrador não tivesse nada a ver com o que estava acontecendo agora. Se a localização de Harry tivesse sido descoberta por causa de seu erro de julgamento, por causa de sua cabeça quente... bem, ela nunca iria poder se perdoar por isso.


 


Harry já tinha passado por muita coisa, coisa demais pra uma pessoa só. Ela sabia o quanto Sirius tinha significado pra ele. Ele era um adulto que Harry podia, realmente, recorrer se precisasse de ajuda, e isso, por si só, era incrível. Conhecendo Harry, ele também se culparia pelo que aconteceu a Sirius. Ficar sozinho com esse tipo de culpa devia ser desgastante e ela não tinha direito de cobrar mais coisas dele. Ela tinha superado sua queda de infância pelo Menino-que-sobreviveu, mas ela nunca parou de se importar com Harry. Ela se forçava a seguir em frente, namorando ambos Miguel e agora Dino, mas Harry sempre teria um lugar especial no seu coração. Nada poderia mudar isso. Se amizade era tudo que ele podia oferecer, ela aceitaria aquilo, e como amiga, ela o deixaria saber se ele estava sendo um verdadeiro imbecil.


 


 


Pára, Gina, não vamos começar com isso de novo; você acabou de perdoá-lo. Gina pegou um livro e sentou no hall de entrada. Era para ali que eles trariam Harry daqui a pouco, e era ali que ela ficaria.


 


 


Harry estava olhando para as gotas de chuva escorrendo por sua vidraça. Ele estava tentando fazer a redação de Poções, mas não tinha muito longe já que sua mente continuava a divagar em direções que ele não queria. Ele não podia parar de pensar no berrador de Gina. Quanto mais ele pensava, mais engraçado parecia. Aqui estava todo mundo o com o maior cuidado, como se fosse quebrar, e Gina se rebela e manda um berrador. Se não fosse pelo fato de que ele tinha perturbado a Sra. Weasley, ele achava que podia, realmente, rir disso. E rir por qualquer coisa nesse ponto seria bom.


 


Era quase meio-dia, e Harry ainda estava trancado no quarto. Eles não o tinham deixado sair nem para usar o banheiro. Se eles não deixassem logo ele ia ter um grande problema. Várias vezes ele considerou bater na porta e pedir que o deixassem ir, mas então ele percebeu que isso os encorajaria a deixá-lo lá mais tempo. Melhor sentar quieto e esperar. Sua mente voltou para as feias memórias do passado  quando os Dursley tinham, freqüentemente, usado isso como uma forma de punição. Eles tinham prazer em sua humilhação.



Tick tack, tick tack.


O tempo parecia estar passando coma mesma velocidade que uma aula de História da Magia. Sua redação de Poções não tinha avançado em nada desde que ele tinha sentado. Quando ele começou a guardar as coisas, ouviu um som abafado no piso de baixo, seguido pelo som de pisadas subindo as escadas. Nenhum dos Dursleys se movia daquele jeito.


 


Harry sacou sua varinha e cruzou a porta no momento que ela abria ao som de um “Alohomora!”. Não era ninguém mais que Fred e Jorge Weasley, ambos olhando cautelosamente a postura firme de Harry e sua varinha apontando pra eles.


 


   -   Calma aí, cara - Fred levantou as mãos no ar. - Somos só nós.


 


Harry baixou a varinha um pouco, mas continuou rígido.


 


   -   Qual foi o apelido que vocês deram a Percy quando ele virou Monitor?


 


Jorge sorriu.


 


   -   Essa é fácil, Harry. Tremendo Chefão!


 


Harry baixou a varinha e sorriu para os gêmeos.


 


   -   Err... o que vocês dois estão fazendo aqui? Peraí, preciso usar o banheiro.


 
Harry passou voando por eles, e ouviu um deles dizer:


 


   -   Começa a fazer a mala.


 


Quando Harry voltou pro quarto a sua mala estava arrumada e a gaiola de Edwiges estava amarrada no topo. Os gêmeos pareciam agitados e Harry ficou atento; alguma coisa estava acontecendo.


 


   -   Por quanto tempo você ficou preso aqui Harry? – Jorge perguntou furiosamente – Você parece horrível.


