22 a 23 de Março

22 a 23 de Março



Capítulo 21
de 22 a 23 de Março


Dia 175, Segunda


Snape olhou para o relógio, esperando que o nervosismo que sentia não estivesse evidente em seu rosto. Olhou para Draco, que parecia meio nauseado, e com bons motivos para tanto. Essa reunião…


Aquela era uma das posições mais delicadas e complicadas em que Snape já estivera em todos os seus anos trabalhando para a Ordem. Porque, por um lado, ele deveria ser o Comensal da Morte que tinha que se certificar que Draco não fizesse nada idiota, como tentar salvar Potter. Isso era o que todos — incluindo Draco — esperavam que ele fizesse.


Mas, por outro lado, ele deveria ajudar o Garoto-Que-Sobreviveu a manter seu ridículo título. Dar um jeito de fornecer polissuco para Granger e Weasley já tinha sido bastante desagradável, ainda mais sabendo que Draco iria usá-lo para estar perto de Potter sem ninguém descobrir. O simples pensamento de tentar induzir Draco a se associar com Potter era… bastante revoltante. Não importava o que Draco sentisse pelo garoto.


Felizmente, seu trabalho tinha sido facilitado bastante pelo próprio Lucius Malfoy, maldito fosse. Sua maneira de lidar com as coisas tinha servido apenas para entregar Draco embrulhado para presente a Potter. Só estava faltando o laço no topo do embrulho, e Snape tinha a sensação de que ele seria providenciado naquele dia. Ele ainda estremecia pela lembrança dos olhos cinzas de Draco arregalados no Grande Salão, fixos no Berrador que o destruía pedaço por pedaço. O próprio Snape ficara com o coração na mão o tempo todo, conforme Lucius transformava em verdade todos os piores medos de Draco de uma vez só. Deixando-o envergonhado muito além da redenção diante de seus colegas, tirando quase tudo que tinha alguma importância para ele e o ferindo até o osso com sua rejeição.


E então, a marca que ele fizera em Draco… Snape se sentia fisicamente enjoado quando pensava naquilo. Mesmo sendo um Comensal da Morte, ele não podia imaginar fazer uma coisa daquelas com um ser humano. Especialmente um que confiasse nele e o admirasse, como Draco tinha confiado e admirado Lucius, sem razão alguma para tanto, na opinião de Snape.


'Tinha' sendo a palavra que importava. Qualquer confiança e admiração que existiu fora destruída, pelo que Snape podia dizer. E isso não era tudo que Lucius tinha destruído. O próprio Draco estava… despedaçado desde então. Uma não-entidade entre os outros sonserinos. Excluído, reservado, quase indiferente ao mundo ao redor de si. E ele tinha voltado para Potter imediatamente, se arriscando ao desgosto do seu pai sem se importar. Não poderia haver prova maior da perda da devoção filial de Draco do que aquela.


E agora Draco queria ajudar Potter, e estava disposto a se arriscar à ira de Lucius de novo, se necessário, para fazê-lo. Não deveria ser surpresa para ninguém. Exceto para Lucius, é claro. Lucius provavelmente nunca entenderia isso, e também nunca entenderia que foram suas próprias ações que levaram Draco a fazer o que estava fazendo.


Lucius nunca entenderia o próprio filho, nunca entenderia que as semelhanças entre eles eram apenas nas aparências. Draco nunca seria tão inteligente, perspicaz, forte ou sem coração quanto seu pai, e Lucius nunca o conseguiria perdoar por isso. Mais uma vez, Snape amaldiçoou Lucius por não ter tido o bom senso de ter transferido o garoto para Durmstrang, já que ele iria usar o elo para matar Potter. Porque era preciso muita frieza para assistir a alguém que se gosta morrer lentamente enquanto você tem a salvação em suas mãos, e Draco simplesmente não era assim.


Snape olhou pensativo para Draco, sentado sofá, nervoso, esperando por seus pais. Notou sua respiração rápida e falha, seu olhar colado no chão, e ficou surpreso por perceber que ele estava quase tendo um ataque de pânico só de pensar em encarar o próprio pai. E, mesmo assim, enfrentava teimosamente seu medo, obrigando-se a se controlar para o confronto pelo bem de Potter.


Aquela era possivelmente a única coisa positiva que Lucius tinha feito na situação toda, Snape refletiu. Forçar Draco a mostrar alguma coragem, pela primeira vez na vida.


Draco prendeu a respiração quando a lareira acendeu e Lucius surgiu por ela, pousando de pé graciosamente no meio da sala, e deu um passo para o lado para permitir que Narcissa o seguisse. Os dois espanaram as cinzas das vestes, expressões idênticas de desgosto em seus rostos pelo modo de transporte comum que estavam sendo obrigados a usar — a única maneira de entrar diretamente em Hogwarts.


Eles trocaram os mínimos cumprimentos com Draco e Snape antes que Lucius tocasse diretamente no assunto que importava.


"Devo admitir que fiquei surpreso ao receber sua coruja, Draco. A que devo o prazer?"


"Você sabe que os aurores descobriram o que está acontecendo com Potter, com o elo", Draco disse, sendo direto, mas sem conseguir olhar o pai nos olhos.


"Sim".


"Eles ainda não têm todas as provas que precisam sobre quem fez isso e como, mas logo terão".


"E?"


"Pai… você não está preocupado? Você poderia ser preso por se envolver com isso".


