18 a 21 de Março

18 a 21 de Março



Capítulo 20
de 18 a 21 de Março


Dia 171, Quinta


Harry manteve os olhos fechados enquanto pesava os prós e os contras de vomitar mais uma vez. Percebeu que a lista de “prós” era desencorajadoramente curta. De modo geral, vomitar era horrível e nojento enquanto acontecia, mas trazia um senso de alívio depois que terminava, um fim para a náusea que precedera tudo aquilo. Mas não naquele momento. Naquele momento, nada parecia ajudar. Mesmos os vários feitiços e poções que Pomfrey lhe ministrara só haviam lhe dado um alívio breve antes do mal-estar voltar com força total, acompanhado por dor, cansaço e uma convicção geral de que a vida, como um todo, era uma droga.


Náusea, dor e cansaço contra um adorável pano de fundo de tédio. Depois de três dias hospitalizado, esse era o outro grande tema na sua vida. Ele virou de lado e começou uma lista mental de quem havia lhe visitado, para se animar e manter sua mente ocupada. Hermione e Ron, é claro. E Neville, Ginny, Seamus, Dean e Tracey Davis, Colin, Dennis, Justin, os professores Dumbledore, McGonagall, Lupin e Trelawney — um verdadeiro ímã de desgraça, como Ron a havia chamado —Hannah, Terry, Mandy, Padma, Lisa, Stephen, Luna, Ernie, Susan, Pansy, Blaise... ele se perguntou se deveria começar classificando os visitantes por casa, por dia da visita ou por idade. Para se ocupar — e colocar de lado os pensamentos sobre a única pessoa cuja ausência era evidente.


Ele não estava surpreso por Draco não tê-lo visitado. Não depois da maneira que Harry tinha terminado com ele. Fez uma careta quando se lembrou das coisas cruéis que dissera, da maneira insensível como tinha ido embora, e não culpava Draco de jeito nenhum por se manter longe.


Deitou de costas, engolindo a náusea renovada pelo movimento, mas cansado de ficar deitado de lado. Permitiu-se desejar por um minuto inteiro que não tivesse terminado com Draco, antes de lembrar a si mesmo as muitas razões pelas quais o fizera.


"Eu acho que ele está dormindo-" ele ouviu Pomfrey dizer, e virou a cabeça — cuidadosamente — para ver quem estava chegando. Sentou rapidamente e logo desejou que não o tivesse feito, pois seu estômago ameaçou pôr tudo para fora outra vez.


"Por deus, Harry- aqui", Draco estava a seu lado em um instante, uma mão no seu ombro e a outra segurando um recipiente que havia sido deixado do lado da cama. "Você precisa-"


"Não, não, eu estou bem-", Harry murmurou, fechando os olhos de novo e tentando decidir para quem ele deveria olhar primeiro quando se sentisse um pouco melhor. Era um dilema nauseante — embora "náusea" provavelmente não fosse uma boa palavra para ele pensar naquele momento — se ele deveria olhar para Draco ou para a pessoa que entrara com ele. "Curandeira?", ele disse, por fim, hesitante.


"Sr. Potter", a curandeira Esposito disse em voz baixa, e Harry abriu os olhos de novo, grato em notar que sua náusea parecia temporariamente controlada.


"O que você está fazendo aqui?", ele perguntou, e franziu a testa quando Esposito e Draco trocaram um olhar preocupado. Ele questionou com o olhar Draco, que ainda o segurava pelo ombro.


Esposito limpou a garganta. "Eu recebi uma coruja urgente da srta. Granger sobre sua doença. Gostaria de te examinar, se você não se importa", Harry concordou com a cabeça, completamente atônito. "Sr. Malfoy?"


Harry franziu mais ainda a testa quando Draco, ao invés de se afastar para a curandeira fazer o exame, como o grifinório esperava, soltou seu ombro e segurou sua mão direita.


"O que-"


"Confie em mim", disse Draco quando Esposito apontou a varinha para as mãos unidas dos dois.


"Lux Vinculum", ela disse de modo seco. Nada aconteceu, e Draco soltou a respiração pela boca e começou a se afastar, mas Esposito balançou a cabeça rapidamente para ele, fechou os olhos e repetiu com firmeza, "Lux Vinculum".


Uma linha de luz similar a uma pulseira céltica se formou lentamente ao redor do pulso de Harry, girando ao redor dele, suspensa no ar.


Draco engoliu com dificuldade e cobriu a boca com a mão, balançando a cabeça devagar. "Merda, não."


Esposito acenou em concordância com pesar e então acenou com a varinha, fazendo a linha de luz desaparecer.


"O que…", Harry disse, perplexo, sentindo seu estômago afundar.


Esposito esfregou o rosto, cansada. "Bem. Aí está a causa de todos os seus problemas".


"E o que é?"


"Você está sofrendo os efeitos de um elo incompleto".


"Um o quê?"


"Um elo sem um parceiro".


Harry franziu a testa. "Eu tenho… um elo de novo?" Esposito concordou com a cabeça. "Mas… o impacto do primeiro me deixou inconsciente. Eu não teria notado se alguém lançasse outro feitiço de ligação em mim?"


"Talvez. Mas acredito que seu elo original nunca foi dissolvido. Creio que, durante a suposta dissolução da união de vocês, o sr. Malfoy foi simplesmente libertado do elo, mas você, não. Você está sofrendo os efeitos de não ter um cônjuge quando seu corpo está convencido de que tem um". Harry piscou repetidas vezes para ela, incapaz de absorver completamente as palavras. "Os enjôos, as dores de cabeça, os vários desconfortos — você passou por tudo isso no começo do elo, quando vocês dois ficavam distantes um do outro. O elo não é mais recente, então vocês puderam ficar bastante tempo separados antes de os sintomas se tornarem insuportáveis, mas seu corpo começou a reagir à distância".


"Isso não é possível", ele disse de modo direto. "Aquele elo foi dissolvido. Eu vi. Eu senti o elo ser removido — eu não conseguia mais dizer o que ele estava sentindo. E ainda não consigo".


"Sim, bem, esse tipo de ligação exige um elo com duas pessoas", ela disse. "Além disso, como você está se sentindo agora?"


"Um pouco mal, mas estou-"


"Melhor do que alguns minutos atrás", ela o interrompeu. "Fisicamente, pelo menos. Certo? Quando nós chegamos, você parecia prestes a vomitar. Agora, não. E eu acredito que o motivo para tanto é que o sr. Malfoy está te tocando".


"Mas como- já faz meses, e eu me sentia perfeitamente bem depois do fim do elo e-"


"Vários feitiços foram lançados em você ao mesmo tempo do suposto fim do elo. Esse que eu acabei de romper estava escondendo o elo em si. O resto tinha a intenção de mascarar os sintomas que você sentisse, para que ninguém pudesse deduzir o que estava acontecendo até que fosse tarde demais".


