27 de Fevereiro a 16 de Março

27 de Fevereiro a 16 de Março



Capítulo 19
de 27 de Fevereiro a 16 de Março


Dia 152, Sábado, continuação


"Oh, meu deus", Harry exclamou quando correu pela ala hospitalar na hora do almoço, com Hermione e Ron nos seus calcanhares. Draco estava sentado em uma das camas, Pansy ao seu lado, o braço esquerdo em uma tala, um curativo em uma bochecha e um machucado no lábio inferior. Por deus, aquilo era pior do que ele tinha pensado — tudo que ele tinha ouvido é que havia ocorrido uma briga e Draco estava no hospital.


Draco sorriu de modo seco para ele. "Você deveria ver o outro cara", o loiro ironizou.


Harry balançou a cabeça, horrorizado, e hesitantemente colocou a mão perto da dele, sem saber se o sonserino aceitaria uma demonstração pública de afeto ou não. Apenas sabendo apenas que quem quer que tivesse feito aquilo com Draco teria que ser desgrudado da parede com uma espátula depois que Harry tivesse terminado de fazer o que tinha em mente.


"Não, sério, você deveria ver o outro cara", Pansy reforçou enquanto o loiro pegou a mão de Harry e acenou para que ele se sentasse na cadeira mais perto dele, do lado oposto de Pansy.


"Quem fez isso?", Hermione perguntou em voz baixa, ficando de pé ao lado de Pansy.


"Goyle", Pansy disse.


"Como?", Harry exclamou em descrença raivosa enquanto Ron soltou um palavrão atrás dele.


"Oh, relaxem, seus idiotas", Draco disse, cansado. "Não é o que vocês estão pensando".


"Ele estava arrasado quando acabou" Pansy disse, balançando a cabeça. "Pobre Goyle".


"Erm… como?" Harry perguntou, confuso.


"Pansy pediu para ele fazer isso", Zabini disse, aproximando-se de cama e ficando de pé ao lado de Ron, com os braços cruzados. "E foi difícil para ela explicar em palavras simples o bastante para que ele entendesse".


Os grifinórios se entreolharam, completamente atordoados.


"Meu pai pintou um alvo nas minhas costas com aquela merda de Berrador", Draco disse, impaciente. "Não era seguro voltar para a Sonserina-"


"Então por que você não foi para a Grifinória comigo?", Harry perguntou, exasperado. "Eu te disse depois do café da manhã que-"


"Cale a boca, por favor, falar dói e eu prefiro não perder meu tempo te mandando ficar quieto. Sim, você disse, mas, como eu já te falei de manhã, eu não poderia fugir da Sonserina desse jeito. Porque mesmo se depois meu pai me aceitasse de volta, eu seria rotulado de covarde. Então Pansy pediu para Goyle me surrar o suficiente para que eu fosse internado aqui, mas sem causar nenhum dano permanente. Ele fez um bom trabalho — não quebrou o meu nariz e nem me deu um olho roxo, só algumas costelas partidas, um braço quebrado e um machucado no lábio".


"Vocês são loucos, todos vocês", Ron murmurou.


"Talvez, mas estou seguro na enfermaria, e sem passar tanta vergonha como seria se eu tivesse fugido antes que alguma coisa acontecesse. E Goyle pôde ajudar um amigo e ainda tem tanto a aprovação do meu pai quanta a do dele. Não foi uma solução ruim".


"Completamente loucos".


"Sabe, depois do Goyle ter ficado chorando e assoando o nariz na minha gravata pelos últimos vinte minutos, eu já não tenho tanta certeza que essa solução foi tão boa" Zabini disse.


"Ele vai superar", Pansy respondeu com indiferença. "E, com sorte, isso também vai ajudar Draco quando ele for encontrar o pai". Zabini soltou uma exclamação sarcástica, mas não interrompeu. "Lucius pode pensar que Draco já foi punido o suficiente. Ou, melhor ainda, sentir-se culpado por fazer Draco ser ferido, para começo de conversa".


Draco sorriu cinicamente. "Ele também pode dizer que vai entregar os negócios da família para mim e se dedicar à criação de Hinkypunks¹, mas eu não estou contando com isso, Pansy."


"Você vai encontrar seu pai?" Ron perguntou, cético. "Depois que ele te deserdou em público daquele jeito?"


"O que você faria, Weasley?", Draco perguntou.


"Eu não voltaria para ele, isso com certeza. Se meus pais fizessem algo desse gênero comigo, eu… eu-"


"Você o quê? Correria para um das suas dúzias de irmãos?", ele riu com maldade. "Ou um das suas centenas de parentes sardentos, ou alguém bonzinho amigo de Dumbledore? Eu não tenho nenhum outro lugar para ir", ele disse amargamente. "Nenhum parente me aceitaria, e os amigos da minha família vão fazer o que meu pai mandar".


"Então fique sozinho", Hermione disse bruscamente. "Livre-se da sua família".


"Para fazer o quê, exatamente? Tirando a questão da magia de sangue, eu não tenho um sicle no meu nome. Eu nem tenho mais um nome".


"Por quê, o que seu pai pode fazer se você usar o nome da sua família?", Harry disse com raiva. "Te deserdar de novo?"


Draco rodou os olhos em irritação enquanto Zabini e Pansy assumiram expressões de impaciência.


"Ele não precisaria fazer isso", Ron respondeu. "É o que acontece quando um bruxo é totalmente deserdado. Ele não tem mais um sobrenome". Hermione e Harry o encararam, sem entender. "Podem ver. Tentem chamá-lo de qualquer coisa além de Draco; não dá".


Hermione moveu os lábios por um momento e pareceu horrorizada.


"Seu pai é doente, Draco", Ron disse.


"Pela primeira vez, eu não vou discutir".


"Ele não vai te perdoar".


"Você é especialista no meu pai, então?" Draco disse friamente.


"Ele não precisa ser", Zabini respondeu. "Eu te disse que isso aconteceria. Eu te disse-"


"Sim, obrigado, você me disse. Você pode ir embora agora. Você também disse que não ficaria do meu lado se meu pai descobrisse. Bem, ele descobriu, então caia fora".


"Oh, não se preocupe, eu vou-"


"Blaise, cale a boca", Pansy interrompeu. "A última coisa que ele precisa é da sua preocupação, por mais idiota que ele seja". Ela se virou para Draco. "Você acha que sua mãe vai te deserdar também?"


Draco deu de ombros. "Eu não tenho idéia. Ela… eu não sei. Ela não gosta de desafiar meu pai".


"Bem, talvez ela pelo menos te dê sua parte da herança dos Black e te deixe usar o sobrenome dela".


"E, se ela não fizer isso, por que você não usa o nome e a herança do Potter?", Zabini zombou. "Ele não parece estar fazendo nada de útil com eles".


Draco abriu a boca para dar uma resposta ácida, mas olhou para Hermione quando ela soltou uma exclamação e mordeu o lábio. Ele franziu as sobrancelhas de leve e de repente um sorriso surgiu no seu rosto. Hermione emitiu um som abafado, cobrindo a boca, e de repente Draco começou a rir, e Hermione o imitou.


"O que foi?", Pansy perguntou, aborrecida.


"Draco Potter?" Draco disse, e então Harry começou a rir também, não entendendo direito o que tinha de tão engraçado naquilo, além do fato de a cena de Draco e Hermione rindo juntos ser ridícula demais para ser definida.


"Por deus, imagine a cara do seu pai-" Pansy começou, irrompendo em risadas, e o resto do grupo começou a rir também.


Pomfrey espiou o canto em que eles estavam, surpresa ao ver que todos se dobravam de rir, mas logo voltou para seu escritório.


"E que questão é essa da magia de sangue?", Harry perguntou, curioso, depois que eles se acalmaram, esperando não estar demonstrando mais uma vez extrema ignorância das tradições bruxas.