"Eu gostaria de vê-los tentar. Nada me conecta a McKay ou Colchis. Eu fiz tudo que estava ao meu alcance para que a curandeira Esposito estivesse presente na cerimônia de dissolução do elo".


Depois de deixá-la doente, sem dúvidas, Snape pensou consigo mesmo.


"Você poderia ser preso", Draco disse, a voz baixa. "De novo".


"Eu não estou muito preocupado com isso".


"Por que não?"


"Porque depois que o Lorde das Trevas ter triunfado, não terá mais importância".


Draco concordou com a cabeça. "Me pediram para ficar perto de Potter tanto quanto possível, até que eles descubram um jeito de ajudá-lo. O que eu devo fazer?"


Lucius deu de ombros. "Vá em frente. Não fará muita diferença".


Draco balançou a cabeça e respirou fundo antes de abordar com cautela o próximo tópico. "E quão perto o Lorde das Trevas está da vitória, pai?"


Lucius sorriu. "Assim que Potter morrer, o Lorde das Trevas vai dominar tudo".


Silêncio. "É… isso? Esse é o grande plano?", Draco perguntou devagar. "Matar Harry Potter? É isso que é tão importante?"


"É-"


"Isso é tudo pelo que o Lorde das Trevas está esperado, que uma pessoa morra — um garoto morra?", Draco finalmente encarou Lucius nos olhos, uma expressão incrédula no rosto.


Lucius levantou uma sobrancelha, mas concordou com a cabeça calmamente.


"E o que ele vai fazer depois disso? Vai assumir o controle do Ministério da Magia? Invadir Hogwarts? Ele ainda tem que passar por Dumbledore, sabe. Para não falar nos aurores e em mais um monte de gente. O que vai acontecer depois disso?", a irritação de Draco estava crescendo e ele pareceu esquecer-se do medo que sentia do pai por um momento.


Um fato que não passou desapercebido por Lucius. Ele estreitou os olhos e seu tom, quando ele falou, estava em vários níveis mais frio do que antes. "Draco, isso realmente não é da sua conta. Há um limite tênue entre estar compreensivelmente interessado nesses eventos e se intrometer onde você não é chamado. Você acabou de ultrapassá-lo".


Draco engoliu com dificuldade e baixou o olhar para o chão. Ele respirou fundo duas vezes, visivelmente reunindo coragem para o que teria de dizer em seguida.


"Pai. Não há… não há um jeito de fazer isso… não depender da morte de Potter?"


A imobilidade causada pela surpresa dominou o recinto.


"Como?", Lucius disse por fim, sua voz extremamente baixa. Draco ficou pálido, mas continuou firme.


"Eu… eu tenho certeza que há vários planos minunciosos ocorrendo, para invadir escritórios, controlar itens mágicos poderosos, tudo isso. Eu só… é realmente necessário que tudo isso dependa da morte de Harry?"


Harry agora, então?" Lucius disse suavemente, e o rosto de Draco corou.


"Eu… sim". Ele engoliu de modo nervoso. "Ele- eu… você sabe que minha lealdade está com a nossa família. Essa é minha primeira prioridade. Sempre", ele disse com firmeza. "Mas. Ele está… eu- eu gosto dele". Ele emitiu um ‘glump’ e continuou a falar rapidamente. "Eu não queria gostar — eu sei que falhei com você, deveria ter ficado longe dele depois da dissolução do elo, e, e eu não estou colocando-o acima da nossa família ou do Lorde das Trevas ou, ou qualquer coisa do gênero, mas, mas-", ele respirou fundo, se forçando a ir devagar. "Eu não quero vê-lo morrer. Ele não tem tanto poder; ele não tem nada de especial. Nosso lado é forte, nós podemos fazer o que tem que ser feito sem matá-lo".


Lucius parecia tão abalado a ponto de não conseguir falar, e Draco não tinha levantado o olhar do chão o tempo todo. Ele parecia estar desesperado para fugir, mas estava se recusando a fazê-lo.


Snape e Narcissa trocaram um olhar preocupado, e Snape apontou discretamente com a cabeça na direção de Lucius.


Narcissa apertou os lábios e pôs uma mão no braço de Lucius. "Draco, eu acho que você não compreende quanto planejamento tudo isso envolveu".


"Eu, eu não compreendo", Draco admitiu. "Eu só estou perguntando – não tem um jeito de-"


"Não, absolutamente não", Lucius disse, finalmente encontrando sua voz. "Como você ousa perguntar-"


"Querido, não é tão difícil de entender", Narcissa disse, com calma. "Draco agiu exatamente como deveria agir durante o elo, e as coisas progrediram do jeito que deveriam progredir. É isso que um elo deve fazer, no final das contas: criar um compromisso entre os cônjuges. Como fez com a gente. Lucius, por favor. Draco não está fazendo nada de errado em perguntar".


Lucius olhou para a esposa como se gostaria muito de azará-la, mas apenas deu um aceno curto com a cabeça. "Você perguntou", ele disse para Draco friamente. "E a resposta é não. De qualquer forma, não há nada que pudesse ser feito, mesmo se eu quisesse".