"E como você conseguiu?"


"Granger disse que você estava sentindo como se houvesse formigas andando sobre a sua pele", Draco disse em voz baixa. "Eu lembrei de você ter dito algo assim quando nós estávamos ligados".


Harry olhou para ele e se sentiu arrepiar pelo seu olhar carregado e preocupado.


"Como…"


"Nós não temos certeza", Esposito disse. "Provavelmente foi feito por McKay ou pelo curandeiro presente na dissolução do elo".


Ou Lucius Malfoy, Harry pensou, e notou o modo como Draco evitou seu olhar. "O… curandeiro?"


"A senhorita Granger me perguntou por que eu não estive presente na dissolução do elo de vocês. Eu pretendia estar, mas, coincidentemente, fiquei doente por duas semanas na época em que o pai do sr. Malfoy localizou McKay". Ela apertou os lábios. "Me disseram que ele fez um escândalo por isso; exigiu que eu estivesse presente para supervisionar o processo e não queria aceitar mais ninguém", ela relatou. "Aparentemente, foi difícil fazê-lo concordar com a presença de qualquer outra pessoa, mas ele por fim aceitou. O curandeiro Bernard Colchis".


"E o que Colchis diz?"


"Ele, muito convenientemente, parou de trabalhar no St. Mungus cerca de três semanas depois da dissolução do elo. Disseram que ele foi para um hospital na França. Mas ele não está mais lá, e não conseguimos localizá-lo. Os aurores já foram mobilizados para a busca".


"E você acha que ele… que alguém te tirou do caminho, para que Colchis pudesse estar lá e…"


"Sim. O professor Dumbledore também deveria estar presente na dissolução, mas foi chamado para uma reunião com um representante dos centauros finlandeses, que, por sua vez, estava com a impressão de ter sido Dumbledore a marcar a reunião com ele. Na época, tudo foi encarado como uma simples confusão, mas, agora…"


"Parece meio conveniente demais", Harry ponderou.


"Eu só posso imaginar que Madame Pomfrey, a professora McGonagall e possivelmente o representante do Ministério, assim como vocês dois, foram afetados com alguma variação do feitiço Confundus. Para que vocês ouvissem as palavras de uma dissolução de elo completa, sem perceber os feitiços adicionais que estavam sendo lançados ao mesmo tempo, algo desse tipo", Harry assentiu, lembrando de como tudo parecia ter acontecido de maneira rápida e eficiente naquele dia. Ele não tinha visto nada que o fizesse pensar que estava acontecendo algo além da simples dissolução de um feitiço e o registro do fim de um casamento. "Isso teria sido um pouco mais difícil de fazer se eu ou o Professor Dumbledore estivéssemos presentes".


"Mas havia aurores lá também, eles não teriam-"


"É possível que eles estivessem afetados pelo Confundus também", disse Esposito. "Embora um deles também esteja misteriosamente desaparecido".


"Me parece feitiços demais para uma ou mesmo duas pessoas lançarem sozinhas", Harry disse devagar.


Draco engoliu com dificuldade. "Pode dizer, curandeira," ele disse, a voz tensa. "Você acha que meu pai também estava envolvido".


Esposito lhe lançou um olhar solidário e concordou com a cabeça. "Eu suponho que foram necessários os três, McKay, seu pai e o curandeiro, para lançar todos os feitiços. Tudo parece ter sido muito bem planejado. E bem executado também. Infelizmente".


Harry se remexeu, tentando processar tudo aquilo. "Então… eu realmente ainda tenho um elo".


"Sim".


"Com Draco".


"Nós ainda não temos certeza disso, mas, sim, provavelmente".


"Mas ele não tem um elo comigo".


"Não".


"E… eu estou doente porque… sinto falta dele?"


"Essencialmente, sim. Você precisa que ele esteja perto de você, ou você sofre um retrocesso dos sintomas. E, se você ficar separado dele por muito tempo, eventualmente acaba doente".


"E qual é a cura?"


"Sr. Potter…", ela suspirou profundamente. "Tudo depende do que aconteceu — se é o mesmo elo ou um novo e quem o lançou e como. Na melhor hipótese: se for um novo elo, lançado pelo curandeiro Colchis, nós precisamos encontrá-lo e fazê-lo removê-lo. Ou, se nós não conseguimos encontrá-lo, mas for apenas um elo incompleto, você apenas precisa se unir com alguém, não importa quem". Ela respirou fundo. "Na pior hipótese: se for o elo original, lançado por McKay, que é o que eu acho… então apenas o sr. Malfoy pode completar o elo. E, com McKay morto, se o sr. Malfoy entrar novamente no elo, ele será permanente".


"Mas quando eu estou perto dele, ele se sente melhor", disse Draco. "Eu não posso ficar por perto até que o elo não seja mais tão recente?"


"Sua mera proximidade não vai ajudar para sempre. Eventualmente, ele vai precisar mais do que isso. Um elo não requer apenas proximidade do companheiro; exige um elo recíproco dele. Em um certo ponto, nem toda a proximidade do mundo vai ajudar se não houver um elo por trás dela".


Os dois a encararam, apavorados.


"Por que não deixamos para entrar em pânico quando tivermos mais informações?", disse Esposito gentilmente. "Eu irei monitorá-lo, sr. Potter, e realizar alguns testes. Isso me parece algo que precisou de tempo para planejar e executar, nós não vamos descobrir tudo em um dia".


"Quanto tempo…"


"Eu não sei. Vamos fazer tudo o que pudermos para te manter estável. Se o sr. Malfoy puder ficar com você, irá nos dar mais tempo para descobrir".


Houve uma pausa tensa.


"Vocês gostariam que eu os deixasse-"


"Não", disse Harry ao mesmo tempo em que Draco falou, "Sim".


"Qual das duas opções?"


"Sim", Draco repetiu com firmeza. "Nós precisamos conversar". Ele sentou na cama enquanto Esposito saía.


Houve um longo silêncio antes que Draco dissesse baixinho, "Eu sinto muito".


"Pelo quê?"


"Por… tudo", Draco disse com um sorriso fraco. Ele ainda estava segurando a mão de Harry, e Harry começou a se afastar, reprimindo uma careta de desconforto enquanto isso.


Draco franziu a testa. "Manter contato não faz diferença?"


"Faz, mas…"


"Mas nós não estamos mais juntos, então você vai ser um grifinório nobre e manter suas mãos longe de mim, ainda que isso te faça vomitar". Ele rodou os olhos. "Por deus, é um milagre que qualquer um de vocês consiga ficar vivo. Eu não me importo, seu idiota", ele segurou a mão de Harry de novo.


