Reflexão



  Eu era a presa ou o troféu da partida? As duas pessoas lutavam loucamente e eu me via no meio, bem no centro de tudo. Uma parte ficou escura, soturna. Já a outra estava reluzente, cheia de luz. Um fleche de luz machucou meus olhos e eu os fechei, quando abri havia acordado. Ainda era madrugada, ainda bem que acordei, me livrando do terrível pesadelo.


 A lua deu lugar ao sol novamente. Os fatos estavam relatados em minha mente, prontos para serem organizados. Eu, que até semana passada era uma menina normal, sólida e sozinha, virgem de amor me transformei totalmente. Hoje, a paixão tomou conta do meu ser, tão complexo e tão prodigioso. O sonho de todas as garotas da minha idade, mas só com um detalhe que modifica todo o teatro. Plural. Um beijo totalmente igual, atos iguais? Personalidades diferentes.
  O problema está em mim. Se eu realmente estiver amando-os terei que fazer uma escolha. Sei que será difícil, mas é preciso. Mas primeiro é necessário saber se realmente há sentimento, e se houver basta saber por qual dos dois este sentimento é mais forte.
  Arthur com todo seu mistério. Alex com todo seu mistério. É melhor dar tempo ao tempo, só ele poderá indicar o caminho correto.


  O celular vibrou e eu corri para atendê-lo. Não era difícil saber quem estava do outro lado.
  _ Bom dia Kath. – pronunciei.
  _ Jenny! – a voz excitante de Kathleen estava ainda mais animada hoje. – Já está pronta?
  _ Kathleen? Está bem? Pronta pra quê? – ainda estava cedo, que eu saiba hoje não tem aula.
  _ Não acredito que já esqueceu! Hoje é o concurso de bandas lembra? – indagou Kath.
  _ Lembro sim. Mas o show é à noite!
  _ Você vai pelada no concurso? - esta pergunta me assustou, Kathleen estava louca? – Temos que comprar algo pra vestirmos, uma roupa linda, perfeita, maravilhosa, extraordinária...
  _ Chega. – disse rindo. – Ok, aonde vamos?
  _ No melhor shopping do mundo. Shopping Luxus. – ouvi falar deste shopping a vida inteira, felizmente hoje vou conhecê-lo. – Meu pai leva a gente.
  _ Não! – o pai de Kathleen era muito estranho, sem falar do jeito que me tratava. Já estou perdida, não quero ficar mais. – Vamos com meu carro. É bom ir só nós duas, tenho muitas coisas pra te contar, você nem imagina.
  _ Beleza. Vai me contar tudo hein?! Vem me buscar.
  _ Eu não sei onde você mora Kath.
  _ É só seguir a Avenida Duann e virar a primeira esquerda, você vai ver um prédio azul e preto chamado McGull. Estarei te esperando na portaria.
_ Hum... vou me arrumar e já chego aí. Tchau. – desliguei a ligação


  Estou ansiosa, Alex irá tocar com sua banda. Arthur com certeza estará lá. Kath me contou que depois do concurso tem um show da banda ganhadora, a minha primeira festa em Dallas.
  Coloquei uma roupa simples, saí de casa e peguei o carro da garagem. Segui algumas ruas até chegar a tal Avenida Duann. Virei à primeira esquerda como Kath mandou. Prédio McGull. Pensei que seria mais difícil achar. Kathleen saiu em disparada do portão e chegou ao meu carro em poucos segundos