 


    -   É, bem, valeu. Bom ver vocês também. O que está havendo? – Harry perguntou, contornando as perguntas e o comentário, enquanto pegava suas coisas, que estavam embaixo da tábua solto embaixo da cama, e jogava no malão.


 


   -   Nós temos problemas, vários. Comensais por toda parte. Nós temos que levar você.


 


 


Harry sentiu uma onda de medo o percorrer. Aqui vamos nós de novo. Sua mente começou a vagar pela câmara da morte, mas ele logo sacudiu a cabeça e tentou afastar isso. Foco, ele precisava de foco.


 


   -   Comensais aqui? Mas… e a proteção? Eu achava que toda a razão de eu voltar pra cá todo ano era porque era salvo.


 


   -   Eu não sei Harry; Eu tenho certeza que todos nós vamos ter uma explicação, mas por enquanto...


 


   -   E os Dursleys?  Nós não podemos simplesmente deixá-los. É pra cá que os comensais vão vir e vocês sabem.


 


   -   Papai e Moody estão vindo. Eles vão cuidar deles, mas nós temos que ir.


 




A mente de Harry estava a mil; ele não podia escapar e deixar os Dursleys encararem os comensais. Embora ele não sentisse amor ou qualquer outra emoção por seus parentes, ele não queria que morressem e, certamente, não queria que morressem por sua culpa. Ele tentou passar por Fred e Jorge, mas eles o pegaram e empurraram de volta, forçando-o a pegar o pergaminho com as mãos antes que ele pudesse detê-los.



Harry sentiu a familiar puxada embaixo do umbigo, e um segundo depois, ele estava na entrada do hall de Grimmauld Place. Levou um minuto ou dois para ele se orientar. Olhando em volta, ele viu o retrato coberto da Sra. Black e o sombrio ambiente familiar da casa da família de Sirius. Ele achou que ia passar mal. Antes mesmo de ele se orientar por estar lá, ele viu Gina pular fora do sofá e se lançar sobre ele, abraçando-o ferozmente.


 


   -   Você está bem?


 


   -   Eu não quero ficar aqui – Harry sussurrou, apertando-a mais forte do que ele faria normalmente. De repente, seu mundo tinha girado, novamente, fora de controle.


 


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Cap 3 ai =) Não vai dar pra responder nada hoje.. to na pressa, tenho que estudar fisica, mas obrigada pelos coments sobre a tradução e pelos votos =D


 


 



3: O Berrador


 


Uma explosão alta quebrou o silêncio de uma sonolenta vila quando uma enorme figura, de uma caveira verde com uma serpente saindo por sua boca, apareceu no ar. Figuras cobertas corriam por todas as direções, flashes breves de luz, causados pelas maldiçoes lançadas, voavam em direção às costas de bruxos e bruxas que fugiam. O chão estava coberto de corpos – homens, mulheres e crianças – todas encarando, fixamente, o nada, sem vida. Gritos agonizantes enchiam o ar enquanto as maldições continuavam a voar. De repente, a cena cintilou e mudou. Um homem, em longas vestes, se ajoelhou no chão de um pequeno e escuro quarto, com um ligeiro tremor em seu corpo.


 


-         O que você tem para contar? – uma voz fria sussurrou das sombras.


 

-         Potter continua com seus parentes. Nós... nós ainda não achamos uma solução para a proteção de sangue.


 


-         Eu quero que Potter seja trazido a mim, e eu quero isso rápido. Capture-o, mas não o mate; de qualquer forma, você está livre para usar força.


 


-         Sim, milorde – disse Rabicho, tentando sair correndo do quarto.


 


-         Não tão rápido. Você precisa ser lembrado de o quanto eu dou valor ao cumprimento total de minhas instruções...


 


-         Não, mestre…


 


-         Crucio!