Harry apertou os lábios, se recusando a deixar sua mão relaxar contra a de Draco. "E se eu me importar?"


"Olha, eu estou disposto a ficar aqui se você precisa que eu-"


"Você não acha que sei pai vai te deserdar de novo por fazer isso? Especialmente se ele estiver por trás disso?"


"Ele não está aqui agora".


Harry desviou o rosto do de Draco. "Draco… por que você está aqui? Por que você se importa?"


"Por que eu não me importaria?"


"Eu terminei com você, lembra?"


"Sim, eu lembro. Eu lembro que você foi um filho da puta e disse um monte de coisas que me deixaram irritado durante dias".


"E é por isso que agora você está ajudando a minar o plano mais recente do seu pai para me matar?"


"Você nunca tinha dito nada daquele tipo antes. Você não é uma pessoa rancorosa. Você fica irritado, mas nunca… ofensivo daquele jeito".


"Você tinha me irritado. Muito".


"Até a Pansy percebeu o que você estava fazendo, Harry", ele disse. "E eu também, depois que pensei a respeito".


Harry suspirou, deixando o assunto morrer. Melhor isso do que entrar em detalhes sobre quem tinha dito ou feito o que e como suas motivações tinham sido transparentes. Próximo tópico.


"Sabe, isso explica muita coisa…", ele disse, pensativo. "O feitiço ainda estava lá, por isso que eu não senti nada de diferente. Eu não podia sentir o que você estava sentindo, mas ainda precisava estar com você e eu… eu queria te tocar", ele balançou a cabeça, voltando a encarar Draco. "Eu tinha pensado, quando a gente voltou, que era exatamente igual à antes porque eu nunca tinha, você sabe, feito sexo com mais ninguém, então eu estava sentindo… o que eu sentia porque estava de novo com você".


Draco tinha desviado o olhar, seu rosto corado, e Harry franziu a testa para ele. "O que foi?", Draco balançou a cabeça rapidamente. "Draco".


"Nada".


"Anda, o que é?"


"Nada. Esquece", ele murmurou, irritado.


Harry continuou a franzir a testa, confuso. "Você parece estar… não sei, como se estivesse com raiva de alguma coisa que eu-"


"Você ouviu a curandeira, sem um elo mútuo você não sabe dizer o que eu estou sentindo!"


"Mas você-", Harry recolheu a mão de novo. "Olha, você não precisa ficar aqui por sentir obrigação ou algo assim…"


"Oh, não isso de novo", Draco murmurou.


"Draco, você não precisa me ajudar. Você não fez isso comigo. Você não é seu pai".


"Não, eu não sou".


"Isso foi um elogio, seu idiota!"


"Obrigado mesmo assim", Draco disse, tenso.


"Que diabos deu em você?"


Draco cruzou os braços, seus lábios apertados em uma linha fina.


"Olha, eu não sei o que eu fiz de errado dessa vez-"


"Não, você não fez nada de errado!", Draco gritou com raiva. "Você tem toda a desculpa para o que aconteceu, não tem?"


"Como? Que desculpa?"


"Você se sentia do jeito que sentia porque-", ele prendeu a respiração e de repente se interrompeu, sua raiva dissolvendo tão abruptamente quanto tinha surgido e substituída por… alguma outra coisa que Harry não conseguia identificar. Draco olhou para baixo, seu rosto meio escondido pelo cabelo, e forçou as palavras a saírem. "Você… você se sentia do jeito que sentia por causa de um feitiço". Ele limpou a garganta. "E eu sinto o que eu sinto porque… simplesmente porque eu sinto".


Harry levantou as sobrancelhas, percebendo como havia sido insensível. Ele prometeu a si mesmo que faria uma lista: As Coisas Muito Idiotas Que Eu Disse Para Pessoas Que Gosto. Ele iria ler essa lista todas as noites e talvez ela o inspirasse a pensar antes de falar, para que a lista parasse de crescer.


Ou talvez ela a inspirasse a nunca abrir a boca de novo. Qualquer uma das opções seria boa.


Só que silêncio não iria ajudar agora. Droga. "Não… não era só o elo para mim também", ele disse de uma vez, se chutando mentalmente pela tensão nos ombros de Draco e pela expressão defensiva no seu rosto. "Não era só… não era só sexo- não era só isso mesmo antes do elo ter acabado".


Draco deu de ombros, ainda se recusando a olhar para ele.


"Olha… você já esteve nessa situação. Você sabe que o feitiço de ligação pode me fazer querer ir para cama com você, mas ele…", Harry se interrompeu, se remoendo por dentro por ter que colocar seus sentimentos em palavras, mas se obrigando a continuar. Sabendo que, por mais constrangido que se sentisse, provavelmente não se comparava a quanto Draco se sentia exposto naquele momento. "Ele não pode me fazer sentir sua falta, ou… ou… querer ouvir sua voz. Ele não pode me fazer sorrir por estar com você ser tão… do jeito que é. Não é um feitiço de amor. Isso não existe".


Draco engoliu com dificuldade. "Sim, e, bem, mesmo com o feitiço você terminou comigo".


"E você acabou de dizer que tinha entendido por quê", Harry observou. "Se o feitiço fosse tudo que eu sentia, eu não teria terminado com você, teria? Se tudo que eu quisesse fosse… trepar com você, eu não me importaria se você pudesse ser prejudicado por isso ou não".


E provavelmente era uma boa idéia que ele parasse por aqui antes que dissesse algo mais estúpido. Ele limpou a garganta, esperando nervosamente pela resposta de Draco, seu peito apertado. Se permitiu relaxar quando Draco concordou com a cabeça, incerto. Ele hesitou por um momento, e então tentativamente segurou a mão de Draco de novo e o puxou para mais perto, suspirando aliviado quando o loiro relaxou e correu a mão pelo braço e pela bochecha de Harry, ainda um pouco hesitante.


"É mesmo igual ao começo do elo?", Draco perguntou, curioso.


Harry concordou com a cabeça, se inclinando para o toque.


"Que merda. Isso é péssimo".


"Bastante". Harry se remexeu na cama, consciente que, embora a presença de Draco ajudasse muito, ele ainda se sentia muito mal. Por estar longe do seu parceiro. Que ridículo. Parecia… "Oh, deus", ele gemeu e fechou os olhos, e então riu.


"O que foi?"


"Isso é tão… eu estou em um romance Veela!"


"Como?"


"Hermione, ela descobriu que Lavender Brown e Parvati Patil liam romances de Veela alguns anos atrás. Aparentemente, eles são uma besteira, sobre-"


"Eu sei o que são romances Veela, Harry", Draco interrompeu. "Quando a gente tinha doze anos, Pansy era viciada neles".


"Você está brincando. Pansy?"