"Não dá para… Pai, se houvesse – se o Lorde das Trevas precisa dele fora do caminho, ele poderia ser preso em algum lugar, ou ficar sem magia, ou-"


"Draco-"


"Lucius". A mão de Narcissa apertou com mais força o braço do marido e sua voz calma interrompeu o que prometia ser mais uma demonstração bem impressionante de ira. "Por favor. Eles foram casados, é compreensível que ele ficasse-"


"Devastado com a idéia de perder o ex-marido?", Lucius disse com desprezo. "A maioria das pessoas ficaria extasiada".


"Ele não é a maioria das pessoas, Lucius", Snape disse rapidamente. "Ele é apenas um garoto. Isso não foi-"


"Pai… eu, eu era jovem demais para o elo", Draco interrompeu, levantando o olhar de novo. "E jovem demais para dissolver o elo. E eu não tinha a intenção de- mas eu fiquei com ele por quatro meses, e pensei que era permanente-"


"Eu havia te dito que estava me esforçando ao máximo".


"Mesmo seus maiores esforços nem sempre funcionam", Draco disse, e Snape levantou as sobrancelhas ao ouvir a clara referência a Azkaban. Draco pareceu se encolher em uma posição ainda mais defensiva, tremendo enquanto Lucius o encarava com desdém.


"Lucius- por favor, não fique bravo com ele", Narcissa disse de modo gentil, e então puxou Lucius para um pouco mais longe de Draco e Snape. Ela se inclinou para mais perto dele, falando em voz baixa e de modo urgente em seu ouvido, e Snape soltou a respiração devagar conforme a expressão de Lucius passou de raiva mal-contida para algo parecendo compreensão e compaixão.


Abençoada fosse Narcissa. E abençoada fosse a arrogância de Lucius que nunca havia permitido que ele percebesse o que Snape tinha deduzido há muito tempo: que a habilidade quase mágica de Narcissa de acalmá-lo em momentos de grande nervoso era simplesmente isso, mágica. Feitiço de Harmonia. Não podia ser usado com freqüência para Lucius não desconfiar, mas, quando ela usava, era uma benção.


Draco respirou fundo, olhando o pai nos olhos. "Por favor, papai. Eu não posso simplesmente assistir a ele morrer".


A expressão de Lucius estava mais suave, mas continuava firme. "Então não assista", ele disse calmamente.


Draco se virou, esfregando a testa, e Snape podia quase sentir seu desespero. Ele deveria ter imaginado que aquilo era inútil. Mesmo antes da reunião começar, ele deveria saber que não havia nada que poderia ser feito, mas tinha que tentar.


"Eu- eu acredito no trabalho do Lorde das Trevas. Você sabe disso. Mas não há nenhum jeito de-"


"Você sabe que ele tem que morrer. Certos sacrifícios precisam ser feitos. Eu me sacrifiquei, passei dez meses naquela cadeia, por essa causa. Por você e para as crianças como você, que merecem um mundo não poluído por sangues-ruins e fraqueza".


"Pai-"


"Eu sinto muito, Draco", Lucius disse, seu tom quase razoável, quase bondoso. "Você tem razão, você era jovem demais para tudo isso. Mas você não teve escolha no que aconteceu antes, e você não tem escolha agora. Potter vai morrer, e isso é uma fatalidade. Eu e sua mãe vamos fazer o que estiver ao nosso alcance para tornar as coisas mais fáceis para você, mas não há nada que você possa fazer para impedir".


"Eu poderia entrar no elo com ele", Draco disse de uma vez e continuou falando rapidamente, desviando o olhar da expressão de surpresa no rosto de Lucius. "Eu- eu não quero dizer um casamento de verdade, eu não quero isso, mas se – se eu voltasse a ter o elo com ele e ninguém além de nós soubesse disso, nós poderíamos tirá-lo do caminho de alguma forma, e o Lorde das Trevas ainda conseguiria-"


Narcissa cobriu a mão de Draco com a sua, fazendo-o parar. "Meu amor, esse tipo de coisa não permaneceria em segredo por muito tempo. E se o Lorde das Trevas descobrisse-"


"Se você se aliasse com Potter, estaria se colocando em perigo", Snape observou.


"Eu não estou falando sobre me aliar com ele – eu nem ficaria perto dele-"


"Absolutamente não", Lucius disse. "Os riscos são grandes demais. Você já pôs sua família inteira em perigo por causa do seu comportamento uma vez; te deserdar foi praticamente a única coisa que eu pude fazer para recobrar a confiança do Lorde das Trevas e amenizar a raiva dele com você".


"Você me deserdou para me salvar de mim mesmo?", Draco disse suavemente, uma pontada de raiva em sua voz.


"Preferia que eu permitisse que você continuasse a agir de uma maneira que certamente faria com que você acabasse morto?"


"Você permitiu que eu continuasse casado com Harry por quase dois meses depois de ter encontrado McKay. Eu poderia ter morrido nesse tempo, se o Lorde das Trevas agisse contra ele".


"Sim. Eu sei. Não foi um atraso que eu apreciei, acredite em mim. Mas nós tínhamos que planejar o contra-feitiço, e não foi fácil. Envolveu mágica sem varinha, posicionar certas pessoas para elas poderem nos ajudar, distrair aqueles que poderiam atrapalhar, diversos feitiços aplicados em Potter para impedi-lo de sentir dor quando os outros lhe tocassem, para impedir que ele piorasse imediatamente depois da dissolução do elo…" Lucius fez uma pausa. "Foi um trabalho extremamente difícil e preciso. Você pode imaginar minha preocupação quando Potter não ficou doente, como estava planejado. Ele deveria ter ficado mal muito mais rápido, assim que tempo suficiente tivesse passado para que ninguém associasse a doença dele com o fim do elo". A voz dele ficou mais dura. "E então eu vi as fotos que foram enviadas ao Profeta".


