A noiva




Ter seu abusado pretendente da noite anterior sob a identidade de Charles Phillip e morando debaixo do mesmo teto não estava nos planos de Lily. Ela sabia que era ele, tinha absoluta certeza. Charles tinha os olhos azuis mais bonitos e penetrantes que ela já vira e havia uma pequena ferida no canto esquerdo da boca no lugar onde Sirius teria lhe acertado o soco. E a postura era a mesma: um certo ar risonho e malicioso lhe rodeava, e o modo altivo de se portar era condizente com o homem que a abordara.


E a voz. Oh, meu Deus, a voz! Arrastada, suave e sedutora quando ele lhe estendeu a mão num cumprimento cordial e disse:


- É um prazer conhecê-la, Lily. Como vai?


E os olhos brilhavam zombeteiramente como antes. Ela sabia que era ele. E ele sabia que ela o reconhecera.


Lily teve que fingir uma casualidade que de fato não existia, porque o homem parado à sua frente era filho da mulher que ela considerava sua mãe. E por Jane Phillip, Lily faria qualquer coisa.


Uau. Que sacrifício seria aturar aquele homem absolutamente lindo atrás dela, hã?


Charles se sentou à mesa de jantar para desfrutar do café da manhã com Lily e a todo instante ele lhe lançava olhares furtivos por cima da xícara de chá que tomava. Ela sentia as bochechas corarem, mas evitou a todo e qualquer custo olhar para seus hipnóticos olhos azuis. Sabia que eles lhe trariam problemas.


Lily estava tão concentrada tentando não olhar para Charles que só ouviu a Sra. Phillip chamar seu nome depois da terceira vez.


- Hum? O que disse, Jane? – ela disse, levantando os olhos para encarar a empregada.


- Meu Deus, como você estava distraída. Estava pensando em quê? Na festa em que foi ontem? Aliás, você não me contou como foi a festa. – disparou a Sra. Phillip. Lily, sem conseguir se conter, lançou um rápido olhar na direção de Charles e engoliu em seco ao ver um mínimo sorriso despontar em seus lábios.


- Ahn... foi, hum, legal. Bastante... bastante animada. – respondeu gaguejando ligeiramente nervosa. Charles continuava a sorrir enquanto levava a xícara de chá à boca. – Mas o que você queria me falar quando me chamou?


- Ah sim! Era seu pai no telefone: ele disse que lhe quer pronta às oito e meia.


- Pronta para quê?


- Para a festa de Réveillon que acontecerá hoje no hotel. – Lily arregalou os olhos. Para começar, ela havia esquecido completamente que aquele era o último dia do ano. E depois: festa de Réveillon no hotel?


- Wow! Espere um segundo: meu pai quer que eu vá à celebração de Ano Novo no hotel? Eu tinha uns três anos quando fui à uma festa no hotel pela última vez. Por que ele quer que eu vá hoje?


- Porque o hotel completará duas décadas nesse ano que começará e não fica bem a filha do dono não ir. Seria para fazer bonito perante a sociedade, entende?


- Ah. – Lily assentiu. Na verdade, ela não queria ir à festa. Tinha certeza que teria que agir como o mundo fosse maravilhoso e sorrir feito uma boneca de plástico para todo mundo. Pensou em alguma desculpa esfarrapada: - Mas não tenho roupa, Jane.


- Não se preocupe, seu pai já se certificou disso. - ela gelou ao ouvir essas palavras. Tinha medo do que o pai escolhera. A Sra. Phillip apontou para uma caixa branca sobre a mesa de centro da sala de estar e Lily sorriu sem jeito.


- Não conheço uma pessoa que estará na festa hoje; aposto que ficarei sozinha. – disse a menina, arranjando a segunda desculpa esfarrapada.


- Oh, querida. Seu pai nos convidou! – falou a Sra. Phillip, animada como nunca. Lily arregalou ainda mais os olhos. Como é?


Ela sabia que não daria para fugir do compromisso. Então, por que não se aproveitar um pouquinho da boa vontade do pai?


Que orgulho dessa menina.


Lily, dando-se por vencida, largou seu café pela metade e abandonou Charles sozinho à mesa. Foi até o telefone e discou o número da casa de James. Dois toques depois, ouviu a voz do cunhado.


- Liam?


