Kath



  A tempestade de reflexões me atordoava cada vez mais. Os acontecimentos iam bagunçando meus sentimentos, meu coração já não me obedece mais. Eu perdi o controle sobre minhas próprias emoções, como se alguém tivesse total autoridade sobre mim.
  Os fatos se sucediam rapidamente, em tão pouco tempo eu já estava absurdamente apaixonada pelos dois. A rapidez talvez fosse consequência da minha fragilidade, não posso levar isso adiante por muito tempo.
  Alex é tão... é tão perfeito que não consigo adicionar muitos adjetivos. Arthur é tão doce, me passa uma segurança muito maior, eu tenho mais facilidade para descrevê-lo. Mas entre os dois, é Alex que conseguiu me prender junto de si. São seus olhos que penetram os meus e desconfigura meus batimentos cardíacos.
  Se fosse uma competição, por enquanto Alex tinha mais pontos. Só não posso esquecer que a brincadeira ainda não acabou e que Arthur poderá virar o jogo. A que ponto cheguei, as comparações estão ficando cada vez mais ridículas.
  Por que Arthur pede tanto para que eu tome cuidado com Alex? O que ele sabe e eu desconheço? É melhor esclarecer essa questão antes que seja tarde demais.
  Aliás, o que aconteceu exatamente comigo ontem?
  Primeiro Alex se declara na frente de todos da escola, consecutivamente Arthur se apresenta e me encara como se a letra da música fosse frases direcionadas a mim. Depois, mãos misteriosas aparecem e trocam os envelopes duas vezes, seria um roubo? Uma armação para alguma banda ganhar? Se for com certeza era coisa de Arthur e sua banda, mas não tenho como provar nada, e por isso, ficarei em silêncio.


  Um pressentimento que não consegui distinguir veio e disse para que saísse dali. Passei a mão pela mesa de cabeceira, alcancei o celular e o trouxe até minha face para que pudesse visualizar algo novo. Dezesseis chamadas não atendidas, todas vindas de Kath. Imediatamente disquei o número de Kathleen, que por sinal já decorei.
  _ Alô? – após algumas chamadas Kathleen atendeu com uma voz sonolenta, típica de quem acaba de acordar.
  _ Bom dia Kath, é a Jennifer.
  _ Hum... Jenny? – depois de alguns instantes a voz apareceu se firmar. – Por que foi embora ontem? Fiquei preocupada com você, só não fui a sua casa porque a festa estava boa demais, você devia ter ficado.
  _ Eu não sei. Achei que algo ruim poderia acontecer então fui embora.
  _ O que? Alex Mewlight acaba de dizer que te ama na frente da escola inteira e você acha que alguma coisa ruim pode acontecer? – Kath não entendeu.
  _ Arthur e Alex... – interrompi minhas palavras para não ter que dizer o pior.
  _ Interpretei a situação agora Jenny. O que vai fazer hoje?
  _ Não tenho nada marcado e você? – em pleno sábado ensolarado eu trancada dentro de casa.
  _ Podemos ir tomar sorvete, ir ao cinema, Shopping Luxus, você pode vir aqui em casa, eu posso ir aí, enfim, são inúmeras opções. – Kathleen estava animada, seu entusiasmo poderia me fazer bem.
  _ Você decide Kath.
  _ Vem aqui em casa então, daí a gente decide o que faz.
  _ Ok Kath, estou a caminho, beijos. – desliguei o telefone sem mesmo esperar uma resposta de Kathleen. Eu queria fazer um final de semana legal, me alegrar e desvirtuar por um só momento dessa situação, pela primeira vez queria sair com amigos e me divertir, coisa que não foi possível no passado...