Draco engoliu com dificuldade e abaixou o olhar, e Snape sentiu uma faísca de apreensão pela maneira ressentida com que ele cerrou os dentes e estreitou os olhos.


"Você colocou a todos nós em perigo. O Lorde das Trevas não teria te deixado vivo se não fosse por mim".


"E o que isso te diz sobre ele, então?", Draco disse, seu ressentimento começando a emergir.


"Como?"


"Ele estava bravo comigo por estragar os planos dele? Bravo o suficiente para me matar, mesmo que eu não tivesse idéia de que estava agindo contra ele?", ele balançou a cabeça, encarando o pai nos olhos de modo desafiador. "Ele é um completo lunático, isso é o que ele é". O rosto de Lucius rapidamente progrediu de compaixão para ira. Ele fez um movimento curto e Draco arfou, levando a mão à marca no seu peito. Snape e Narcissa se entreolharam, alarmados.


"Ele é", Draco repetiu teimosamente. "Como você pode seguir alguém como ele?", ele arfou de novo, seu rosto ficando pálido, e Narcissa agarrou Lucius pelo ombro. "Um homem que mata qualquer um que se meta no caminho dele, mesmo que isso não seja intencional?"


"Nós o seguimos na esperança de um futuro melhor para nós mesmos e para nossas crianças. Crianças como você", Lucius observou em desgosto.


"Crianças como Cedric Diggory?", Draco rebateu.


"Draco!", Snape exclamou.


Os olhos de Lucius se estreitaram perigosamente. "Cedric Diggory foi uma infeliz casualidade da guerra".


"O sangue dele era tão puro quanto o meu ou o seu. E mais puro do que o de Voldemort".


Snape e Narcissa ficaram paralisados e se encararam em horror. "Não diga o nome dele." Lucius murmurou perigosamente.


"Eu digo o nome dele o quanto eu quiser!"


"Você é uma vergonha para-"


"É você quem está seguindo um mestiço lunático!"


"Você preferiria que nós estivéssemos do lado de um pirralho mestiço idiota?"


"Harry não é maluco!"


"Harry vai perder".


"E, se ele perder, você realmente acha que o mundo bruxo vai ficar melhor? Você sabe exatamente que tipo de homem Voldemort é. Você tem medo dele, mas você o segue mesmo assim".


"Eu prefiro segui-lo a ser morto por ele, você não?"


"Talvez, se menos pessoas pensassem assim, ele não conseguiria ferir ninguém".


"Me poupe do seu ridículo sentimentalismo. Você claramente passou tempo demais na companhia de grifinórios", Lucius levantou graciosamente e pegou um punhado de pó de flu. "Essa conversa está terminada. Você vai se comportar de maneira adequada para um membro da nossa família e não vai fazer nada para impedir nossos planos. E, se eu ficar sabendo que você chegou perto de Potter, você vai se arrepender. Informe Madame Pomfrey e as outras autoridades da escola que você não estará disponível para aliviar o desconforto de Potter com o elo. Eu não me importo como você vai fazer isso, simplesmente faça. Está claro?"


Draco o encarou, e Lucius sussurrou uma palavra que fez o rosto de Draco ficar pálido e ele prender a respiração de dor enquanto cobria a marca no seu peito com a mão. Ele encarou o pai por mais um momento, os lábios apertados, e então abaixou a cabeça, desistindo.


"Vamos, Narcissa", Lucius disse secamente quando caminhou para a lareira. "Mansão Malfoy", ele disse e desapareceu.


Draco se virou para Narcissa. "Mamãe…"


"Draco, por favor-"


"Por favor… você não pode falar com ele?"


"Não posso. Você sabe disso".


"Eu…"


"Seu pai está certo. Isso é lamentável, mas-"


Draco esfregou a testa, lutando para manter a compostura. Narcissa gentilmente acariciou o cabelo dele, trocando um olhar preocupado com Snape.


"Meu amor… você não vai fazer nada a respeito disso, vai?"


"Como?"


"Nada que vá contra os desejos do seu pai", disse Snape.


"Isso seria- por um lado, seria terrivelmente perigoso", disse Narcissa. "E, por outro, partiria o coração dele".


Draco emitiu uma exclamação de desgosto. "Ele não teria que ter um coração para isso em primeiro lugar?"


"Draco!"


"Partir o cora- não me venha com essa!", Draco disse com raiva. "Ele estava bem feliz de me enxotar quando-"


"Ele estava magoado! Você tinha traído ele — você, seu próprio filho-"


"Ele estava puto porque eu fui contra ele. Não foi por mágoa que ele me deserdou, foi por puro ódio!"


"Você não sabe o que o Lorde das Trevas-"


"Ele não fez isso pelo Lorde das Trevas — o pai ainda era considerado uma espécie de agente duplo. O que não pareceu muito convincente quando ele me deserdou em público só por estar com o inimigo de Voldemort".


"Draco-" Snape começou.


