Felicidade




Lily atravessou o corredor com passadas rápidas, sentindo o gosto salgado das lágrimas que desciam pelo rosto, e cruzou com Charles à porta do quarto dele.


- Lily, você está bem? – perguntou ele, preocupado. Mas ela não parou, simplesmente acelerou o passo até que estivesse na segurança do seu quarto. Sabia que Charles a seguia e tentou fechar a porta a tempo, mas ele foi mais rápido e conseguiu entrar.


- Saia daqui. – mandou Lily, afastando-se da porta e virando as costas para ele.


- Não. – ele respondeu calmamente, fechando a porta atrás de si. Charles conseguia ver as costas de Lily tremendo com os soluços que a sacudiam.


- Charles, vá embora! Por favor, eu só quero ficar sozinha.


- Não vou sair, Lily. Não enquanto você não me disser o que houve.


- Está tudo bem! – esganiçou ela. Charles atravessou o quarto e a puxou pelo braço, virando-a de frente para ele.


- O que seu pai fez? – ele perguntou, genuinamente preocupado. Lily levantou os olhos verdes lacrimosos e fitou os azuis dele, que não tinham o costumeiro brilho de malícia, mas sim expressavam aflição e... carinho? Era como se ele quisesse cuidar dela. E Lily precisava desesperadamente desabafar, chorar, gritar, e ele estava ali. Por ela. Então, ela simplesmente se deixou levar e afundou o rosto no peito dele. Charles enlaçou os braços ao redor do corpo dela e afagou seus cabelos, enquanto ela chorava alucinadamente.


- Eu não agüento mais! – Lily soluçou, agarrando as costas da camisa dele. Charles a puxou para o sofá e a abraçou pelos ombros, deixando que ela voltasse a encostar a cabeça nele. – Eu não consigo suportar mais um segundo. Tudo o que ele faz é me machucar! E por quê? O que há de errado comigo? O que eu fiz de tão ruim a ele, Charles?


- Olha para mim. – Charles pediu e segurou o rosto dela entre as mãos, forçando-a a olhar para ele. Diretamente para os seus malditos e hipnóticos olhos azuis. Ele devia parar com isso, de verdade. – Preste atenção, Lily: você é linda, inteligente, bondosa, sincera, honesta, justa, generosa, talentosa, educada, compreensiva e carismática ao ponto de fazer qualquer pessoa se apaixonar por você. Não há nada errado com você. Na verdade, tudo parece... certo. Seu pai é um imbecil por não perceber como você é maravilhosa e ele não merece as suas lágrimas. Entendeu?


Seriam essas palavras uma declaração de amor?


Lily, chorando ainda mais depois de todos os elogios que Charles lhe fez, assentiu sem dizer uma palavra. Ele enxugou as lágrimas que teimavam em escapar dos olhos dela e fez um carinho em sua bochecha, fazendo-a soltar um pequeno sorriso.


- Obrigada. – disse ela, realmente agradecida. Charles, que mantinha as mãos no rosto dela, aproximou o seu próprio e ela teve certeza de que ele iria beijá-la. E algo dentro dela, bem profundamente, quis que ele fizesse isso. Mas, apesar do coração acelerado por causa do momento, seu cérebro trabalhava loucamente e o rosto de James aparecia nitidamente em sua memória. Ela tinha namorado, ora essa! – Charles, não faça... – mas ele apenas pressionou os lábios na testa dela, fazendo-a fechar os olhos com o toque cheio de ternura.


- Boa noite, Lily. – levantou-se e a deixou sentada no sofá, ainda com as pálpebras cerradas. – Durma bem. – completou antes de olhá-la uma última vez e fechar a porta. Lily abriu os olhos e jogou a cabeça para trás, contra o encosto do sofá, esfregando as mãos no rosto.


- Tome vergonha na cara, Lily Evans. Você é comprometida! – disse para si mesma, levantando-se. Trocou de roupas, fez sua higiene pessoal e se enfiou debaixo das cobertas. Pegou no sono rapidamente, mas foi uma noite turbulenta, pois toda a sua pesada carga emocional a fez ter sonhos confusos com James e Charles a disputando, sua mãe no leito de morte, ela e o pai discutindo... as imagens difusas se revezavam em sua mente e quando o dia amanheceu, tudo o que ela sabia era que estava morta de cansaço e que tinha profundas olheiras roxas sob os olhos. Mas, ao descer para o café da manhã, apenas se deu ao trabalho de escovar os dentes e enrolar o cabelo embaraçado num coque desleixado. Sequer trocou a calça e a blusa de moletom que usava para dormir.


Irritada, Lily não lançou um mísero olhar ou disse uma palavra para o pai quando se sentou ao seu lado à mesa do café. Saborearam a refeição em silêncio total e não se despediram quando o Sr. Evans saiu para trabalhar. A Sra. Phillip quis saber o que tinha acontecido, mas Lily preferiu não tocar no assunto. Ela passou o resto do dia trancada no quarto lendo Jane Eyre.


E fugindo de Charles, é claro.


Oh sim, ele a atraía. E muito, muito mais do que deveria. O que Lily sentia por James era amor, paixão, respeito, carinho, devoção e gratidão por tudo o que ele já havia feito por ela. Com Charles era diferente: não havia amor ou paixão. Ela não era remotamente apaixonada por ele, mas seu jeito displicente, arrogante, malicioso e zombeteiro, sua voz arrastada e suave e seus, mais uma vez, maravilhosos olhos azuis a atraíam mais do que ela podia suportar. Ele tinha sido um ombro amigo na noite anterior, mas cenas como aquela não poderiam se repetir, senão coisas ruins poderiam acontecer entre eles.


Ruins? Bom, depende do ponto de vista de cada um, não?


Charles Phillip era um completo cafajeste e não valia à pena arriscar a relação sólida que tinha com James por causa de um rapaz abusado. Lily temia comprovar a velha teoria de que as mulheres amam os cafajestes, mas o pior é que ela estava chegando lá. Ela precisava se manter o mais longe possível dele. Querendo ou não.


Lily só saiu do quarto para fazer as refeições. Além de tentar seguir o plano de evitar Charles, ela queria ficar sozinha. Pela primeira vez em dias, ela quis apenas a própria companhia para que pudesse pôr em ordem os pensamentos conturbados, reajustar os sentimentos embaralhados em relação ao pai... ela só queria pensar. E pôr para fora de algum jeito. Então, pegou o caderno que Marlene lhe dera de Natal e começou a escrever sobre os pais, James e os amigos, Charles e a Sra. Phillip... qualquer coisa que lhe viesse à cabeça naquele momento ela pôs em palavras. Escreveu por horas até que se sentisse mais leve, e na página seguinte desenhou um imenso coração em preto e branco que tomou toda a folha. Quis colori-lo, mas não tinha lápis de cor, então simplesmente o deixou ali, inacabado. Fechou o caderno e sentiu seus olhos pesarem: pôr em palavras todos os seus sentimentos e dúvidas retirou todo o peso dos seus ombros, fazendo o corpo relaxar e todo o cansaço da noite anterior mal dormida se abateu sobre ela. Jogou-se na cama e caiu num sono pesado em instantes. Acordou na manhã seguinte com a Sra. Phillip puxando suas cobertas.


- Acorde, querida. Você tem que se arrumar para a escola. – disse ela, saindo do quarto. Lily se espreguiçou e rumou para o banheiro, de onde saiu pronta meia hora depois. Tomou um rápido café da manhã na companhia de Charles, cujas aulas na faculdade também começariam. Despediram-se e Lily lhe desejou boa sorte no primeiro dia de aula; ela podia evitá-lo, mas não custava ser educada. Lily se lembrou, ainda bem, que James também começaria a faculdade (ele era dez meses mais velho que ela) no curso de Direito, então ligou para ele e lhe desejou um bom dia.


Lily esperava uma tranqüila volta às aulas: as colegas estariam empolgadas demais para fofocar sobre o recesso com as amigas e não lhe dariam atenção. Mas suas esperanças foram por água abaixo no terceiro tempo, durante a aula de Escrita Criativa. A Sra. Palmer, uma senhorinha de rosto bondoso, mas absolutamente severa, pediu que as meninas escrevessem uma redação sobre felicidade. Ao fim do tempo estipulado, ela perguntou quem gostaria de ler e boa parte das meninas levantou a mão; Lily, porém, permaneceu de cabeça baixa, escondendo-se sob os fios vermelhos dos cabelos. Ela odiava falar para a turma. Simplesmente odiava.


Adivinhem quem a professora escolheu.


- Srta. Evans, por favor. – chamou a Sra. Palmer, parando ao lado dela. Lily ergueu a cabeça e olhou suplicante para a senhorinha, pedindo em silêncio que ela escolhesse outra garota. – Ora, menina, não seja tímida. Levante-se e leia, ande. – Lily ia pedir, dessa vez com veemência, para não ler, mas as risadinhas cínicas de Kim Sawyer e suas amigas chegaram aos seus ouvidos. Irritada, Lily sorriu falsamente para a professora e se levantou: ela leria seu texto (que ela sabia estar bom) sem cometer gafe alguma ou gaguejar, e faria Kim Sawyer engolir suas malditas risadas, nem que ela mesma as empurrasse goela abaixo. A partir desse momento, Lily Evans, seu nome do meio seria Dignidade.


Já estava na hora.


- Hum hum. – pigarreou ela, chamando a atenção da turma. Ergueu o texto à altura dos olhos e começou: - Mahatma Gandhi uma vez disse que não existe um caminho para a felicidade, mas sim que a felicidade é o caminho. Eu concordo: ser feliz faz tão bem à vida quanto dormir, comer ou respirar e não é à toa que dizem que rir é o melhor remédio. O coração agradece.


A felicidade não provém de muito dinheiro, jóias, carros luxuosos e roupas de grife. A riqueza material pode ser fonte de alegrias, mas não é garantia. A verdadeira felicidade é feita das coisas pequenas: um sorriso aberto, um beijo na pessoa amada ou um abraço apertado; uma conversa regada a risadas com os amigos ou um passeio com o namorado ao pôr do sol; uma foto que grave para sempre um momento memorável; um carinho ou uma flor de presente; uma tarde no parque de diversões e dedos lambuzados de algodão-doce... Felicidade é a sensação de olhar para os lados e ver que não está sozinha, não mais. Felicidade é descobrir que o mundo tem muito mais cores do que apenas o cinza. A felicidade é simplória e a simplicidade é mais prazerosa.


