Epílogo

Como eu começo? Ou, melhor, como eu termino? Como começar a escrever o fim? Porque é o fim, enfim. Toda história tem seu ponto final, todo livro acaba. Toda vida encerra um capítulo para começar outro. E é hora de encerrar.

Escrevo as últimas páginas do caderno que Marlene me deu três anos atrás. Já é 2012 e, nesse período, eu enchi cada espacinho dele com desenhos, fotos, desabafos e histórias. E é inacreditável o tanto de coisa que tem aqui.

As primeiras coisas que escrevi sobre meus pais estão aqui. E sobre James, Marlene e Sirius. Sobre Charles e Jane. Aquele coração que eu desenhei logo no início, em preto e branco, hoje está pintado. Porque é assim que o meu próprio coração está. Vibrante, pulsante, alegre.

Colorido.

Minha vida ganhou forma e cor. Eu deixei de vagar pelo mundo, de cabeça baixa e incerta sobre qual era o meu lugar, para deixar uma marca nele. Ou, pelo menos, uma marca no mundo de quem vive ao meu lado. E, no dia em que eu me for, deixarei para trás lágrimas e sorrisos, mas, principalmente, memórias. Porque as lembranças são a prova de que nós não passamos em branco pela vida. Nem pela nossa, nem pela dos que nos amam. Depois de muito cair, chorar e lutar, eu aprendi que a minha passagem por aqui não seria em vão.

De uma existência cinza para uma vida cheia de cor. Que grande passo, Lily Evans. Eu ganhei o preto da noite e o prata das estrelas, o rosa do amor, o vermelho dos lábios de coração de Marlene. O amarelo do sol, o azul dos olhos de Charles. O marrom escuro da jaqueta de Sirius. O branco do sorriso do meu pai. O castanho do cabelo de James. O verde dos olhos do meu filho.

Sim, filho. Não foi Elizabeth e não foi Sarah. Foi Harry. Meu Harry. A cópia fiel de James, exceto pelos olhos. Meu marido, na época namorado, estava certo. Nosso filho teria meus olhos.

Eu não consigo acreditar que nosso bebê já tem um ano. Quando eu fecho os olhos e lembro de quando descobri que estava grávida, tenho a sensação de que foi ontem. Clichê, sim, mas é verdade.

Não foi planejado, claro que não. Nós só tínhamos dezoito e dezenove anos, éramos recém-casados, trabalhávamos e estudávamos ao mesmo tempo, eu no hotel e cursando Inglês, e James na cafeteria e ainda nas aulas de Direito. Mas foi tão aguardado! Por todos e cada um, Harry foi amado incondicionalmente desde o início. E o dia em que ele nasceu foi o mais feliz da minha vida. E olha que eu não esperava que algum superasse o dia do meu casamento.

 Casar com James foi e ainda é muito mais do que eu sempre esperei. É inacreditável o quanto eu o amo. Mais ainda hoje do que no começo. E o nosso casamento é prova disso. Temos quase dois anos de casados e eu não me arrependo nem um pouco de ter dito sim tão nova. Se eu tivesse quinze, trinta e cinco ou cinquenta anos, não importa, eu aceitaria todas as vezes.

Então, é óbvio, eu disse sim a ele. Um mês e meio depois do pedido, nós nos casamos numa cerimônia pequena, na minha casa. Eu não precisava de mais nada além daquilo e James também não. Então, os únicos que presenciaram nossa união foram nossos pais, Marion, Liam, Jane, Charles, Sirius, Marlene, Isabella, os Srs. McKinnon e Adele (de quem eu continuei amiga depois da escola). Para que uma cerimônia grande se apenas aquelas pessoas importavam para mim? Foi pequeno, íntimo, mas perfeito. Do nosso jeito, com a nossa cara.

Não usei o vestido de noiva da minha mãe, se é o que estão pensando. Marlene desenhou e costurou o meu. Ela me mostrou o desenho no mesmo dia em que contei que estava noiva. Era lindo. Fluido, com decote reto e alças, que eram cobertas de brilhantes, passando pela lateral do vestido e se entrelaçando por debaixo do busto. Tão lindo, tão meu!

E sim, Charles foi mesmo ao meu casamento. Eventualmente, ele superou o que quer que sentisse por mim e nós voltamos a nos falar. James o atura por mim, mas continua sem gostar dele. Bom, eu não posso reclamar. Eu e Charles somos ótimos amigos e, provando a James que não queria mais nada comigo, ele conseguiu fazer parte da minha vida de novo. Ah, e é claro que ele continua solteiro. Mas eu acredito que, um dia, alguém vai amá-lo tanto quanto ele merece. E quando isso acontecer, James vai dormir muito mais tranquilo.