"Ela queria escrever um, na verdade. E estava convencida de que meu pai estava mentindo e que os Malfoys na verdade tinham sangue Veela, e ela ficava escrevendo histórias que eu encontrava meu parceiro, mas meu parceiro não me queria, e eu morria com meu coraçãozinho-Veela partido ou algo assim" Harry riu. "Eu acabei fazendo um feitiço para mudar o nome do herói de 'Draco' para 'Neville'. Ela nunca mais escreveu uma palavra".


Harry continuou a rir. "Hermione ainda lê esses romances".


"Você não está falando sério. Granger?"


"Ela os lê entre as pausas dos estudos. Diz que alguns deles são mesmo bons".


"De todas as coisas que eu iria querer que uma trouxa entendesse e apreciasse na nossa cultura, romances Veela…" Draco balançou a cabeça, rindo.


"É engraçado. Eles parecem tão idiotas. Mas é como tantas outras coisas no mundo bruxo — parece impossível para as pessoas que não cresceram com isso. Tipo, como é que se pode, literalmente, morrer por um amor não-correspondido? Mas é algo compreensível nesse mundo", Harry parou, percebendo que sua voz estava assumindo um tom ressentido pela repentina seriedade no rosto de Draco.


"Harry-"


"Não, não… nós não sabemos com certeza que- Vamos fazer o que a curandeira disse e esperar mais informações antes de entrar em pânico".


Draco mordeu o lábio e concordou, e os dois caíram em silêncio.


ooooooo


Dia 173, Sábado


"Draco?"


Draco sorriu para o rosto da sua mãe na lareira. "Mãe. O pai está em casa?", ele perguntou.


"Não, ele está na casa dos Goyles", sua mãe disse, confusa, e Draco suspirou aliviado. "Eu pensei que era Severu-"


"Eu consegui a permissão do professor Snape para usar a lareira na sala dele. Mãe, eu preciso te perguntar algumas coisas".


"Sim?", sua mãe parecia preocupada, e Draco desejou ter tempo para uma conversa apropriada com ela. Eles não tinham se falado desde que seu pai o deserdara, mas ela tinha lhe dado um abraço forte quando Draco deixou a mansão depois de ser marcado, deixando-o saber que ela pelo menos não estava com raiva dele.


"Você sabe que Potter está doente".


O rosto dela ficou curiosamente sem expressão. "Eu li nos jornais, sim".


"Nossa família está envolvida nisso?"


Sua mãe hesitou, claramente dividida. "Draco, seu pai-"


"Meu pai não me disse nada. Mas estão me fazendo perguntas, e eu não quero revelar nada que não deveria porque vocês não estão me mantendo informados de novo".


Sua mãe suspirou. "Eu vivo dizendo isso para o seu pai. Ele esconde tanta coisa de você que você deveria saber".


"Bem?"


"Eu não sei de nada, meu amor".


"Você pode me dizer o que sabe?"


Ela respirou fundo. "Sim, seu pai está envolvido. Ele… ele planejou isso com muito cuidado. Quanto eles sabem aí?"


"A curandeira que lidou com nosso elo voltou. Ela faz um teste em Potter e descobriu que ele ainda tem o elo, mas ela não sabe dizer se é o mesmo de antes ou um novo. Ou se é um elo incompleto sem nenhum cônjuge ou um elo me tendo como foco". Ele fez uma pausa. "Ela também não sabe se o pai está envolvido ou não".


"Bom".


"Mas suspeitam dele".


"Eu imagino. Desde que eles não possam ter certeza, nós ficaremos bem".


"Eles vão descobrir. McKay está morto, mas eles estão procurando pelo curandeiro Colchis e por um dos aurores que estavam lá".


"Eles não serão encontrados", sua mãe o assegurou.


Draco respirou fundo. "Por que o pai não me disse nada disso? Ele não confia em mim?"


"Não, não é isso- ele só não queria te colocar em uma posição difícil".


Draco reprimiu a vontade de rodar os olhos. "Ele poderia ter dito alguma coisa".


"Ele achou que seria melhor que você não soubesse". Ela parou. "Seu pai trabalhou nisso por bastante tempo, Draco. Ele passou semanas revisando os detalhes, praticando-"


"Semanas?", Draco repetiu. "Quando ele encontrou McKay?"


"Alguns dias depois da sua entrevista com o Profeta".


Draco se inclinou para trás, abalado. "Mas isso foi antes das provas de fim de ano".


"Sim".


"Mas a dissolução do elo foi feita quase no final de janeiro!", sua mãe concordou com a cabeça. "Ele me deixou com o elo por semanas depois de ter encontrado quem o lançou?"


"Ele não queria fazer isso. Mas precisava oferecer ao Lorde das Trevas alguma compensação por ter feito parte do círculo de cura".


"Essa é a compensação? Lançar um elo incompleto em Harry?"


"Foi a melhor coisa a fazer. Hogwarts é cheia de proteções contra Artes das Trevas, e ele sabia que seria difícil se aproximar de Potter o suficiente para azará-lo e que qualquer azaração que ele lançasse seria identificada imediatamente. Usar um elo já existente tornaria mais difícil qualquer um detectar o que estava acontecendo, porque o feitiço em si já não era tão recente. E ele foi escondido por alguns feitiços que não seriam percebidos se fossem feitos na ala hospitalar, porque eles eram todos médicos".


Draco concordou, pensativo. "E tudo isso tem a intenção de… matá-lo? Com um elo incompleto?"


Sua mãe acenou que sim.


Draco respirou fundo, tentando manter o rosto sem expressão e sabendo que falhava conforme sua mãe o encarava, preocupada.


"Draco… isso é o melhor a se fazer". Ele a observou. "Meu amor, eu sei que você… se importa com ele", ela disse de modo hesitante. "Mas, por favor, não se esqueça quem ele é. Ele… a morte dele vai ser uma pena, mas é necessária".


"O que você quer dizer?"


"Querido, você deve saber o que está acontecendo. Eu sei que seu pai não está contente com você, mas com certeza seus amigos-"


"Eu não sei de nada", Draco a interrompeu. "Ninguém mais fala comigo".


Sua mãe balançou a cabeça tristemente. "Meu amor, me desculpe, mas você não pode culpá-los. Mas, quando todas essas coisas… desagradáveis tiverem acabado, você terá a chance de se redimir, quando Potter estiver fora do caminho e nós assumirmos nosso lugar de direito. Isso é para o bem de todos, querido. Quase tudo já está arranjado e então… ficará tudo bem, você vai ver".


Draco concordou, os olhos fixos no chão enquanto eles conversaram sobre coisas sem importância por mais algum tempo e então se despediram, uma expressão preocupada no rosto da sua mãe quando ela desapareceu da lareira.