Ser feliz é ser você mesmo. É como voar e sentir o vento no rosto. A felicidade tem gosto de chocolate e uma vez que você a prova, não consegue mais deixá-la. Não pode deixá-la. Não quer deixá-la. Ela fica impregnada em você para sempre.


A felicidade é viciante. E esse vício é impossível de abandonar. – Lily baixou a folha e ergueu os olhos para as colegas de turma. Estavam todas em um silêncio estarrecido. Porque perceberam verdade em suas palavras. Mas não apenas nas palavras.


Pela primeira vez, as meninas enxergaram a verdadeira Lily Evans.


E ela pôde ver isso. Sorriu abertamente para as colegas como há anos não fazia. A Sra. Palmer bateu as mãos enrugadas uma contra a outra animadamente.


- Muito bem, Srta. Evans! – disse ela sorrindo. – Ótimo, ótimo! Seu texto ficou muito bom. Bastante... sincero, não acham, meninas? – a professora perguntou às outras alunas, mas elas continuaram caladas. A senhorinha repetiu a pergunta de forma séria – Não acham, meninas?


- Sim, Sra. Palmer. – responderam todas em uníssono. A professora sorriu.


- Ah, assim está melhor. Srta. Evans, parabéns pelo texto. E se a senhorita repetir esse feito na prova, tenha certeza que eu lhe darei um A+. – Lily sorriu feliz da vida para a Sra. Palmer, que lhe retribuiu. – Pode se sentar agora. Certo, agora venha você, Srta. Neil.


A aula prosseguiu normalmente depois que Juliet Neil leu seu texto. A Sra. Palmer elogiou muitas das meninas, mas corrigiu outras tantas. Ao fim do quarto tempo de aulas, o sino do almoço tocou e quatrocentos pares de pernas correram para o refeitório. Lily se enfiou na fila do almoço cantarolando alegremente, ainda encantada por ter arrancado um elogio sincero de uma das professoras. Ela cantarolava uma sinfonia de Chopin, que costumava tocar ao piano, enquanto se servia de macarronada; mas a música morreu em sua garganta quando ela entrou na fila para pegar suco.


- Veja que patética. – ela ouviu Kim Sawyer dizer à Kelly Grant alto o suficiente para que um bom número de garotas próximas a elas ouvisse. – Só porque ganhou um sorriso da velha Palmer, a Evans está se achando gente. – Lily apertou as beiradas da bandeja com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos, mas se recusou a retrucar. Era preferível ficar quieta. – Ela deve ser bem carente, não é mesmo? Sempre sozinha por aí... aposto que não tem amigos. A mãe dela não deve tê-la ensinado como falar com as pes...


BAM!


Lily bateu a bandeja na bancada, fazendo o suco derramar, mas ela não se importou. Girou nos pés e encarou Kim Sawyer que a olhava com desdém. As outras meninas, porém, pareciam espantadas: Lily Evans contra-atacaria?


- Tudo bem, Sawyer. – disse ela em voz alta, mas relativamente calma. Não elevaria o tom de voz, prometeu a si mesma. – Acho que já está bom. Chega de piadinhas, ok?


- Por que, Evans? Eu estou me divertindo, você não? – Kim sorriu ironicamente, mostrando as fileiras de dentes perfeitamente alinhados.


- Nem um pouco. – Lily respondeu cruzando os braços sobre o peito. Kim soltou um risinho pelo nariz, fazendo Lily suspirar cansada. – Meu Deus, garota! Qual o seu problema?


- Eu não tenho problema algum.


- Ah, tem. E eu acho que sei qual é. – Kim olhou para Lily com indiferença, esperando a conclusão. – Você é tão infeliz que precisa menosprezar e diminuir as outras pessoas para se divertir. E depois que você leu sua redação maravilhosa sobre status e qualquer outra futilidade assim, eu tive mais certeza. Mas veja que legal, você é tão popular que o seu problema de “sou muito rica e por isso sou muito feliz” é pertinente à aula de hoje. Interessante, não?


- Não sei do que você está falando, Evans. – disse Kim desdenhosamente. – Eu sou muito feliz! Tenho tudo o que eu quero ter.


- Claro. Você tem dinheiro, beleza, capachos... ops, amigas. Tudo mesmo. Então, se você é tão feliz como diz, conte-me por que você é uma tremenda vaca. – Lily adorou xingá-la. Adorou de verdade. Parecia música aos seus ouvidos e era realmente revigorante.  


- Vaca é a sua...!


- Mãe? Você realmente falaria mal de uma morta? – um ‘ooh’ ecoou pela cantina. Kim, que já se preparava para avançar contra Lily, parou e arregalou os olhos castanhos. – Está vendo? Você estuda comigo há mais de dez anos, mas é tão obtusa e egoísta que nunca se deu conta de que minha mãe está morta há quase quatorze anos. – apesar de mencionar a morte da mãe, Lily continuava serena. – Você só se preocupa com seu próprio umbigo, Sawyer.


- Não é verdade! – gritou Kim enraivecida, atraindo de vez a atenção de todas as outras trezentos e noventa garotas. Mais as moças da cantina.


- Não? Então me responda: qual a data do aniversário da Jen Parker? – Lily jogou verde e rezou para que Kim não soubesse quando uma das suas mais obedientes seguidoras fazia aniversário. Sorriu abertamente quando a viu olhar de forma apreensiva para Jen.


- Ham... Seis de abril! – respondeu com certeza. Tanta certeza que parecia verdade. Mas, adivinhem só, não era.


- Foi semana passada, Kim! – quem respondeu foi a própria Jen, magoada. – E você disse que não poderia ir porque ficou doente durante o recesso! Como pôde? – irritada, Jen Parker saiu pisando duro, sendo acompanhada pelos olhares de todas as meninas. Kim mirou seus olhos repletos de ira no rosto de Lily.


- Você me paga, Evans! Você me fez perder uma...


- Seguidora. – completou Lily, rindo. – Só pode ser, porque amigas você não tem. – a garota ameaçou retrucar, mas ela não deixou. – Preste atenção: você tem dinheiro, status e influência! Isso é suficiente para as pessoas te seguirem, porque elas também querem uma fatia dessa popularidade. Mas, na realidade, ninguém se importa de verdade com você, porque você é tão insuportável que afasta qualquer um que tenha um interesse genuíno por você e não pelas suas coisas.


- Evans, eu estou avisando! Você não sabe com quem está se metendo! – Kim tremia descontroladamente tamanha era a raiva que sentia. Estava claro que ela arrancaria a cabeça de Lily se pudesse.


- Obviamente eu sei. Estou me metendo com uma pilantra invejosa.


Uau! A gatinha tem garras. Isso aí, Lily, acaba com ela!


Um sonoro ‘uuuuh’ entoado por mais de trezentas e noventa bocas fez vibrar o coração de Lily. Se ela soubesse que devolver toda humilhação que Kim Sawyer já havia lhe feito passar fosse tão divertido, definitivamente começaria mais cedo.


- Invejosa sim! – continuou sob o olhar perplexo da ‘arquiinimiga’. – Se tudo isso não for um amor proibido que você sente por mim, só pode ser inveja. Você me inveja porque eu sou mais inteligente e meu cabelo é melhor que o seu! Ah, e consideravelmente mais rica também, já que eu sou herdeira de um dos maiores impérios da Europa. Ah! E mesmo que você não saiba, inveja também meu namorado lindo e meus amigos maravilhosos.


- Sua abusada! Prepotente! Arrogante! – Kim gritava os insultos a plenos pulmões, mas Lily apenas deu de ombros. – E eu duvido que você tenha namorado! Ninguém em sã consciência namoraria você!


- Nunca fui arrogante, Sawyer. Mas passei tanto tempo sob esse rótulo que resolvi experimentá-lo. É divertido, mas não faz meu estilo. – Lily preferiu ignorar a última fala da outra; depois ela mostraria que seu namorado era real. Findou os poucos metros que a separavam de Kim e parou a pouquíssimos centímetros dela. – Eu cansei de ser sempre a boazinha, porque eu descobri que os bonzinhos só se dão mal no fim das contas. Abra o olho, Sawyer, porque eu aprendi a me defender e eu não vou mais apanhar calada. Espero que estejamos entendidas. – e dizendo isso, Lily lhe deu as costas e pegou sua bandeja, para depois se dirigir calmamente a uma mesa. Trezentos e noventa e nove pares de olhos arregalados a seguiram.


Lily não tinha idéia de onde saíra tamanha coragem, mas podia dizer com certeza que se sentia maravilhosamente bem. Como dissera Marlene semanas antes: eles haviam criado um monstro.


Pouco a pouco, enquanto Lily comia sua macarronada, ainda sentindo o corpo inteiro tremer e a adrenalina correr pelas veias, as meninas voltaram a se concentrar em seu próprio almoço e o burburinho das vozes começou a aumentar.


- Com licença. – Lily levantou a cabeça e olhou para a menina à sua frente sem acreditar. Era Adele Mitchell, da sua classe de Álgebra II, e que nunca havia trocado mais de uma palavra com ela. E agora estava ali, falando com ela? – Oi, Evans.


- Oi, Mitchell. – respondeu hesitante. – Você precisa de, ahn, alguma coisa?


- Será que eu posso me sentar aqui?


- Comigo?! – ela exclamou incrédula. Fazia muito tempo desde a última vez em que alguém lhe havia lhe feito companhia no almoço e ela tinha plena certeza de que fora ainda no Jardim da Infância. Adele assentiu com a cabeça. – Hã... tudo bem.


Nada como partir para a briga com uma pilantra irritante para todo mundo querer ser seu amigo, não é mesmo, Lily?


- Foi muito legal o modo como você derrubou a Kim Sawyer. – disse Adele com um sorriso animado no rosto. – Ela estava merecendo.


- É, eu estava com umas coisinhas entaladas na garganta há bastante tempo. E quando ela falou da minha mãe, eu não agüentei mais.


- Bom, foi divertidíssimo, ahn... Lily. – Adele sorriu sem jeito ao chamá-la pelo primeiro nome. Mas Lily gostou e lhe respondeu do mesmo modo.


- Obrigada, Adele.


- Lily, eu quero também te pedir desculpas.


- Pelo o quê? – perguntou ela sem entender.