Nossa lua de mel foi curta, mas linda. Como não podíamos largar a faculdade, passamos um fim de semana na casa de campo da minha família na Borgonha. Eu não visitava a França desde antes da minha mãe morrer e não lembrava como aquela região era linda. Foram dias tão maravilhosos. Tenho certeza de que Harry foi concebido lá por dois motivos: o tempo da gravidez e o fato de que a coisa mais preciosa da minha vida só poderia ser feita naquele lugar lindo em que eu e James celebramos nosso amor.

Eu entendo agora o que Marlene quis dizer quando Isabella nasceu: amor de mãe é o maior que existe. Meu filho é meu mundo. Ele é tão especial, adorável e inteligente. Olho para ele e vejo James, são tão parecidos! O modo como dormem, como andam. O sorriso! Harry é a miniatura do amor da minha vida.

Aliás, James é louco por ele. Impossível não sorrir quando vejo os dois juntos. Se pudesse, James passaria dias inteiros brincando com Harry. E nosso filho também é apaixonado pelo pai. Tão apaixonado que falou “papa” antes de “mama”. Confesso que fiquei azul de ciúmes e James não consegue me deixar em paz por isso. Mas Harry prefere dormir comigo, pelo menos, e já fico satisfeita. Sempre que dormimos juntos, James tira uma foto. Não existe pai mais coruja que ele. Ok, talvez Sirius. Os dois formam uma boa dupla de pais, não conheço melhores que eles. Harry e Isabella tem muita sorte.

Falando em Isabella, minha afilhada é a menina mais encantadora que já pisou na Terra. Ela completa dois anos em dois dias e é tão esperta! Ela e Harry juntos são a coisa mais linda do mundo. Mesmo com a diferença de um ano, eles são loucos um pelo outro. Isabella o agarra pelo pescoço num abraço desajeitado e diz “Ti amu, Ally” toda vez que o vê. Harry mal fala, então só a abraça de volta e ri. Perdi a conta de quantas vezes eu e Marlene choramos vendo a cena. Tão inocente e tão cheia de significados.

Eu sou tão feliz. Quando olho para os lados e me vejo cercada por pessoas tão incríveis, eu só consigo pensar nisso. 

Quando foi que a vida mudou tanto? Isso é algo que sempre passa pela minha cabeça. Não só a minha vida, mas a de todo mundo. Meu pai reencontrou a felicidade nos braços de Marion. Sirius reencontrou o caminho nos braços de Marlene. James me ensinou a viver. Isabella e Harry nasceram. Quando foi que “ser feliz” deixou de ser utopia para virar realidade? Eu poderia dizer que foi quando eu entrei naquela cafeteria, o que não seria mentira nenhuma, mas também não seria verdade completa. Não tem data certa, é tudo tão embolado, as coisas aconteceram tão rápido que, se parar para pensar, não dá para saber quando exatamente. Como, talvez. Quando, não.

Tempo, força de vontade e muito amor se encarregaram de colocar a vida nos eixos. Não foi fácil, não mesmo, mas a sensação de chegar ao fim da jornada é tão gratificante. Se eu tivesse a chance de voltar no tempo, faria tudo de novo. Nenhum arrependimento faz parte do meu caminho até aqui. E eu espero que nenhum faça parte do que eu ainda preciso percorrer.

Dá para acreditar que...

 

- Ei, o que você está fazendo? – Lily levantou os olhos da folha de papel e fitou James, que acabava de entrar no quarto.

- Terminando.

- O quê?

- Nossa história. Bom, o início dela, pelo menos. O caderno que Marlene me deu está na última folha.

- Vou comprar outro para você. E quando o próximo terminar, eu compro mais um. Ainda viveremos coisas suficientes para você encher vários cadernos.

Ela sorriu.

- Eu sei que sim. Foi você quem me deu material para escrever esse aqui e tenho certeza de que vai me dar muito mais. Nossa vida está só início.

James deu beijo nela.

- Termine de escrever e depois desça, Sirius acabou de ligar e disse que vai chegar em dez minutos.

Lily assentiu, observando-o pegar Harry no cercadinho ao lado, e voltou sua atenção ao caderno.

 

Dá para acreditar que só faz três anos desde que tudo isso começou? 2012 é tão diferente de 2009, tão melhor. Quem podia imaginar que aquela menina de dezessete anos, quase oca, se tornaria uma mulher de vinte quase completa? Eu não canso de pensar que, se em três anos a vida mudou tanto, o que será que vai mudar nos próximos dez? Ou quinze? Eu espero, sinceramente, que o mundo não acabe esse ano, como andam dizendo por aí, porque eu quero saber o que o futuro me reserva. Mas, se ele for metade do que o meu presente é, eu já ficarei satisfeita.