- Sim. Quem está falando?


- Lily.


- Ah, oi, Lily! E aí? – o menino pareceu ainda mais receptivo ao identificá-la.


- Estou ligando para fazer um convite ao seu pai, James e você. Hoje à noite haverá uma festa de Réveillon no hotel do meu pai e eu gostaria muito que vocês fossem. O que acha?


- Irado! – disse Liam e os dois riram. Lily lhe disse o endereço do hotel e a hora da festa e eles se despediram com um Até mais tarde.


 Em seguida, Lily ligou para a residência dos McKinnon. Uma voz feminina atendeu do outro lado.


- Alô?


- Marlene? – ela perguntou por via das dúvidas, mas tinha quase certeza de que a amiga estaria dormindo.


- Não. É a mãe dela quem está falando. Com quem eu falo?


- Olá, Sra. McKinnon. Meu nome é Lily Evans e sou amiga da Marlene. 


- Ah, sim! Marlene fala muito de você, menina! – Lily sorriu encabulada, agradecendo que a mãe da amiga não pudesse lhe ver. – Sinto muito, mas Marlene ainda não acordou. Você quer que eu lhe dê algum recado?


- Na verdade, Sra. McKinnon, eu gostaria de fazer um convite à sua família. Meu pai é dono do Evans Resort & Hotel – ouviu a moça dar um pequeno assobio – e dará uma festa de Réveillon hoje à noite. Eu ficaria muito feliz se a senhora, seu marido e Marlene pudessem ir.


- Oh, querida, é muita gentileza sua! Fico lisonjeada com seu convite e tenho certeza que o mesmo se estende à minha família. Muito obrigada!


- Não há de quê, Sra. McKinnon. – ambas se despediram. Por fim, Lily discou o número da pensão onde Sirius morava. A dona do estabelecimento, que Lily conhecia pelo nome de Sra. Robinson, atendeu e foi chamar Sirius. Lily disse do que se tratava e ouviu a risada rouca do amigo.


- Isto está tão ridiculamente parecido com um conto de fadas que me dá vontade de rir. Até bailes em grandes palácios há nessa história.


- Para começar não é um baile, é só uma festa. Segundo, não é um palácio, é um hotel.


- É tudo a mesma coisa, Lily. Tem princesa e tudo o mais.


- Sirius, você está muito menininha para o meu gosto, falando desse modo sobre conto de fadas.


- Eu sei que você me ama, querida, mas nós somos comprometidos. Sinto muito cortar a sua onda.


- Cala a boca, Sirius! – ele soltou uma sonora gargalhada e ela afastou um pouco o fone do ouvido. – Então, você irá à festa?


- É claro que sim! Estarei lá às nove em ponto.


- Ótimo, nos vemos mais tarde. – disse Lily e desligou, recolocando o fone no gancho. Suspirou de forma audível. Pelo menos um pouco de diversão ela teria naquela noite.


Ela só não imaginava o quanto.


Como manda a boa educação, Lily mostrou a casa para Charles, sob o olhar animado da Sra. Phillip. A menina sabia que ela não podia estar mais feliz por ver o filho novamente, então, trataria Charles muitíssimo bem. Charles deixou a postura arrogante de lado por alguns momentos enquanto fazia um tour pela mansão, permitindo-se um pouco de deslumbramento. Ele fez algumas perguntas, falando sério pela primeira vez, e Lily as respondeu de boa vontade. Talvez ele não fosse tão ruim assim, pensou ela.


Será?


O Sr. Evans permitiu que Charles ficasse na mansão, num dos muitos quartos de hóspedes, pois não havia mais lugar nas dependências dos empregados. Lily não sabia que seu pai era complacente com todos, exceto ela.


Ah, querida, mas é sempre assim.     


O que ela sabia, porém, era que ser separada de Charles Phillip por apenas um corredor poderia ser perigoso, mas se manteve calada quanto a isso. Ele iria se comportar, certo?


Certo? Hum, prefiro esperar para ver.


Por mais que Lily quisesse fugir de Charles, com medo de que ele repetisse a cena da noite anterior se ficassem sozinhos, ela teve que sorrir e lhe fazer companhia. Depois do passeio pela casa, Lily o levou ao quarto que iria ocupar, fazendo questão de manter a porta escancarada e se encostando à parede ao lado. Ouviu a risada arrastada de Charles.