  _ Pensei que não viria. – Kath abriu a porta do carro rapidamente e sentou no banco do passageiro. – Agora me conta tudo.
  _ Eu não demorei. – não mesmo. – Apressada. – ambas zombamos da situação.
  _ Lógico. Você sabe como sou ok?
  _ Bem... Eu sai com Arthur e Alex. – já estávamos no meio do trânsito, várias pessoas caminhando nas ruas, lojas lotadas, crianças brincando nas praças, tudo movimentado como sempre. – Arthur foi a minha casa, primeiramente me entregou um buquê de rosas.
  _ Bastante romântico. – Kath disse e abriu uma expressão de encantada, típica emoção das personagens de conto de fadas quando encontram seu príncipe.
  _ Depois me deu um beijo, e assim do nada sumiu, não o vi saindo, simplesmente não estava mais ali.
  _ Até a parte do beijo tudo bem. Está ficando louca Jenny?
  _ Esta é a pergunta que mais repito para mim mesma. – Kath apontava com a mão as ruas e eu seguia. – Alex passou me pegar e me levou para uma boate, depois eu me lembro de uma bebida que eu tomei e só fui acordar na casa de Alex, ele me deu um beijo e um buquê de rosas.
  _ Jennifer Maddier. Não brinque comigo. – Kath virou-se para mim espantada.
  _ Não estou mentindo. Eu sei, é confuso. Não dá pra creditar.
  _ Me deixa racionar e ver se entendi o que falou. – Kath deu uma pausa breve e continuou. – Os dois te beijaram te deram um buquê... Socorro meu Deus! Conta tudo de novo, detalhadamente.
  Cada palavra que saia da minha boca parecia assombrar cada vez mais Kathleen. Seu rosto demonstrava alegria, indignação e surpresa. Fomos o caminho inteiro conversando, as perguntas de Kath eram as mais absurdas que se pode imaginar.


  Shopping Luxus. Um outdoor imenso anunciava nossa chegada. O estacionamento estava lotado. O shopping era enorme por fora. Dirigi em volta do estacionamento inteiro tentando achar uma vaga, até que um carro saiu. Estacionei e desliguei o carro. Kathleen abriu a porta rapidamente e saltou para fora. Tranquei o carro e saímos em direção a uma das entradas. Os passos de Kath eram mais ágeis que os meus. Deslumbrei quando vi a estrutura e tamanha beleza do shopping. Pessoas de todos os tipos, jeitos e aparências circulavam com sacolas de compras na mão. Subimos uma escada rolante e nos deparamos com milhares de lojas. Sabia que Kath não iria aguentar permanecer em silêncio por muito tempo, logo disparou a falar.
  Vestidos de todas as cores, calças descoladas, blusas dos mais variados estilos. Kath comprava tudo que via pela frente. Eu não era tão compulsiva. Depois de longas e cansativas horas de compras, eu e Kath saímos do shopping e fomos até o carro. Kathleen havia comprado muita coisa, e eu apenas o necessário. Um vestido tomara-que-caia preto com pequenos detalhes vermelhos era o melhor que consegui achar.


  _ Acho que vai começar às dez da noite. – disse Kath abrindo a conversa. – Vou começar a me arrumar às sete.
  _ Três horas para se arrumar? – disse espantada. – Não acha que está um pouco adiantada não?
  _ Só um pouco, mas até eu tomar banho, me maquiar, colocar a roupa, vai demorar muito. – gravei o caminho facilmente, e com rapidez já estávamos em frente ao prédio Duann. – Nos encontramos lá então Jenny.
  _ Certo. – Kath fechou a porta do carro bruscamente e entrou no prédio dando um último aceno que retribui com uma breve buzina.
  Ficar solitária dirigindo meu carro me faz bem. Faz-me lembrar de tudo que já aconteceu. Faz-me refletir admirando a bela paisagem pela janela. Minha vida estava ficando especial e ao mesmo tempo trágica.


  O motor do carro acalmou-se quando parei em frente a minha casa. Caminhei cabisbaixa até chegar dentro de casa. Subi as escadas e me joguei na cama ligando a televisão e mudando os canais procurando algo interessante, um filme que nunca vi antes estava começando, o tempo ia passando e a cada fato ocorrido no filme eu me identificava cada vez mais. A menina vivia um triângulo amoroso entre dois garotos, estava perdidamente apaixonada, o final estava se aproximando, de repente a televisão desligou-se. Peguei o controle remoto tentando ligá-la novamente, mas nada aconteceu. Uma queda temporária de energia elétrica. Foi até bom que isso tivesse acontecido, eu estava curiosa para saber como terminaria aquela envolvente história de amor, mas ao mesmo tempo foi ótimo, se o final fosse triste eu lutaria para que a história não se repetisse comigo, e se fosse feliz eu ficaria tranquila. Mas toda a graça se perderia, como se eu já soubesse o meu destino, isso tiraria a aventura, o prazer e o medo de viver.