Era para o bem de todos e tudo ficaria bem. Exceto que não era, e não ficaria.


Por que não deixamos para entrar em pânico quando tivermos mais informações?’, Esposito tinha dito. Bem, agora ele tinha mais informações, e sabia que a pior das hipóteses era exatamente com o que eles teriam que lidar. Agora provavelmente era uma hora excelente para ele entrar em pânico.


Só que ele não sentia pânico algum, apenas medo e uma raiva inerte contra seu pai. Por fazer Harry passar por aquilo, por fazer a ele próprio passar por aquilo. Por deixá-lo voltar para Harry sem ter idéia de que ele estaria estragando meses de cuidadoso planejamento de Lucius. Por aceitá-lo de volta à família, mas com uma maldita marca para lembrá-lo de não desobedecê-lo de novo. Mesmo se obedecer significasse assistir a alguém que ele gostasse morrer lentamente, com Draco tendo a salvação em suas mãos.


Ele esfregou a testa enquanto voltava para a ala hospitalar, tentando combater seu medo e ressentimento. Tudo que ele poderia fazer era afastar esses sentimentos, tentar ganhar tempo para Harry e esperar desesperadamente que alguém aparecesse com outro milagre para salvá-lo — mais uma vez.


ooooooo


Dia 174, Domingo


Pansy olhou os dois garotos a algumas camas de distância na enfermaria, se perguntando se Granger estava achando tão bizarro quanto ela a maneira que 'Weasley' estava segurando a mão de Potter e afastando seu cabelo da testa, falando suavemente com ele e tentando manter seu enjôo sob controle. Mesmo depois de três dias daquilo, era difícil se acostumar.


"Isso é tão… estranho", ela comentou, fazendo uma careta pela voz não-familiar que saiu da sua boca. "Eu me pergunto como Blaise está indo com os Weasleys".


"Tenho certeza que está tudo bem. Mas devo dizer que estou surpresa por ele ter concordado com isso", Granger comentou. "Achava que ele não estava mais falando com Malfoy em público".


"Não, ele já progrediu bastante até os monossílabos agora. Daí para eles estudarem juntos de novo na biblioteca não vai demorar, especialmente se parecer que eu estou lá também. E ninguém da Sonserina vai querer sentar com o Draco mesmo, então, a não ser que o Weasley esqueça que garfo usar ou tente escolher o que vestir vai dar tudo certo".


"Eu espero que sim". Granger olhou para a cama de hospital, onde Potter aparentemente tinha dormido. 'Weasley' tinha parado de falar e agora estava apenas segurando sua mão e o observando com uma expressão pensativa que parecia completamente desconexa com o rosto normalmente despreocupado de Ron Weasley. "Isso é… estranho".


Pansy só podia concordar enquanto enrolava uma mecha de cabelo ruivo ao redor dos dedos de uma mão que trazia mais pintas do que se encontraria em toda a família dela. "Como é que você conseguiu polissuco, afinal?", perguntou para Granger. "Você não pode ter preparado sozinha".


"Não, leva meses para ficar pronto. Os irmãos de Ron têm um conhecido em Hogsmeade que lida com… poções questionáveis".


"Vocês, grifinórios. Nós estamos sempre subestimando o quão demoníacos vocês podem ser. Boa idéia, aliás".


"Eu achei que eles fossem vomitar na primeira vez que tomaram", Granger sorriu de leve.


Pansy riu. Era difícil dizer quem tinha ficado mais horrorizado pela transformação na primeira vez: Weasley ou Draco. Por mais séria que a situação fosse, Pansy tinha que admitir que havia sido imensamente divertido para o resto deles assistir ao terror com que eles encararam um ao outro. A elegante expressão de desgosto de Draco no rosto plebeu de Weasley, o desconforto estúpido e os olhos arregalados de Weasley nos traços delicados de Draco. E, depois disso, as mudanças entre Draco e os outros três grifinórios do sétimo ano — que haviam se nomeado “Esquadrão Grifinório de Polissuco”, é claro — também tinham sido hilárias.


Menos divertida para Pansy tinha sido a troca de corpos daquela manhã, entre ela e a Garota Weasley. Pelo menos ela era bonita, mesmo que fosse uma beleza meio comum e cheia de sardas. E elas tinham mais ou menos as mesmas medidas, o que significava que só precisaram trocar as capas e gravatas, ao contrário de Ron Weasley e Draco, que tiveram que trocar o guarda-roupa inteiro. Tinha sido uma afronta para a elegância, Weasley torcendo o nariz para os uniformes escolares bem-cortados de Draco, enquanto o sonserino se esforçava para não fazer caretas pela sensação de aspereza dos lixos remendados que Weasley usava.


"Obrigada, aliás", Granger disse, hesitante. "Eu sei que isso não é fácil para você. E eu sei… eu sei que você não quer que Malfoy se envolva nisso".


"Não, eu não quero". Mas não havia mais o que falar para Draco a respeito, então Pansy decidiu poupar o fôlego e apenas tentar ajudá-lo a não ser pego fazendo as coisas estúpidas que ele queria. "Mas você sabe que Draco não vai poder fazer isso para sempre. Eventualmente, alguém vai descobrir. Weasley terá que responder uma questão na aula, ou Longbottom vai derreter um caldeirão ou Finnigan vai… bem, ser Finnigan…"


"Ou um de vocês dois vão acabar olhando feio para a pessoa errada".


"Muito improvável. A única pessoa que convive comigo e com Draco sabe o que está acontecendo".


Granger concordou com a cabeça. "Parkinson…", ela disse, hesitante. "O que você acha que vai acontecer?"


"Eu achei que você soubesse. Você não está estudando esse livro sobre elos dia e noite?"


Granger assentiu, encarando sua cópia de Casamento e Feitiços de União: Um Guia Completo. "É um assunto fascinante. Eu não tinha idéia que casamentos bruxos e trouxas fossem tão diferentes. Eu estive no casamento de Bill Weasley e Fleur Delacour, e parecia bastante com um casamento trouxa. Até as palavras que eles disseram eram bem parecidas".


"Mesmo?"


"Bem, eles usaram essa daqui…", ela folheou para a seção de feitiços padrões e apontou um.


Eu me uno a você. Eu te dou tudo o que eu sou, pelo resto das nossas vidas…


Pansy rodou os olhos. Que choque, um Weasley e uma meia-Veela escolherem um dos feitiços mais açucarados.


"Foi lindo", Granger disse, sorrindo de maneira nostálgica. "Eu sabia que havia um elemento de magia ali, mas não conhecia os detalhes. E não sabia que havia tantas variações do feitiço".


Pansy torceu o nariz, impaciente. "É claro que há variações diferentes. Você não escolheria as mesmas palavras para unir duas pessoas que se amam e duas que acabaram de se conhecer, usaria?"