"Você provavelmente não teria como saber disso, mas, no mundo bruxo, ficar sem uma família pode ser um problema sério", Pansy disse, num tom bem menos condescendente do que poderia ter usado. "Sem um nome ou uma família por trás de você, há certos tipos de magia que não funcionam, algumas proteções que desaparecem. Pertencer ao tipo certo de família não é só uma questão de orgulho. Significa deter um tipo de laço familiar, por sangue ou casamento, com alguém. Qualquer um. Se tanto o pai quanto a mãe de Draco o rejeitarem e repudiarem seus laços de sangue, isso o tornará vulnerável a todos os tipos de pessoas, a todos os tipos de Artes das Trevas".


Harry pensou na proteção que ele tivera por meio da irmã da sua mãe durante a infância e concordou com a cabeça em compreensão. Fazia sentido, que parentes pudessem oferecer proteção em outros casos além do seu.


"E, francamente", Draco disse, "Eu não curto a idéia de encarar Nott, Queenie e suas famílias — e quem quer que tenha ajudado a lançar o feitiço em nós — sozinho. Andar por aí com um alvo nas minhas costas para sempre não me parece uma idéia muito atraente".


"Sério, mesmo Draco Potter é melhor do que Draco Nada", Zabini comentou. "Sem querer ofender, Potter."


Harry franziu a testa, pensativo. "Sabe, essa não é uma solução ruim", ele disse, devagar.


"O quê?"


"Eu caso com você de novo, se isso te deixar a salvo. A gente sempre pode dissolver o elo depois".


Os outros o encararam, e Draco fez uma careta. "Oh, é assim que grifinórios fazem pedidos de casamento? Estou nas nuvens, Harry, como se eu não sentisse mais os meus pés".


"Não, quem fez isso foi o Goyle", Zabini disse secamente. "E não recuse tão rápido".


"Como?"


"Seu pai vai te matar. Ou pior. Draco, você escolheu Potter e não ele".


"Não é, não".


"Seu pai pensa assim. Você acha que, se for encontrar com ele, ele vai te aceitar de volta fácil desse jeito?", ele encarou Draco. "Você sabe que ele está às boas com o Lorde das Trevas de novo. Você sabe disso. Se você voltar para a Mansão, seu pai vai te entregar para o Lorde das Trevas. E deus te ajude depois disso".


Hermione ficou pálida. "Isso é-"


"Isso é a vida", Zabini disse rudemente. "Laços de família não são sempre tão fortes quanto nós gostamos de acreditar. Pessoas que se amam traem ou matam umas às outras o tempo todo, Draco. Seu pai com certeza não escolheria a primeira opção. É melhor você pensar nisso antes de voltar rastejando para ele. Pense se você vai rastejar para a humilhação ou para a morte".


"Ele nunca-"


"Ele deu sua palavra de bruxo que qualquer um que quisesse te punir poderia fazê-lo sem sofrer conseqüências" Zabini disse, exasperado. "Nott, ou Queenie, ou Edgars ou Archer ou todos eles juntos poderiam ter literalmente te matado, e seu pai estaria preso por um voto de palavra a não fazer nada a respeito. Você realmente acha que ele hesitaria em te entregar ao Lorde das Trevas?"


Draco engoliu com dificuldade.


"Draco, ele não queria nem fazer parte do feitiço do círculo para salvar sua vida", Zabini disse gentilmente, sentando na cama. "Weasley quase estourou uma veia tentando trazê-lo para o círculo".


Draco desviou o olhar, sua mão apertando a de Harry com força. Ele respirou fundo. "Ele se juntou ao círculo, eventualmente".


"Até quando você vai inventar desculpas para ele? Ele é perigoso, violento-"


Draco ergueu a cabeça e encarou Zabini. "Ele nunca-"


"Nunca encostou a mão em você, sim, nós sabemos. Ele nunca precisou fazer isso; Lucius sempre conseguiu te causar bastante mal sem nem levantar um dedo. Você sempre morreu de medo do seu pai, e com bons motivos. Ele é um desequilibrado mental, seu idiota. Desafiá-lo por uma boa transa foi tão inteligente quanto insultar um hipogrifo porque você estava entediado".


"E sua mãe é um ícone de sanidade, não?", Draco disse maldosamente.


"Minha mãe tem uns parafusos a menos também, mas, ao contrário de você, eu não sou tolo o suficiente para me esquecer disso". Zabini balançou a cabeça em desgosto. "Se você quer minha opinião, voltar para o seu pai seria muito mais idiota do que aceitar a mão de Potter em casamento". Ele levantou. "De qualquer forma, eu não vou impedir você. Você fez sua cama de hospital. Deite nela". Ele caminhou para fora da enfermaria.


Ron e Hermione o acompanharam com o olhar, boquiabertos.


"Fechem as bocas", Pansy disse friamente.


"Foi isso que você quis dizer?" Hermione disse, abalada. "Quando você estava me dando um sermão sobre os sonserinos e a lealda-"


Pansy se virou para ela, furiosa. "Cale a boca! Sua vadia hipócrita de sangue-ruim!" Ron abriu a boca para responder, mas Pansy lançou aos dois um olhar ameaçador e continuou. "A mãe do Blaise provavelmente já matou mais bruxos do que toda a Inquisição junta. E mesmo assim ele ajudou com o Goyle, prometeu não contar para ninguém que tudo foi armado e depois veio para cá — você tem idéia do que a mãe dele faria se soubesse que ele estava se associando com Draco por um minuto que fosse depois que ele caiu em desgraça? Não, você não tem. Você não se dá o trabalho de pensar. É muito mais fácil só ficar sentada aí e se sentir superior a ele".


Hermione piscou repetidas vezes, envergonhada. Houve um longo silêncio.


"Eu… me desculpe", Hermione disse, por fim. "Eu não sabia". Pansy lhe lançou um olhar surpreso, e a grifinória limpou a garganta. "Mas e você? Sua família não vai se importar por você ainda estar aqui?"


Pansy deu de ombros. "Minha família provavelmente vai ficar furiosa comigo. Mas, como meu pai é um pai de verdade, e não um lunático desequilibrado — e Draco, por favor, se você for defender seu pai de novo, o faça em um lugar em que eu não tenha que vomitar meu almoço em cima de você, isso, bom garoto — isso significa que eu não devo ter muitas esperanças de ganhar um presente de aniversário no mês que vem. Eu sobrevivo".


Draco lhe lançou um pequeno sorriso. "Meu pai sempre disse que seu pai pegava leve demais com você".


"Vindo dele, isso é um elogio. Mesmo assim, é melhor eu não provocar meu pai demais, então estou indo". Ela se inclinou e afastou o cabelo de Draco da testa. "Olhe, meu amor, você foi um completo idiota e, se não fosse pelo fato de você ser tão alto, eu mesma te daria uma surra e pouparia Goyle da dor no coração. Mas você já passou por coisas demais, então eu vou te deixar em paz com seus… amigos, para você decidir o que vai fazer. Pense com cuidado. Eu ainda acho que você deveria dar uma chance para o seu pai, mas Blaise pode ter razão. E eu vou ficar arrasada se ele estiver certo".


Ela lhe deu um beijo na testa, com cuidado para não encostar em nenhum machucado, e se afastou da cama. Virou-se para ir embora e então, no último momento, caminhou um passo para trás, ficou de frente para a cadeira de Harry e lhe deu um tapa forte no rosto.


"Se eu fosse um pouquinho mais alta, você estaria como ele agora", ela murmurou venenosamente, seu rosto furioso a poucos centímetros do de Harry. "Você não tinha nada a perder. Se você se importasse minimamente com ele, teria pensado nas conseqüências, ao invés de seguir as vontades do seu pau". Ela se endireitou e saiu da enfermaria.


Hermione e Ron a observaram ir, e Harry acariciou a bochecha com uma mão, o rosto queimando.


"Vadia", Ron murmurou.


Hermione balançou a cabeça. "Ron. Ela está certa".