Porque, como eu mesma escrevi uma vez na escola, a felicidade tem gosto de chocolate. E uma vez que você a prova, não pode largá-la. Eu encontrei a minha e não abrirei mão dela.

Lily Evans, senhoras e senhores, é feliz.

 

Lily levantou a caneta do papel e fitou a última frase. Sim, poderia terminar daquele jeito.

“Lily Evans, senhoras e senhores, é feliz”.

Seu olhar se desviou para uma sequência de porta-retratos em cima da escrivaninha que sempre a fazia sorrir: uma foto dela com o pai, uma do seu casamento e uma com Harry recém-nascido em seu colo.

A gargalhada alta do seu filho, entrando pela janela aberta, a despertou. Com um sorriso, ela fechou o caderno e o guardou. Aquela história tinha acabado.

Levantou-se, ajeitou o vestido e desceu. O jardim da mansão estava todo decorado para a festa. Era a comemoração dos aniversários de um ano de Harry e de dois de Isabella. Como nasceram em datas próximas, ele no fim de julho e ela no início de agosto, Lily e Marlene decidiram comemorar no mesmo dia. Era um sábado, 4 de agosto, e o tempo estava ameno e firme. Perfeito para uma festa no jardim.

Lily cruzou o caminho até a mesa do bolo no momento em que Marlene, Sirius e Isabella chegavam. A menina correu para Harry na hora em que o viu e fez exatamente a mesma coisa que Lily descrevera no caderno. Eles estavam absolutamente adoráveis arrumadinhos e andando de mãos dadas.

Cerca de uma hora depois, o jardim estava tomado por crianças. Lily tinha sido uma solitária a maior parte da vida, mas Harry não seria. E, mesmo que ele não crescesse com aquelas crianças, Isabella estaria com ele, e só isso já a deixava feliz.

Na hora dos parabéns, Lily admirou o filho bater palminhas com entusiasmo e sorriu emocionada. Viu Isabella tentando cantar a música junto com os outros e soltou uma risada que chamou a atenção de Marlene. Ela sorriu para Lily como se dissesse “veja aonde chegamos”.

- É, veja só aonde chegamos. – Lily falou baixinho no ouvido de Harry antes de soprar a vela com ele.

Algumas horas depois, só restavam os aniversariantes e os familiares na mansão. Lily, James, Marlene e Sirius estavam dividindo um banco no jardim, observando Harry e Isabella brincarem. Um pouco afastados deles, o Sr. Potter, os Srs. McKinnon, o Sr. Evans, Marion e a Sra. Phillip conversavam, e Charles jogava bola com Liam. Lily olhava para tudo aquilo e não conseguia acreditar. Já fazia três anos desde que tudo começara e ela ainda não tinha se acostumado a ver todos juntos.

- No que está pensando? – James perguntou.

- Se isso é mesmo real. – Lily respondeu.

Marlene bufou ao lado dela.

- Sério, Lily, o que falta para você acreditar?

- Não sei. Acho que só estou me sentindo um pouquinho emotiva porque terminei o caderno hoje.

- O caderno que eu te dei no nosso primeiro Natal? – Marlene perguntou, surpresa. Lily assentiu. – Que uso você fez dele?

- Diário, anotações, fotos. Falei de vocês, claro.

- Falou mais de mim, eu acredito. – Sirius se meteu.

- Claro. – Lily respondeu, revirando os olhos. – Falei muito de todos vocês.

- Como o quê? – Marlene perguntou, curiosa.

- Eu não vou contar. – disse. Eles olharam indignados para ela, que riu. - A única coisa que eu faço questão de dizer sobre o que eu escrevi é o quanto eu amo vocês.

- Mas disso a gente sabe! – Marlene e Sirius disseram em uníssono.

James olhou de cara feia para eles, que deram de ombros.

- Mas a gente sabe mesmo, ué. – disse Sirius.

Marlene, por outro lado, deu um apertão na mão de Lily.

- Nós sabemos o quanto você nos ama, Lily, e nós te amamos demais também. Você acha que só você tem a agradecer, mas não é verdade. Obrigada por ser minha amiga, por ter cuidado de mim quando Sirius estava no hospital, por ser uma madrinha maravilhosa para minha filha e por ter me dado o afilhado mais lindo do mundo. E, mais importante, obrigada por fazer feliz o meu melhor amigo. James não é nada sem você.

Lily sorriu e deu um abraço em Marlene. Nesse momento, Harry veio cambaleando e se apoiou nos joelhos da madrinha.