"Ele poderia ter me castigado de qualquer outra maneira se estivesse magoado. Mas ele o fez publicamente — eu não tinha nem uma merda de nome-"


"Ele estava com raiva", disse Narcissa, "e ele fez algumas coisas que não deveria. Mas ele ama você".


"Isso não é amor, isso é-"


"Você acha que esse garoto Potter te ama?", Narcissa disse astutamente, e ele franziu a testa para ela. "Ele só te quer por causa de um feitiço. Isso não é real".


"É tão real quanto seu elo com meu pai", ele rebateu. "Você me ensinou que o tipo de amor que cresce assim é mais real do que o que acontece quando duas pessoas se dizem apaixonadas, mas não sabem o que amor realmente significa".


"Vocês não ficaram juntos por tempo o suficiente. Você acha que ele desistiria de tudo para ficar com você, como você está pensando em fazer por ele? Você acha que ele sacrificaria alguma coisa por você? Para ele você é o inimigo".


"Você não sabe nada sobre ele".


"Draco-"


"Você sabia que eu voltei para ele depois que o pai queimou essa maldita marca em mim?" Narcissa arregalou os olhos. "Nós ficamos juntos por mais uma semana-"


"Como você pôde-"


"-e então Harry terminou comigo. Não estar comigo estava deixando ele doente, ele tinha o elo gritando que tinha de ficar perto de mim, e mesmo se sentindo desse jeito ele me mandou embora, porque não queria que eu me machucasse de novo".


Narcissa o encarou.


"Não, eu não vou ir contra meu pai outra vez", Draco disse amargamente. "Ele falou e eu tenho que obedecê-lo, quer eu queira ou não. Mas ele não pode me forçar a gostar disso", ele fez uma careta de desgosto. "E ele não pode me forçar a pensar que ele é qualquer coisa além de… patético".


ooooooo


Dia 176, Terça


Draco encarou a página na sua frente. Ele não tinha idéia de onde estava naquela matéria. Tinha perdido três dias de aula, ficando ao lado da cama de Harry, e letras não-familiares o encaravam de volta no seu livro. Weasley, Longbottom, Finnigan e Thomas; cada um deles tinha deixado sua letra nas páginas anteriores, e Draco tentou combinar as letras com os autores. Weasley tinha sido o mais fácil, sendo a letra mais presente. E ele tinha quase certeza que Longbottom era autor das frases confusas na página 13. Mas a caligrafia pequena e bonita na página 14 e os garranchos e rabiscos na página 17 — ele não tinha idéia de qual pertencia a Thomas e qual era de Finnigan. Não que isso importasse.


Harry estava se recuperando da sua última onda devastante de náusea, havia acabado de tomar uma nova dose de poção Anti-Vômito e estava dormindo confortavelmente, e Draco precisara escapar — de Harry, do maldito hospital o qual ele freqüentara tanto naquele ano, da desorientante falta de familiaridade em relação à sua própria voz e forma. De volta ao seu próprio corpo, ao seu próprio mundo, de volta aonde ele logo estaria de saco cheio de novo de qualquer forma. Granger tinha vindo para a aula também e Weasley optou por ficar com Harry enquanto ele dormia.


E agora Draco estava sentado no final do contingente sonserino, Pansy atrás dele e Blaise atrás dela, e ninguém a não ser os membros do Esquadrão Polissuco da Grifinória sabia da sua ausência até aquele momento.


Snape estava meio quieto naquele dia. Assim como a maioria dos alunos. Todos eles tinham ouvido que havia algo terrivelmente errado com Harry, e todos deduziram que tinha alguma relação com o Lorde das Trevas. Queenie e Nott estavam com expressões de quem mal conseguia controlar a alegria. As feições meio quadradas de Millicent estavam vagamente mais felizes. Crabbe e Goyle apenas pareciam meio confusos, como sempre.


Draco listou com preguiça os ingredientes de uma poção que eles tinham aprendido no primeiro semestre enquanto Snape falava monotonamente sobre… qualquer que fosse o assunto daquela aula. A mente de Draco ainda estava na ala hospitalar, onde, lenta mas certamente, Harry estava piorando. Não hoje, não amanhã, talvez mesmo nem em uma semana, mas, logo, o fim chegaria para ele — muito mais cedo do que deveria. O que Draco e sua família desejavam há tanto tempo que acontecesse iria acontecer. Harry iria morrer, e então eles poderiam assumir o lugar que lhes era por direito. Como Draco tinha sido criado para esperar que acontecesse, para trabalhar para que acontecesse.


Era o que o mundo dele precisava, o que ele tinha sido ensinado a acreditar desde a infância. Para que o mundo dele fosse mais uma vez forte, onde o sangue puro tivesse importância, onde o poder da magia tivesse importância. Onde poder e esperteza e tradição fossem honrados ao invés de serem colocados de lado com desdém por pessoas como Dumbledore e seus seguidores e amantes de trouxas.


Era um mundo que merecia seu amor e admiração — um mundo de riqueza, prestígio e poder, de cultura e refinamento. O mundo da Mansão, das propriedades na Europa, dos halls com seus antepassados. O mundo dos seus pais, de Pansy, Blaise e mesmo de Crabbe e Goyle.