- Eu não vou te atacar, sabe? – ele disse, passando a mão pelos cabelos castanhos, num gesto que lembrava Sirius. Lily se virou para encará-lo, mas não sorriu. – A não ser que você queira.


- O que quer dizer? – ela cruzou os braços sobre o peito, num claro sinal de autoproteção. Charles sorriu mais largamente. Ele abriu a mala e começou a desarrumá-la cuidadosamente.


- Não se preocupe, Lily. Se eu quisesse te agarrar não seria essa porta aberta que me impediria. – ela o fitou boquiaberta, mal ousando acreditar nas palavras dele. Quem ele pensava que era?


- Você não se atreveria. – desafiou Lily. Charles se virou num átimo, dando-lhe um susto, e a prensou na parede, sustentando os dois braços ao lado dela. Lily suspendeu a respiração e sentiu seu coração acelerar.


- Quer apostar? – um sorriso malicioso brincou em seus lábios, enquanto seus olhos esplendidamente azuis miravam os olhos arregalados de Lily. Estavam muito próximos, ainda mais que na noite anterior. Mas antes que ela pudesse pensar em alguma resposta, ele a soltou.   


 


Autora faz pausa dramática, porém totalmente necessária, para que possa externar seus sentimentos: “MATEM-ME AGORA OU EU VOU AGARRAR O CHARLES! É SÉRIO!” Autora pede as mais sinceras desculpas. Por favor, continuem a ler.


 


Lily sentiu a respiração se normalizar e a freqüência cardíaca baixar. Aquele garoto era louco, sem dúvida alguma, ela pensou. Charles ainda a encarava sorrindo quando disse:


- Fique tranqüila, garota. Já disse que não vou te agarrar. – deu de ombros e completou, piscando-lhe um olho – Pelo menos não agora.


- Você é um cafajeste. – Lily disse, olhando-o com asco. Mas só recebeu uma risadinha desdenhosa em resposta.


- Não é a primeira vez que escuto isso. Mas você sabe o que dizem, Lily?


- O quê? – ela já estava ligeiramente nervosa. Charles se jogou sobre os lençóis bem arrumados da cama, para depois erguer o corpo e olhar para ela com malícia.


- Que mulheres amam os cafajestes. – disse ele, num sussurro rascante.


Eu concordo. Mas quem sou eu nessa história?


Foi a vez de Lily sorrir desdenhosamente. Ela ergueu uma sobrancelha e soltou um abusado Ha!


- Além de tudo, você é arrogante e prepotente. – completou.


- Pare de tentar me elogiar, Lily. – brincou ele, mas Lily não riu. Charles suspirou derrotado. – Certo, chega de gracinhas.


- Obrigada. – sentindo-se um pouco mais segura, Lily sentou na beirada da cama, mantendo-se razoavelmente afastada dele. Charles se recostou à cabeceira e disse:


- Eu não ia te beijar à força ontem.


- Ah, pode ter certeza. Porque se tivesse, garanto que você não estaria aqui.


- Essa foi a pior ameaça que eu já ouvi. – provocou ele. – Mas eu te garanto que não te beijaria à força. Eu ia acabar te soltando, mas seu amiguinho apareceu e me socou antes que eu fizesse isso.


- Você mereceu, Charles!


- Não, não mereci. Eu ainda não havia feito nada grave, estava apenas te segurando. Mas, se você quisesse me beijar também... bom, não estaríamos aqui parados.


- Você é realmente um cafajeste, Charles. E isso não foi um elogio.


- Eu falo sério, Lily. Eu só estava brincando, até porque eu sabia quem era você.


- Espere um segundo! – os acusadores olhos verdes se voltaram para Charles, exigindo uma explicação. – Ontem, quando você me encurralou naquele corredor...


- Eu sabia quem era você. Veja bem, eu não fui àquela festa atrás de você, aliás, sequer sabia que você iria à festa; a Lily que eu conheço por cartas não sai de casa. Eu cheguei à Londres ontem mesmo e me hospedei numa pensão só para passar a noite: eu já ouvira falar na festa Pré-Reveillon e, como um bom turista, resolvi ir. Eu estava naquele corredor sozinho quando você passou e eu te achei bonita. – ela corou e Charles revirou os olhos. – Mas quando eu te puxei para pedir um beijo, reconheci que você era a mesma menina das fotos que minha mãe mandava para mim. Então, Lily, não se preocupe. Reafirmo que só estava brincando com você.


