Isso tudo é tão surreal...

Isso tudo é tão surreal...



  O relógio ainda marcava 3:30, estava muito escuro e minha garganta implorava por água. Tomei coragem e desci as escadas em direção a cozinha. A coruja piava e isso era o único ruído além da minha respiração. Os olhares atentos que eu lançava por volta da casa me davam mais medo.
  Abri a geladeira e retirei uma garrafa com água gelada. Transbordei o copo e o segurei em minha mão, a água descia ardendo minha garganta. Não era o suficiente. Enchi novamente o mesmo copo e o levei lentamente até meus lábios. Crack! O copo quebrou sozinho em minhas mãos e a primeira coisa que pude ver foi o sangue vermelho e quente escorrendo por meus braços e gotando no chão. A dor era imensa e o tapete que estava ali já estava encharcado. Minha mão latejava enquanto meu coração batia cada vez mais forte.


  O ser humano é tão irracional. Por que diante do perigo ele teima em acreditar que tudo não passa de uma brincadeira e continua a arriscar jogadas de risco? Ou então acredita e acha que poderá ganhar o jogo facilmente, mas nem sempre é tão fácil assim.
  O mistério rondava meu coração e enfrentava meus pensamentos.
  Lembrei-me de água, as lembranças ainda eram poucas, eu havia levantado para beber água e o copo quebrou-se e me machuquei. Olhei bruscamente para minha mão direita e não vi nada, nenhum corte, nenhuma marca, nada. Abismada desci as escadas rapidamente e cheguei à cozinha para revelar os fatos. Estava tudo arrumado, o tapete – que eu tinha certeza que estava sujo – estava normal.
  Sonho ou realidade? Isso já não importa mais, já que são tantas duvidas e ninguém para respondê-las


  Os últimos dias pareciam não passar de ilusões, sonhos e mais sonhos. Acho melhor trocarmos as palavras, em vez de sonhos são pesadelos. Pesadelos que tornaram minha vida em uma trama trágica, absurda e surreal.
  Parecia ontem, eu assistia a aqueles filmes fictícios e não acreditava em nada. Claro, são fictícios. Bruxas, lobisomens, fadas, ETs, magos, vampiros, demônios e anjos.
  Aproveitei o embalo, já que estava na cozinha, e vasculhei todo o armário e guarda-roupa à procura de remédio. Remédio... sabe pra quê? Queria verificar se eu não tinha esquecido que tomava remédios para loucos. Afinal, eu estava louca não é mesmo? Uma pessoa que se apaixona por seres obscuros – inexistentes ou não – só pode estar louca.
  Bem que eu queria ter encontrado remédios para controlar esse distúrbio. Seria melhor que isso parasse, ou seria melhor continuar pra ver no que vai dar. Há! É por causa desses pensamentos que eu tenho quase certeza que estou pirando.


  Eu estava em busca de uma explicação decente para os sonhos ou acontecimentos reais. O único lugar onde conseguiria isto é onde eles estão... escola.
  O volante pareceu estar mais duro, ou meus braços estavam mais fracos. Fazia tempo em que não vivia a intensidade da movimentação de Dallas, e também fazia dias que eu não descia do meu carro após estacioná-lo e andava em direção a entrada do colégio.
  As pessoas me olhavam como se eu fosse um monstro vindo de outro planeta. Eu rondei os olhos em mim e não vi nada de errado... quero dizer, diferente. Afinal, eu sempre fui errada, eu nasci errada.
  As análises dos pés a cabeça não pararam e eu continuei a pensar o motivo. Depois que Alex fez aquilo no torneio eu fiquei falada? Sim.
  Encontrei Kath sentada na sala da primeira aula, Alex e sua turma estavam lá também e não paravam de me “comer” com os olhos.
  _ Bom dia Jenny. – Kathleen estava diferente mas eu não conseguia achar a mudança, fisicamente ou personalidade? – Por que sumiu?
  _ Bom dia... – esperei – sumi?
  _ Ah, esquece. – as aulas iam passando rapidamente e eu estava presa em Alex que não desviava seu olhar de mim. – Preciso de uma opinião sua, você acha que a Refinnej deve ficar com o Ruhtra ou com o X.?
  Um choque rápido me fez lembrar o livro, os sonhos, a luta, os dois...
  _ Não sei Kath... você faz o que achar melhor.
  _ Acho que ela vai ficar com o... – o sinal ensurdecedor interrompeu nossa conversa. Kath ia falar o meu destino! – Vai pra sua casa?
  _ Hum, vou. – sem perceber a aula já tinha chegado ao fim, bom ou ruim, não sei. – Tchau. – terminei o diálogo com a mesma resposta.
  Dei uma parada para ir ao supermercado abastecer o armário e cheguei em casa com muitas sacolas no porta-malas. Entrei em casa e vi um envelope debaixo da porta que dizia: Para: Jennifer Maddier.


  Rasguei o envelope com tamanha curiosidade e comecei a ler a carta com letras de mão, letras bonitas e itálicas.
  “Jennifer, às vezes a vida é traiçoeira e temos que estar prontos para não cair em suas armadilhas. Tome cuidado. Saiba que existem pessoas que te vigiam 24h por dia e se você der um passo em falso colocará tudo a perder. Dentre o certo e o errado, pense. Diante razão e emoção, raciocine. Entre prazer e perigo, fuja. Se houver o bem e o mal escolha o coração. Quando damos asas a alguém, o objetivo desta pessoa é voar cada vez mais alta... Mas, quanto maior a altura, maior é o tombo. Recado dado.”
  As veias saltaram e o sangue quente subiu a cabeça. Meu corpo tremia loucamente e eu sentia um frio que em poucos segundos tomou conta do meu corpo, contraindo cada músculo e revirando o estômago. Procurei por o nome de quem enviou e não havia nada. Reli tudo três vezes buscando entender, mas cada palavra que se repetia aumentava meu medo, minha angústia e minha forte dor.
  Tentei esquecer e esfriar a cabeça, mas não adiantou. Fechei os olhos procurando um minuto de sossego, foi nesta desequilibrada calma que eu relaxei e deixei minha mente me levar para onde quisesse.

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