- Por sempre ter dado ouvidos às fofocas que diziam como você era esnobe por causa do dinheiro e ter acreditado que você sempre andou sozinha porque era boa demais para o resto de nós. Agora eu vejo como fui uma completa imbecil e quero dizer que passei a te admirar, porque você foi muito corajosa ao enfrentar a Sawyer. – Lily encarava boquiaberta a menina. Então era isso que falavam dela?


Surreal, não?


- Bom, Adele... – começou ela, passando a mão pelos cabelos, completamente sem jeito. – Eu acho que... hã... tudo bem, desculpas aceitas.


- Tem certeza? – Adele parecia mesmo arrependida, então Lily sorriu.


- Tenho, não se preocupe.


- Então... colegas? – perguntou ela, estendendo a mão.


Ela estava fazendo uma nova amiga! Na escola! Uau!


- Claro! – respondeu e apertou a mão da garota. Adele, então, começou a comer, mas Lily teve uma idéia. Não poderia perder a oportunidade. – Adele, você tem telefone celular? – ela assentiu e puxou o aparelho do bolso da saia. – Você pode me emprestar? Obrigada. – Lily discou o número de casa e convenceu a Sra. Phillip a deixá-la ir embora com James. Depois teclou o número que já sabia de cor e pediu ao namorado que fosse buscá-la na escola, se já tivesse saído da faculdade. Sorriu ao ouvir a confirmação, desligou e devolveu o celular à Adele. – Obrigada.


- Se não se importar em responder, para quem você estava ligando?


- Para meu namorado. Vou completar a minha revanche contra a Sawyer em grande estilo. – disse e sorriu bobamente para Adele, que a acompanhou.


Após o intervalo, as aulas da tarde passaram rapidamente e só se falava na briga entre Lily Evans e Kim Sawyer no refeitório.


Como se houvesse viva alma naquele colégio que não tivesse visto a cena.


Quando o sinal que indicava o fim daquele dia de estudos tocou, Lily seguiu as colegas até o pátio de entrada, onde as meninas esperavam quem quer que fosse buscá-las. Não precisou esperar um minuto. Do outro lado da rua, encostado no capô do carro com os braços cruzados sobre o peito e óculos escuros estava James Potter. Atraindo todas as atenções.


- Quem é aquele? – ela escutou uma menina do segundo ano perguntar a uma amiga e sorriu. Deu um tchauzinho simpático para Adele e caminhou graciosamente até o carro.


- Oi, amor. – disse James e quando ela chegou perto o suficiente, ele a agarrou pela cintura e lhe deu um beijo saudoso. Lily sorriu por entre os lábios dele, sentindo os olhares fulminantes em suas costas. – A princesa gostaria de uma carona na minha humilde carruagem? – brincou quando se separaram.


- Adoraria. – eles sorriram bobamente um para o outro, daquele jeitinho apaixonado, e entraram no carro. James deu a partida e arrancou, deixando para trás centenas de meninas chocadas.


Inclusive Kim Sawyer, que ao ver tal cena, não teve reação a não ser escancarar a boca e arregalar os olhos.


- Do que você está rindo? – perguntou James, olhando de relance para Lily.


- Eu já te contei como sempre fui humilhada na escola? – ela disse. Ele negou com a cabeça. – Você sabe que eu sou tímida.


- Nunca tinha percebido, afinal, você deu em cima de mim quando nos conhecemos. – James brincou, arrancando uma risada dela.


- Estou falando sério!


- Certo, desculpe. Conte sua história.


- Bom, há uma menina da minha turma que passou muito, muito tempo mesmo fazendo da minha vida um inferno, sabe-se lá por que. Não havia um só dia em que ela não me importunasse, falasse mal de mim ou jogasse a minha bandeja de comida no chão. – James arregalou os olhos, mas nada disse. – Eu não tinha amigas que me defendessem, porque as meninas sempre acreditaram nos boatos que ela inventava sobre mim e, tímida como sou, nunca pedi que ela parasse.


- E então?


- Acontece que eu cansei.


- Como assim?


- Hoje, quando eu estava me sentindo muito feliz por ter ganhado um elogio de uma professora, ela resolveu me humilhar novamente. Mas acontece que, dessa vez, ela colocou minha mãe na história e foi a gota d’água.  Eu despejei toda a minha raiva dos anos de humilhações sobre ela hoje e devo dizer que foi ótimo derrubá-la do pedestal na frente da escola inteira como ela sempre fez comigo. Eu disse a ela que preste atenção, porque eu não vou mais apanhar quieta.


- Você não partiu para cima dela?


- Não. Ela queria, mas eu sou melhor que isso. – Lily suspirou. – De qualquer forma, duvido que ela continue. Posso ter demorado muito tempo para acordar desse coma, mas antes tarde do que nunca, certo? – James concordou. – E além de tudo, ela disse que ninguém em sã consciência me namoraria!


- Bom, então eu sou louco. – Lily emburrou a cara, achando que ele concordava com o que Kim tinha dito. – Louco de amor por você. – James se apressou a completar e Lily relaxou o rosto e sorriu bobamente para ele.


Ah, o amor.


- Espere aí um instante! – ele disse, a ficha caindo. – Então você me usou, Lily?


- Desculpe. – não adiantava negar, era verdade mesmo. – Você está bravo?


- Não. Mas você podia ter me contado antes.


- Eu não sabia que daria um show durante o intervalo, James. Desculpe, mas eu precisava provar que eu posso ser uma adolescente comum, de verdade, que é capaz de arrumar um namorado. Eu precisava provar que não sou uma estranha no ninho, que eu posso ser como elas.


- Lily, você não precisa provar nada a ninguém. Não ligue para o que os outros pensam de você.


- Eu nunca liguei. Mas eu acumulei coisas demais e eu tive que desabafar porque isso me fazia mal. – ela suspirou e fez um cafuné nele. – Você está chateado.


- Não estou. Eu entendo você, Lily. Não se preocupe, está tudo bem. – ele sorriu, mas manteve os olhos na estrada. – E de qualquer forma, acho que a culpa disso tudo é minha.


- Pode ser. – Lily sabia do que ele estava falando. – Você me mostrou muito mais do que eu jamais esperava ver. Se eu não conhecesse o mundo como ele é de verdade, se eu não percebesse como é uma verdadeira relação entre pai e filho ou descobrisse o que é amizade, provavelmente jamais teria enfrentado todos os meus medos como eu tenho feito. Eu tinha medo do meu pai, medo da Kim Sawyer, medo de todo mundo. Mas eu não tenho mais, graças a você.


- E é por isso que você me ama. – disse ele, com um sorriso enorme.


- Não só por isso. Porque você é lindo e compreensivo, e apesar dos defeitos...


- Ei, eu não tenho defeitos! Eu sou perfeito! – indignou-se ele.


- Arrã, perfeito para mim e isso basta. – sorrindo, Lily plantou um beijo na bochecha dele. James suspirou e encostou o carro. – O que foi?


- Eu preciso te beijar agora e não posso fazer isso dirigindo. – explicou como se fosse óbvio.


- E o que você está esperando? – antes que James respondesse, ela mesma avançou sobre ele e o beijou com ardor. Separaram-se apenas quando o ar faltava aos pulmões e sorriram um para o outro. – Eu te amo muito, muito, muito. – completou pontuando cada palavra com um selinho na boca dele. James sorriu.


- Eu também te amo. Agora vamos ou você vai chegar atrasada para a aula de ballet. – Lily soltou um gemido de frustração enquanto James voltava para a estrada.


- Você não quer me seqüestrar?


- Gostaria muito, mas não quero a polícia atrás de mim. – com cuidado, ele buscou a mão dela e a apertou carinhosamente.


Pouco tempo depois, ele estacionou na porta do Instituto de Dança. Lily se curvou para beijá-lo e depois abriu a porta do carro.


- Espere um segundo. – chamou James e ela tornou a fechar a porta – Seu aniversário é nesse fim de semana. Você tem alguma idéia de como pretende comemorá-lo?


- Bom, agora que eu tenho quem convidar para o meu aniversário, eu vou pedir à Jane que faça um bolo e algumas coisinhas para comermos lá em casa. Eu, você, Sirius, Marlene, Jane, Charles e meu pai, se ele estiver remotamente interessado. – James fez cara de entendimento. – Por quê?


- Porque nós vamos sair na véspera para comemorar. Só eu e você, sozinhos.


- O que tem em mente?


- Que tal um jantar, um passeio...? – Lily sorriu e concordou. – Ótimo, te pego às sete na sexta.


- Vou esperar ansiosa. – respondeu e lhe deu outro beijo. – Obrigada pela carona.


- Sempre que precisar. Ficarei feliz em servi-la, princesa. – rindo, Lily colocou a mochila e a sacola com as roupas do ballet nos ombros e saiu do carro. Acenando um tchau, ela viu James desaparecer nas ruas movimentadas.


Lily estava tão bem humorada que fez os passos da apresentação de dança com mais perfeição que o normal e não teve como a Sra. Rose criticá-la, de modo que manteve os lábios crispados para que não falasse algum impropério. Se sua maré de sorte continuasse, Lily até conseguiria um sorriso meia-boca da professora. Depois dos inúmeros pliés e saltos e rodopios, as meninas foram dispensadas. Menos...


Lily, é claro.


- Evans, você fica. – disse a Sra. Rose. Lily tornou a pendurar a bolsa no cabideiro e se colocou diante da professora. – Você esteve muito bem hoje. E por mais que eu não vá com a sua cara, não posso negar que você está entre minhas melhores alunas.


- Não estou muito certa se devo lhe agradecer, professora. – disse Lily timidamente, colocando uma mecha solta do cabelo atrás da orelha. Sorriu nervosamente diante do olhar severo da mestra.


- Você deve e vai me agradecer, porque eu vou colocá-la como principal no Musical da Primavera.


COMO É QUE É?


- E como nosso tema é a Aurora, você representará o Sol nascente. – continuou ela, ignorando veementemente a boca aberta de Lily. – Não sei por que estou te colocando na posição de maior destaque da apresentação, já que eu não gosto de você.


- Hum, obrigada, Prof. Rose. – disse Lily, sem parecer remotamente agradecida. – Eu acho. – completou baixinho.


- Não faça eu me arrepender, entendeu, Evans?


- Sim, senhora.


- Ótimo. Agora saia da minha frente. – Lily se apressou a obedecê-la. Pegou suas coisas e correu porta afora.


Viu, Lily? Eu sabia que alguém lá em cima gostava de você.