"O quê?", Ron a encarou.


"Harry deveria ter pensado melhor. Desculpe, mas ela está certa, Harry. Você deveria mesmo". Harry desviou o olhar do dela tristemente, e Draco apertou sua mão.


"Vamos lá, Harry", Ron protestou, "ele sabia o que ele estava fazendo, você não pode se culpar por-"


"Ron, não agora, está bem?", Harry o interrompeu, incapaz de encarar qualquer um deles. "Por que… por que vocês não vão embora, eu quero ficar aqui um pouco mais".


Eles saíram, e houve uma longa pausa antes que Harry dissesse, envergonhado, "Ela está certa".


"O Weasley também", Draco disse baixinho. "Eu sabia o que estava arriscando".


"Merda, me desculpe. Por deus, eu… me desculpe", Harry repetiu tristemente. O que mais ele poderia dizer? Me desculpe por ter te colocado em perigo. Me desculpe por ter arruinado sua vida. Me desculpe por ser tão egoísta e seguir demais o meu pau para pensar na sua segurança e bem-estar por sequer um momento.


"Você… você quer que eu fique aqui?", ele perguntou, hesitante, se obrigando a encarar Draco nos olhos. "Você deveria… quer dizer, você acha que seu pai sabe quando eu estou perto de você ou-"


"Eu não me importo".


"Draco-"


"Eu estou pouco me fudendo para o meu pai nesse exato momento, Harry", Draco disse, cansado. "Eu não quero pensar nele".


"Não pensar nele foi o que te fez acabar aqui", Harry observou.


"Eu não me importo", Draco sussurrou, e Harry sentiu a angústia dele como se fosse uma presença física. Ele sentou por um momento, tentando pensar no que Draco precisava, no que poderia ajudá-lo. Pesou as conseqüências de ficar e provavelmente deixar Lucius com mais raiva ainda, versus ir embora e fazer Draco encarar o que acontecera com ele sozinho. Tentou não pensar no que ele queria, concentrar-se apenas no que seria melhor para Draco.


"Aqui, vai para o lado", ele disse, por fim, e Draco se moveu para na cama. Harry se acomodou, e os dois se remexeram um pouco até que acabaram deitando lado a lado, encarando um ao outro, como tinham feito tantas vezes desde o fim de setembro.


Harry respirou fundo, segurando a mão de Draco de novo. "Se você for e ele te perdoar, nós não poderemos mais ficar juntos. Você sabe disso, certo?"


"Harry, por favor. Eu vou para casa no domingo. Ainda tenho bastante tempo para pensar o que tudo isso significa e o que vou dizer, e prefiro não fazer isso agora".


"Você vai ficar no hospital até ir, então?"


"Sim. Pomfrey disse que eu não deveria sair daqui. Que eu tinha algum tipo de ferimento interno-"


"Oh, meu deus- você disse-"


"-e ela é uma mentirosa patética, mas eu fico feliz por isso se me mantiver fora da Sonserina". Draco sorriu. "Não fique assim. Eu não me sinto muito bem agora, mas Blaise lançou um ótimo feitiço para bloquear a dor antes de Goyle começar. Eu não senti muita coisa enquanto ele estava chutando até minha alma".


Harry engoliu com dificuldade, fechando os olhos. Draco se mexeu e o puxou para perto, acenando para Harry apoiar a cabeça no seu ombro não-machucado. Harry refletiu, com tristeza, que ele não estava ajudando muito, que era para ele estar confortando Draco, mas Draco que o confortava.


Eles deitaram em silêncio por alguns momentos, Draco correndo a mão pelos cabelos de Harry distraidamente.


"Por que você cortou o cabelo?", Draco perguntou, curioso, depois de alguns minutos.


Harry sorriu. "Só fazendo minha parte para cumprir com as tradições bruxas".


"Você deveria ter deixado comprido. Ficava melhor em você".


"Não sou mais casado, lembra?"


"Nem todas as tradições bruxas merecem ser seguidas", Draco disse suavemente.


"É melhor você não dizer isso para o seu pai"


"É capaz de eu dizer", Draco falou. "Não vai fazer diferença alguma".


Houve uma longa pausa. "Draco… não vá", Harry disse baixinho.


Draco respirou fundo e balançou a cabeça. "Eu tenho que ir. Eu preciso pelo menos me despedir da minha mãe".


"Mas-"


"Harry, eu tenho que ir. Não- não vamos mais falar sobre isso".


ooooooo


Dia 154, Segunda (madrugada)


Ron despertou de repente, tentando identificar por que tinha acordado.


Barulhos. Alguém estava vomitando no banheiro.


Ele olhou para a cama de Harry. Vazia. "Harry?"


Nenhuma resposta, só mais barulhos. Ron levantou e caminhou até o banheiro. "Harry? Você está bem?"


"Sim", Harry saiu de um cubículo, parecendo trêmulo e limpando os lábios com as costas da mão.


"Não, você não está. Eu te disse que era whiskey de fogo demais".


"Sim, obrigado, Ron". Harry foi para a pia e enxaguou a boca com uma careta.


Ron franziu a testa diante do seu abatimento. Harry estava meio mal desde que Draco fora para a Mansão Malfoy, e Seamus sugeriu uma solução com sua marca registrada e desafiou Harry para uma competição de bebida para ele afogar as preocupações. Sem ter tanta experiência com whiskey de fogo quanto Seamus, Harry estava sofrendo as conseqüências agora. "Eu acho que Seamus tem um pouco da poção de ressaca feita por Bulstrode na-"


"Não acho que conseguiria beber mais nada agora-", Harry de repente desapareceu no cubículo e Ron o ouviu vomitar de novo.


"Melhor fora do que dentro", Ron disse quando Harry voltou.


"Acho que não tem mais nada para sair", Harry disse fracamente, esfregando a testa.


"Dor de cabeça também?", Ron disse, solidário. Harry concordou com um aceno.


"Quando você acordou?"


"Faz uma meia hora".


"Você acordou passando mal?"


"Pesadelo"


"Com o quê?"


Harry deu de ombros.


"Você está preocupado com o Draco, não está?" Ron disse, seriamente assustado por não conseguir sequer pensar no sobrenome de Draco, muito menos dizê-lo.


"Sim".


"Sabe, Parkinson não pareceu achar que ele corria tanto perigo. E ela conhece o pai dele melhor do que Zabini".


"Eu sei. É só que… o Zabini está certo, o pai do Draco é desequilibrado".


Ron olhou para Harry de mais perto. "Você não está pensando ainda no que Parkinson disse, está?"


"Ela estava certa".


"Não estava, não. Ele é adulto, sabia o que estava arriscando".


"Mas eu o convenci. Ele estava… ele estava hesitante, e eu meio que… o convenci. Eu deveria ter me afastado".


"Ele não é nenhuma donzela honrada que você seduziu, Harry", Ron disse firmemente. "Foi escolha dele".


"Não foi justo. Eu sabia como ele estava se sentindo e usei isso contra ele, não deveria ter agido assim".


"Bem, já está feito agora. E, quem sabe, tudo pode acabar bem no final. Se o pai dele não perdoá-lo… bem, você não vai ter mais que se preocupar por ele estar no lado errado da guerra".


"Ele não quer mudar de lado, Ron."


"Você tem certeza?"


"Sim".


"E, mesmo assim, você quer ficar com ele?", Ron perguntou ceticamente.


"Ele só tem crenças diferentes. Elas são horríveis, mas não são contra a lei".


"É melhor você não deixar Hermione te ouvir dizer isso".


Harry gemeu. "Eu sei. É horrível, o que ele pensa de trouxas e de bruxos nascidos trouxas. Me deixa louco. Tirando o fato de que uma das minhas melhores amigas é trouxa — minha mãe era trouxa, e o lunático que ele quer seguir a matou, mas, mesmo assim…" Ele apertou os lábios e respirou fundo. "Outra coisa é que, ele é inteligente. Parte de mim simplesmente não consegue aceitar que ele acredita de verdade nessas besteiras".