E de Queenie e Nott, ele lembrou a si mesmo amargamente. E de Archer e Edgars e da laia deles. Um mundo onde ele havia caído em desgraça quase além da redenção. Onde seus colegas apenas agora estavam voltando a tomar conhecimento da sua existência. Onde ele nunca mais teria, graças a Harry e a seu pai, a mesma posição que já tivera antes. A não ser que ele decidisse lutar com unhas e dentes por isso, dedicar sua vida inteira ao jogo e batalhar seu caminho de volta para o mesmo posto que ele já tivera antes.


Que era o que seu pai esperava que ele fizesse. Que era o que todo mundo que o conhecia esperava que ele fizesse, mas, é claro, os grifinórios estavam esperando que ele escolhesse o outro caminho.


Tudo se resumia a uma escolha. Ele poderia deixar que as coisas continuassem a seguir o rumo que estavam seguindo, ajudar o mundo que ele amava e tentar conquistar seu lugar nele mais uma vez; reconquistar o amor e a confiança do seu pai, o respeito e admiração dos seus colegas. Ou ele poderia salvar a vida de Harry e viver com as conseqüências disso, com os arrependimentos e os ‘e se’. Era como se seu coração estivesse sendo puxado em duas direções diferentes, esticado até estar prestes a romper, e ele não conseguia enxergar uma maneira de conciliar as duas direções.


Porque não havia uma maneira de conciliá-las. Por mais difícil que fosse, ele tinha que fazer sua escolha.


Sua escolha. Não a do seu pai.


Ele respirou fundo, colocou a pena sobre a mesa e levantou, caminhando até a saída da sala de Poções, Granger e Pansy imediatamente o seguindo.


Snape parou de falar e franziu a testa enquanto o resto da classe inteira se virava para ele. "Aonde vocês três pensam que vão?"


"Para fora, senhor", Pansy disse de modo curto, e eles não pararam para escutar as exclamações indignadas de Snape.


"Você tem certeza disso?" Pansy perguntou quando eles se aproximaram da enfermaria.


"Sim".


Pansy engoliu com dificuldade e colocou a mão no ombro dele, o interrompendo antes de chegar na porta de entrada. "Se voltar para o elo com ele, é para o resto da vida. O homem que lançou o feitiço está morto. Ele não pode desfazê-lo. Você não vai poder desfazer isso".


"Eu sei".


Granger falou hesitantemente. "Ele… ele ainda não está morrendo. Ele só está doente. Ele pode melhorar, há vários curandeiros cuidando dele, eles podem achar uma cura-"


"Eles não vão".


"Draco…" disse Pansy.


"Pansy, eu não posso ficar com meu pai, não depois de tudo que aconteceu. Eu tenho que fazer isso".


Pansy concordou com a cabeça, soltando seu ombro e apontando com a cabeça para a enfermaria. "Então, ainda disposto a ser o meu contato?", disse ela com um meio-sorriso.


"Ainda disposto".


Eles entraram na ala hospitalar e Weasley levantou o olhar do livro de Feitiços que estava lendo. Draco teve o prazer único de ver a boca de Weasley abrir enquanto ele deduzia o que significava o fato de Draco estar na enfermaria sem nenhum tipo de disfarce ou proteção.


Harry abriu os olhos quando Draco se aproximou da cama, e o encarou, meio atrapalhado.


"Sim, sou eu mesmo", Draco disse em tom divertido, pensando que Harry provavelmente estava confuso para caramba tentando lembrar se era mesmo Weasley a seu lado ou Draco polissucado.


"O que você está fazendo aqui?"


"Te salvando", Draco disse, preocupado.


"Mas alguém pode te ver-"


"Sim, provavelmente. Me deixe ligar os pontos para você", Draco disse, direto. "Eu vou entrar no elo de novo. Então, as pessoas saberem que eu estou te visitando no hospital não é minha maior preocupação no momento".


Harry sentou rapidamente na cama, e Draco se inclinou para frente para segurá-lo. "Cuidado. Eu realmente não quero que você vomite em mim no dia do nosso casamento".


"Draco, eu não posso deixar que você-"


"Fica quieto. Eu imagino que você ainda tem o livro sobre elos?", Draco perguntou para Granger, e ela concordou com a cabeça, revirando sua mochila até encontrá-lo e abri-lo.


"Você quer- erm, quer dizer, há versões diferentes para-"


"Qualquer uma que termine com isso logo".


Harry estava balançando a cabeça teimosamente. "Eu não posso te deixar fazer isso".


"Seu idiota, eu quero fazer isso".


"Você não tem que fazer isso porque você se sente culpado por-"


"Caralho, Harry. Você acha que eu estou propondo algum tipo de acordo de sexo por pena? Pelo tempo que você me conhece, você realmente acha que eu me sacrificaria de modo tão altruísta só porque eu me sinto mal por você? Que tipo de grifinório você acha que eu sou?"


"Você não quer isso. Se eu não estivesse doente, você não estaria pensando em fazer isso".


"Talvez. Mas você está. E eu quero ajudar. Por mim, porque eu gosto de ter você por perto".


Harry baixou o olhar. "Não é assim… não é assim que um casamento deve ser".


"Pare de pensar como um maldito trouxa", Draco disse, impaciente.


Harry esfregou os olhos, cansado.


Draco sentou a seu lado. "Você não consegue acreditar que eu estou escolhendo isso, consegue?"


"Não. Porque você não está".