Ela estava chocada. Que dia maravilhoso estava tendo; tão maravilhoso que era de se estranhar. Temia que isso significasse que alguma coisa ruim iria acontecer, naquele velho estilo “quando a esmola é grande, o santo desconfia”. Se Deus quisesse, nada aconteceria. Ela rezava por isso. Não era só uma maré de sorte, porque marés de sorte vão e voltam; Lily se forçou a acreditar que as coisas estavam correndo bem porque ela mudara o rumo da história. Era isso mesmo. Nada com que se preocupar.


Tudo ficaria bem.


Discutir com a vadia da escola, ela aceitava. Mas, fala sério, papel principal no Musical da Primavera? Era muito para a cabeça dela.


Sem querer, Lily olhou para os lados na ante-sala do estúdio, procurando câmeras e esperando que um daqueles apresentadores irritantes da TV saltasse na sua frente com um grande microfone e gritasse: VOCÊ CAIU NA PEGADINHA!


Mas, realmente, ninguém apareceu. Lily não sabia se gostava disso ou não. Nunca gostara dos holofotes e passara a vida toda longe deles, nas sombras, fosse ou não forçada a isso. Então, ser colocada sob as luzes de repente lhe pegou de surpresa e era absurdamente estranho. E ela não gostava de coisas estranhas.


Pense pelo lado positivo, Lily: dessa vez, só dessa vez talvez, seu pai a veja se apresentando. Você não ficaria feliz? Ora, é claro que ficaria.


De qualquer forma, Lily não se atreveria a fazer algo errado até a apresentação. Não rejeitaria a oportunidade única de mostrar que era tão boa quanto às outras bailarinas, muito menos de arrancar um elogio, mesmo relutante, da professora carrancuda. Talvez não fosse má idéia.


Ela se arrastou para o banho assim que Henry estacionou o carro na garagem da mansão. Estava moída. Não sabia que elevar os níveis de estresse, travar uma discussão atrás da outra e dançar, tudo isso sucessivamente, fosse suficiente para cansar tanto o corpo quanto a mente. Os músculos tensos relaxaram quando Lily afundou na água quente da banheira e fechou os olhos. Ela pretendia se demorar ainda mais no banho quando um clique estalou em sua cabeça: estava tão eufórica por ter desbancado Kim Sawyer que sequer se lembrou de perguntar como fora o primeiro dia de aulas de James. Que tipo de namorada ela era?


Sentindo-se culpada pela displicência, Lily findou o banho e se vestiu rapidamente. Olhou o relógio e constatou que ainda tinha quinze minutos antes do pai chegar, o que lhe dava tempo de ligar para James sem que ele soubesse. Desceu as escadas aos pulos e, sem notar a presença de Charles na sala de estar, ela se jogou numa poltrona e discou o número da casa do namorado. Disparou a falar quando ouviu a voz dele dois toques depois.


- Por que você não parou meu falatório interminável no carro e me deixou agir como uma namorada desnaturada? – disse ela.


- Do que você está falando? – riu James do outro lado da linha.


- Do seu primeiro dia de aula! Na faculdade! – exasperou-se. Não viu Charles se remexer na poltrona ao lado. – Eu só fiquei falando sem parar sobre como eu acabei com a Sawyer e como eu sempre fui humilhada na escola.


- Achei que você precisava desabafar.


- Certo, talvez eu precisasse. Mas eu fui muito desnaturada e insensível com você, James. Eu esqueci completamente de perguntar como foi seu dia! – como estava de costas para ele, Lily não viu Charles revirar os olhos.


- Lily, relaxa! O dia foi ótimo, nada de muito interessante. Nós só nos apresentamos e falamos do sistema político da Inglaterra. Sabe como é, todo aquele negócio de Monarquia Parlamentarista. Vamos ter Introdução ao Direito1 amanhã e o professor é um cara importante dentro do Parlamento ou sei lá. Só sei que o cara é peixe grande. Mas de qualquer forma, não aconteceu nada de divertido.


- Ah, entendi. – ela hesitou por um segundo. – James, ouvi dizer que no curso de Direito há muitas mulheres. Até onde isso é verdade? – ele soltou uma risada alta do outro lado.


- É verdade mesmo. No curso de Direito tem bastantes mulheres e muitas delas são bonitas.


- Bonitas? – Lily rugiu ao telefone. Não sabia que era ciumenta até aquele momento. James assentiu do outro lado. – Então, James Potter, saiba que eu estarei de olho em você.


- Talvez eu goste de ser vigiado... Lily, não seja ciumenta. Eu só tenho olhos para você e... – ele parou um momento e voltou a falar, soltando um suspiro. – Meu pai não está em casa e Liam acabou de queimar o jantar. Aonde eu estava com a cabeça quando deixei que ele cozinhasse? Bom, preciso ir ajudá-lo.


- Tudo bem. Mande um alô para ele. E sobre os seus olhos para mim e tudo mais, eu prefiro não arriscar. – os dois riram. – Eu também te amo, James. E não quero saber de meninas bonitas se assanhando para cima de você! – completou dando bastante ênfase à ultima frase antes de desligar. Lily suspirou e recostou a cabeça na poltrona, sorrindo. James era tão maravilhoso que a fazia suspirar pelas coisas mais bobas. Como, como por Deus, ela foi capaz de pensar em Charles? Ele nem chegava aos pés de James. Nem aos pés!


É tudo uma questão de opinião, é o que eu sempre digo.


- Sabe, eu tive um dia ótimo na faculdade hoje, obrigado por perguntar. – Lily deu um pulo do assento. Era só ela pensar em seu nome que ele se materializava? Ela realmente não vira que Charles estava sentado ali e agora ele lhe encarava com aquele sorrisinho irritante nos lábios.


- Que bom. – disse ela, sem graça. Ela tinha que evitá-lo. Mas ainda assim precisava agradecê-lo. – Charles, eu quero te agradecer por ter me ajudado anteontem. Você sabe, com toda aquela história do meu pai. Foi... foi bom colocar tudo para fora, eu só precisava de alguém que me consolasse e você estava lá na hora. Então... hum... obrigada. – ela estava terrivelmente vermelha quando levantou os olhos para ele novamente. Charles sorria, mas dessa vez era um sorriso de verdade e não um dos seus sorrisos conquistadores que faziam as pernas de qualquer garota virarem gelatina.


Sou um belo exemplo disso.


- Não precisa agradecer, Lily. – disse ele. – Eu vou estar aqui sempre que precisar.   


- Obrigada.


- E, além do mais, você sabe que eu posso te fazer esquecer seus problemas num instante. É só você querer. – e lá se foi todo o momento delicado e amigável entre os dois. Lily revirou os olhos.


- Não force a barra, Charles. – ela mandou e ele soltou uma gargalhada. Lily não resistiu e o acompanhou até que ouviu barulhos na garagem. Levantou-se. – Ande, vamos jantar. Papai acabou de chegar.


A semana passou rápido. Lily havia se tornado a nova sensação da escola e atraía os olhares das colegas nos corredores e durante as aulas. E ela odiou toda a atenção que estava recebendo, odiou sua nova popularidade porque era tão falsa que lhe dava enjôo. Ser reconhecida era algo que Lily queria desde sempre, mas por ser legal e divertida e não por ter brigado com a rainha da escola. As meninas agora sentavam ao lado dela nas aulas e falavam com ela como se fossem suas amigas de infância; sequer pediram desculpas pelo jeito como a trataram durante todos os anos em que estudavam juntas. Lily ficou estarrecida quando algumas das meninas mais populares, recentes ex-amigas de Kim Sawyer (que depois de desbancada, perdeu seu status de dona da escola), chamaram-na para se sentar junto a elas na mesa ‘pop’; educadamente, ela recusou o convite, mas as meninas afirmaram que ela poderia se sentar lá quando quisesse.


Então ta.


A única pessoa com quem Lily tinha um pouco de afinidade era Adele Mitchell. Somente a menina fora capaz de se desculpar por seus pré-julgamentos e agir normalmente sem bajular Lily como todas as outras. E Lily gostava disso, porque pelo menos tinha com quem conversar durante o intervalo. Estava tão contente por ter uma nova amiga na escola que não hesitou em lhe fazer um convite, mesmo que sua recente amizade tivesse menos de uma semana.


- Adele. – disse Lily enquanto as duas caminhavam lado a lado para a aula de Álgebra na sexta feira. A menina levantou os olhos para ela. – Amanhã é meu aniversário e eu vou fazer uma reunião lá em casa com meus amigos e eu quero que você vá.


- Sério? – Adele arregalou os olhos castanhos, surpresa.


- Sério. Eu sei que só começamos a nos falar há alguns dias, mas eu gosto de você. E é a primeira vez que eu tenho alguém para convidar para alguma coisa nessa escola, além de ser também a primeira vez que eu vou comemorar meu aniversário em muito tempo. Então, o que me diz?


- Eu vou adorar, Lily. – elas sorriram uma para a outra e Lily puxou um pedacinho de papel do caderno.


- Ótimo! Aqui está o meu endereço e o horário em que o pessoal deve chegar. – Adele agradeceu e as duas entraram na sala de aula, onde a professora já começava a escrever seus apontamentos no quadro negro.


Assim que chegou da aula de espanhol no início daquela noite, Lily se apressou a se arrumar: ela sairia com James para jantar num restaurante italiano em algum lugar de Londres. Pensou em Marlene lhe dando dicas para se vestir apropriadamente para a ocasião e se decidiu por um vestido de mangas compridas, meias-calças e sapatos fechados de salto alto (algumas de suas aquisições mais recentes oriundas de seus últimos passeios com Marlene pelo shopping). Penteou os cabelos e colocou uma touca de lã preta sobre eles para se esquentar, maquiou-se e sorriu para seu reflexo no espelho de corpo inteiro: James iria gostar.


Pronta, Lily desceu as escadas e foi até a cozinha pedir a aprovação da Sra. Phillip.


- O que acha, Jane? – perguntou, dando um rodopio no meio do cômodo. A Sra. Phillip sorriu abertamente.


- Está linda, querida. Muito linda.


- Obrigada! – disse Lily, soltando um risinho nervoso. Era a primeira vez que ela e James saíam para jantar e ela estava ansiosa. Preparava-se para voltar ao quarto e pegar seu casaco quando a Sra. Phillip a segurou pelo braço e ambas se sentaram à mesa da cozinha. – O que foi?


- Você já falou com o seu pai que vai sair com o James?


