Bebidas



O dia foi pacífico, apenas um telefonema de Kath e nada mais. As horas iam passando e os pensamentos em Alex Mewlight e a culpa que sentia por Arthur me atormentavam cada vez mais. Lembrar da noite passada me fazia bem, mas não quando juntada ao encontro de hoje. Uma coisa eu tenho certeza, o que estou fazendo não é certo. A ideia de que o perigo estava cada vez mais próximo de mim, não ao certo como, mas pressentia. E esta mesma ideia que me inspirou. Resolvi sair como ninguém nunca tinha me visto ou me imaginado. A blusa metálica definia minhas curvas e descia até chegar ao jeans preto e colado. A maquiagem carregada, o contorno preto excessivamente em torno dos meus olhos me deixava ainda mais sombria. O sapato de salto me fazia subir, subir em espírito e alto estima também, uma sensação que nunca tinha sentido antes, uma autoconfiança incrível.
  Em frente ao espelho, espontaneamente alguns sorrisos maléficos nasciam. Isso não me deixava por medo, até agora.
  Uma buzina perfeitamente aguda e desafinava tocou.
  _ Boa noite. – disse ele repetindo as mesmas palavras de Arthur. Alex estava totalmente de preto, seus olhos pareciam brilhar ainda mais, seu carro verniz se destacava de todos que já havia visto em minha vida inteira. – Está pronta?
  _ Sim. – disse saindo de casa e girando a chave duas vezes na porta. Ele saiu do carro e veio abrir a porta do carro para mim, totalmente igual a que o pai de Kathleen havia feito. Seus atos me traziam lembranças passageiras.


 


  _ Você está linda. – ele arrancou o carro e começou a dirigir rapidamente.
  _ Você me inspirou. – as palavras saiam espontaneamente da minha boca, o carro estava se distanciando da cidade cada vez mais. – Para onde estamos indo?
  _ Surpresa. – seu olhar sedutor fora lançado contra meus olhos de forma que não pude controlar.
  _ Eu quero voltar. – estava ficando com medo, já estávamos na pista, só eu e ele.
  _ Não confia em mim? – ele acelerou ainda mais o carro e deixou aparecer um sorriso escondido e malicioso que brotava em sua face alva. – Fique tranquila.
  Avistei algo iluminado e colorido, na medida em que o carro ia se aproximando a visão ficava mais certa. Um grande muro cercava toda a casa, as lâmpadas piscavam alternadamente, um tridente vermelho era destaque do painel cheio de luzes. Não acredito nisso. Alex jogou sua mão direita sobre minhas pernas e as esfregou rapidamente. Eu estava sem ação. Motel Cinco Estrelas Rockford.


  O carro passou reto, contrariando todas as minhas expectativas, e isso era bom.
  _ Vou te levar a um lugar muito especial. – ele alongou seus longos e musculosos braços para ligar o som, a música entrava em meus ouvidos e parecia tremer meu coração. – Já estamos chegando.
  Dez minutos em silêncio foi o suficiente para que chegássemos. A casa noturna estava lotada. Alex pegou em minha mão, mesmo sem minha permissão e, de mãos dadas entramos. Luzes de várias cores se misturavam formando um arco-íris em movimento. A batida da música movimentava meu corpo espontaneamente. As pessoas com suas bebidas exóticas na mão se divertiam e dançavam freneticamente. Os olhos de Alex não saiam dos meus enquanto dançávamos, Alex sumiu por um tempo e logo voltou com uma taça toda enfeitada com um líquido vermelho e fervescente na mão. Levei a bebida até a boca e cada gole descia por minha garganta queimando e eu sentia chegar ao estômago e arder. Minha visão foi ficando embaçada, a pista de dança girava, um clarão e mais nada.


  _ Ei. – uma voz familiar ecoou – Jennifer, acorde.
  Meus olhos se abriram lentamente e logo se fecharam de novo pela claridade vinda em minha direção. Balancei a cabeça tentando organizar os pensamentos, os acontecimentos e a situação. Olhei para a janela e vi que o dia tinha clareado, o que tinha acontecido comigo? Eu só me lembro de uma bebida e mais nada.
  _ Você dormiu. – Alex segurou em minhas mãos e pronunciou olhando para mim. – Você tomou uma bebida e dormiu. Acho que não é forte pra essas coisas. Da próxima vez prometo que não te dou nada para beber.
  _ Hum... - eu me lembrei, a bebida vermelha e efervescente me fez dormir.
  Uma rápida reflexão veio em minha mente. Quando o assunto era Alex Mewlight, eu perdia meus extintos e os meus costumes. Eu não tinha aquele estilo, não gostava de vestir aquelas roupas. Não havia entrado com o pé direito na boate, coisa que era sagrado. Ele me faz pirar, e de certo modo eu acabei gostando disso.


