Minhas histórias e pensamentos

Minhas histórias e pensamentos



      Capítulo 7.
  Antes de pensar em fazer qualquer coisa eu queria me olhar no espelho. Fazer um auto-retrato completo. Fiscalizava atenta, cada detalhe poderia me levar à conclusão final. O olhar detalhado procurava algo diferente ou até mesmo um defeito encoberto por tantos outros. Alguma falha que denunciasse os fatos, ou até mesmo alguma pista que me levasse ao causador, ou causadores. Uma análise completa de tudo que sou, tudo que restou de mim e uma previsão do que iria me transformar.
  Estava esperando despertar do sonho e viver a realidade. Mas refletindo bem... seria tão bobo se estivesse sonhando. É melhor viver sonhando para sempre. Ou acreditar que a realidade vai além de uma ilusão.
  Como se fossem três mundos. Eu, ele, ele. Cada mundo com seus costumes, com seus jeitos, suas crenças. Mas todos com um elo muito grande. Eles estavam conectados a mim. Assim como os carros precisam de gasolina para funcionar, eu preciso deles para viver.
  Eu não estava enganada. Ou então estava sabendo mentir perfeitamente para mim mesma.


  _ Jennifer?
  _ Kathleen?
  _ Sim. Só liguei pra dividir toda minha inspiração e alegria com você. – Kathleen estava realmente muito entusiasmada com o concurso. – Passei a madrugada inteira escrevendo. Já tenho um romance fictício completo em minha mente.
  _ Que bom Kath! – tentei reproduzir a mesma excitação. – Quero ser sua primeira leitora ok?
  _ Claro! – Kathleen confiava tanto em mim, coisa de melhores amigas. – Vou te enviar o primeiro capítulo por e-mail. Beijos.
  _ Estarei aguardando. Beijos Kath. – Kathleen estava tão alegre que agia compulsivamente, as conversas eram rápidas e diretas, às vezes esquecia de detalhes e até mesmo das circunstâncias.
  A mala não estava inteiramente desfeita. Restavam algumas fotos, algumas lembranças e o meu notebook. Um filme foi passado em minha cabeça: era natal, família reunida e todos esperando a troca de presentes. Meus pais me entregaram um notebook, fora o presente mais cobiçado entre todos.
  Antes mesmo que pudesse terminar de abrir o álbum de fotos várias lágrimas corriam soltas em minha face até atingirem as imagens. Aquilo era pesado demais para mim. Mexer comigo, me torturar.
  Eu estava aprendendo a lidar com a situação. A minha camada de proteção ainda estava sendo feita e eu tinha que ser forte.
  Fechei o álbum rapidamente e peguei o notebook ligando-o. A caixa de mensagens estava apenas com uma mensagem solitária. Prefácio e primeiro capítulo.


  “Jenny leia atentamente e depois me diga o que achou, juro que me esforcei demais e até gostei do resultado.
  Prefácio: Eu sempre sonhei em viver um conto de fadas, onde conheceria o meu príncipe encantado, viveria intensas aventuras e no final permaneceria feliz para sempre ao teu lado. Mas e quando o seu tão esperado conto de fadas se transforma em uma terrível e trágica história de terror? Onde você se apaixona pelo vilão e pelo tal príncipe ao mesmo tempo, e suas vidas vão se entrelaçando de tal forma que no final não será possível desatar o nó feito por tantos sentimentos que não podem ser identificados.
  Qualquer deslize, por mais insignificante que seja, pode tornar o estrago irreversível. O coração entra em colapso em situações como essa, e o meu só não parou de bater porque ainda existe uma força que me alimenta, e eu tenho medo dela e do que ela possa fazer comigo... Ah! Perigosa paixão.”


  Eu paralisei a leitura. Não acreditei no que li. Era um espelho? Por que as coisas se resumiam em Jennifer, Alex e Arthur?
  Não! Eu reli tudo novamente e não tive fé em cada palavra. Era minha vida em um texto. Era todos os meus sentimentos presentes naquilo. Confesso que por um momento tive medo de Kathleen, depois tive medo de mim. Impossível explicar.
  Eu terminei de ler tudo. O primeiro capítulo era simplesmente eu. Era simplesmente me via em cada frase. Terrível, perfeito, feliz, triste, surpresa, decepção.


  “Continue Kath. Está maravilhoso. Não sabia que você escrevia tão bem assim menina. Por favor, escreva mais, eu necessito da continuação. Só me responde uma coisa: de onde veio a ideia da história? Espero um retorno, beijos de sua amiga Jenny.”
  Eu prossegui o dia, abismada. Meus pensamentos, obviamente, só conseguiam focar a história. Eu estava com medo de retornar a caixa de mensagens e ver a continuação. Eu estava absurdamente curiosa, aquilo me prendeu e tornou-se um de meus maiores vícios. Por um momento de distração até curti, estou importante, tenho um livro contando a minha vida. Isso é positivo ou negativo?
  “Jenny fico muito feliz que tenha gostado. Eu não acreditava nesse meu dom e agora estou começando a enxergar que sou capaz. A ideia veio do nada. A história se formou inteirinha na minha cabeça. Mas lógico que não vou te contar, não quero acabar com a graça. Amanhã nos encontramos na escola e depois eu te envio o capítulo 2. Tchau.”
  A história surgiu sozinha? Isso é muito estranho, mas eu não consigo entender como posso achar prazeroso também. Dava para desconfiar de que Kath estava fazendo isso propositalmente, mas o ponto de vista em que eu passava para ela era totalmente diferente do real. Enfim, agora eu sou um livro.

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