 


Harry Potter sentou reto em sua cama, mordendo os lábios com força o bastante para fazê-lo sangrar e tentando conter outro grito antes que esse deixasse sua garganta. O suor descia por seu rosto e costas, e ele estava completamente enrolado em seus lençóis. Ele sentiu uma onda de náuseas o atingir quando sua cicatriz queimou novamente, e ele sabia que, em algum lugar, Rabicho ainda estava sendo torturado. A bile tentou sair de sua garganta enquanto ele corria para o banheiro e vomitava. Já que ele tinha pulado o jantar, não tinha nada mesmo para sair. Quando ele terminou, Harry tentou se levantar, e usando a parede de suporte, voltar para o quarto. Antes que ele conseguisse fazer todo o caminho da volta, ele ficou cara a cara com um lívido Válter Dursley.



     -   O que diabos há de errado com você, aberração? – ele cuspiu, saliva voando de suas bochechas.


 


-         Desculpe acordá-lo – Harry resmungou. Ele tentou manter-se equilibrado na parede enquanto voltava para o quarto.


-         Eu não vou tolerar você acordando essa casa todas as noites com seus malditos gritos. Alguns de nós realmente TÊM que trabalhar para viver, seu pedaço inútil de... toda noite que você ficou aqui você fez isso, e pra mim já basta. Ache um jeito de parar ou eu paro por você, garoto!


-         Certo. – Oh isso era realmente brilhante. Se eu achasse que você podia parar esses pesadelos idiotas, eu deixaria.


 


Tio Válter pareceu ficar com mais raiva pela falta de argumento de Harry.


 


-         Não ouse usar esse tom comigo!


 


A própria paciência de Harry já tinha avisado, ele estava prestes a responder.


-         Que tom seria esse?


 


Tio Válter prensou Harry contra a parede e levantou a mão. Por um instante, Harry achou que ele ia batê-lo. Seu silêncio lhe deu permissão para fazê-lo, sentindo que merecia de qualquer modo. Aquilo não tinha realmente se repetido desde antes de ele receber sua carta de Hogwarts. Agora ele tinha outras pessoas na sua vida que sabiam de sua existência. Mas Tio Válter o soltou, talvez por causa da imagem de Olho-Tonto Moody em sua mente, e resmungou:


 

-         Entre no seu quarto.


 

Enquanto Harry obedecia, ele ouviu a tranca bater.


 

-         Você pode ficar ai até o inferno congelar, garoto.


 

Harry sentou em sua mesa e passou a mão pelos cabelos. Não tinha sentido aborrecer Tio Válter; ele só acabaria pagando por isso de qualquer modo.


 


Maldição, eu pratiquei Oclumência a noite passada também, como todas as noites desde... bem, que eu voltei pra cá. Por que esse sonho entrou de novo? Ele estava perdido em pensamentos quando uma coruja de jardim marrom entrou por sua janela carregando um envelope vermelho de aparência sinistra. Quem me mandaria um berrador? Em pânico, ele agarrou o envelope e tentou segurá-lo do lado de fora para que abrisse, mas a voz estridente de Gina Weasley ecoou por toda a casa, parecendo fazer tremer as estruturas da casa dos Dursleys.


 


 HARRY JAMES POTTER, EU TIVE O BASTANTE DISSO! SE VOCÊ NÃO QUER FALAR COM O RESTO DE NÓS, ESSA É SUA ESCOLHA, MAS VOCÊ NÃO TEM O DIREITO DE TRATAR MAMÃE DESSE JEITO! ELA ESTÁ LOUCAMENTE PREOCUPADA COM VOCÊ! SUA RECUSA A RESPONDER A QUALQUER CARTA A FEZ CHORAR ONTEM! É ISSO QUE VOCÊ QUER? ESCUTE-ME, HARRY, E ESCUTE BEM! PEGUE UMA PENA E UM PEDAÇO DE PERGAMINHO AGORA E ESCREVA UMA MENSAGEM PARA MAMÃE! E É MELHOR VOCE DEIXÁ-LA SABER COMO VOCÊ ESTÁ E NÃO OUSE DIZER: “BEM”, JÁ QUE VOCÊ É UM PÉSSIMO MENTIROSO, E NINGUÉM ACREDITA QUANDO VOCÊ DIZ ISSO, DE QUALQUER JEITO! LEVANTE SEU TRASEIRO DAÍ E SE AJEITE COM ELA AGORA, OU EU VOU FAZER DA SUA VIDA UM INFERNO QUANDO VOCÊ CHEGAR AQUI, HARRY! ESCREVA A MAMÃE!