"Mas, mesmo assim, você…"


"Eu sei. É que… depois de ver como Lucius Malfoy é, dá para culpá-lo por não querer nem pensar diferente do que o pai dele quer que ele pense? Lucius o deserdou por ficar com a pessoa errada. O que ele faria se Draco acreditasse nas coisas erradas?"


Ron concordou com a cabeça, e então o observou, preocupado. "Você está com uma aparência péssima".


"Sim", Harry esfregou o rosto com as mãos. "Eu ainda me sinto péssimo".


"Aqui, vamos pegar a poção com Seamus. Eu acho que eu ainda tenho um pouco daquela poção para dormir que a Hermione fez. Você não vai ajudá-lo em nada ficando acordado a noite inteira se preocupando. É melhor tentar dormir".


ooooooo


Dia 154, Segunda (noite)


Harry levantou o olhar do seu jantar quando a porta abriu e o barulho no Grande Salão diminuiu, e então aumentou progressivamente quando Draco entrou em silêncio. Ele caminhou até a mesa da Sonserina sem cerimônia, e sem olhar para ninguém, mas não como se estivesse nervoso, envergonhado ou qualquer outra coisa além de pensativo e um pouco cansado. Um murmurinho começou na mesa da Corvinal e se espalhou por todo o salão: Draco Malfoy estava usando o anel com o brasão da família de novo. E então se percebeu: Draco Malfoy poderia ser chamado dessa forma novamente.


Ele havia sido perdoado.


Harry cobriu a boca com a mão, honestamente sem saber como deveria se sentir a respeito. Aliviado, com certeza. As palavras de Zabini tinham deixado-no apavorado, e uma grande parte de si tinha se questionado, no horror da noite anterior, se ele voltaria a ver Draco. Já tendo presenciado a fúria de Lucius Malfoy ao vivo e a cores…


Mas ele tinha sido perdoado. O que isso significava?


Harry percebeu que estava com os olhos fixos em Draco, mas isso não importava, porque todo mundo estava encarando o loiro, centenas de olhos colados no garoto pálido que acabara de se acomodar na mesa da Sonserina e pegava um garfo, acenando brevemente com a cabeça para seus colegas de casa. Pansy se virou para Draco e o abraçou, e ele correspondeu brevemente. Ela lhe perguntou algo, e ele balançou a cabeça, fazendo um sinal de ‘mais tarde’.


Ele levantou o rosto e encarou Harry, e o grifinório se sentiu paralisado. Ele não tinha idéia do que esperar. Distância? Arrependimento? Frieza? Com certeza, não o que aconteceu, que foi um breve aceno e um balbucio de "Depois do jantar?". Ele concordou com a cabeça, meio surpreso, e mais um murmurinho se espalhou pelo salão.


Draco tinha acabado de passar por sabe-se lá deus o que por estar com Harry. E agora ele estava deixando-o saber que eles se encontrariam mais tarde? No meio do jantar no Grande Salão?


Harry voltou para a sua refeição, completamente atordoado.


ooooooo


Harry levantou o olhar quando a porta do dormitório deles se abriu, e Draco entrou, parecendo aliviado por ver que o grifinório já estava lá. Não menos aliviado do que Harry, que não tinha certeza de onde Draco queria se encontrar, mas imaginou que não seria em nenhum lugar público. Aparentemente, ele tinha acertado em cheio.


Ele começou a levantar, apenas para que Draco acenasse para que voltasse a sentar. O sonserino se acomodou ao seu lado, apoiando a cabeça no braço do sofá.


"Erm… alguém te viu entrar?" Harry perguntou, nervoso. "Porque eu, er, me certifiquei de que ninguém me viu, mas-"


Draco acenou impacientemente para ele ficar quieto.


"Como… como você está?", Harry perguntou com cautela.


Draco deu de ombros.


"Eu suponho que seu pai te aceitou de volta".


Draco concordou com a cabeça.


"Foi tudo um blefe, então?". Draco negou com a cabeça, e Harry franziu a testa. "Você não pode falar nada?", ele perguntou, um pouco impaciente.


Draco virou a cabeça e olhou Harry nos olhos, algo indefinido refletindo no seu olhar. Ele deu um pequeno sorriso para o grifinório e limpou a garganta. "Não… não muito", ele disse, sua voz baixa, quase um sussurro.


"O que… o que aconteceu?"


"Ele… eu tive que me provar", ele disse suavemente, sua voz rouca, e Harry teve que se aproximar para poder ouvi-lo. "Mostrar que eu estava disposto a me sacrificar para a nossa família. Disposto a suportar dor".


"O que ele fez?", Harry perguntou, meio afobado, seu estômago revirando.


"Bem… você sabe como o Lorde das Trevas faz as pessoas mostrarem sua lealdade. É… doloroso. Bastante."


O coração de Harry parou. "Você não está… com a Marca", ele disse em um sussurro horrorizado.


Draco rodou os olhos. "Não seja idiota. A Marca é uma honra, não uma punição. O Lorde das Trevas não daria essa honra a alguém que está dormindo com seu inimigo, daria?"


"Então o que…"


Draco hesitou por um momento, e então afrouxou a gravata e desabotoou os primeiros botões da camisa, abrindo-a um pouco.


Harry prendeu a respiração. Lá, debaixo da clavícula direita de Draco, estava um brasão estilizado da família Malfoy em tinta preta, a pele ao redor com uma vermelhidão notável.


"Por deus. Meu deus, Draco. Seu pai fez isso com você?"


"É como a Marca Negra, mas conectada com meu pai ao invés de com o Lorde das Trevas. Ela vai me convocar para o lado dele quando ele quiser, e dói para caramba se eu ignorar".


Harry não conseguia falar. Ele estendeu a mão e tocou a pele ao redor da marca com cuidado. Draco prendeu a respiração, mas se manteve imóvel. "Ele a colocou do mesmo jeito que Voldemort faz, não é?", Harry percebeu tarde demais que tinha dito o nome de Voldemort e começou a pedir desculpas, mas Draco apenas fez que sim com a cabeça.


Harry estremeceu, lembrando-se dos gritos agonizados de Lucius e Snape nas memórias deles no feitiço do círculo. E Lucius fizera a mesma coisa com seu próprio filho…


"Está tudo bem", Draco disse. "Eu me safei com pouco, considerando a história toda".


"Como ele pôde te forçar a-"


Draco balançou a cabeça. "Uma marca nunca é feita involuntariamente. Eu escolhi isso".


"Mas você não sabia o que estava escolhendo, não sabia como seria doloroso-"


"Não antes que ele começasse. Mas o motivo para que a Marca Negra demonstre lealdade é que… bem, todo mundo grita, mas meu pai disse que eu comecei a gritar antes da maioria. Mas o Lorde das Trevas sempre pára no meio do processo e o teste da sua lealdade é se você escolhe continuar ou não". Ele limpou a garanta. "Eu escolhi que sim".


Harry prendeu a respiração. "Como você pôde-"


"Eu não tinha muitas alternativas", Draco disse de modo brusco, e Harry franziu a testa. Ele deveria ter gritado até ficar rouco, e, mesmo assim, quando teve a chance, ele escolheu sentir mais dor do que permanecer excluído da família.


Ele afastou aqueles pensamentos. O que estava feito, estava feito. O grifinório respirou fundo. "Você não está… quer dizer, você não está com medo de ser visto comigo, porque e se-"


Draco deu uma risada fraca e balançou a cabeça. "Eu provavelmente poderia transar com você no campo de Quadribol e duvido que ele faria algo. Eu mostrei onde minha lealdade está. E, se eu estiver errado…", ele deu de ombros. "Não me importo muito".