  Resolvi mudar as roupas rotineiras, apreciar o belo dia de sol e de muito calor. Coloquei uma blusinha de alcinha, short curto, óculos de sol magnífico que comprei no shopping e pra finalizar um rabo-de-cavalo bem definido e alto prendiam meu cabelo. Saí de casa encarando os olhares arrebatadores que pela primeira vez na vida deslizavam em mim. Com o vidro totalmente aberto, os meus cabelos esvoaçavam no vento, liguei o som no último e comecei a cantar livremente. Eu própria estava me desconhecendo.
  Deixei o carro em frente ao prédio Duann e corri até o porteiro que já havia recebido ordens de Kath para que liberasse minha entrada. O meu andar estava saltitante, o sorrido aberto em minha face demonstrava minha alegria a todos que o vissem. Entrei no elevador solitário e aguardei até que subíssemos até o último andar, a família de Kath era dona da cobertura. O elevador se abriu e revelou uma única porta, apertei o botão verde do interfone e imediatamente Kath abriu a porta e soltou um sorriso auspicioso me convidando a entrar.


  _ Jenny! – Kath dirigiu-se a seu quarto e eu a segui. – Vejamos... estou tão entusiasmada hoje.
  _ Eu também Kath! – respondi.
  _ John me deu esperanças ontem. – o sorriso malicioso de Kath denunciava suas ideias. – o quarto de Kath era igual àqueles que aparecem em filmes, o quarto que toda menina sonha em ter. – Com você aconteceu o mesmo.
  _ Sim. – Kath estava com o mesmo estilo de roupa que o meu, mas como já era de esperar, estava mais ousada.
  _ Jennifer você é totalmente bipolar. – Kath abriu uma gaveta enquanto falava e vasculho tentando achar algo.
  _ Você não fica de fora Kath. – Kath retirou um óculos de sol lindo e extravagante e o colocou.
  Comecei a reparar em cada detalhe do quarto de Kath, passei os olhos em seu computador de última geração depois olhei para uma pequena instante onde estavam alguns papeis jogados. Estiquei meu braço calmamente e alcancei os rascunhos. Principiei uma leitura rápida e percebi que as palavras se encaixavam perfeitamente. A melodia e rima de cada verso deixava o prefácio ainda mais profissional. Só pelo início da leitura já era possível perceber que aquilo devia ser algum livro de algum escritor renomado, com certeza era um best-seller. Voltei para a capa para ver o título e nada estava escrito. A letra era de Kathleen com certeza.


 _ Ah não. – disse Kathleen enquanto retirava o bloco de rascunhos da minha mão.
  _ Que livro é esse? – perguntei curiosa.
  _ Não é nenhum livro ok? É meu passatempo e tenho vergonha que o vejam.
  _ Foi você que escreveu isso? – perguntei abismada.
  _ Sim. Eu sei que está muito feio. – Kath parecia acreditar em suas palavras.
  _ Você está de brincadeira! Você tem um dom maravilhoso e gosta de ocultá-lo?
  _ Para de me iludir Jenny.
  _ Iludir a quem? Não acredito nisso. Depois quero ler. – Kathleen estava indignada e ainda achava que era uma brincadeira.
  _ Vamos indo. – Kathleen saiu do quarto e eu fui atrás. – Estou sozinha em casa, minha família foi a Houston e eu não quis ir. Visitar parentes distantes é um saco.
  _ Você devia agradecer que os tenha. – lembrar o passado era uma verdadeira tortura para mim mesma.
  _ Então... o que vamos fazer? – Kath ficou esperta em relação a isso, e para não provocar minhas lágrimas ela logo mudou de assunto.
  _ Não sei. – respondi.
  _ Vamos ao cinema, está passando um filme lindo, eu esqueci o nome. – Kathleen se dirigiu a porta e fechou a casa.
  _ Tudo bem. – desta vez o elevador estava com uma jovem dentro.
  _ Olá Thay. – Kathleen parecia ser bastante popular em seu prédio. – Esta é Thay Wostian, Jennifer.
  _ Prazer, sou Jennifer Maddier. – respondi envergonhada.
  _ Bom dia! – Thay era simpática. – Estão indo para onde?
  _ Vamos ao cinema no Shopping Luxus, quer ir com a gente? – convidou Kath.
  _ Infelizmente não posso. Tenho que ir ao ensaio da Groush, eles estão me esperando. - quando ela falou Groush eu me lembrei dela no concurso, era uma das guitarristas da Groush.
  _ Tchau! – o elevador abriu e nós três nos despedimos em coro.