 


O berrador explodiu em chamas quando ambos Válter e Petúnia entravam bruscamente no quarto de Harry.


 


 


-         Qual é o significado disso? – Tia Petúnia sussurrou numa imitação perfeita da voz que Voldemort tinha usado no sonho de Harry


-         Olha, eu não pude fazer nada. Era um berrador; eles abrem não importa o que você faça. Eu não...


-         Não mencione essas anomalias nessa casa. Eu lhe disse mil vezes, sua aberração miserável. – Valter disse furiosamente – Falo sério Petúnia; Eu já tive o bastante desse... desse... desse canalha inútil!


 


Tia Petúnia olhou para Harry como se ele fosse, de algum modo, arrumar isso tudo.


 


-         Você ficará aqui durante o tempo que permanecer nessa casa, e espero que o resto das aberrações venham lhe tirar logo de debaixo de nossas asas. Se você conseguir manter o barulho baixo, ai você terá refeições novamente.


 


Com isso os dois saíram tempestuosamente e colocaram as travas da porta de volta no lugar.


 


Ele sentou furioso e escreveu uma carta rude a Gina. Ela queria saber como ele estava, ele iria dizer como ele estava. No meio caminho de suas reclamações, ele amassou o pergaminho e jogou no lixo. Ele nunca mandaria de qualquer forma. Com um suspiro, ele voltou à cama, esperando que não tivesse mais sonhos. Como ele caiu em sono pesado, Edwiges deixou sua gaiola e pegou o pergaminho amassado do lixo. Sem seu conhecimento, sua coruja da neve leal, foi procurar ajuda.

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Gina Weasley tinha dormido e acordado para encontrar outro dia chuvoso.


 


-         Oh, isso é brilhante – ela resmungou, vestindo seu roupão sobre o pijama.


 


A cozinha estava vazia quando ela chegou, então ela preparou seu café da manhã. Ela estava sentando, com uma tigela de mingau, quando Edwiges voou pela janela, carregando um pedaço de pergaminho amassado em seu bico.  Isso é estranho, Gina pensou. Por que Harry não mandou um envelope? Eu espero que não tenha nada errado. Ela pegou o pergaminho e começou a ler.


 


Ei, Gina,


 


Muito obrigado pelo berrador. Chegou às 2 DA MANHÃ, para a felicidade sem fim dos Dursleys. Felizmente, todo mundo já tava acordado, graças ao meu costumeiro grito a meia-noite. Tio Valter e eu tínhamos brigado, e eu realmente achei que ele ia tirar o cinto e me bater. Agora eu estou preso nesse maldito quarto de novo. Então, você quer saber como eu estou? Eu vou dizer como eu estou! Eu estou horrível e eu me sinto como lixo. Eu não posso comer, eu não durmo, eu tenho que aturar esses trouxas na minha frente sem parar, pessoas me seguem a todo canto que eu vou e eu me sinto completamente morto para tudo isso. Eu acho que talvez os Dementadores...


 


A carta simplesmente parava ai. Gina estava horrorizada; ela não tinha intenção de mandar a carta no meio da noite e ela não tinha nem pensado na reação dos trouxas. Por que a carta terminava ali?
 
     -     Edwiges, Harry te deu essa carta ou você simplesmente pegou? – ela perguntou começando a compreender. Edwiges apenas piou e piscou os olhos.


-         Droga – Gina amaldiçoou.


 


De repente, havia uma comoção no hall de entrada, e Gina saiu pra ver o que estava acontecendo. Olho-Tonto Moody estava chamando o Professor Lupin e Kingsley Shacklebolt.


 


-         Nós temos Comensais da Morte escondidos por toda Rua dos Alfeneiros!


 


O coração de Gina bateu forte no peito. Comensais em Little Whinging? Oh, Harry, por favor, esteja bem, sua mente sussurrou. Esteja salvo.


 


Moody estava dando ordens quando seu pai e os gêmeos entraram na confusão. O olhar sério na cara de Fred e Jorge parecia estranho na face, geralmente, travessa.