"Mas-"


"Sério, eu não estou nem aí. Sim, eu sei, todo mundo me viu te dizendo para a gente se encontrar mais tarde. No que interessa a eles, o encontro pode ser sobre nossa lição de casa. É isso que eu vou dizer para quem perguntar, pelo menos", ele disse, despreocupado, e voltou a apoiar a cabeça contra o sofá.


Harry levantou as sobrancelhas. Aquilo não era típico do Draco, não mesmo. Draco nunca fora tão descuidado. "A… a marca ainda dói?", ele perguntou, sem saber o que dizer.


Draco deu de ombros. "Não muito", ele disse, e Harry hesitantemente segurou sua mão, lembrando de como Draco tinha aceitado o carinho na enfermaria depois que Goyle lhe fizera parar lá. Ele ficou surpreso quando Draco não apenas permitiu o toque, como também o puxou para mais perto e o beijou.


"Draco-", Harry o interrompeu, "você tem-"


"Cale a boca", Draco disse de modo brusco, beijando-o de novo, e Harry o imitou por alguns momentos. E gentilmente se afastou depois que tocou sem querer na marca e Draco grunhiu de dor.


"Não. É melhor não, eu não acho que você esteja em condições de- aqui", Harry disse, meio sem jeito, gentilmente fazendo Draco se virar até que estivesse aninhado contra o peito do grifinório, sentindo seus braços ao redor dele. "Apenas… descanse. Está bem? Só… só descanse".


E Draco, depois de um momento de surpresa, suspirou, relaxou contra ele e fechou os olhos.


ooooooo


Dia 160, Domingo


Draco encarou a parede, a face sem expressão, enquanto Harry se mexeu um pouco, soltado sua cintura rapidamente antes de se acomodar atrás dele, o trazendo para perto enquanto se deitavam juntos. Fechou os olhos, desejando que seus pensamentos se acalmassem e se concentrassem apenas naquilo.


Aquele tipo de coisa estava acontecendo bastante nos últimos tempos. Desde que o dia em que ele voltou e acabou simplesmente ficando abraçado com Harry por uma hora, o silêncio funcionando como um bálsamo para acalmar suas emoções feridas e destroçadas, eles tinham criado o hábito de, quando podiam, transar e depois ficarem abraçados por bastante tempo.


Por algum motivo, naquele dia não estava sendo tão tranqüilizante. Provavelmente porque pensamentos aleatórios e nada bem-vindos acabavam invadindo a paz do abraço deles.


Pensamentos de como ele era louco por estar fazendo aquilo.


Pensamentos de como Pansy e Granger e Weasley estavam prestes a se desintegrarem por causa da crise de nervos, e Harry não estava muito atrás, porque diversas vezes naquela semana desde que o sonserino voltara eles quase foram pegos. McGonagall quase os tinha pegado em flagrante em uma sala de aula — o que, se tivesse acontecido, teria feito Draco desistir de sexo pelo resto da vida. Harry quase tinha ido para o Grande Salão com um chupão bastante perceptível no pescoço, que Granger tinha feito desaparecer no último momento. E só o pensamento muito rápido de Ginny Weasley impediu que o time inteiro de Quadribol da Corvinal os visse no depósito de Quadribol.


Pensamentos de como ele não se importava.


Pensamentos de como ele tinha gritado, de como desejara morrer enquanto seu pai, perfeitamente calmo, queimava a marca nele.


De como ele tinha aberto os olhos em um momento e notado arrependimento sincero nos olhos de seu pai por meio segundo, mas mesmo isso não o tinha feito parar, e Draco não sabia se aquilo era melhor ou pior do que achar que seu pai não tinha sentido nada.


Seu pai tinha dito depois de tudo que aquilo era para seu próprio bem. Entregara sua varinha de volta e o anel com o símbolo da família, dizendo que o sofrimento ajudava a construir o caráter, antes de dispensá-lo categoricamente e deixá-lo ir para o seu quarto, onde ele vomitou e passou mal e ficou deitado em posição fetal, chorando até não conseguir sentir mais nada.


Ele fechou os olhos e tentou pensar apenas no calor do corpo de Harry contra as suas costas, nos seus braços ao redor dele.


E tentou não pensar em como ele tinha se sentido envergonhado ao ser obrigado a sentar em silêncio, por uma hora e meia, no escritório de seu pai, ouvindo-o ditar e escrever cartas antes de repentinamente dizer "Venha aqui", e começar a punição de Draco. Dizendo para ele, com todos os detalhes, por que ele era uma decepção tão grande — nunca bom o suficiente, nunca esperto o suficiente, deixando Granger ser melhor do ele nas notas, deixando Potter ser melhor do que ele em Quadribol, deixando Goyle espancá-lo. Ele não era bom um suficiente para ser um Malfoy. Não era bom o suficiente para ser filho de Lucius. Uma decepção, sua vida inteira.


Negócios como sempre, em outras palavras. Nada de novo, ele ouvia aquele tipo de coisa desde que podia se lembrar.


Mas era meio diferente, ouvir aquilo do outro lado da Grande Ameaça de Ser Deserdado. Onde antes ele freqüentemente alternava entre aterrorizado, com raiva e às vezes entediado com o mesmo sermão de sempre, agora ele sabia completamente o que aquilo significava.


Harry beijou gentilmente sua nuca.


Significava nenhum nome. Nenhuma família. Significava ser exposto e humilhado na frente a escola inteira. Significava ser grato a Greg Goyle por mandá-lo para o hospital. Significava medo por sua própria segurança, e desespero, e não saber se ele um dia veria seu quarto de novo, o jardim da Mansão Malfoy, o lago onde ele brincava quando era criança. Significava saber que ele nunca pertenceria ao hall dos ancestrais da família. Que nunca falaria de novo com aquela tia-tataravó com o lenço verde no cabelo que tinha sido uma famosa parteira-bruxa durante o Renascimento, ou o garoto que tinha ido para Durmstrang no último século, ou Phineas Black.


Significava saber que mesmo Ronald Weasley tinha mais dinheiro do que ele. Saber que ele não tinha absolutamente nada.


Significava ouvir às mesmas palavras de sempre com um medo renovado, ouvindo enquanto tentava não se desesperar, e mesmo assim curiosamente sem reação.


Ele suspirou quando os dedos de Harry acariciaram preguiçosamente seu peito nu.


Significava dizer sim, sem hesitar, quando seu pai perguntou se ele estava disposto a ser punido para retornar à família. Dizer sim, aliviado, sem se importar com qual seria a punição, desde que tivesse uma chance de pertencer àquilo de novo.


Significava dizer sim, novamente sem hesitar, quando seu pai tinha explicado a punição, dizer sim de novo, mesmo com os ecos dos gritos de dor na memória do seu pai.


Ele colocou a mão sobre a de Harry quando ela foi mais para baixo, na direção da sua barriga.


Significava gritar até ficar sem voz, e então ser libertado da dor, olhar para baixo e perceber que a marca estava incompleta, e sussurrar que sim novamente. Porque a outra opção era ainda mais aterrorizante do que qualquer dor.


Significava, na semana que se seguiu, sentir que ele não se importaria se tivesse que fazer tudo de novo.


Draco sorriu quando a mão de Harry foi mais para baixo e ele sentiu aquela súbita mudança neles dois, de abraço inocente ao começo da excitação.


Significava que ele não se importava, mesmo que Pansy tivesse chorado quando Draco contou o que seu pai tinha feito, ainda que ele não tivesse mostrado a marca para ela. Ele nunca mostraria para ninguém além de Harry. Que merecia saber, para o bem e para o mal.


Ele inclinou a cabeça para trás, dando aos lábios de Harry acesso ao seu pescoço.


Significava Blaise ainda não olhando para ele. Crabbe e Goyle não falando com ele. Em toda a Sonserina, ninguém além de Pansy dizia uma palavra para ele, desde que tinha retornado. Nenhum deles sabia como se comportar com ele; um Malfoy de novo, mas um Malfoy ainda em profunda desgraça. Ele era uma não-entidade, e estava contente com isso, passando a maior parte do tempo no seu quarto, na biblioteca ou com Harry.