"Não, imagino que não". Granger fez uma pausa por um momento. "Você acha que… eu sei que a curandeira não tem certeza ainda, mas ela acha que a única cura é…"


"Que Draco faça um elo permanente com Potter".


Granger concordou com a cabeça. "Você acha que ele vai fazer isso?"


"Eu não sei. Eu acho que não".


"Se ele não fizer, Harry provavelmente vai morrer".


"Eu sei".


"E Malfoy simplesmente o deixaria morrer?"


"Draco não deve nada a ele. Não foi ele que lançou a maldição em Potter".


"Eu sei. Mas ele se importa com Harry. Qualquer um pode ver isso".


Pansy suspirou. "Ele se importa com a família dele e com a nossa causa também, Granger."


"Isso é mesmo tão importante para você? Ser puro-sangue, seguir Voldemort?" Pansy lançou um olhar de surpresa para Granger. Era tão estranho, como uma nascida-trouxa, que tinha todas as razões para temer o Lorde das Trevas, conseguia dizer seu nome sem nenhum sinal de medo. "Isso é tão importante que você deixaria alguém que você gosta morrer pela causa?"


"Sim", Pansy respondeu de modo simples.


"Eu não poderia fazer isso", disse Granger depois de um momento, sua voz meio trêmula. "Simplesmente desistir da vida de alguém por uma-"


"Como?", Pansy a interrompeu, incrédula. "Você não fez nada nos últimos sete anos que exigiu sacrifício? Nunca colocou uma causa na frente de uma vida? Devo dizer que estou surpresa, porque, de cabeça, posso pensar em pelo menos três ocasiões, se as histórias que correm sobre o seu Trio de Ouro forem verdadeiras. Mesmo no primeiro ano você fez isso. Ou a história de você e Potter quase deixarem Weasley ser morto por uma peça de xadrez homicida é exagerada?"


Granger mordeu o lábio. "Aquilo foi diferente. Ele escolheu-"


"Isso é uma guerra, Granger. Você tem que fazer escolhas difíceis em uma guerra. Não ouse dar uma de superior para cima de Draco só porque as escolhas dele são diferentes das suas".


"Eu não estou dando uma de superior- é… eu simplesmente não entendo vocês-"


"E é por isso que você não pertence ao nosso mundo".


Granger mordeu o lábio de novo. "Mas eu não estou… olha, eu não pedi para ser uma bruxa nascida de pais trouxas. Nenhum de nós, trouxas, pedimos. O que nós deveríamos fazer? Nós não podemos usar nossa magia-"


"Vocês vêm para o nosso mundo trazendo seu sangue e seus costumes e isso está nos destruindo".


"Você não acha que o excesso de casamento interfamiliares não iria acabar destruindo vocês também?"


"Granger, eu sei que os Weasleys parecem uma propaganda ruiva ambulante dos perigos de casamentos interfamiliares acabarem levando os bruxos à imbecilidade, mas a comunidade puro sangue não é tão pequena assim. E nós nos casamos bastante com bruxos puro sangue de outras nacionalidades. Nós não precisamos do 'sangue novo' de vocês e não queremos e nem precisamos das suas idéias e costumes. Ou dos outros perigos que vocês trazem com vocês, os perigos de expor nosso mundo aos trouxas".


"Mas… deixar os nascidos trouxas no mundo trouxa, com ninguém para nos ensinar como controlar ou usar nossos poderes ou como escondê-los dos trouxas… como isso ajuda a sociedade bruxa?"


"Eu não quero entrar em uma discussão política com você, Granger. Você simplesmente não nos entende".


"Então me ajude a entender", Granger disse, nervosa.


"Há gente demais do seu tipo para a gente ajudar a todos-"


"Mas se nós estivermos dispostos a aprender-"


"-e vocês não querem nos dar ouvidos, de qualquer modo. Vocês não acham que nós temos algo a ensinar. Vocês não confiam em nós".


"Eu confio".


Pansy levantou uma sobrancelha, cínica, e Granger teve o bom senso de parecer constrangida.


"Eu confio. Eu aprendi. Você me disse no Halloween que… que alguns de vocês poderiam ser humanos também. E eu não dei ouvidos, porque achei que sabia tudo sobre vocês. Mas eu estava errada e sinto muito".


Pansy franziu a testa para ela, suspeita, e Granger cruzou os braços em um gesto defensivo, mas continuou de maneira determinada. "Talvez se eu tivesse sido menos desconfiada, nós poderíamos ter nos dado melhor. E, quando o pai do Malfoy trouxesse McKay, poderíamos ter visto que Harry e Malfoy estavam felizes de verdade juntos. E talvez Malfoy pudesse ter dito para o pai onde enfiar McKay e ter continuado com Harry".


"Eu duvido muito disso".


"Você não acha que Malfoy e Harry foram feitos um para o outro? Se não houvesse política envolvida, você não acha que eles iriam querer ficar juntos?"


Pansy suspirou, lembrando da conversa que tinha tido com Draco sobre o mesmo tema. Por fim, concordou com a cabeça, meio a contragosto.


"Bem, se a gente tivesse resolvido da questão política naquela época, talvez-"


"Não dá para dizer, Granger. Ainda que eles estivessem felizes juntos, o elo tinha sido feito contra a vontade deles, e eles ainda são jovens demais para quererem passar o resto da vida com alguém, menos ainda um com o outro. Eu não acho que eles teriam mantido o elo, não importa o que nós fizéssemos de diferente".


"Mas eles poderiam querer, sim", Granger insistiu teimosamente, e Pansy deu de ombros. Não fazia muita diferença naquele momento "E eu sinto por… por a gente não ter feito as coisas serem mais fáceis para eles. Porque eu não confiei em você e te afastei". Ela respirou fundo. "E eu quero compensar por isso de alguma maneira — e não só porque quero que você convença Malfoy a… bem. Eu- o que quer que aconteça com Harry, eu estou disposta a lidar com as coisas de um jeito diferente. A dar ouvidos a pessoas como você. Mesmo confiar em vocês".


Pansy a encarou, pensativa.


"Esse mundo é minha casa agora. Minhas lealdades estão aqui. Eu não quero destruí-lo tanto quanto você não quer".


"Eu não entendo você".


"Eu não sou tão diferente de você".


Pansy levantou as sobrancelhas. "Eu não esperava que você visse isso como uma coisa positiva".


"Por que não?"


"Talvez porque você sempre pareceu pensar que estava acima de nós".


"E você não pensa que está acima de nós?"


Pansy inclinou um pouco a cabeça em concordância.


"Nós realmente não somos tão diferentes assim", Granger repetiu.