- Diga, coisa linda da dinda. Você quer brincar comigo? – ela interpretou o aceno dele como um sim e se levantou para ficar com ele e Isabella.

Os outros ficaram em silêncio por uns segundos, admirando Marlene brincar com as crianças.

- Eu amo esse molequinho. – disse Sirius. De repente, ele se virou para Lily. – Marlene tem razão, sabe? Nós fizemos muita coisa por você, mas você fez muito por nós. Amizade é uma via de mão dupla e o que nós temos nunca teria ido para frente se você também não tivesse se dedicado. Portanto, Lily Potter, se estamos aqui hoje é por causa de todos nós. – ele sorriu e deu um beijo na bochecha dela. – Agora, se você me der licença, minha cara donzela, eu vou acompanhar aquela linda dama e aquelas preciosas crianças na brincadeira.

Lily riu. Fazia tempos que ele não a chamava de donzela ou falava daquele modo. Ela se sentiu com dezessete anos novamente.

- Pode ir, meu dileto cavalheiro. Eu ficarei muito bem protegida com o meu príncipe. – respondeu, deitando a cabeça no ombro de James.

- Eu sei disso. – Sirius falou, piscando um olho para ela.

Eles ficaram num silêncio confortável por alguns minutos. James fazia carinho no braço dela e os dois ficaram observando os arredores. Uma lágrima fujona escapou quando Lily se deu conta de que aquela parte da história tinha realmente acabado. Era hora de começar outra.

Ela não sabia se existia o paraíso, mas, se existisse, aquele era o dela. Uma paisagem bonita e as pessoas mais importantes da sua vida ali reunidas. Não podia e não precisava pedir por mais nada.

Tornou a olhar cada um deles, sorrindo. Os mais velhos conversando e soltando gargalhadas – gargalhadas! Quatro anos antes, Lily jamais imaginaria ver seu pai gargalhando de verdade –; Charles e Liam suados, com as camisas abertas, jogando futebol; Marlene e Sirius brincando com Harry e Isabella. Se tinha uma coisa que Lily queria mais do que ser feliz, era ver os que ela amava felizes. E era isso o que via agora.

Com um sorriso, ela olhou de Harry para James. Seus dois grandes amores, tão parecidos e tão dela. A família dela: James, Lily e Harry Potter.

- Jame? – chamou, baixinho, sem olhá-lo.

- Hm?

- Obrigada.

Ele sorriu. Sabia que ela nunca pararia de agradecer, não importa o que dissessem. James sabia que Lily tinha conhecimento do seu papel naquela história toda, mas sempre seria grata por eles terem dado a ela a oportunidade de ter um papel naquela história. Na sua própria história. Ela foi a responsável por escrever as linhas, mas foram eles que deram a caneta. Ou, melhor, o lápis de cor.

James beijou o topo da cabeça dela e respondeu:

- Sua vida precisava de um pouco de cor.

                                                         FIM

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N/A: Fim. Acabou. Adeus. Três anos exatos acabarão no segundo em que eu clicar em 'salvar'. Estou triste porque terminou, mas feliz porque estou com a sensação de missão cumprida. A história da Lily já está completa, é hora de ela (e eu) começar outra. Meu imenso, enorme, gigante muito obrigada a todos que acompanharam Colorful, sem vocês, isso jamais iria para frente. Cada comentário feito me deixava tão feliz e orgulhosa e me motivavam sempre a continuar. Eu jamais poderia abandonar essa fic e decepcionar quem disse que gosta dela. Obrigada por todos os 'posta mais!' ou 'que história linda!' ou 'obrigada, aprendi muito com a sua fic'. Isso é muito gratificante. Lily, James, Harry, Marlene, Sirius, Isabella, Jane, Charles, John, Marion, Adele, Kim Sawyer, Henry e Professora Rose (siiim, esses são todos os personagens) agradecem a companhia de vocês. Obrigada, obrigada e obrigada, amo todos e cada um!

Para terminar, só mais um recadinho: ainda vou postar mais uma fic aqui no FeB, uma Rose/Scorpius que está mais ou menos encaminhada. Você saberão quando eu postar :), mas ela provavelmente será a minha última aqui. Estou criando um blog literário com amigos, onde vamos postar histórias lá. Eu não vou divulgar o nome ainda porque não está pronto. Quando sair, eu venho aqui mesmo, em Colorful, compartilhar. Espero que vocês confiram e gostem! :)

Só isso. Acabou Colorful, mas eu espero que vocês continuem voltando e releiam sempre. Obrigada por tudo, de coração!

Liv 

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