Lily deu de ombros.


- Não. Ele não vai se importar mesmo.    


- Talvez não se importe, mas ele é seu pai e é quem manda em você. Portanto, mocinha, a senhorita vai colocar suas lindas pernocas para funcionar, vai subir essas escadas e vai bater na porta do escritório dele e vai lhe pedir permissão. Entendeu? – a Sra. Phillip falou severamente e Lily assentiu. Era à governanta que devia satisfações e era à ela que obedecia.


- Certo, eu vou. – Lily se levantou, mas a Sra. Phillip a puxou de novo.


- Sente aí!


- O que foi agora?


A Sra. Phillip olhou para os lados e baixou a voz consideravelmente.


- Esqueci de te contar hoje cedo. Ontem à noite, quando seu pai chegou do trabalho, eu o ouvi falar no telefone com alguém.


- E...?


- Você não vai acreditar, mas pelo o que eu entendi, ele e a tal da Marion resolveram adiar o casamento por alguns meses!


Lily arregalou tanto os olhos que as sobrancelhas se confundiram com os fios da sua franja.


- O quê?! – exclamou.


- Shh! Fale baixo! Exatamente isso. Parece que eles adiaram o casamento para julho ou algo assim.


Caramba, Lily. Talvez ele tenha te escutado.


- Só espero que ele não me culpe agora. – disse ela.


- Como se ele fosse maluco. – a Sra. Phillip soltou um risinho debochado e se levantou. – Agora vá falar com seu pai enquanto eu termino o jantar.


Lily assentiu e se levantou. Às portas da cozinha, ela cruzou com Charles. Ele a olhou dos pés à cabeça e sorriu.


- Você está muito bonita, Lily. – elogiou. – Isso tudo é para o seu namoradinho?


Ela estava aprendendo a lidar com ele, então simplesmente respondeu:


- Não enche, Charles. – e passou reto, subindo as escadas e o largando sozinho com seu sorriso idiota.


Lily encarou a porta de carvalho do escritório do pai por alguns segundos e então bateu.


- Papai? – chamou, abrindo a porta. Ele estava verificando alguns documentos pelo o que ela pôde perceber.


- Entre, Lily. - o Sr. Evans levantou os olhos e arqueou as sobrancelhas quando a viu arrumada. – Aonde vai vestida desse jeito?


- Se o senhor me der permissão, eu vou sair para jantar com o meu namorado para comemorar o meu aniversário.


- Você já está pronta, então presumo que iria sem me falar. – ele baixou os olhos para os documentos novamente.


- O plano inicial era esse, mas mudei de idéia. – leia-se “Jane mandou eu te pedir, pai.” Ela olhou para o pai, mas ele continuava a não encará-la. – E então?


- Que seja, Lily. Só vá de uma vez, eu estou ocupado.


O que? Seria fácil assim?


- Obrigada. – agradeceu. Uma luz, então, piscou em seu cérebro. Aproveitou a oportunidade. – Hum, pai?


- O que é, Lily? – rosnou ele por entre os dentes. Mas, ela não se importou.


- Como amanhã é meu aniversário, eu pensei em chamar meus amigos e meu namorado para virem para cá. Posso?


- Não se preocupe. A Sra. Phillip já havia me falado sobre isso. – assinou um papel e puxou outro. – Agora, se já tiver acabado, pode ir. – sério? Fácil assim mesmo? Então ta.


- Ok. Obrigada. – ela se levantou e ouviu, ao longe, uma buzina soar. Correu para a porta e já ia fechá-la quando tornou a abri-la e enfiou a cabeça dentro do escritório novamente. – Ah, pai?


- O que é agora, Lily?! – finalmente o Sr. Evans a olhou. Esfregou os olhos cansadamente e esperou que ela falasse.


Lily mordeu os lábios, hesitante.


- Você fez o certo em relação à Marion.


Para sua total surpresa, ela teve o vislumbre de um sorriso no rosto do pai. Mas tão rápido como veio, se foi.


- A Sra. Phillip precisa aprender a manter a língua dentro da boca. – disse ele calmamente e Lily sorriu, segurando uma risada.


- Tem razão. Boa noite, papai. – desejou e fechou a porta. Correu para o quarto, pegou seu cardigã e uma bolsa, deu uma última olhada no espelho e desceu. Na sala, ouviu as costumeiras orientações da Sra. Phillip e lhe deu um beijo de despedida na bochecha antes de correr para o carro que a esperava do outro lado dos portões. Estava nevando e ela escorregou duas vezes no gelo antes de abrir a porta do carro e entrar no banco do carona.


- Oi! – exclamou, dando um beijo em James.


- Oi. Você está linda.


- Obrigada. – sorriram.


- Pronta para uma noite normal entre namorados? Sem vigias, sem preocupação com o pai, só nós dois...?


- Prontíssima. Leve-me para longe, oh, meu herói. – Lily brincou, fazendo caras e bocas dignas de uma rainha do drama, e arrancou uma gargalhada de James.


Lily esperava ir a um restaurante no centro e se surpreendeu ao se ver longe da Londres que conhecia. Estavam no subúrbio da cidade, cheio de pequenas e aconchegantes casas, pracinhas e parquinhos. James entrou num beco pouco iluminado e estacionou o carro próximo à uma porta de madeira.


- Tem certeza de que é seguro pararmos aqui? – perguntou Lily, olhando para os lados. James deu uma risada.


- Não se preocupe, venho aqui desde criança. – disse. Lily assentiu e ambos saíram do carro. James lhe deu uma mão e esticou a outra para bater na porta de madeira antiga. Deu cinco batidas ritmadas e esperou. Lily ouviu vozes do outro lado e a porta se escancarou, exibindo um corpanzil feminino.


- Jimmy! – gritou a senhora gorducha quando o viu. Ela aparentava sessenta anos e tinha cabelos grisalhos e vivos olhos castanhos. James sorriu quando ela o agarrou num abraço esmagado.


- Como vai, Sra. Berillo? – perguntou e a senhorinha abriu um sorriso.


- Bem, bem. – respondeu ela de qualquer jeito, ainda olhando James amorosamente. Agarrou-o pelos ombros. – Mamma Mia2! Olhe só para você, Jimmy! Está tão grande! Mas ainda consigo ver em seus olhos aquele menininho que puxava a barra da minha saia pedindo sobremesa. – Lily não conteve um sorriso carinhoso ao imaginar James com cinco anos e finalmente atraiu a atenção da Sra. Berillo. – E quem é essa menina bonita, Jimmy?


- Esta é Lily, minha namorada. – apresentou. A Sra. Berillo sorriu maravilhada e a abraçou.


- É um prazer conhecê-la, Sra. Berillo. – sorrindo, Lily retribuiu o abraço da senhora.


- O prazer é todo meu. Benvenuta al mio ristorante, bella ragazza3. – Lily sorriu para ela ao entender a frase. A senhora permaneceu olhando para a menina por alguns segundos e depois sorriu para James novamente. – Ah, Jimmy, que saudade! Vamos entrar, por favor. Vou pedir ao Luigi para arrumar uma mesa.


- Luigi está aqui? – perguntou James, sorrindo.


- Está sim, querido. Resolveu me ajudar no restaurante para juntar dinheiro durante a faculdade. – ela fez um gesto com a mão, chamando-os para dentro. Lily reparou que eles entraram pelos fundos do restaurante, razoavelmente cheio. A Sra. Berillo, olhando por cima do ombro, gritou para ninguém à vista: - Luigi!


- Sim, nonna. – um garoto da idade de James apareceu prontamente na frente deles, com um lápis preso à orelha e um bloquinho nas mãos.


- Veja quem está aqui!


O garoto arregalou os olhos e abriu um sorriso ao reconhecer James.


- Jimmy!


- Oi, Luigi. – James riu quando Luigi lhe estendeu uma mão e depois lhe puxou para um abraço. – Quanto tempo, não?


- Pensei que nunca mais fosse te ver, cara! Você sumiu! Há uns três anos que eu não tenho companhia para roubar o sorvete da geladeira da vovó! E o Liam? Sempre ficava para trás nas nossas brincadeiras, coitado. – relembrou o garoto com uma gargalhada que James acompanhou. Luigi, então, deu-se conta de que não estavam sozinhos. Olhou de James para Lily e abriu um sorriso divertido. – È la tua ragazza4? – perguntou. Lily entendeu que ele perguntava se ela era a namorada de James. Fez questão de lhe responder em italiano também.


- Io sono Lily. Piacevole per incontrarlo5. – ela lhe estendeu a mão. Luigi a cumprimentou com um sorriso.


- Muito prazer, Lily. Você fala italiano muito bem.


- Grazie6. – respondeu com um sorrisinho maroto. Luigi e James sorriram para ela e pretendiam continuar a conversa quando a Sra. Berillo saiu da cozinha, para onde tinha ido quando os outros começaram a conversar, e olhou para eles, colocando as mãos na cintura.


- Mio nipote7! Pare de amolar o James e a Lily e lhes arrume uma mesa. – mandou. O neto assentiu e fez um sinal para os dois o seguirem. Arrumou a melhor mesa do restaurante, de onde tinham uma visão ampla, mas ficavam relativamente afastados. Como um cavalheiro, Luigi puxou a cadeira para Lily e depois entregou cardápios a ambos, saindo em seguida.


Quando Luigi lhe deu as costas, Lily aproveitou para olhar o restaurante: La Cucina di Mamma8 era um lugarzinho pequeno e acolhedor, de aparência rústica; não tinha luxo ou brilho algum e era bastante caloroso... ela quase podia ver uma grande família italiana jantando junta, falando alto e gesticulando alegremente. Ficou feliz de ter ido até lá comemorar seu aniversário ao invés de ir a um restaurante chique no centro de Londres.


- Adorei esse lugar. – disse a James, sorrindo. Ele lhe retribuiu.


- Venho aqui desde que me entendo por gente. – disse. – Meu pai trouxe minha mãe para cá no primeiro encontro deles há uns bons vinte anos. A Sra. Berillo disse naquele mesmo dia para o meu pai não se preocupar, porque ela sabia que minha mãe e ele ficariam juntos. Depois de casados, meus pais continuaram a vir aqui e depois passaram a nos trazer junto. Ela não estava mentindo quando disse que eu segurava a barra da saia dela pedindo sobremesa: eu implorava pelos seus sorvetes. Eu e Luigi, na maioria das vezes. Os pais dele trabalhavam muito, então ele ficava aqui com a avó e acabamos por virar amigos. Liam morria de ciúmes porque sempre o deixávamos de fora das nossas brincadeiras: roubávamos sorvete do estoque, usávamos as baguetes de pão como espadas para nossa luta entre piratas, fingíamos ser chefes de cozinha e misturávamos vários ingredientes juntos... era uma farra. Luigi é um bom amigo e nós nos divertíamos juntos. Sinto falta disso.