 


-         Nós temos Comensais agindo por toda Little Whinging, a maior concentração está no final da Rua dos Alfeneiros. Eles estão procurando por ele. Fred e Jorge, eu quero que vocês peguem essa chave de portal diretamente para a residência dos Dursleys e tirem Potter imediatamente de lá.- Ele disse enquanto jogava um pedaço velho de pergaminho, com um desenho de serpente, para as mãos de Jorge.


 


-         Não esperem um sinal, só o peguem e saiam. Nós vamos garantir a segurança dos seus parentes e tirá-los de lá se precisar. Vocês dois só o tirem de lá. Se tiver qualquer sinal de problema, deixem as coisas dele e vão.


 


Os gêmeos assentiram, e os dois agarraram o pergaminho e desapareceram.


 


-         Arthur – continuou Moody, mas Gina não prestou atenção.


 


Por toda a casa, vários aurores e outros membros da Ordem se preparavam para ir a Surrey. Eles continuavam abrindo a pesada porta da frente. Como na casa de Harry, em Surrey, não se podia aparatar para dentro ou fora de Grimmauld Place.


 


A mente de Gina estava a mil. Harry não deveria estar a salvo na casa de seus parentes? Pra começar, não foi essa a razão por que Dumbledore sempre insistiu para ele ficar com aquelas pessoas horríveis? Alguma coisa tinha acontecido pra mudar tudo isso?


 


Gina, mais uma vez, amaldiçoou a falta de notícia de Harry esse verão; ela queria saber o que estava havendo. Ela não estava realmente brava com ele, porque ela sabia que ele estava sofrendo. Era verdade que ela tinha um temperamento explosivo. Seus irmãos já a acusavam disso o bastante.


 


Porque sua mãe estava tão chateada, ela tinha perdido o controle e mandado aquele berrador rude. Se ela tivesse tomado um tempo para se acalmar ela nunca teria mandado. O berrador? Merlin, ela esperava que o fato de ela ter mandado um berrador não tivesse nada a ver com o que estava acontecendo agora. Se a localização de Harry tivesse sido descoberta por causa de seu erro de julgamento, por causa de sua cabeça quente... bem, ela nunca iria poder se perdoar por isso.


 


Harry já tinha passado por muita coisa, coisa demais pra uma pessoa só. Ela sabia o quanto Sirius tinha significado pra ele. Ele era um adulto que Harry podia, realmente, recorrer se precisasse de ajuda, e isso, por si só, era incrível. Conhecendo Harry, ele também se culparia pelo que aconteceu a Sirius. Ficar sozinho com esse tipo de culpa devia ser desgastante e ela não tinha direito de cobrar mais coisas dele. Ela tinha superado sua queda de infância pelo Menino-que-sobreviveu, mas ela nunca parou de se importar com Harry. Ela se forçava a seguir em frente, namorando ambos Miguel e agora Dino, mas Harry sempre teria um ligar especial no seu coração. Nada poderia mudar isso. Se amizade era tudo que ele podia oferecer, ela aceitaria aquilo, e como amiga, ela o deixaria saber se ele estava sendo um verdadeiro imbecil.


 


 



Pára, Gina, não vamos começar com isso de novo; você acabou de perdoá-lo. Gina pegou um livro e sentou no hall de entrada. Era para ali que eles trariam Harry daqui a pouco, e era ali que ela ficaria.


 



 


Harry estava olhando para as gotas de chuva escorrendo por sua vidraça. Ele estava tentando fazer a redação de Poções, mas não tinha muito longe já que sua mente continuava a divagar em direções que ele não queria. Ele não podia parar de pensar no berrador de Gina. Quanto mais ele pensava, mais engraçado parecia. Aqui estava todo mundo o com o maior cuidado, como se fosse quebrar, e Gina se rebela e manda um berrador. Se não fosse pelo fato de que ele tinha perturbado a Sra. Weasley, ele achava que podia, realmente, rir disso. E rir por qualquer coisa nesse ponto seria bom.