Draco franziu a testa para ele e então chacoalhou os ombros, aborrecido. "Grifinório de merda. Você não acredita em mim e não vai me deixar fazer isso e vai morrer porque é orgulhoso demais para aceitar a ajuda que está sendo oferecida. E mesmo se eu te convencer a me deixar fazer o que eu quero, você vai pensar pelo resto das nossas vidas que eu só fiz isso para te salvar". Ele esfregou o nariz, pensando por um momento, e então se voltou para Granger.


"Granger. Me dá isso aqui", ele tirou o livro das mãos dela e começou a folheá-lo.


"O que-", Harry começou.


"Você não vai acreditar em mim a não ser que eu tenha todas as palavras floridas apropriadas. Eu as direi, então. E talvez assim entre na sua cabeça dura que eu realmente quero fazer isso".


Harry estava o encarando com uma expressão meio surpresa enquanto Draco procurava o feitiço mais apropriado, passando os olhos pelas palavras para se familiarizar com elas.


"Aqui. Granger, segure o livro – não, melhor, Weasley, segure o livro para mim. Granger, você é boa com Feitiços da Verdade, não é?", Granger concordou com a cabeça, meio sem entender, e Draco acenou com a cabeça para ela, segurando a mão de Harry e esperando para que ela lançasse o feitiço.


"Lumos Veritas", ela disse, e uma luz suave apareceu na ponta da sua varinha, flutuando até Draco.


"Tira esse negócio da minha cara", ele disse, impaciente, e Granger obedeceu, movendo a varinha para que a luz flutuasse acima deles.


"Você realmente-" Harry murmurou.


"Sim, pelo amor de deus. Agora, ouça, porque eu só vou dizer uma vez". Ele respirou fundo e começou, encarando Harry nos olhos.


Eu me uno a você. Eu te dou tudo o que eu sou, pelo resto das nossas vidas.
Eu me uno a você. Eu o faço livremente, e sem arrependimentos.
Eu me uno a você, porque eu quero passar a minha vida com você.
Eu me uno a você, porque eu te amo.
Eu me uno a você.


Todo mundo ficou paralisado enquanto Draco terminava, e ele podia sentir os olhares incrédulos de Pansy, Granger e Weasley, mas eles não importavam. O que importava era que Harry o encarava, maravilhado, sua boca entreaberta e seu rosto gradualmente recuperando a expressão saudável. Um fio das suas emoções estava começando a passar para Draco.


"Aí. Você acredita em mim agora, seu idiota?", mas ele realmente não precisava ter perguntado, Draco percebeu, pois o fio de emoções se tornou uma torrente — uma série de sentimentos profundos que Draco não conseguia identificar, pois seus próprios sentimentos também estavam bastante intensos, mas entre a torrente estava uma alegria surpresa de Harry por perceber o que Draco sentia em relação a si.


"Eu… eu acho que sim", Harry disse, meio abalado.


"Granger", Draco apontou com a cabeça para as mãos deles, ainda unidas. "Faça o-"


"Não, espera", Harry disse, e Draco soltou a respiração pela boca, impaciente. "Ron, você pode virar o livro para esse lado?"


"Você não precisa dizer nada, o elo já está ficando ativo de novo-"


"Eu sei, mas eu não vou me casar duas vezes sem dizer nenhuma palavra", Harry disse, meio raivoso, e acenou para Weasley segurar o livro de modo que ele conseguisse ler. Ele respirou fundo e começou o encantamento.


Eu me uno a você. Eu te dou tudo o que eu sou, pelo resto das nossas vidas.
Eu me uno a você. Eu-


Harry parou, olhou para a Luz da Verdade e deu um sorriso triste para Draco. "Eu não o faço tão livremente assim. Mas faria, se pudesse, sem arrependimentos". E seu sorriso aumentou, aparentemente notando o choque de Draco quando a Luz da Verdade continuou a brilhar sem fraquejar.


Eu me uno a você, porque eu quero passar a minha vida com você.
Eu me uno a você, porque eu te amo.
Eu me uno a você.


Todos eles soltaram a respiração, e Draco acenou para Granger. Ela apontou a varinha para o pulso dos dois.


"Lux Vinculum", ela disse suavemente, e a pulseira céltica de luz apareceu, brilhando forte ao redor dos pulsos deles. Draco apertou a mão de Harry, sentindo o peito se contrair conforme os olhos do grifinório se enchiam de lágrimas. Ele correu sua mão livre pela bochecha do moreno, repentinamente sem saber o que dizer.


Granger acenou com a varinha em silêncio e a pulseira de luz desapareceu. Draco puxou Harry para seus braços, ambos tremendo com a emoção e o alívio de um elo finalmente restaurado. Ele sentiu o coração de Harry bater contra o seu, ambos acelerados — como se eles dois tivessem acabado de apanhar o Pomo de Ouro, ele pensou vagamente, e quase riu alto pela imagem.


Eles se abraçaram por um longo momento, e então o silêncio profundo foi quebrado por uma bastante audível fungada.


"Weasley?", Pansy riu, sua própria voz falha, e Weasley rapidamente limpou os olhos.


"Desculpem", ele murmurou, envergonhado. "Eu sempre choro em casamentos".


ooooooo


"Tudo bem, então" Esposito disse no final do dia, abaixando a varinha e fazendo algumas anotações em um pergaminho. "Parece que tudo está em ordem".


"Está tudo certo com o elo?" Harry perguntou, sentando na cama.