Bom, ela teve essa sensação quando fitou os olhos dele, certo?


- Muito bem, acredito em você. – ela mordeu o lábio inferior e completou – Por que Jane te mandava fotos minhas?


- Oras, eu tinha o direito de saber quem era a garota que havia roubado minha mãe de mim. – respondeu ele com total casualidade. Lily se remexeu desconfortável.


- Sinto muito por isso.


- Não sinta. Eu sei de tudo o que aconteceu e entendo perfeitamente.


- Obrigada. – ela agradeceu com sinceridade e os dois sorriram verdadeiramente um para o outro, sem qualquer traço de malícia no gesto. Lily achou que ele parecia ainda mais bonito.


- Sabe, Lily, seria besteira ignorar a forte atração que sentimos um pelo outro... – Charles falou, estragando o curto momento cúmplice entre eles. Por mais que ele estivesse zombando dela, Lily sentiu um traço de seriedade em suas palavras, como se no fundo, ele não estivesse brincando. Encabulada e vermelha até a raiz dos cabelos, Lily pegou uma almofada e arremessou nele.


- Idiota. – murmurou zangada. Charles riu gostosamente e Lily não resistiu e o acompanhou.


Tudo bem, Charles Phillip era um tremendo cafajeste, idiota e Lily sabia que ele lhe traria muitos problemas... mas ele não era tão ruim assim.


Os dois passaram boa parte da tarde conversando no quarto que agora era de Charles. Lily, que ainda mantinha uma distância segura, cortava-o sempre ele que fazia alguma piadinha relacionada a eles.


- Eu já lhe disse que tenho namorado, Charles! – ela falou em determinada hora, exasperada, rezando para que ele entendesse.


- E eu já lhe disse que não sou ciumento, Lily! – respondeu ele, com a malícia de volta à voz.


Quando o sol fraco daquele inverno começou a se por, Lily pediu licença a Charles e foi se arrumar para a festa. Tomou um banho quente e relaxante, lembrando-se com pesar que mal havia dormido na madrugada anterior e logo seu corpo começaria a protestar. Passou o roupão pelos braços e abriu a porta do banheiro, deixando a fumaça sair para o quarto. Deu um grito esganiçado ao ver Charles sentado no sofá.


- O que você está fazendo aqui?! – perguntou, apertando mais o roupão contra o corpo. Sua voz saiu ligeiramente nervosa.


- Você me deixou sozinho e eu queria um pouco de companhia... – ele interpretava bem o papel de menininho inseguro, mas isso só serviu para enfurecê-la mais ainda.


- Saia do meu quarto agora! – ordenou em voz alta, puxando-o pelo braço até a porta. Antes que pudesse fechá-la, Charles colocou o pé na frente.


- Tem certeza de que não quer ajuda, Lily? – ele passou o dedo pelo pescoço dela. Lily rosnou e o empurrou com força, fechando a porta na cara dele. Passou a chave duas vezes e tombou o corpo na cama, sentindo o coração desacelerar.


Meu Deus, ele só estava na casa dela havia algumas horas e já estava criando mais tumulto do que ela teria imaginado.


Talvez ele fosse ruim.


Quando conseguiu respirar normalmente, Lily pegou a caixa com o vestido separado pelo pai. Hesitou antes de abrir, com medo do que ele lhe reservara. Respirou fundo, fechou os olhos e tirou a tampa; vagarosamente, abriu os olhos e espiou. Soltou uma exclamação de prazer ao ver o vestido: era exatamente o mesmo que experimentara dias antes na biblioteca. Descartou a idéia de o pai saber que ela visitara o cômodo e vestira aquela mesma peça.


Era só coincidência.


Contente, Lily se vestiu e passou a fina faixa preta pela cintura, onde deu um laço. Mirou sua imagem semi-pronta no espelho e sorriu: o longo vestido branco de mangas curtas e decote V alongava sua silhueta e o tecido solto e maleável esvoaçava contra as pernas dela. Lily se achou muito bonita, mas nem pronta estava.