  Kath e eu caminhamos até a saída do luxuoso prédio Duann e entramos no meu carro. Kathleen não hesitou em começar a conversa.
  _ E vocês três? – ela ergueu uma das sobrancelhas encarando-me.
  _ Estou tentando não pensar nisso hoje... tentando ficar em paz. – respondi dando largada no carro e seguindo o caminho para o shopping, minha memória não falhava para trajetos.
  _ Então quando você está perto deles ou pensando neles você não fica em paz?
  _ Você ficaria Kath? – parei no meio do trânsito – Imagine você amar John e mais outro.
  _ Me admira ver você empregando o verbo amar quando se refere a eles. Tudo é tão rápido. – Kath indicou o semáforo que já estava verde e eu prossegui.
  _ Amando sim, algum problema? Existem os amores à primeira vista. Tudo muito rápido, eles são diferentes, como se tivessem total domínio sobre mim.
  _ Cuidado hein. – Kathleen não foi a primeira a me dizer isso, por que a insistência no perigo se eu não o vejo, ou vejo e tento ocultar.
  O silêncio sobressaltou até que estacionássemos em frente ao agitado e famoso Luxus.


  _ Desculpa se te chateei. – Kath sabia que tinha acabado com metade da alegria que havia conseguido hoje. Não respondi e continuei a caminhar sobre os corredores lotados, evitando consequentes aborrecimentos.
  _ Este filme deve ser legal! – quando subimos a escada-rolante nos deparamos com um enorme cartaz que mostrava o nome do filme e uma foto com os principais personagens.
  _ Sim. – falei enquanto entravamos na fila para comprar ingresso e pipoca.
  Em poucos minutos já estávamos sentadas na última fileira do cinema, com os olhos atentos no enorme telão e em cada acontecimento. O filme era uma comédia romântica misturada com outros gêneros. O tempo foi passando até que o filme acabasse totalmente trágico. O suicídio da menina não era esperado.
  _ Não gostei que a menina tenha morrido. – proclamou Kath saindo da sala do cinema.
  _ É um final merecido... ela não o queria de verdade. – voltando ao andar principal vimos uma multidão de pessoas em volta de um determinado local e corremos curiosas para ver. Era Feliccia Madrean, a mais famosa escritora de todos os tempos. Kathleen se desesperou e se infiltrou no meio da multidão e dos flashes. Uma faixa dizia Concurso Nova Madrean, instantes depois Kath saiu do meio do povo com um folheto na mão.
  _ O que está acontecendo Kath?
  _ É... é o concurso da Nova Madrean. – Kathleen eufórica me entregou o regulamento e eu o li. O concurso consistia em achar um novo talento, uma nova escritora.
  _ É sua chance Kathleen!


  _ Já me inscrevi! – Kathleen tinha um sorriso de orelha a orelha. – Vamos logo, vou começar a escrever ainda hoje.
  Obedeci às ordens de Kath. No caminho ela não parava de falar, eram tantas ideias que rodavam em sua cabeça que a deixava louca.
  Deixei Kath em sua casa e fui embora. Desejava boa sorte para Kath interiormente, porém sabia que o concurso iria ser difícil.
  Acho que só eu que não tenho um dom... todos tem, cantar, escrever, dançar. Era totalmente regular em tudo, a única coisa que sabia fazer bem era decorar caminhos, mas isso não me dá futuro.
  O que era pra ser um divertido dia não foi como o planejado, foi um pouco legal, mas não inteiramente satisfatório.

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