- Não precisa sentir. Você pode me trazer aqui quantas vezes quiser. – disse Lily e ele prometeu lhe levar lá mais vezes. Luigi voltou para pegar os pedidos, mas James disse que poderia trazer o “de sempre!”: a boa e velha macarronada italiana com gordas e suculentas almôndegas, que a Sra. Berillo fez questão de frisar que era a melhor macarronada que eles jamais comeram na vida. E ela estava certa, tão certa que Lily fez James prometer novamente levá-la ali mais vezes só para que ela pudesse comer aquela comida.


Lily estava adorando comemorar seu aniversário naquele restaurante, adorando de verdade. James era absolutamente adorável, encantador, amoroso... Deus, ela se sentia ainda mais apaixonada por ele e os dois nem haviam chegado à sobremesa.


Aliás, a sobremesa! Hm, Lily quase caiu da cadeira ao encarar um legítimo tiramisu. Com uma velinha em cima! James, em segredo, avisara a Luigi que era véspera do aniversário dela e na hora da sobremesa, ele providenciara uma vela e a colocou sobre o bolinho. E para a total vergonha de Lily, James puxou um sonoro “Parabéns para você” e todo o restaurante o acompanhou. Ela estava quase roxa e queria se esconder mais que qualquer coisa, mas mesmo assim sorriu e agradeceu a todos.


Ah, tão desenvolta essa menina!


Ao fim do jantar, James e Lily pagaram a conta e se despediram da Sra. Berillo e de Luigi sob a promessa de que voltariam em breve. A velha senhora ficou acenando para eles da porta até que o carro desaparecesse de suas vistas.


Lily deitou a cabeça no encosto e fechou os olhos, um sorriso brincando em seus lábios. James a olhou de soslaio.


- Está feliz? – perguntou ele.


Lily abriu os olhos e virou a cabeça para olhá-lo. Deixou que o sorriso finalmente se abrisse.


- Muito. – respondeu. – Obrigada pelo jantar, James. Eu adorei.


- Que bom. Mas espero que você não esteja cansada, porque a noite ainda não acabou.


- Aonde vamos?


- Vamos dar um passeio pela margem do rio. Ainda está cedo e à essa hora deve ter bastante gente por lá.


James estava certo. Às nove e meia da noite ainda havia turistas e todo o tipo de gente pela margem do Tâmisa. Ele sugeriu que eles passeassem de barco pelo rio e Lily aceitou. Acabou se sentindo a própria turista visitando Londres pela primeira vez: ficou fascinada pelas luzes do Parlamento, do Big Bang e da London Eye. Tudo tão bonito, pensou ela com os olhos brilhando. Aconchegou-se a James para espantar o frio e lhe deu um beijo, agradecendo pela noite.


Ao saltarem do barco, se aventuraram novamente pela roda gigante onde se beijaram pela primeira vez. A London Eye estava cheia de casais e famílias, todos se amontoando nos compartimentos. James e Lily ficaram próximos à porta e ela colou o nariz à parede de vidro, olhando encantada para o céu escuro. Ela achou ainda mais bonito que ao pôr do sol. James riu, bafejando contra o vidro, onde escreveu o próprio nome. Lily, sorrindo brincalhona, completou a escrita, que agora se lia:


James Potter


ama muito, muito, muito


Lily Evans


Ele revirou os olhos, mas sorriu e a abraçou pelas costas.


- Amo mesmo. – sussurrou contra o ouvido dela e lhe plantou um beijo estalado na bochecha. Lily riu bobamente.


Bem boba, Lily. Muito boba. Melosamente boba. Uma chatice, mas é o amor.


Eram mais de onze horas quando eles deixaram que um retratista de rua desenhasse ambos abraçados. James pediu para guardar o desenho e quando Lily fez biquinho pedindo que ficasse com ela, ele disse:


- Eu quase não tenho fotos nossas. E, além do mais, você vai poder encarar esse desenho todos os dias depois que nós casarmos.


Lily arregalou os olhos e engasgou, surpresa. James gargalhou e lhe deu tapinhas nas costas. Quando enfim se recuperou do ataque de tosse, ela perguntou com a voz fraca:


- Você está me pedindo em casamento?


- Não oficialmente, mas quem sabe um dia? Quando tivermos mais de dezoito anos...


- Ai, James, que susto! – Lily exclamou, dando-lhe um tapa no ombro. James riu audivelmente e ela não resistiu, acompanhando-o. - Imagine a cara do meu pai se você chegasse e me pedisse em casamento.


- “Olá, Sr. Evans, eu estou aqui para pedir a mão da sua filha em casamento e se você não deixar, eu vou vencer o senhor num duelo e então vou sequestrá-la e levá-la para o meu castelo! Hahahahaha!” – fingiu James e riu sozinho. Lily o olhava como se ele fosse esquisito. – O que foi?


- Uau, você leva essa história de Donzela Indefesa bem a sério, não?


- Ah, não enche. – resmungou ele e foi a vez dela de gargalhar. James olhou o relógio e suspirou. – Está ficando tarde. Eu ainda tenho que dar seu presente antes de te levar para casa.


- Ah, presente! – exclamou ela, realizada. – Onde está, onde está?


- Na minha casa. – antes que Lily perguntasse, ele completou – É muito grande, mal cabe no carro. Só quero ver como vamos fazer para enfiá-lo no banco de trás quando eu te deixar em casa.


Pouco tempo depois, James abria a porta de casa, dando de cara com a sala escura.


- Pai? Liam? – chamou, acendendo as luzes. Lily entrou atrás dele e fechou a porta. – Oi, gente!


Ninguém respondeu e James foi até a cozinha. Lily ouviu um “aaaaah” de entendimento vir de lá.


- Papai está na cafeteria e Liam foi dormir na casa de um amigo. – disse ele, voltando para a sala, com um papel na mão. – Bom, estamos só nós dois aqui. Vamos, seu presente está lá em cima.


Lá em cima? Sozinhos? Hm, hm, hm.


Lily engoliu em seco, mas seguiu James escada acima, sem saber realmente o que esperar. O rapaz abriu a porta do quarto, acendeu a luz e deu passagem a ela. Lily arregalou os olhos e abriu um sorriso imenso ao ver o que estava sobre a cama.


- Aaaaaaah! Que lindo, que lindo, que lindo! – gritou ela com a voz esganiçada, agarrando o enorme urso branco de pelúcia que repousava sereno em seu envoltório plástico. Ela desamarrou o laço azul e, com cuidado, puxou o plástico para baixo, parecendo quase devotada. Seus olhos brilhavam enquanto ela registrava os detalhes do ursão: pelúcia branca e macia, olhos castanhos, narizinho rosa, boquinha sorridente, cachecol rosa com uma flor no pescoço e brancinhos a espera de um abraço. Que Lily não tardou a lhe dar: agarrou o ursão num abraço apertado e lhe encheu o focinho de beijos.


Parecia que tinha voltado aos cinco anos.


Lily olhava com verdadeiro amor para o urso, com um sorriso idiota no rosto. James finalmente se desencostou da porta e sentou ao lado dela na cama, feliz que ela tivesse gostado de presente. Mas perguntou só para ter certeza:


- Então você gostou? – ela sequer se deu ao trabalho de responder, apenas agarrou o presente de novo, como uma menininha com a nova boneca. – Certo, agora eu estou ficando com ciúmes.


- Não precisa. – respondeu automaticamente. Continuou olhando vidrada para o urso e mordeu o lábio, pensativa. – Hum, seu nome vai ser... vai ser... – seu rosto de iluminou. – Miolo!


- Miolo? Miolo não é nome de urso. Na verdade, não é nome de nada.


- É sim! – Lily pareceu indignada por James não entender o nome do urso. – O nome dele é Miolo, pronto e acabou.


- Por que esse nome, Lily?


- Porque ele é branquinho e macio como um miolo de pão. – explicou, então, cuidadosamente, colocou Miolo encostado à cabeceira da cama e puxou James pelo colarinho para um beijo caloroso. Separou-se dele sorrindo. – Obrigada. Eu amei o presente, meu Miolinho é lindo.


- Se eu soubesse que você ficaria tão feliz, teria comprado antes. Custou os olhos da cara e eu gastei meu dinheiro da gorjeta, mas não tem problema.


- O Miolo custou todas as suas gorjetas? – perguntou horrorizada. – Ah, James, não precisava. Era todo o seu dinheiro... ah, vamos devolver o urso amanhã.


- Ei! Você não vai devolver nada, até me ofende dizer uma coisa dessas. Não, não. É meu presente e você vai ficar com ele. Valeu à pena quando eu vi a sua felicidade. Esse ursão de nome esquisito é seu.


- Obrigada, obrigada, obrigada. – urrou Lily dando beijinhos pelo rosto de James. Depois ela franziu as sobrancelhas e disse – Miolo não é um nome esquisito.


- É sim.


- Não é! – sob o olhar divertido de James, Lily encolheu os ombros, dando-se por vencida. – Certo, talvez seja um nome esquisito. – ela suspirou e o abraçou pelos ombros. – Obrigada de novo. Como posso recompensá-lo?


- Ah, isso é fácil. – ele falou e a puxou rapidamente, fazendo-a cair deitada sobre seus joelhos. Lily riu alto, mas ele a calou com um beijo. Ela levantou o corpo de modo a ficar mais confortável, mas sem quebrar o contato e James a abraçou com mais força, mantendo ambos sentados.


O beijo se tornou mais ávido, quente, necessário. Mal paravam para respirar; na verdade, não conseguiam parar. Ambos se livraram dos casacos de inverno, jogando-os no chão. Lily apertava os braços de James, desejando sentir mais, tocar na pele, e ele atendeu ao seu pedido mudo, retirando a blusa que usava; ela sentiu a garganta secar ao ver o torso nu do namorado, mas não teve muito tempo para processar o que via, porque tornou a ser agarrada por ele e qualquer pensamento racional foi varrido de sua mente.