Ela secou e escovou os cabelos do jeito que Marlene havia lhe ensinado, e depois passou uma leve maquiagem, apenas o suficiente para realçar os olhos e as maçãs altas do rosto. Sabia que se exagerasse, arranjaria problemas com o pai. Finalmente, quando o relógio mostrava oito e quinze, Lily calçou o par de sandálias pretas que havia comprado meses antes e pegou o bonito casaco de lã. Sorriu satisfeitíssima para sua imagem no espelho e destrancou a porta. Deu de cara com Charles.


Meu Deus, qual o problema daquele garoto?


- Você pode parar de ficar à espreita? Parece que vai me atacar a qualquer momento! – repreendeu Lily, saindo para o corredor.


- Não. – Charles respondeu simplesmente, dando de ombros. – Você está linda.


- Obrigada. – completamente corada, Lily reparou que ele já estava pronto também. E estava lindo. Vestia calça social preta, blusa social branca e blazer preto. Os cabelos castanhos caíam displicentes sobre os olhos azuis. – Você também está ótimo.


Maravilhoso, ela quis dizer.


Charles ofereceu braço à Lily, mas ela recusou com um aceno de cabeça. Desceram as escadas lado a lado e encontraram a Sra. Phillip num elegante tailleur bem cortado. Às oito e meia em ponto, o carro parou na garagem e eles escorregaram para dentro, cumprimentando Henry alegremente. Minutos depois, um rapaz abriu a porta da limousine e estendeu a mão à Lily e à Sra. Phillip para ajudá-las a saírem; Charles saltou do carro ao lado delas, e, juntos, os três adentraram o suntuoso saguão do Evans Resort & Hotel. Lily não pôde conter uma exclamação de contentamento: fazia anos desde a última vez em que pisara ali e ela havia esquecido como era bonito o lugar que seu pai construíra.


Todo o saguão era decorado em tons de dourado e branco; havia pequenos lounges espalhados em locais estratégicos, com pufes, sofás e mesinhas ao redor da pista de dança e da banda que já tocava; a piscina fora coberta por uma pista de acrílico que brilhava com os focos de luz, e na área coberta dos jardins havia mesas ornamentadas com belíssimos arranjos de lírios; ao longe, próximo ao lago que ocupava parte do terreno do hotel, estavam os fogos de artifício que seriam disparados à meia-noite. Lily suspirou: era a imagem do esplendor, sem dúvida.


A Sra. Phillip mandou que ela fosse falar com o Sr. Evans, parado a alguns metros, conversando com um grupo de homens engravatados. Lily a obedeceu e tocou levemente o ombro do pai, chamando sua atenção.


- Boa noite, papai. – cumprimentou ela amavelmente. Ele a encarou em silêncio por um segundo e então abriu um sorriso que parecia nostálgico. Lily se perguntou o por quê.


Bom, talvez porque ela estivesse a cópia fiel da mãe? Mas é só um palpite.


- Boa noite, Lily. Você está linda! – o Sr. Evans disse com mais animação do que o comum, se considerarmos o fato de que ele não falava com a filha havia uma semana. – Estes são os donos da Rede de Telecomunicações de Londres1, Thomas e Oliver McQueen, Lawrence Gibbons e Scott Moore. – completou, apresentando seus colegas.


- É um prazer conhecê-los, senhores. Como vão? – educadamente, Lily apertou as mãos de cada um, recebendo seus cumprimentos em resposta. Permaneceu um minuto ao lado do pai e, percebendo que ele não mais lhe dava atenção, pediu licença e voltou para a companhia da Sra. Phillip e Charles.


Pouco a pouco, o grande saguão se encheu até ficar lotado. Havia hóspedes, celebridades, socialites fúteis, políticos, empresários e todo tipo de pessoas influentes da Inglaterra e da Europa. Os paparazzi faziam fila do lado de fora tentando capturar flashes dos convidados e eram barrados pela segurança do hotel.


Lily espichava tanto o pescoço à procura de rostos conhecidos que a Sra. Phillip bufava ao seu lado e quando ela fez isso pela décima vez, a governanta disso exasperada:


- Por favor, querida, pare com isso! Faça como Charles e dê uma volta pelo salão. – Lily riu e ergueu uma sobrancelha para a Sra. Phillip: ambas sabiam que Charles não estava passeando por aí, mas sim procurando uma jovem, rica e fútil socialite. E certamente já tinha encontrado uma suficientemente superficial para deixá-lo enfiar o rosto em seu decote logo de cara.