"Sim, tudo ótimo", ela disse distraidamente, ainda escrevendo. "Teria sido mais prudente esperar para que eu os ajudasse, mas não é um feitiço difícil de ser lançado quando se trata de participantes voluntários". Ela se virou para Draco, de pé na frente da janela. "Você fez um bom trabalho, sr. Malfoy".


"Obrigado".


"E eu não me refiro apenas a lançar o feitiço", ela adicionou. Draco concordou com a cabeça, meio constrangido. "Foi uma boa idéia que você também repetisse o encantamento, sr. Potter", ela acrescentou. "Não era necessário, mas provavelmente ajudou a fortalecer e estabilizar o elo um pouco mais".


"Oh", Harry disse, um pouco surpreso.


"Sem mencionar que provavelmente ajudou no aspecto não-mágico de tudo isso", ela lançou um sorriso caloroso para eles. "Bem. Eu estou indo, então. Boa sorte para vocês dois. Vocês sabem como me encontrarem se precisarem".


"Obrigado, curandeira", disse Harry.


"De nada, senhores", disse ela, ainda sorrindo para os dois e colocando a bolsa no ombro antes de ir.


"Como você se sente?", Harry perguntou, levantando e se juntando a Draco na frente da janela. Ele o abraçou por trás, fazendo com que o loiro apoiasse as costas em seu peito. Maravilhado pela glória de poder se mexer sem precisar colocar as tripas para fora.


Draco concordou com a cabeça distraidamente, olhando para o campo de Quadribol.


"Sem arrependimentos?"


"Sem. Bem… não pelo que eu fiz. Só por precisar ter sido dessa maneira".


"Você sabe que se seu pai ativar a marca ela vai-"


"Sim, eu sei".


"Hermione vai ajudar o quanto puder. Ela é- se alguém pode te ajudar com isso-"


"Eu sei". Ele suspirou. "Quanto tempo você acha que vai demorar para Dumbledore trazer os aurores?"


"Não muito. Você tem certeza de que quer passar por isso?"


"Quanto mais rápido eu disser tudo que sei sobre Voldemort e seus seguidores, mais inútil me matar será para eles".


"Mas você tem certeza que consegue fazer isso sem trair seu pai?"


Draco respirou fundo e balançou a cabeça.


"Você quer que eu fique aqui? Eu posso ajudar a impedir que os aurores insistam em pontos que você não quer dizer".


"Tudo bem".


Houve um silêncio curto. "Mas você ainda acredita na causa do seu pai", Harry disse em voz baixa.


Draco suspirou. "Eu nem sei mais", ele admitiu. "Afinal, é difícil ter uma trouxa pseudo-celebrando seu casamento e não se sentir mais generoso em relação a ela".


Harry riu. "Eu imagino".


"Mas eu nunca serei um grande fã da comunidade trouxa".


"Eu sei", Harry concordou. "Você… você ainda sabe que eu tenho que-"


"Eu sei. Você ainda tem que fazer… o que você tem que fazer. Mas não agora", ele engoliu com força. "Eu vou te ajudar, quando chegar a hora. Eu aprendi muito com meu pai. Eu vou deixar as coisas mais difíceis para eles".


"Você tem certeza?"


"Eu não entrei no elo com você para que eu morresse se você morrer. E nem para esperar alguns anos para que a sua morte não me afete mais".


"Você não curte muito esse tipo de coisa, não? Essa coisa de guerra e herói?"


"Não muito, não".


"Nem eu".


Draco soltou uma exclamação ofendida. "Por favor. Você é a pessoa mais irritantemente heróica que eu conheço".


Harry riu e apoiou o queixo no ombro de Draco, olhando para o campo e sorrindo quando Draco moveu a cabeça num sinal claro para o grifinório beijá-lo.


Aquilo era tão certo, Draco em seus braços daquela maneira, ele pensou enquanto acariciava o pescoço do outro com seu nariz. Não é que ele pensava que eles iriam viver felizes para sempre; esse tipo de coisa não existia. E não era como se Draco estivesse de repente certo sobre o lado de Harry na guerra. Ele ainda estava relutante, ainda ambivalente sobre a questão toda. Mas agora que vencer envolvia seu próprio bem-estar, Draco seria um bom aliado. Um ótimo cérebro, prático e bastante forte e habilidoso com magia. Ele também daria a Harry um bônus extra com a solidez do elo deles para mantê-lo firme. E Harry concluiu que provavelmente deveria se informar sobre o lance de "alguns tipos de magia são mais fortes com um elo" que Pomfrey tinha mencionado em setembro.


Harry franziu a testa, pensativo. Que maneira mais… sonserina de olhar para seu novo cônjuge.


Ele abraçou Draco com mais força e sorriu quando o loiro emitiu uma exclamação de contentamento, abandonando pensamentos de estratégia e guerra para apenas aproveitar o momento. Depois de tanta coisa, de tantos conflitos, de uma história tão bizarra entre eles, estar junto daquele jeito de novo parecia ser a coisa mais certa do mundo. Porque de algum modo, na pessoa mais inesperada, ele tinha encontrado exatamente o que precisava. Alguém para amar. Alguém para proteger, por quem lutar.


Aquela era uma visão mais grifinória, ele decidiu, e então sorriu. Impulsos grifinórios e sonserinos. Da mesma forma como pessoas grifinórias e sonserinas, eles não precisavam estar de lados opostos.


E, de alguma forma, o futuro não parecia mais tão assustador.

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