Ao contrário de Lily, James estava bastante consciente. Tinha certeza absoluta do que queria e do que faria, se obtivesse permissão. Desceu os beijos para o pescoço dela e correu com os dedos para os botões frontais do vestido. Lily permitiu que fossem abertos; não conseguia parar, todos os seus alertas do cérebro estavam desligados. James empurrou o vestido e as mangas compridas deslizaram pelos braços de Lily, deixando-a também despida da cintura para cima, apenas de sutiã.


Ficou mortificada de vergonha sob o olhar de James. Mortificada. Cruzou os braços com força sobre o colo e virou a cabeça para o outro lado, sem conseguir encará-lo. James pôs as mãos no rosto dela e a puxou com carinho, fazendo-a olhar para ele. Depois, descruzou seus braços e beijou a palma de cada mão.


- Você é linda. – murmurou ele, beijando-a. Deu-lhe beijos nas bochechas, nos lábios e no pescoço. – Linda.


Eles tornaram a se beijar e finalmente os corpos tombaram na cama. Quando se separaram, Lily fechou os olhos e sentiu o peso sobre si ceder um pouco. Escutou o barulho da gaveta da mesinha de cabeceira sendo aberta; o ranger da madeira entrou em seu cérebro e então todos os alertas que estavam desligados se acenderam e começaram a urrar. Não é a hora certa, gritavam todos eles.


- James. – sussurrou ela, os olhos bem abertos agora. James continuava a procurar alguma coisa na gaveta. – James!


Ele soube, pelo tom dela, que não adiantava mais procurar. Suspirou pesadamente e fechou a gaveta. Deitou ao lado dela na cama, mas nada disse.


- Sinto muito. – Lily continuou, ainda sussurrando. – Não estou pronta. Desculpe, James, eu...


- Tudo bem. – interrompeu ele, também aos sussurros.


- Eu... hum... eu não sei o que fazer. – ela agradeceu por ele não conseguir ver ser rosto avermelhado de vergonha.


- Não é tão difícil, sabe? – James deixou escapar, para logo depois arregalar os olhos. Lily, ao registrar o que ele havia dito, sentou-se num pulo e olhou para ele surpresa.


- Você já...?


James optou pela sinceridade. Era melhor conversarem logo sobre isso.


- Já.


Silêncio. Lily remoeu a informação e a deixou ser processada, e quando isso aconteceu, ela apenas disse:


- Certo.


- Você não está irritada? Zangada comigo ou querendo me bater? – James perguntou um pouco surpreso pela reação dela.


- Não. Não estou irritada e nem quero te bater. A verdade é que eu estou enciumada.


- Enciumada? Só enciumada?


- Só enciumada, James. Mas se você quiser, eu posso ficar com raiva e sair daqui batendo porta e gritando para você me levar para casa. Então, o que vai ser?


- Só enciumada está bom para mim. – ele falou rápido. Mas ainda estava cismado. – Por que você está com ciúmes?


- Ahn, deixe-me ver... – Lily fingiu pensar. – Ah, sim! Porque uma garota, que não sou eu, dormiu com o meu namorado!


- Ah. – foi o que James respondeu diante da óbvia explicação de Lily.


- O que me leva a três perguntas: onde, quando e com quem?


Jame suspirou e sentou ao lado dela.


- Onde? No quarto da menina. Quando? Há um ano, em janeiro. Com quem? Com Nancy Duncan, uma ex-companheira de classe.


- Espera. Uma ex-companheira de classe? Ela não era sua namorada?


- Não. Estávamos fazendo um trabalho para a aula de Inglês e acabou acontecendo. Eu gostava dela e achei que depois de tudo, nós ficaríamos juntos, mas Nancy não era o tipo de garota que podemos chamar de mocinha recatada. Na verdade, ela era bem rodada. Duas semanas depois já estava circulando com um cara do segundo ano. Eu até tentei ir atrás dela, mas quando percebi que não daria em nada, parei de insistir e a esqueci. Não foi importante. E então, poucos meses depois, eu conheci você.


- Hum, - Lily começou, meio incerta do que dizer. – entendi. Então, eu sou especial?


- Acho que já deixei isso bem claro.


- Tem razão, desculpe. – pediu e avançou para beijá-lo. Ele a impediu no meio do caminho. – Que foi?


- Bom, se você não quer que nós continuemos de onde paramos... – James disse apontando para ambos, mostrando o estado em que estavam. Lily olhou para o torso nu e para a calça meio aberta de James e para o vestido parado em sua cintura e o colo à mostra, e sorriu constrangida. Subiu o vestido e o abotoou, enquanto James fechava o zíper da calça e recolocava a blusa. – Está tarde, já passa da uma da manhã. É melhor eu levar você para casa ou a Sra. Phillip come meu fígado.


Lily vestiu o casaco e calçou os sapatos, que nem se lembrava de ter tirado, e ajeitou o cabelo à frente do espelho, recolocando a touca de lã. Ao lado, na cômoda, havia uma fotografia. Um homem, uma mulher e dois rapazes. A família de James.


- Sua mãe era linda. – disse. James parou ao seu lado e contemplou a foto. – Você se parece com ela.


- Sempre me disseram isso. Ela teria gostado de você e acho que vocês duas se divertiriam juntas.


- Você acha que ela gostaria de mim?


- Tenho certeza, ou então já teria mandado algum sinal de onde quer que ela esteja. – eles sorriram. – Vamos. Não se esqueça de pegar seu urso de nome esquisito.


- Miolo! O nome dele é Miolo! – exclamou ela, pegando Miolo, que jazia caído no chão. Lily espanou qualquer grão de poeira que poderia ter grudado na pelúcia, pediu desculpas por tê-lo derrubado e o guardou no saco plástico, fechando com a fita azul.


James a levou para casa e parou em frente à mansão. Ambos tiveram que sair do carro para tirar Miolo, que estava espremido no banco de trás. James estava certo: havia sido um trabalho imenso colocar o urso ali de modo que não atrapalhasse a visão dele do vidro traseiro. Com Miolo já em seus braços, Lily se despediu de James.


- Obrigada novamente pela ótima noite. Foi muito divertida, eu adorei.


- Até a nossa A Conversa? – ele disse, maroto.


- Até isso. Podemos repetir qualquer noite. – ela lhe deu uma piscadela.


- Não me tente, Lily Evans. – sorriram e ele a beijou. – Aliás, feliz aniversário.


- Obrigada. – mais um beijo. – Eu te amo.


- Eu também. Boa noite.


O sábado amanheceu nublado e frio, completamente contrário ao humor radiante de Lily. Tomou uma ducha depois de acordar e desceu para tomar café. Mal pisou na sala e seu caminho foi obstruído pelo corpo da Sra. Phillip, que lhe tirou o fôlego num abraço esmagador.


- Parabéns, querida! – exclamou ela no ouvido de Lily, que lhe retribuiu tão ou mais intensamente. Completou chorosa: – Dezoito anos! Minha menininha já é uma mulher!


- Não exagere, Jane. – riu Lily, olhando-a com carinho. – Mas, mesmo assim, obrigada por ter cuidado de mim tão bem.


- Tudo por você, meu amor. – abraçaram-se novamente e a Sra. Phillip murmurou novamente. – Feliz aniversário.


Charles fazia fila atrás da mãe para desejar parabéns à Lily. Abraçou-a e lhe desejou sinceras felicidades, para depois lhe entregar um grande e pesado embrulho quadrado. Lily rasgou o papel, curiosa, e sorriu ao encarar as quatro principais obras de Jane Austen: Orgulho e Preconceito, Razão e Sensibilidade, Emma e Mansfield Park. Ela adorou. Agradeceu, sorrindo de orelha a orelha, e foi tomar seu café da manhã na companhia do rapaz.


Na sala de jantar, sentado à cabeceira da mesa, estava o Sr. Evans lendo jornal e bebericando seu chá. Diferentemente do usual, ele levantou os olhos quando Lily se sentou ao seu lado; abriu a boca para dizer alguma coisa, mas tornou a fechá-la, sem saber realmente o que dizer. Comeram em silêncio, como sempre, mas quando Lily se preparava para deixar a mesa, o Sr. Evans baixou o jornal e deu uma boa olhada para ela. Sem saber o que fazer, ela continuou sentada esperando alguma ação do pai. Ação esta que não tardou a vir. O Sr. Evans, hesitante, cobriu a mão de Lily, que estava sobre a mesa, com a sua própria, fez um afago ali e disse:


- Feliz aniversário, minha filha.


Isso mesmo, vocês não leram errado.


Lily ficou pregada à cadeira, estarrecida. Era a primeira vez em anos que seu pai lhe desejava feliz aniversário. E ele a chamou de “minha filha”, não de “Lily” ou “garota”, mas de “minha filha”! Com carinho! O mundo estava de pernas para o ar, definitivamente.


Quando conseguiu esboçar reação, ela sorriu ternamente e apertou a mão que a segurava.


- Obrigada, papai. Significa muito para mim. – e então, o Sr. Evans sorriu. Sorriu!


E eu que achava que ele nem sabia o que era um sorriso. Bom, às vezes o mundo tem a sorte de ver isso.


Terminada a surpreendente demonstração de carinho, o Sr. Evans se despediu e foi para o trabalho, deixando Lily surpresa e feliz. Aqueles dois dias estavam saindo melhor que a encomenda, com certeza.


À noite, Lily se arrumou para esperar seus convidados. Vestida de jeans, blusa de cetim de mangas compridas e sapatilhas, ela terminava sua maquiagem quando Charles entrou no quarto.


- Sua mãe não te ensinou a bater na porta? – brincou ela, passando um batom nos lábios. Charles riu e parou ao lado dela.


- Não, ela estava muito ocupada ensinando você a bater na porta. – ele devolveu, divertido.


- Bom, pelo menos alguém aqui aprendeu bons modos. – o bate-rebate continuaria se Lily conseguisse fechar o colar que Sirius havia lhe dado de Natal. – Droga! Nunca consigo acertar o fecho. Vou acabar quebrando.


- Pare de drama e me dê isso aqui. – Charles afastou as mãos dela do colar e rapidamente o fechou. – Pronto. – ele a olhou de cima a baixo. – Você está linda.


Lily revirou os olhos e passou à frente, em direção ao espelho de corpo inteiro. Charles a acompanhou e parou atrás dela. Os dois formavam uma imagem bonita.