Bom, eu também deixaria. Mas novamente, quem sou eu nessa história?


Dando-se por vencida, Lily deixou a Sra. Phillip conversando com um funcionário do hotel e saiu para procurar por alguém. Estava próxima ao bar quando um par de mãos envolveu seus olhos e tampou sua visão. Lily bufou e cruzou os braços.


- Muito engraçado, Charles. Agora tire suas mãos dos meus olhos.


- Quem é Charles? – perguntou James, soltando-a. Lily gelou e arregalou os olhos ao reconhecer a voz dele.


Ops.


Lily engoliu em seco e armou um sorriso falso antes de se virar para encará-lo.


- Ah, é o filho da Jane! – disse, com uma animação forçada. James a encarou desconfiado e ela disparou a falar. – Ele chegou hoje... é um cara legal, sabe, o Charles! Eu achei que ele estivesse de brincadeira comigo, mas era você, HA! Eu vou apresentá-lo, o Charles, a vocês...


Ah, meu Deus.


- Lily, cala a boca! – ela parou de falar na mesma hora, tão abruptamente como se James tivesse apertado um botão de “desligar”. Quando viu que ele estava rindo, ela soltou o ar e sorriu aliviada para ele. – Charles é mesmo o filho da Sra. Phillip?


- Vou ignorar o fato de que você acabou de duvidar de mim e apenas responder: sim, ele é.


- Eu tenho que cuidar do que é meu. – pela primeira vez, James pareceu possessivo, mas Lily tratou de acalmá-lo.


- Não se preocupe, você não precisa ter nada a temer.


- Hum, assim espero. – Lily revirou os olhos e James finalmente se inclinou para lhe dar um beijo. – Oi.


- Oi! – rindo, Lily lhe deu outro beijo. – Onde estão seu pai e Liam?


- Ali adiante. Venha, vamos falar com eles.


- Boa noite! – ela exclamou com animação dando um caloroso abraço no Sr. Potter. Depois estendeu a mão para Liam, que a apertou com entusiasmo.


- Caraca, Lily! Esse lugar é demais! – delirou Liam, olhando ao redor. Lily riu para ele e disse:


- Eu concordo. Prometo trazê-lo um dia para nadar: a piscina é imensa!


- Já é! Agora, se me dão licença... – o garoto sequer terminou a frase e se virou para a pista de dança, embrenhando-se na multidão.


- Esse menino... – disse o Sr. Potter balançando a cabeça negativamente. Depois sorriu e tomou as mãos de Lily. – Você está muito bonita, minha nora! James já lhe disse isso?


- Na verdade, ele esqueceu. – ela deu uma piscadela para o namorado e ele revirou os olhos antes de abraçá-la pelas costas. – Mas muito obrigada, Sr. Potter.


- Oh, aqui está ela, vejam! – Lily se virou para trás ao ouvir a voz da Sra. Phillip. Ela liderava um pequeno grupo e parou ao ver Lily. – Querida, os senhores McKinnon, Marlene e Sirius chegaram e estavam à sua procura. Ah, olá, Sr. Potter! – a Sra. Phillip concluiu e então passou dar total atenção ao pai de James.


Antes que Lily pudesse se pronunciar, Marlene pulou em seu pescoço e a agarrou num abraço. Ela estava elegantérrima num longo azul.


- Oi! – disseram ambas em uníssono. Marlene olhou deslumbrada para o saguão e soltou um assobio de total contentamento, fazendo Lily rir.


- Uau! – foi só o que ela conseguiu dizer. Um pigarro a despertou da fantasia. – Ah! Deixe-me apresentá-los: Lily, estes são meus pais, Barbara e Joseph McKinnon. Pai, mãe, esta é Lily Evans.


- Como vão, Srs. McKinnon? – Lily os cumprimentou animadamente, apertando suas mãos.


- Bem, bem... – disse vagamente o Sr. McKinnon. – Que bela festa, hã?


- É sim, linda festa! – anuiu a Sra. McKinnon, os olhos escuros tão diferentes dos da filha brilhando. – Obrigada pelo convite, querida. Foi muito lisonjeiro de sua parte.