Pansy pensou por um momento e então deu de ombros, aceitando a trégua que estava sendo oferecida. "Talvez. Mas, francamente, eu não vejo muito de mim em você". Ela fez uma pausa. "Agora, Potter, por outro lado… ele, eu posso entender, às vezes. Terminar com Draco deixando ele furioso para que ele não quisesse voltar". Ela sorriu de leve. "Ele podia ter sido um bom sonserino, no final das contas".


"Não o insulte", Granger disse com um sorriso.


Pansy riu. "Eu não estou".


Granger desviou o olhar quando Draco se aproximou, as feições comuns de Ron Weasley assumindo uma expressão de preocupação e tensão completamente Draco.


"Como ele está?"


"Ele está piorando", ele balbuciou. "Eu não sei o quanto estou ajudando mais".


"O que você vai fazer?" Granger perguntou.


Draco desviou o olhar.


"Malfoy… você sabe do que ele precisa-"


Draco balançou a cabeça. "Eu não posso".


"Eu sei que sei pai te aceitou de volta à família, mas ele nunca vai te perdoar de verdade", Granger disse, meio desesperada. "E você está morto para os sonserinos de qualquer jeito-"


"Eu não posso voltar para ele, Granger. Nem se eu quisesse".


"Por que não?"


"Eu… Harry não te contou o que meu pai fez quando eu fui para casa, contou?" Hermione negou com a cabeça. Draco hesitou por um momento, e então respirou fundo e disse, "Eu estou… marcado". Ele levantou uma mão, impaciente, quando ela engoliu em seco e imediatamente concluiu errado. "Não a Marca Negra". Ele respirou fundo de novo. "Não sei se Weasley ou algum dos outros te contaram, mas eu tenho o brasão dos Malfoy em mim. Parece uma tatuagem", Granger concordou com a cabeça, incerta, e Pansy desejou saber o que os grifinórios tinham pensado daquilo. Provavelmente acharam que era alguma coisa idiota para mostrar o orgulho das famílias puro-sangue sonserinas. "É igual à Marca Negra, mas responde ao meu pai. Se ele quiser que eu vá para casa, a marca fica negra e queima. Ignorá-la causa uma dor dos infernos. Se eu ficar com Harry, minha vida está acabada; meu pai vai ativar essa coisa e eu provavelmente ficarei louco antes de completar 18 anos. Não me parece muito atraente". Ele soltou a respiração. "E, se eu não fizer isso…"


Granger pareceu ficar meio verde. "Bem… talvez… talvez a gente consiga se livrar do elo, nós ainda estamos trabalhando nisso…"


Draco lhe lançou um olhar cortante. "Não se dê o trabalho- eu sei o que vai acontecer com ele, Granger, não tente amenizar a situação. Vocês não podem se livrar disso. É um elo e quem o lançou está morto. Não há outro jeito".


"Nós nos livramos do feitiço de desequilíbrio".


"Não é a mesma coisa! Você não entende- droga, é por isso que trouxas não são bons para o mundo bruxo! Sim, um feitiço de desequilíbrio que você descobriu, como você é esperta. Isso é um elo, Granger. As pessoas vêm tentando se livrar de elos inconvenientes há séculos. Ninguém conseguiu. Ninguém".


"Ninguém deveria sobreviver a Avada Kedavra também".


"Quanto você está disposta a apostar que o Garoto de Ouro é imune a uma Imperdoável e a um elo incompleto? Você viu como ele está. Ele não está sobrevivendo a isso. Ele está indo ladeira abaixo".


"E então, o que você vai fazer?"


"Eu não sei!"


Silêncio.


"Só há uma maneira de ajudá-lo. Para fazer isso, eu estaria me colocando em perigo, correndo o risco de… dor e, e de estar unido a ele quando- e eu teria que dar as costas para o meu pai, minha família… tudo em que eu acredito".


Ele caminhou até a janela, olhando para fora sem expressão. Pansy levantou e o seguiu, colocando uma mão em suas costas para confortá-lo.


"Não há nenhuma saída boa disso", ele disse, a voz de Weasley fraquejando em sua garganta.


"A… a Marca Negra…", Granger arriscou. "Pessoas sobrevivem a isso-"


"Não muito bem".


"Não". Granger engoliu com dificuldade, e Pansy se perguntou quanto do tom gentil que ela estava usando com Draco era devido à sua atual semelhança com Weasley.


Pansy suspirou. "Seu pai tem muito mais da sua lealdade do que merece. Família é uma coisa, Draco, mas seu pai… Blaise está certo. Ele é-"


"Ele é meu pai, Pansy", Draco disse, cansado.


"Eu sei-"


"E também tem a minha mãe. E você, e minha vida inteira e… e tudo…" ele se interrompeu. "Mas… mas eu não posso…" sua voz falhou, e ele inclinou a testa contra a janela, cobrindo a mão com a boca, os olhos azuis marejados e um soluço escapando. Pansy o abraçou e o puxou para perto, e ele enterrou a cabeça em seu cabelo, seus ombros tremendo.


"Shh...", ela o acalmou e tentou engolir o nó em sua garganta enquanto ele finalmente se permitia liberar seus sentimentos. Porque ele estava certo, não havia uma saída boa daquilo. Não importava o que acontecesse, aquilo ia machucar. Já machucava.


Que filho da puta desgraçado Lucius Malfoy era, ela pensou amargamente enquanto Draco se apoiava nela e ela acariciava seus cabelos ruivos não-familiares, os soluços dele balançando eles dois. Desejou que Lucius estivesse diante dela naquele momento, para que ela pudesse ensiná-lo algumas coisas sobre receber uma ou duas Imperdoáveis.


Ela olhou para Granger, de pé ao lado deles, e acenou para que ela fosse para o lado da cama de Potter enquanto Pansy lidava com Draco. Não havia por que tê-la lá de pé como um abajur, e Draco ficaria constrangido quando retomasse o controle caso Granger ainda estivesse por perto assistindo.


Granger concordou com a cabeça e então levantou o rosto quando a porta se abriu e dois alunos entraram. Draco respirou fundo e tentou voltar ao normal, e de repente Granger estava a seu lado.


"Desculpe, visitantes", Granger murmurou, colocando um braço ao redor de Draco. Pansy estava prestes a acotovelá-la para longe quando percebeu que, é claro, seria meio estranho se as pessoas entrassem e vissem Ron Weasley sendo consolado pela irmã caçula enquanto sua namorada ficava afastada de pé sem fazer nada.


"Ron… você está bem?", Stephen Cornfoot perguntou, depois de notar que Potter estava dormindo e de deixar algumas anotações ao lado da cabeceira da cama.


Draco limpou a garganta, secando o rosto bruscamente e se afastando de Pansy e Granger. "Sim, tudo bem".


"Como Harry está?"