- Somos um belo casal, hã? - ele constatou, abraçando-a pela cintura. Ela saiu de seu abraço, mas não se afastou. Odiava admitir e morreria negando, mas também achava que eles eram muito bonitos juntos.


- Nós não somos um casal, Charles. – respondeu como se falasse com uma criança de cinco anos.


Charles a agarrou pela cintura tão rápido e a segurou tão próxima que Lily não teve reação.


- Mas poderíamos ser. – ele disse, perigosamente próximo.


- Me solte agora. – Lily disse baixo, pausadamente, como se desse um aviso.


- Ou o quê? Você vai contar para o seu namoradinho e ele vai mandar o amigo me bater de novo? Não se preocupe, dessa vez eu estarei preparado.


Lily não respondeu, apenas começou a esmurrá-lo o mais forte que pôde. Charles a segurou ainda mais próximo e mais forte, de modo que ela não poderia mexer as mãos. Andou, levando-a, até que as costas dela batessem contra a parede e ela realmente não tivesse como fugir.


E algo bem, bem lá no fundo, queria que ela ficasse exatamente onde estava. Mas Lily não poderia beijá-lo e não iria beijá-lo. Charles aproximou o rosto, mas quando estava absurdamente perto de tocá-la, Lily cerrou os lábios e virou a cara, fazendo-o beijar com tudo a sua bochecha.


A frustração dele foi tamanha que ele afrouxou o abraço e ela pôde empurrá-lo. Lily respirava rápida e descompassadamente.


- Saia do meu quarto. – murmurou, confusa. Esperava que Charles baixasse a crista, mas ele logo recuperou a pose e sorriu maroto.


- Tsc tsc, não sei por mais quanto tempo você vai conseguir fugir, Lily. Eu sei que você queria me beijar tanto quanto eu queria beijar você. – antes que ela gritasse, como normalmente faria, ele caminhou para a porta e antes de sair, completou: - A propósito, belo urso.


- Miolo. O nome dele é Miolo. – sussurrou Lily, sozinha, escorregando as costas na parede e sentando no chão. Passou a mão pelos cabelos penteados e bufou, irritada. – Droga! Ele tem mesmo que ser tão adoravelmente cafajeste?


 Lily ficou sentada no chão acarpetado do quarto até a hora em que a Sra. Phillip anunciou a chegada de James, Sirius e Marlene, e, logo depois, de Adele Mitchell. Foi uma festa. Marlene a agarrou e beijou e a fez abrir seu presente na mesma hora: um vestido que ela mesma havia feito com as coisas que Lily lhe dera de Natal; a roupa era de um verde próximo ao tom dos olhos dela, longa e tomara-que-caia. Lindo. Lily agradeceu, encantada, e recebeu um abraço e o presente de Sirius: um par de brincos que combinavam com o colar que ela usava.


- Encontrei os brincos depois, achei que você gostaria de completar o conjunto. – disse ele, alegremente. Lily trocou os brincos que usava pelos novos, deixando Sirius bobamente convencido.


Logo depois, Adele lhe deu um kit de beleza, com sais de banho, cremes corporais e coisas que Lily nunca havia usado na vida. Mas ficou feliz por sua nova amiga ter se esforçado para encontrar alguma coisa que pudesse lhe agradar. Naquela altura da vida dela, só a amizade de alguém já era suficiente para Lily se sentir feliz.


Por último vinha James com um buquê de flores do campo nas mãos. Havia flores rosas, roxas, amarelas e vermelhas, e o perfume era ótimo. O buquê era lindo e ela mal pôde acreditar que James havia gastado mais dinheiro só para mimá-la.


- Obrigada, são lindas. – disse, com um sorriso idiota, e lhe agradeceu com um beijo. Charles desviou o rosto descaradamente, atraindo o olhar ferino de Marlene.


Lily, após apresentar Adele para todos, convidou-os para a sala de estar. Sirius rapidamente colocou um CD para tocar e eles afastaram os móveis da sala. Sentaram-se no chão e começaram a conversar, brincar e se divertir. A Sra. Phillip levava comida para eles o tempo todo e os testemunhou inventarem jogos, dançarem espalhafatosamente e rirem absurdamente alto. Jogavam coisas um no outro, contavam piadas, tiravam fotos, faziam montinho, cantavam... uma típica reunião adolescente. Era tanto barulho que parecia haver mais do que apenas seis jovens se divertindo. Lily era a imagem da felicidade: sorridente, alegre, engraçada e nada tímida. Num arroubou de gratidão e alegria, ela abraçou cada um dos amigos e disse, brincalhona:


- Não sei se vocês me tiraram da torre, mas com certeza tornaram-na um lugar muito melhor.


Em resposta, os outros cinco a agarraram num abraço coletivo e gritaram entusiasmados o velho “A Lily é uma boa companheira, a Lily é boa companheira... ninguém pode negar!”


Meia-noite, a porta do hall se abriu e o Sr. Evans apareceu no meio da sala bagunçada e os seis, imediatamente, ficaram quietos e pararam o que estavam fazendo.


- Boa noite. – cumprimentou o dono da casa e Lily o achou razoavelmente cordial. Talvez fosse uma boa oportunidade para apresentá-los, pensou ela.


- Pai, estes são meus amigos, - apontou enquanto falava – Marlene McKinnon, Sirius Black e Adele Mitchell. – cada um deles se levantou para cumprimentá-lo. “Boa noite, Sr. Evans”, repetiam eles. Depois, Lily puxou James pela mão e apreensiva pela reação do pai, completou: - E esse é James Potter, meu namorado.


Passado um segundo enorme, o Sr. Evans estendeu a mão, sério.


- Como vai, rapaz?


- Muito bem, Sr. Evans. É um prazer conhecê-lo. – respondeu James, tão sério quanto, respondendo ao aperto de mão. O Sr. Evans assentiu e soltou sua mão.


- Bom, foi um prazer conhecer a todos vocês. Podem continuar com a festa. – disse e lhes deu as costas. Lily mordeu os lábios, sem saber se deixava ele ir ou se pedia para que ficasse. Decidiu por pedir, pensando na demonstração de afeto pela manhã.


- Papai, fique, por favor. Jane já está trazendo a torta para cantarmos os parabéns. – como num passe de mágica, a Sra. Phillip apareceu com uma torta de nozes e a colocou sobre a mesa. Vendo-se sem escapatória, o Sr. Evans concordou em ficar.


Lily sorriu exultante ao ver as pessoas que mais amava ali ao lado dela, comemorando o seu dia. Ganhou bolo e parabéns depois de muitos anos sem sequer saber o que era uma festa de aniversário, mas não se importava. Era para acontecer daquele jeito, com aquelas pessoas e aos seus dezoito anos. E ela não reclamava.


Depois da cantoria dos parabéns, todos se empaturraram de comida e bolo, e a comemoração partiu madrugada adentro. O Sr. Evans se retirou pouco depois de recusar uma fatia da torta, mas até ele conseguiu perceber como Lily estava feliz.


Já passava das cinco da manhã quando todos foram embora. Sirius e Marlene aceitaram dar uma carona à Adele, James foi embora dirigindo e Charles subiu para o quarto. Na sala, olhando para a bagunça, ficaram Lily e a Sra. Phillip.


- Vá dormir, querida. Amanhã nós arrumamos isso. – disse a velha governanta.


- Tem certeza? – ao que a Sra. Phillip assentiu, Lily terminou. – Certo. Então, boa noite, Jane.


- Boa noite, meu bem.


Lily chegou a subir os dois primeiros degraus da escada, mas voltou e chamou a Sra. Phillip novamente.


- Jane, esse foi o melhor dia da minha vida. Obrigada por torná-lo real. – disse, agradecida.


- Oh, querida. – a Sra. Phillip começou sorrindo ternamente. – Não fui eu quem tornou esse dia real. Foi você.


Sorrindo, Lily lhe piscou um olho e foi para o quarto. Depois de se trocar, ela se aconchegou sob as cobertas e afundou a cabeça no travesseiro. Mas havia algo ali lhe incomodando; tateou embaixo do travesseiro e encontrou uma caixinha de veludo preto, retangular. Abriu-a e não conteve uma exclamação. Era um colar. Mas não um simples colar: era uma fina corrente de ouro branco, cujo pingente era um símbolo do infinito cravejado de brilhantes. Entretanto, não foi isso que tirara o fôlego de Lily: ela conhecia aquele colar, já o vira em fotos e pinturas.


Era o colar de sua mãe.


Encantada, ela leu o bilhete que vinha junto e não pôde deixar de sorrir.


“Aonde quer que ela esteja, sabemos que estará cuidando de você. Assim será para sempre, até o infinito. Infinito como é o amor que ela sentia por você.


Feliz aniversário, filha.


Papai.”


Duas lágrimas saltaram de seus olhos, mas ela não ligou. Guardou o presente com todo o cuidado do mundo e voltou a deitar a cabeça no travesseiro, tendo a certeza de que, agora que descobrira a felicidade, não a deixaria fugir de jeito nenhum. 

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N/A: FINALMENTE CAPÍTULO OITO POSTADÉRRIMO! 25 PÁGINAS NO WORD, MILBJS PRA VOCÊS! HAHAHAHAHAHAHA Sério, 25 páginas! Até cansei quando finalmente terminei! Hihihi. Bom, não vou fazer uma N/A grande porque o capítulo já está imenso. Obrigada a quem comentou e pediu e a quem entendeu minha ausência nesses dois meses e pouco por causa do vestibular. Eu me saí bem, obrigada! :D


Bom, vamos às legendas. Google e Yahoo Tradutores neeele! Hihi.


1) Não sei nada de um Curso de Direito, então sei lá se a galera tem Introdução ao Direito. Foi só pro James ter o que falar, hihi.


2) Minha mãe!


3) Bem vinda ao meu restaurante, bela menina.


4) É a sua garota?


5) Eu sou Lily. Prazer em conhecê-lo.

6) Obrigada.


7) Meu neto.


8) A Cozinha da Mamãe.


Se tiver algo errado, culpem a Internet!


Beijos, amo vocês.


Liv

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Comentários (1)

  • Lana Silva

    Lindo capitulo finalmenteeeeeeeeeeeeeeeeeeeee *-* nem acredito. Sr. Evans finalmente se rendendo aos encantos da nossa querida e doce Lily *-* AMEI AMEI AMEI mesmoooo *-* Lily merecia isso. Lindooo capitulo! beijoooooooos flr! 

    2012-07-24
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