- Não há de quê. – disse Lily, as bochechas corando. Marlene revirou os olhos e empurrou os pais pelas costas.


- Muito bem, chega de bajulação. Vocês dois, circulando! – a Sra. McKinnon lançou um olhar gelado para a filha, mas saiu com o marido para se juntar ao Sr. Potter e à Sra. Phillip.


Finalmente Sirius, que se mantivera calado até então, puxou a mão de Lily e deu um beijo no dorso e abraçou James rapidamente, e os quatro formaram um grupo animado. Foram para a pista de dança e se divertiram balançando ao som de sucessos dos anos 70 e 80.


Lily estava achando a festa tremendamente divertida. Não tornara a ver o pai, o que definitivamente contribuiu para o bom andamento da noite.


Os quatro estavam de volta ao bar, se recuperando de uma animada rodada de dança, quando Charles, que estivera sumido a festa toda, surgiu ao lado de Lily.


- Olá, Lily. Não vai me apresentar aos seus amigos? – perguntou ele. Lily cruzou os braços, visivelmente irritada. Ela pôde perceber que Sirius mirava Charles como se o conhecesse e torceu para que ele não fizesse o reconhecimento. Esperava que ele não reparasse na pequena ferida no canto esquerdo da boca.


- É claro. Charles, - ao ouvir o nome, James enlaçou Lily protetora e possessivamente pela cintura, gesto este que não passou despercebido aos belos olhos azuis de Charles. – estes são meus amigos Marlene McKinnon e Sirius Black, e meu namorado, James Potter. Pessoal, este é Charles Phillip, filho da Jane.


Eles apertaram as mãos; Charles sorria como se achasse muita graça, não se sabe do que exatamente, James o encarava calmamente, mas Lily conseguia ver um traço de hostilidade em seus olhos, Sirius olhava de Charles para Lily, encaixando as peças em seu cérebro, e Marlene mirava Charles de forma muito indiscreta e Lily sabia que ela devia estar mordendo a língua para não dizer nada. Eles passaram cerca de um minuto em um silêncio solene e então Charles soltou um sonoro bocejo.


- Eu vou pegar um drinque. Se os senhores me dão licença... – disse e saiu para o bar. No segundo em que ele virou as costas, os três se voltaram para Lily.


- Lily? É esse cara que está na sua casa? – perguntou James, olhando-a de forma questionadora. Ela assentiu, séria. – Espero que você tranque a porta do seu quarto.


- Sabe, James, eu espero que você confie em mim! – ela falou, repreendendo-o. Nunca teria algo com Charles e queria que James entendesse isso.


- Ah, mas eu confio em você. É nele que eu não confio. E falo sério quanto a isso... não estou só com ciúmes. Eu não fui com a cara desse sujeito.


- Não se preocupe, eu sei me virar, ok? – Lily disse e subiu na ponta dos pés para dar um beijo estalado em James. Ele desanuviou a expressão e sorriu como um idiota apaixonado.


Bom, mas ele era isso mesmo.


Sirius e Marlene continuavam a encará-la fixamente. Sem que James visse, Lily murmurou um Depois para Sirius e puxou Marlene pelo braço, alegando que iriam ao toalete.


Elas entraram no primeiro que viram e Marlene se abaixou para conferir se havia alguém nos boxes. Ninguém. Com as mãos na cintura e um olhar inquisidor, ela se virou para Lily.


- Certo, quem é aquele cara?


- Já disse, Lene. Charles Phillip, filho da Jane.


- Ok, de onde ele é?


- Bristol. Jane veio para cá quando Charles tinha três anos e ele ficou com o pai. Agora, conseguiu dinheiro suficiente para cursar a Escola de Economia e Ciência Política de Londres; Jane achava que ele faria Direito, mas ele disse que mudou de idéia e por isso veio para cá. Ficará lá em casa, num dos quartos de hóspedes. E é isso.


- Ah, só tem um pormenor muito importante. – disse Marlene, de forma astuta. Lily ergueu as sobrancelhas, temendo que ela soubesse do incidente da véspera.


- Qual?


- Meu Deus, que homem lindo! – Lily sentiu o ar deixar seus pulmões em grande velocidade. Soltou uma gargalhada.


- É verdade, ele é lindo.