Com Harry, que estava tão gentilmente o estimulando enquanto seus lábios continuavam a acariciar seu pescoço, seu lóbulo da orelha.


Com as preocupações de Harry, seus protestos inúteis.


Com a respiração quente do Harry contra a sua, suas mãos o acariciando, o corpo duro e quente contra o seu em salas de aulas vazias, áreas de depósito, a Sala Precisa e, ocasionalmente, no antigo dormitório deles — como naquele momento.


Com mesmo Sir Xander lhe lançando olhares estranhos alguns dias, como naquele mesmo, quando ele chegou no dormitório sem se preocupar em usar feitiços mais elaborados para disfarçar seus passos.


E ele não dava a mínima.


Afinal, o que mais seu pai poderia fazer com ele?


Não era uma boa idéia pensar no seu pai. Uma raiva amarga surgia em seu peito quando ele fazia isso, o distraindo de coisas mais prazerosas, como o que Harry estava fazendo agora, como o que ele sentia quando percebia que Harry estava começando a ficar excitado, algo que estava acontecendo naquele exato momento.


Draco deve ter feito algum tipo de barulho ou movimento que mostrou que ele não estava muito interessado em sexo, porque Harry deu um suspiro e suas mãos e lábios mudaram de ação. Ainda gentilmente o acariciando, mas claramente não tentando mais excitá-lo. Draco notou Harry limpar a garganta e se mexer levemente atrás de si, de modo que sua meia-ereção não estivesse mais em contato com o loiro.


E aquela não era a primeira vez que pensamentos sobre seu pai tinham sabotado completamente outras idéias mais prazerosas. Fossem esses pensamentos de raiva, ódio ou, ocasionalmente, pena. Pena, porque Lucius tinha, em sua raiva, exagerado, e Draco tinha certeza que ele se arrependia de parte do que tinha feito.


Não a parte de marcá-lo como um gado de uma maneira que lhe dava pesadelos que seus colegas de dormitório fingiam não escutar. Mas a parte de deserdá-lo tão publicamente daquele jeito — manchete do Profeta, de novo, como se eles não tivessem nada mais para escreve, que patético — porque aquilo tinha tornado públicas algumas coisas que não deveriam ter vindo ao público ainda. Porque nenhum pai faria o que Lucius fez com seu filho por causa de uma mera aventura inapropriada. O mesmo homem que disse calmamente que "respeitava a privacidade do seu filho" tinha se descontrolado completamente no segundo que viu uma foto inocente no Profeta. Ele não poderia ter dado maior sinal de onde estavam suas lealdades políticas.


Coitado do seu pai. Um político perfeito e mestre nos jogos de poder sonserinos, levado a um erro tático por causa da estupidez do seu filho inútil.


Mas Draco tinha uma sensação que o passo em falso do seu pai não tivera grande importância para a articulação dos planos maiores. Podia ter bloqueado o seu acesso a alguns lugares interessantes, mas os planos do Lorde das Trevas pareciam estar progredindo de acordo.


Pansy estava meio quieta esses dias enquanto lia o jornal. Pelo pouco que Draco podia escutar das conversas ao seu redor, Coisas Estavam Acontecendo. Theo Nott andava metido demais para não haver nada acontecendo. O Profeta noticiava o roubo de uma jóia mágica valiosa aqui, uma pessoa importante desaparecida ali, uma sensação tensa de que forças estavam se juntando. Eram registradas aparições de Comensais da Morte em eventos públicos ou em aniversários de datas importantes.


Mas não era tudo maravilhoso, como todos eles pensavam que seria. Não significava que os sonserinos estavam olhando de maneira superior aos outros pobres coitados que estariam se ajoelhando perante eles em poucos meses. Significava silêncios constantes, hesitações, lágrimas… e muito medo e incerteza, nos dois lados.


Honestamente, Draco não se importava muito. As coisas aconteceriam do jeito que deveriam de ser; eles já tinham ficado por cima de tudo antes e caído com tudo, o triunfo se transformando em profundo desespero, e então voltaram a ficar fortes de novo, e não importava. Ele simplesmente faria o que lhe mandassem, como um bom pequeno Malfoy, e não daria atenção aos detalhes. Exatamente como seu pai queria.


Exceto por uma pequena desobediência de ainda estar transando com o garoto que presumidamente poderia arruinar todos os planos deles. Porque Harry pelo menos não o usava como uma tela na qual ele podia queimar suas iniciais. Harry o abraçava e lhe dava um conforto e um afeto que ele nunca tivera antes. Dois garotinhos machucados, Blaise tinha zombado deles, e tudo bem, certo, talvez eles fossem isso mesmo. Agora eles também eram dois garotinhos com cicatrizes, e isso não era legal.


O único problema era o maldito cuidado excessivo de Harry esses dias, e sua irritante gentileza às vezes. Harry olhava para ele e o tratava como se ele fosse frágil, e isso fazia Draco querer estapeá-lo até acabar com a preocupação no seu rosto.


Havia um Profeta na cômoda ao lado da cama, e o grifinório estava calculadamente não olhando para ele, porque Harry estava sendo cuidadoso com os frágeis sentimentos de Draco ultimamente.


E Draco não se importava com isso. "Parece que as coisas estão acontecendo", ele disse desafiadoramente, acenando com a cabeça para o jornal e deitando de costas na cama.


"Eu sei", Harry disse, meio nervoso, depois de uma pausa.


"O que você pensa sobre isso?"


"Eu acho que é horrível".


Draco deu de ombros. "Qualquer coisa é melhor do que ficar esperando algo acontecer".


Harry o encarou, descrente. "Você realmente acha isso?"


"Não me diga que você não está cansado de ter medo. Não vai ser mais fácil, quando tudo isso já tiver acontecido e acabado?"


"Depende de quem ganhar", Harry disse secamente.


Draco deu de ombros de novo.


"Não faz diferença para você?"


"Por que deveria?"


"Eu tenho certeza que seu pai ficaria muito feliz em te ouvir falando isso", Harry disse. "Então, qual é o propósito dessa marca em você?"


"Decoração", Draco retrucou no mesmo instante, com raiva por Harry mencioná-la tão casualmente desse jeito. "É bonita, não é? Eu tenho certeza que logo todos os jovens herdeiros vão querer uma".


"Eu odeio essa marca. E odeio saber que você pode ter uma outra no seu braço algum dia".


Draco deu de ombros mais uma vez. "Não vale a pena se preocupar com isso".


"Você aceitaria a Marca Negra?"


"Você está brincando? É claro que sim", ele disse, e parte do seu cérebro ficou alarmada assim que as palavras saíram da sua boca.


Harry sentou na cama. "Você realmente vai se tornar um Comensal da Morte, se te pedirem?"


"Sim".


"Por deus"


Harry o encarou em silêncio por um momento, e Draco percebeu que ele se sentia um pouco melhor, a indiferença e a vaga raiva diminuindo um pouco.


E então Harry respirou fundo. "Nós não podemos continuar com isso", ele disse, pela décima vez desde que Draco tinha voltado.


"Não, nós não podemos", Draco disse, já entediado com a conversa.


"Olha, seu pai-"


"Vai me matar, sim, eu sei". Ele esfregou os olhos e se espreguiçou. "E eu preciso pensar nisso ou pelo menos ser mais cuidadoso. Eu sei".


"Não, você não sabe", Harry disse bruscamente. "Eu estou pondo um fim nisso. Nós não podemos mais nos ver".


"Você quer terminar?"


"Sim", ele disse, num tom mais firme.


Draco riu. "Que legal. Obrigado, Harry. Eu ganhei uma maldita marca porque nós estávamos transando, então é muito legal saber que eu represento tanto para você que você quer se livrar de mim uma semana depois. Mas, ei, é claro. Quer dizer, o Menino Que Sobreviveu só faz o que ele quer, não é mesmo?"