Granger balançou a cabeça, e Justin Finch-Fletchley apertou os lábios, tenso.


"Olha, cara… ele vai passar por isso", ele disse, meio inconfortável. "Ele é o Garoto Que Sobreviveu, sabe? Não importa o tamanho do problema que ele se envolve, ele sempre se livra".


Granger lhe lançou um pequeno sorriso.


"Ou vocês vão descobrir alguma saída", ele disse. "Vocês vão. Você e Granger, sempre dando um jeito de salvá-lo. Vocês dois conseguiram em novembro, vão conseguir agora também". Ele deu um tapinha nas costas de Draco.


"Falando de novembro, Malfoy tem aparecido?", Cornfoot perguntou. Pansy prendeu a respiração e sentiu Draco ficar tenso a seu lado, mas a expressão de Granger não se alterou quando ela negou com a cabeça.


"É, eu achei que ele não apareceria. Caramba", disse Finch-Fletchley, balançando a cabeça em desgosto, e Pansy fechou os punhos enquanto assistiu a Draco apertar os lábios, se preparando para a inevitável acusação do lufo idiota de sangue-ruim sobre a ausência de Draco na cabeceira da cama de Potter. "Nunca pensei que eu sentiria simpatia pelo idiota do Draco Malfoy, sabe?", ele murmurou, olhando para Harry. "Coitado. Vocês estão mantendo ele informado, certo?"


Granger soltou uma exclamação indefinível.


"Olha, se o Harry quiser mandar um bilhete para ele ou algo assim, eu posso — bem, não, provavelmente não teria como-"


"Eu poderia entregar", Cornfoot disse. "Sou parceiro dele em Feitiços, iria parecer só uma anotação da aula. Ele… ele está preocupado para caramba. Mal abriu a boca ontem na aula".


Pansy olhou para Draco. Ótimo, Weasley e companhia estavam seguindo o plano.


"Ele não tem dito muita coisa desde todo o lance de ser deserdado", Finch-Fletchley comentou. "Credo, aquilo foi feio", ele estremeceu. "Que tipo de imbecil faz isso com o próprio filho?"


"Não me diga que trouxas não deserdam seus filhos?", disse Pansy, conseguindo deixar o tom de desprezo fora da voz de Ginny Weasley no último momento, mas Finch-Fletchley pareceu não notar.


"Não, eles deserdam, mas… fazer isso em público daquele jeito, foi doentio". Ele parou e deu de ombros. "Mas, também, muitos trouxas agiriam assim só de descobrir que o filho estava com outro cara. É o sujo falando do mal-lavado, acho. Mas meu queixo caiu quando eu vi aquele Profeta".


"Por quê, por Malfoy e Harry estarem juntos de novo?" Cornfoot riu. "Não me surpreendeu".


"Sério? Eu nunca teria imaginado. Com a família que ele tem e essas coisas".


"Ele não é o pai dele, graças a deus." Disse Cornfoot. "Mas duvido que o pai dele saiba disso. Não sei nem se ele sabe disso".


"Verdade. Falando nisso, vocês acham que é verdade o que estava no Pasquim ontem? Que o filho da puta está envolvido nisso?"


"O feitiço em Harry ter sido lançado por Lucius Malfoy?", Granger deu de ombros. "Quem sabe. Tenho certeza que os aurores estão investigando".


"Oh, então podemos ficar tranqüilos, não é? Eles não conseguem achar nem os próprios paus com as duas mãos e um feitiço localizador, aqueles idiotas", Cornfoot resmungou.


"Olha, nós temos que ir para a aula agora, mas digam para Harry que estivemos aqui para vê-lo e trouxemos as anotações da aula de Transfiguração", disse Finch-Fletchley. "E nos avisem se pudermos fazer alguma coisa, certo?". Ele deu outro tapa nas costas de Draco. "Ele vai superar isso, Weasley. Vai, sim. Granger está ajudando".


Pansy deu um suspiro de alívio depois que eles foram embora e se virou quando Potter se remexeu na cama atrás deles. Draco secou os olhos impacientemente e limpou a garganta, voltando para o lado do grifinório.


"Ainda é você?", Potter perguntou e o observou mais de perto quando ele concordou com a cabeça. "O que foi?"


Draco balançou a cabeça, segurando a mão de Potter, e levantou o olhar quando a porta abriu de novo e Blaise e Ginny Weasley entraram — e então o polissucado Ron Weasley apareceu de debaixo da capa de invisibilidade de Potter, quando eles se certificaram que não havia ninguém por perto. Blaise lançou um feitiço atrás deles, para que ninguém visse Draco no hospital.


Pansy se sentiu desconfortavelmente estranha ao ver a si mesma do outro lado do quarto, cabelo liso e negro, nariz arrebitado e tudo isso. Vestes finas e de qualidade, e não o lixo desgastado que ela e Draco estavam usando. Era muito desorientador. Ela se perguntou se Draco já havia se acostumado.


Os Weasleys se aproximaram, e era tão estranho ver o rosto de Draco com as expressões do Weasley. Os olhos de Weasley se arregalaram um pouco em desgosto, e então sua expressão se amenizou quando ele percebeu os olhos e o rosto vermelhos de Draco.


"Está quase na hora, Malfoy", disse Weasley. "Ele vai estar aqui logo. Você está… bem?"


Draco concordou rapidamente.


"Hora de trocar de corpo de novo?" Potter disse, sorrindo de leve. "Quem você vai ser dessa vez?"


"Longbottom".


Potter riu. "Menos mal. Ele, eu posso suportar. Você como Seamus é estranho demais. E eu fico esperando que ele apareça e tenha um ataque do coração por ver a si mesmo segurando minha mão".


Draco riu também. "Não me dê idéias, eu posso decidir te agarrar na frente do Finnigan enquanto ainda estiver com a aparência dele".


"Por favor, Draco, pelo menos espere que eu tenha saído do recinto antes de dizer uma coisa dessas", Pansy disse, torcendo o nariz enquanto passava a gravata grifinória de Ginny para ela e acenava para Longbottom, quando ele atravessou o feitiço lançado por Blaise e entrou na enfermaria. "Eu vou ter pesadelos por uma semana".


"Então somos dois", Weasley disse, e todos eles começaram a fazer caretas quando as transformações começaram.


Ugh. Era um processo horrível, todas as vezes. E Draco estava passando por isso várias vezes por dia pelos últimos três dias. Ela esperou que ele acabasse de se transformar em Longbottom antes de lhe dar um abraço, "Eu volto depois da aula, querido. Quer que eu te traga alguma coisa?"


"Não, obrigado, nós estamos bem", ele lhe lançou um sorriso cansado, e ela o observou, preocupada, antes de sair com Blaise e um Longbottom polissucado e escondido debaixo da capa.


ooooooo

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.