  Bati os olhos para o criado-mudo, o buquê que Arthur me dera estava intacto. Os botões estavam perfeitamente vermelhos e grandes. Do outro lado estava o outro buquê, de Alex, este estava do mesmo jeito que havia recebido, também intacto. Será que os buquês não iriam envelhecer?
  Tudo neles é muito estranho, o mistério contido no interior dos seus olhos me fascinava. Eu tenho que aceitar de vez, meu coração agora só bate por eles.


  A escuridão tomou conta do céu e as estrelas hoje, estavam maiores e mais flamejantes. Em meia-hora eu já estava pronta, nada de muito chamativo. Em poucos minutos já estava em frente à escola. Não havia nenhuma vaga no estacionamento, estacionei no lado de fora assim como muitos outros carros. O fluxo de pessoas era muito grande, todas muito elegantes.
  Fui até o pátio, este estava completamente lotado. O palco enorme que fora montado estava iluminado com um jogo de luzes de todas as cores e formas que passavam rapidamente por todo o palco e atingia as pessoas que deixavam ser embaladas pelo ritmo de músicas eletrônicas. Devido à grande quantidade de pessoas não foi possível encontrar ninguém, ou melhor, não foi possível reconhecer ninguém.
  Busquei pequenas brechas no meio da multidão e atravessei até chegar ao outro lado do pátio. O que mais se destacava naquele lado era o amasso de Kath e um menino que não eu não conhecia. Encostei-me a uma parede e esperei uns minutos, quando olhei novamente Kathleen estava se despedindo do garoto, selou um beijo breve e ele sumiu no meio do cardume humano.
  _ Jenny, finalmente chegou. – Kath estava com uma das roupas que havia comprado no shopping, seu salto alto a deixava ainda maior que eu. – Daqui a pouco vão começar as apresentações.


  _ Quem era ele? – esta foi à primeira coisa que veio em minha cabeça.
  _ John Kandrott. – os olhos de Kath começaram a brilhar – Desde o ano retrasado eu tenho tido uns rolos com ele entende?
  _ Oh sim... entendo. – ri.
  _ Mas eu o amo, e ele não enxerga isso. – a expressão de Kath mudou repentinamente.
  _ Bem Vindos a mais uma edição do nosso Campeonato de Banda Lutz! – era a mesma diretora que declarou aberta as inscrições aquele dia. – Daqui dez minutos iremos dar início à noite de apresentações. – as pessoas gritavam euforicamente e logo a música voltou a tocar.
  _ Você conhece as bandas? – perguntei a Kath.
  _ Todo ano tem bandas novas, mas as bandas mais populares que participam todo ano são a do Alex e a banda Groush. – a banda de Alex incluía as irmãs Luctor. – Não veremos quase nada daqui, vamos ao meio do povo. – Kath saiu me puxando pelo braço, estávamos no meio da multidão sendo arrastadas de um lado para o outro.
  _ Preferia ficar lá. – disse bem baixo no ouvido de Kath.
  Todas as luzes se apagaram e uma voz masculina e grossa pronunciou: “Com vocês o Terceiro Campeonato de Bandas Lutz, valendo a presença no palco do nosso baile de férias.”


  Um jato de luz percorreu uma faixa no palco que dizia Groush. O palco se iluminou em instantes, três meninos e uma menina estavam lá. O silêncio rápido foi quebrado pelo barulho da guitarra que começou a tocar sozinha, logo explodiu o som de todos os instrumentos que estavam no palco e a menina começou a cantar com sua voz aguda e agradável. As pessoas pulavam loucamente, inclusive Kath. No telão várias fotos eram mostradas, a imagem de cada integrante da banda e na legenda o seu nome. O nome da vocalista com os cabelos incrivelmente loiros e curtos era Cindy Meaxx. A apresentação se encerrou e um ardido aplauso ecoava por toda a escola.
  A luz do palco apagou-se novamente e uma nova banda surgiu do meio da escuridão. Assim foi durante um bom tempo, várias bandas deram o seu show. Mas era perceptível que a melhor até aquele momento era a banda Groush. Já havia passado umas duas horas, até que em meio os apagões e novas bandas, houve uma que todos gritaram mais do que as outras. A faixa mostrava Luctor.
  _ É a banda de Alex, Jenny. – meu coração acelerou-se e parecia não se aguentar no peito. Permaneci com os olhos bem atentos em cada detalhe do que vinha a acontecer. A luz acendeu-se novamente e revelou a banda que era composta por cinco integrantes. Um menino na bateria, outro com um a guitarra vermelha e com uma caveira que ressaltava na frente. Uma das irmãs Luctor estava nos teclados e outra no vocal. Outro menino estava com um baixo na mão. Finalmente ele, no centro do palco estava Alex com um microfone em sua direção e uma guitarra nos braços. Os aplausos começaram bem antes, os gritos chamavam os nomes dos seguintes integrantes: Alex Mewlight, Bianca Luctor, Beatriz Luctor, Bross Lummes e Henry Petterson. Os primeiros sons vindos do palco pareciam estremecer o interior do meu corpo.