"Você acha que eu quero isso? Eu estou terminando por causa do seu pai e por você querer seguir Voldemort-"


"Oh, por favor"


"E eu não quero fazer isso. É mais uma coisa na minha vida que foi causada por Voldemort, e eu não quero que seja desse jeito!"


"Coitadinho de você", Draco desdenhou.


Os olhos de Harry assumiram um brilho de raiva. "Quem me criou foi determinado por Voldemort. O que as pessoas achavam de mim quando eu vim para Hogwarts — Voldemort de novo. O maldito Torneio Tribuxo foi por causa dele, assistir Cedric morrer foi culpa dele, meu padrinho ser morto — mesmo a primeira vez que eu fiz sexo e a primeira vez que eu casei aconteceram por causa do maldito Voldemort. E eu consegui algumas coisas boas dessa última vez, mas agora não posso continuar com isso, por causa da merda do Voldemort. Não, eu não me importo que você não quer ouvir esse nome. Eu vivo com o que ele fez comigo todos os dias da minha vida, e eu vou, sim, dizer o nome dele e te deixar desconfortável se eu quiser".


"Se você puder, durante o seu festival de ter pena de si mesmo, tente se lembrar que a primeira vez que eu casei foi por causa de Voldemort também". Os dois se surpreenderam pela maneira tão fácil com que o nome saiu dos lábios de Draco, mas o sonserino não estava com humor para pensar em como aquilo tinha acontecido. "E, se você vai terminar comigo, não me faça vomitar dizendo que está fazendo isso para o meu próprio bem".


Harry piscou repetidas vezes, e então seu rosto assumiu uma expressão de desdém. "Oh, mesmo?" ele riu. "Você acredita no seu pai quando ele te diz que está fazendo algo para o seu próprio bem".


"Que diabos meu pai tem a ver com-"


"Tudo. Eu estou cansado de lidar com seus problemas com ele".


"O quê?"


"Você é impossível. Você não o enxerga do jeito que ele é, e isso está se tornando cansativo, para falar a verdade".


Draco deu um sorriso maldoso. Quanta nobreza. Aquilo havia soado mais como se ele realmente quisesse pressionar a ferida.


"Seu pai é um filho da puta abusivo, tão abusivo quanto os Dursleys, talvez um pouco mais, porque ele ama você. Os Dursleys pelo menos nunca fingiram isso".


"Você está comparando ele com trouxas?"


Harry balançou a cabeça em desprezo e levantou, recolhendo suas roupas e começando a se vestir. "Ele não merece a sua lealdade. Mas você é perturbado demais para perceber isso, e está tão ferrado que nem se importa mais. Vá para casa. Volte a tentar ser tudo o que seu pai quer que você seja, para que ele possa te deserdar alguma outra hora". Ele abotoou as calças. "Oh, e, se alguém perguntar, pode dizer que foi você que terminou. Isso deve amolecer o coração do seu papai", ele disse por cima dos ombros enquanto caminhava até a porta.


Draco o encarou, atônito. Gradualmente ficando com raiva. Ele vestiu suas roupas, a raiva aumentando a cada segundo, até que estava caminhando para as masmorras furioso e morrendo de vontade que alguém lhe desse uma desculpa para ser azarado.


Ainda estava fumegando uma hora mais tarde, quando Pansy apareceu no seu dormitório.


"Você está bem?", ela perguntou com cuidado, ficando de pé ao lado da porta.


"Sim, por quê?", ele perguntou secamente, sem levantar o olhar do seu livro de poções.


Pansy respirou fundo, entrou no dormitório e sentou no pé da sua cama. "Eu trombei com Potter. Ou melhor, ele trombou comigo. Me disse o que tinha acontecido".


"Ah, é?"


"Você está bem?"


"Sim, estou ótimo". Draco sublinhou uma palavra no seu livro. "Não teria dado certo de qualquer jeito, não é mesmo? Pelo menos assim eu não ganho outro Berrador".


Pansy fechou o livro dele, sua expressão cuidadosamente neutra. "E por você tudo bem? Não vai tentar voltar com ele?"


"Por Mordred, não", Draco respondeu com raiva. "Ele pode ir se ferrar, no que depender de mim. Agora, por que você não me deixa trabalhar na minha redação de Poções?"


"Certo", Pansy disse, levantando. Ela balançou a cabeça, o encarando pensativamente. "Bem, eu não posso dizer que sinto muito pelo que aconteceu. Mas me pergunto por que Potter não foi sorteado na Sonserina", ela murmurou quando saiu do dormitório.


ooooooo


Dia 166, Sábado


Ron saiu do depósito de Quadribol e trancou a porta, o último a sair. Estava desanimado com o jogo, apesar do fato de que, como time, eles nunca tinham jogado melhor; os artilheiros tinham acertado os gols da Lufa-Lufa seis vezes, e o próprio Ron só tinha deixado uma entrar, apesar dos aterrorizantes ataques da Lufa-Lufa.


Infelizmente, nada disso fazia diferença quando seu apanhador não pegava o pomo de ouro.


E seria legal se esse tivesse sido o único problema do jogo daquele dia.


"Weasley", uma voz murmurou e ele levantou o olhar, surpreso por ver Malfoy nas sombras, parecendo tanto desconfortável quanto desafiador, o chamando.


"O que você quer?", ele disse, cansado, se aproximando e certificando-se que eles estavam fora do campo de visão da escola. Um pouco intrigado, apesar do seu cansaço, porque desde Malfoy tinha terminado com Harry há uma semana, ele estava agindo como se nenhum deles existisse. Não que isso fosse diferente de como ele estava tratado todo mundo; Malfoy não falava muito com mais ninguém, desde que tinha sido deserdado.


"Por que Harry não jogou hoje?", o sonserino perguntou bruscamente.


Mas que diabos? Ron assoprou os fios cabelos que caíam sobre seus olhos, impaciente. "Ginny estava voando melhor do que ele durante os treinos dessa semana, então ele decidiu dar a vaga para ela".


"Ele está doente?"


"Ele está…" Ron hesitou. "Nós não sabemos. Ele está com problemas para se concentrar. E também não está comendo ou dormindo bem".


"Ele foi ver Pomfrey?"


Ron pensou por um momento, sem saber se Harry iria gostar que ele falasse sobre si com Malfoy. Sem saber se deveria arriscar compartilhar informações privadas com alguém que não deveria confiar ou arriscar alienar outro sonserino que poderia no fundo se mostrar um amigo, como Hermione tinha feito com Parkinson em Outubro. "Ela está um pouco preocupada", ele disse por fim, cuidadoso, "mas ela não sabe o que está errado. Ela diz que pode ser só um resfriado ou algo assim".


"E você não acredita nisso?"


Ron franziu a testa, com um pouco de raiva de Malfoy por colocá-lo naquela situação. Por que diabos ele estava querendo se intrometer nos assuntos de Harry? Ele tinha feito sua escolha, voltado a seu pai, terminado com Harry, ignorado todos eles por uma semana, e agora ele estava… o quê? Curioso sobre Harry? Preocupado com a sua saúde?


Por outro lado, ele também parecia completamente desconfortável naquele momento, como se ele estivesse falando com Ron sem dar ouvidos ao seu lado racional. E, por algum motivo, aquilo quase fazia Ron querer confiar nele. Talvez.


Ele respirou fundo. "Não muito. Eu acho… eu acho que ele foi azarado".


Malfoy o encarou. "Desde quando ele está assim?"


"Por que você se importa?", ele perguntou, curioso.


"Não seja idiota", Malfoy respondeu, e Ron ficou na defensiva. Certo, provavelmente aquela tinha sido uma má idéia.


"Foi muito legal falar com você", ele disse sarcasticamente. "Não vamos mais fazer isso, certo?"


"Weasley-"


Ele começou a se afastar, e Malfoy o segurou pelo ombro. "Que diabos, Malfoy?", ele exclamou, se desvencilhando.