  _ Você está bem?
  _ Sim, só um pouco zonza. – girei meu olhar por toda a casa, eu não sabia onde estava. A casa era toda preta, até mesmo os mínimos detalhes. Vários corredores se abriam na sala onde eu estava.
  _ Esta é minha casa. – mais uma vez Alex me surpreendeu, respondeu uma pergunta que estava só em meus pensamentos.
  _ Me fale um pouco sobre você. – em busca de novos conhecimentos sobre o charmoso Alex perguntei mudando de assunto.
  _ Alex Mewlight, nascido em Dallas. Minha família mora em Cleveland. Solteiro. Apaixonado. – tudo estava tão tranquilo, até que o último adjetivo chegou. – Sua vez.
  _ Jennifer Maddier, nascida em Las Vegas. Perdi minha família no final do ano passado. Solteira. – falei.
  _ Já estava esperando que não colocasse a última característica. – ele falou e sorriu se aproximando mais um pouco de mim


  _ E posso saber quem é a pessoa que você está amando? – uma hora ou outra ele iria dizer, é bom ir logo adiantando as coisas. Que raiva, acabei de crer que Alex muda meu comportamento, eu nunca gostei de apressar as coisas, muito pelo contrário.
  _ Nunca aconteceu comigo. – ele chegou mais perto de mim. – É como se minha vida estivesse presa nessa pessoa. E não vou sossegar enquanto a mesma não estiver comigo. Você.
  Nenhuma palavra chegou a minha boca, eu não sabia o que falar. A respiração de Alex estava junto a minha. Deslizou sua mão sobre minha face, levando-a até a nuca e puxando meu rosto pelo cabelo para perto do seu. Nossos lábios moviam-se de um lado para o outro numa perfeita sincronização, uma sensação doce tomava conta do meu corpo. Abri os olhos por falta do contato labial e da respiração ofegante de Alex e o vi na minha frente com um buquê de rosas vermelhas na mão.
  Não! Como é possível? Eu já conhecia aquele beijo, já conhecia aqueles buquês. A mesma cena repetiu-se. Até para descrever eu usava as mesmas palavras. Eu estava ficando louca, absurdamente fora de mim.


  _ Vou te levar pra casa. – ele segurou em minhas mãos e caminhamos até seu carro em silêncio.
Eu agia tão normalmente, pelo menos é o que eu sinto por dentro.
  _ Você me ama mesmo? – perguntei enquanto Alex acelerava cada vez mais. Meu coração acelerou quando ele se virou, por um instante tive a sensação de que ele iria me agarrar.
  _ Não tenha dúvidas. Vou te dar uma prova de amor, a qualquer instante. – ele largou as mãos do volante e as colocou em meu rosto encostando seus lábios gélidos em minha testa, simplesmente parou de dirigir, nem estava mais olhando para a pista, somente com o pé no acelerador.
  _ Alex! – gritei. – Você vai bater! – Alex pareceu não se assustar com o grito e voltou a dirigir normalmente. – Poderíamos ter morrido sabia?!


  _ A adrenalina me motiva e o perigo também. – ele me encarou e soltou seu sorriso padrão, sedutor. – A morte não é uma coisa ruim como todos pensam.
  _ Como pode ter certeza? – fiquei com medo de suas últimas falas.
  _ É tão simples, um dia irá entender... um dia Jennifer. – mais alguns quilômetros e estávamos em frente a minha casa.
  _ Eu te amo. – sua voz magistral, seu rosto perfeito, seus atos curiosos, perigosos e que eu estava amando.
  _ Até amanhã Alex. – desci do carro, antes que pudesse pegar a chave para abrir a porta ele já havia dado partida no carro.
  Adentrei na casa, tomei um prolongado banho e me deitei. Amanhã contaria tudo para Kath. Uma semana, tantas emoções, tantas surpresas, e tanta culpa. Alex e Arthur. Olhei para o relógio que marcava meia-noite. Eu estava realmente maluca. Saí da casa de Alex e era dia, como o tempo passou tão rápido?
  Mesmo com tantas dúvidas, prefiro dormir. Reflexões somente amanhã, antes que eu pire de vez.

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