  _ Eu dedico esta música a pessoa que conquistou meu coração. Jennifer Maddier eu te amo! – todos ficaram abismados, no meio da multidão Alex direcionou seus olhos para mim, todos ao redor viraram-se para mim na mesma hora. A prova de amor.
  A voz de Alex, que agora percebera que era totalmente perfeita, estava entrando em mim. Cada palavra que saia de sua boca fazia o sangue contido em minhas veias acelerarem cada vez mais. Eu paralisei, não prestava atenção nos atos das pessoas ao lado, somente em Alex. A música acabou e eu despertei rapidamente, minha cabeça começou a raciocinar. Agora eu ficaria conhecida por todos da escola, estaria na boca de todos os alunos. As pessoas gritavam enlouquecidas, mas o centro das atenções ainda estava sobre mim. A banda sumiu do palco cobertos pela escuridão.
  Uma voz rápida anunciou que a próxima apresentação seria a última da noite. A luz branca apontou somente para o nome da banda. Luz!
  Kathleen estava na minha frente quando tirei os olhos do palco por um instante.
  _ Não acredito que ele fez isso por você. – Kath parecia estar feliz, eu não transmitia nenhum sentimento, talvez seja por que não estava acreditando no que tinha acontecido. – Nunca ouvi falar dessa tal Banda Luz! Devem ser novos.


  Tudo ficou claro, rapidamente eu ataquei os olhos em direção o palco. Um telão enorme estava na frente, e somente as sombras de cinco pessoas se revelavam atrás. Nomes começaram a aparecer no telão... Lauren Morgan, Scott Dougann, Madeline Rose, Pietro Dvoox e Arthur McStuart. O quê? Eu tinha lido Arthur, passei os olhos novamente no telão e foi confirmado, Arthur McStuart. Todos permaneceram em silêncio, atentos a desconhecida banda que iria se apresentar. O meu corpo parecia que ia se chocar com o chão a qualquer hora, era muita surpresa para uma só pessoa. Logo, a banda já estava no meio da música, agora percebera os olhos de Arthur fixados no meu e sua voz absurda de tal doce proclamava uma música linda. Eu nunca deixarei você cair...
  Eu parei no tempo e tudo em minha volta parecia continuar normalmente. Quando acordei do transe a banca de jurados estava votando para decidir a grande ganhadora da noite. Atenta e ansiosa captava cada detalhe. Dados os votos, lacrou-se um envelope que foi deixado em cima da banca dos jurados. Uma mão branca apareceu no meio das cortinas e trocou os envelopes. Poucos segundos depois, outra mão apareceu e destrocou os envelopes novamente.


  A fumaça do palco tampava a visão, ninguém pareceu ver a cena, somente eu.
  A diretora apareceu no palco e avisou que iria revelar a banda vencedora.
  _ E quem irá tocar no nosso baile de férias é... – uma pausa breve da mulher, as pessoas esperavam os resultados ansiosas. - Banda Luz!
  Todos pularam de alegria, a banda entrou novamente no palco para receber o troféu. Vários flashes registravam o momento.
  Não sei o que aconteceu comigo. Um pressentimento ruim... o pior que já tive na minha vida. Saí correndo do meio da multidão, corri como nunca antes, cheguei até meu carro e vi Kathleen me seguindo, arranquei o carro brutamente e acelerei o máximo que pude. Tudo acontecia muito rápido, não tive tempo de encarar a situação. Deitada na minha cama, sem mesmo saber como chegara até lá, eu adormeci.

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