"Por que você está sendo tão idiota?" Malfoy disse, aborrecido.


"Por que você se importa com Harry?", Ron respondeu. "Ele não tem mais nada a ver com você, tem?"


"Eu… não".


"Então".


"Ele não tem mais nada a ver comigo. Mas…", Malfoy se interrompeu, desviando o olhar.


"Olha", Ron começou, meio alterado, "você terminou com ele depois que seu pai te pressionou, e ninguém te culpa por isso, mas você não pode-"


"Espera… o quê?", Malfoy o interrompeu, franzindo a testa. "Foi isso que ele te disse?"


"O quê?"


"Que eu terminei com ele".


Ron fez uma careta. "Erm… você não terminou?"


"Não!" Ron levantou as sobrancelhas. "Por Merlin, Weasley, feche a boca", ele exclamou.


Ron fechou a boca, sua mente trabalhando rápido. Pensando bem, não, Harry não tinha dado muitos detalhes sobre eles terem terminado. Eles só tinham presumido o que aconteceu, e Harry não os corrigiu. "Bem… ele… ele sabia que você terminaria com ele, eventualmente", ele disse, tentando manter um tom firme.


"Sim, é claro", Malfoy riu com maldade. "Do jeito que Harry é tão bom em julgar o caráter alheio e tudo isso".


"Malfoy-"


"Olha, eu só quero saber o que está acontecendo com ele", Malfoy disse, impaciente.


Ron o encarou, sem saber o que dizer. Por fim, ele limpou a garganta, escolhendo as palavras com cuidado. "Por que você se importa, de qualquer forma?", ele perguntou. "Não importa quem terminou com quem, você escolheu o seu lado".


"Ele não é meu inimigo", Malfoy disse baixinho.


"Talvez não", Ron respondeu, pensativo. "Mas… olhe, eu sinto muito, Malfoy, mas o que acontece com Harry não é mais da sua conta. Volte para sua casa".


ooooooo


Dia 169, Terça


"Certo, onde é que ele está?", Malfoy abordou Hermione três dias depois quando ela saía da aula de Aritmancia.


Ela lhe lançou um olhar frio. "Como?"


"Não, Granger, não agora. Onde Harry está? Por que ele não está na aula?"


Hermione abriu a boca para dizer exatamente para que lugar ela achava que Malfoy deveria ir, mas então se interrompeu. Ron tinha lhe contado sobre sua conversa com Malfoy outro dia, incluindo o estranho fato de que aparentemente Harry que havia terminado, e não Malfoy. E o fato de que Malfoy parecia preocupado de verdade com Harry, genuinamente perturbado por pensar que ele podia ter algo sério.


Ela estudou Malfoy, notando como sua postura e sua expressão estavam tensas. "Ele está… na enfermaria", ela contou por fim, notando como ele ao mesmo tempo pareceu relaxar pelo fato de ela concordar em falar com ele e ficar ainda mais tenso com a notícia.


"Por quê? O que há de errado com ele?"


"O mesmo que ele tem há semanas. Ele está com enjôo, dor de cabeça, não consegue se concentrar — tudo que ele vem sentido desde janeiro, mais ou menos, só que dessa vez não está melhorando".


"Desde janeiro?", Malfoy pareceu confuso.


"Vai e volta. Você não percebeu?"


"Ele sempre parecia estar bem. Até a semana passada, mais ou menos".


Hermione manteve o rosto sem expressão, mas intimamente se repreendeu por não ter percebido que Malfoy estava aparentemente prestando atenção em Harry na semana anterior, mesmo que ele agisse como se o lado grifinório da escola não existisse. Sonserinos, ela pensou, impaciente. "Bem, ele não está. E já faz algum tempo. Ele ficou bem por algumas semanas, mas então voltou a piorar. Semana passada foi bem ruim. Pomfrey não sabe o que fazer. Ela tentou todos os feitiços de animar, para se manter atento, de concentração, tudo isso, e nada funcionou. Ele continua ficando cada vez mais irritado e nauseado".


"Como quando a gente estava com aquela azaração de desequilíbrio-"


"Não, ela procurou por isso. E Harry disse que quando vocês dois — quando, er, vocês faziam sexo, ele não se sentia cansado daquele jeito".


"Não, era igual. Ele estava bem. Ele ficou bem quando estava com outra pessoa?"


"Ele não dormiu com mais ninguém". Hermione fez uma pausa por um momento. "Ele disse que se sentia como se estivesse sendo infiel".


Malfoy olhou para ela, surpreso, e então franziu a testa.


"Mas você dormiu, não é — com Parkinson?", Hermione disse.


"Sim", ele concordou distraidamente. "E com Stephen Cornfoot".


"Cornfoot?"


"Algumas vezes, sim, e nada de ruim aconteceu quando eu estava com eles". Ele franziu a testa mais. "Mas… mas Harry estava bem. Ele disse que se sentia bem. Ele estava bem — além disse, que tipo de azaração sumiria por semanas desse jeito?"


"Eu não sei".


"Você está ajudando Pomfrey?"


"Sim".


"Bom", Malfoy mordeu o lábio. "Se alguém pode descobrir o que é, é você"


"Eu… eu espero que sim".


"Eu não percebi que ele estava doente", Malfoy repetiu, quase para si mesmo.


"Você esteve com ele entre os altos e baixos do que quer que isso seja. Ou você fez ele ficar entre os altos e baixos — e, se for esse o caso, Pomfrey quer ter uma palavrinha com você".


"Como assim?"


"Pomfrey descobriu que havia algum tipo de feitiço anti-náusea ou anti-irritação, ou ambos, lançados em Harry há algum tempo. Meses atrás. Não foi Pomfrey que os lançou, e Harry não se lembra de ninguém mais ter lançado esses feitiços nele, então nós deduzimos que podia ter sido você. Que talvez você tenha ficado cansado de ouvi-lo reclamar e lançou o feitiço para fazê-lo ficar quieto".


Malfoy balançou a cabeça, confuso. "Não, ele não me disse nada. Anti-irritação?"


"Ele reclamou de sentir uma irritação, como se houvesse formigas caminhando na pele dele. Bem, se não foi você, quem pode ter sido?"


"Quem me dera saber", Malfoy disse.


"Eu vou dizer para Pomfrey que não foi você. Ela ficou meio aborrecida — disse que poderia ter piorado as coisas, e que por isso que nunca se deve lançar feitiços médicos sem supervisão, porque você pode se livrar dos sintomas, mas o problema continua".


"Eu não fiz nenhum feitiço médico nele", Malfoy insistiu. "Eu nem poderia, sou péssimo neles".


"Ele também tem tido problemas para se concentrar, só que eu acho que isso é mais por que…", Hermione se interrompeu, não querendo dizer em voz alta o que ela realmente pensava, que era devido a ele sentir falta de Malfoy. Não havia por que fazer isso. "E ele está com dor muscular. Eu não acho que essas estão tão fortes. Mas a perda de energia está bem severa. Eu acho que aquela outra azaração de antes era pior — mas vocês dois estavam querendo encobrir tanto como estavam mal… ele diz que não é tão ruim quanto aquela…" Hermione parou, percebendo que Malfoy não estava escutando. Ele estava olhando para o chão, a expressão pensativa.


"Granger… você pode fazer algo para mim?", ele disse devagar, e Hermione ficou surpresa demais para dar uma resposta sarcástica.


"O quê?"


Mas seu ceticismo deve ter se refletido na voz, porque ele franziu a testa. "Certo, não para mim, então, para ele. Eu preciso que você verifique algumas coisas".


"Por quê?"


"Eu acho que tenho uma idéia… só espero muito estar errado".
ooooooo


NdA: ¹Hinkypunks — pequenas criaturas de apenas uma perna que parecem ser feitas de fumaça. Os hinkypunks carregam uma luz que auxiliam os viajantes.


ooooooo

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.