 


Era quase meio-dia, e Harry ainda estava trancado no quarto. Eles não o tinham deixado sair nem para usar o banheiro. Se eles não deixassem logo ele ia ter um grande problema. Várias vezes ele considerou bater na porta e pedir que o deixassem ir, mas então ele percebeu que isso os encorajaria a deixá-lo lá mais tempo. Melhor sentar quieto e esperar. Sua mente voltou para as feias memórias do passado  quando os Dursley tinham, freqüentemente, usado isso como uma forma de punição. Eles tinham prazer em sua humilhação.



Tick tack, tick tack.


O tempo parecia estar passando coma mesma velocidade que uma aula de História da Magia. Sua redação de Poções não tinha avançado em nada desde que ele tinha sentado. Quando ele começou a guardar as coisas, ouviu um som abafado no piso de baixo, seguido pelo som de pisadas subindo as escadas. Nenhum dos Dursleys se movia daquele jeito.


 


Harry sacou sua varinha e cruzou a porta no momento que ela abria ao som de um “Alohomora!”. Não era ninguém mais que Fred e Jorge Weasley, ambos olhando cautelosamente a postura firme de Harry e sua varinha apontando pra eles.


 


-         Calma aí, cara - Fred levantou as mãos no ar. - Somos só nós.


 


Harry baixou a varinha um pouco, mas continuou rígido.


 


-         Qual foi o apelido que vocês deram a Percy quando ele virou Monitor?


 


Jorge sorriu.


 


-         Essa é fácil, Harry. Tremendo Chefão!


 


Harry baixou a varinha e sorriu para os gêmeos.


 


-         Err... o que vocês dois estão fazendo aqui? Peraí, preciso usar o banheiro.


 
Harry passou voando por eles, e ouviu um deles dizer:


 


-         Começa a fazer a mala.


 


Quando Harry voltou pro quarto a sua mala estava arrumada e a gaiola de Edwiges estava amarrada no topo. Os gêmeos pareciam agitados e Harry ficou atento; alguma coisa estava acontecendo.


 

-         Por quanto tempo você ficou preso aqui Harry? – Jorge perguntou furiosamente – Você parece horrível.


 

-         É, bem, valeu. Bom ver vocês também. O que está havendo? – Harry perguntou, contornando as perguntas e o comentário, enquanto pegava suas coisas, que estavam embaixo da tábua solto embaixo da cama, e jogava no malão.


 

 
     -   Nós temos problemas, vários. Comensais por toda parte. Nós temos que levar você.


 


 


Harry sentiu uma onda de medo o percorrer. Aqui vamos nós de novo. Sua mente começou a vagar pela câmara da morte, mas ele logo sacudiu a cabeça e tentou afastar isso. Foco, ele precisava de foco.


 


-         Comensais aqui? Mas… e a proteção? Eu achava que toda a razão de eu voltar pra cá todo ano era porque era salvo.


 


-         Eu não sei Harry; Eu tenho certeza que todos nós vamos ter uma explicação, mas por enquanto...


 


-         E os Dursleys?  Nós não podemos simplesmente deixá-los. É pra cá que os comensais vão vir e vocês sabem.


 


-         Papai e Moody estão vindo. Eles vão cuidar deles, mas nós temos que ir.


 




A mente de Harry estava a mil; ele não podia escapar e deixar os Dursleys encararem os comensais. Embora ele não sentisse amor ou qualquer outra emoção por seus parentes, ele não queria que morressem e, certamente, não queria que morressem por sua culpa. Ele tentou passar por Fred e Jorge, mas eles o pegaram e empurraram de volta, forçando-o a pegar o pergaminho com as mãos antes que ele pudesse detê-los.



Harry sentiu a familiar puxada embaixo do umbigo, e um segundo depois, ele estava na entrada do hall de Grimmauld Place. Levou um minuto ou dois para ele se orientar. Olhando em volta, ele viu o retrato coberto da Sra. Black e o sombrio ambiente familiar da casa da família de Sirius. Ele achou que ia passar mal. Antes mesmo de ele se orientar por estar lá, ele viu Gina pular fora do sofá e se lançar sobre ele, abraçando-o ferozmente.


 


-         Você está bem?


 


-          Eu não quero ficar aqui – Harry sussurrou, apertando-a mais forte do que ele faria normalmente. De repente, seu mundo tinha girado, novamente, fora de controle.


 


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