- Não, você não está entendendo. Esse cara é o homem mais lindo que eu já vi!


- Não exagere, Marlene!


- Estou falando sério! Não deixe Sirius saber disso, mas é verdade. Nessas horas eu lamento ter um namorado por quem sou totalmente apaixonada.


- MARLENE!


- O que? Estou mentindo? Se eu fosse uma vadia, te garanto que já estaria agarrando esse cara em algum canto escuro desse hotel, mas eu sou uma garota legal, honesta, comprometida, apaixonada e fiel.


- E modesta também.


- Só estou enaltecendo as minhas qualidades, que são muitas, obrigada. Bom, o que me consola é o fato de que você, tão comprometida e apaixonada quanto eu, não vai ficar com ele. Porque eu morreria de inveja se você o fizesse, sério.


- Ele não faz meu tipo, de qualquer forma.


- Lily, ele faz o tipo de qualquer uma. A mulherada deve fazer fila para tirar uma lasca desse homem.


- Bom, ele é um abusado, se você quer saber.


- Um cafajeste?


- Exato.


- Hum, ele faz mesmo o tipo cafajeste. Mas sabe o que dizem, Lily?


- Ah não! Não vá me dizer que as...


- Mulheres amam os cafajestes, certamente. – Marlene deu as costas para Lily e admirou seu reflexo no espelho. Depois, puxou um batom da bolsinha de mão e contornou os lábios. – Estarei muito errada se disser que esse tal de Charles causará tumulto? – perguntou, finalmente abrindo a porta do banheiro.


- Você não poderia estar mais certa. – murmurou Lily, seguindo-a de volta ao saguão lotado.


James e Sirius estavam exatamente no mesmo lugar e não havia sinal de Charles, o que causou certo alívio em Lily. Elas se juntaram aos namorados, mas logo o grupo se separou quando uma balada começou a tocar e a pista se encheu de pares.


- Ah, eu amo essa música! – exclamou Marlene, olhando para Sirius num pedido mudo. Mas ele fez cara feia e ela bufou. Percebeu que Lily também não parecia com vontade de dançar agarradinho naquele salão cheio de gente. – Lily, você se importa se eu pegar seu namorado emprestado?


- É claro que não, só mantenha seus pés longe dos dele.


- Ei! Eu estou aqui, ok? – James disse, mas Marlene o puxou pelo braço e logo os dois sumiram de vista.


Era a oportunidade que Sirius estivera procurando.


- É ele, não é?


- Quem? – Lily se fez de desentendida.


- Não se faça de boba. Estou falando sério. Esse cara, Charles, é o cara da boate? – ele parecia zangado e Lily o achou uma graça. Não pôde mentir.


- Sim, é ele.


- Mas que cara de pau. – Sirius sibilou, virando um copo de uísque na boca. Parecia tremendamente irritado com o fato. – É muita ousadia ele aparecer e agir como se fosse seu amiguinho. Dê-me dois segundo e arrebento a cara dele.


Ah, o Sirius não é um fofo?


- Engano seu. Você vai ficar quietinho aqui, tomando seu drinque. – Sirius a olhou bravo, mas ela sustentou seu olhar. – Sirius, preste atenção: ele falou comigo hoje e me garantiu que só estava brincando ontem.


- Brincando? Ele tem uma idéia errada de brincadeira.


- Não se preocupe, Sirius. Eu sei me virar; e prometo te chamar se ele vier de gracinhas para cima de mim. Combinado?


Não deixe o telefone desligado, Sirius. Só um conselho.


- Combinado. – anuiu ele, dando-se por vencido. Abraçou Lily pelos ombros e beijou o topo da cabeça dela de forma protetora.


Ter amigos é legal, não é, Lily?


Assim que os últimos acordes da balada tocaram, James e Marlene voltaram para a companhia de seus respectivos namorados.


- Você estava certa. – disse Marlene. Lily a olhou sem entender. – James pisou umas três ou quatro vezes no meu pé.


- Mentira! – reclamou James. – Você colocava os pés sob os meus de propósito!


- E como eu consegui fazer isso? – os dois continuaram a discutir ridiculamente, fazendo Lily e Sirius rirem. A discussão se interrompeu quando um silêncio repentino se fez no salão. Todos os convidados olhavam confusos para os lados, mas logo a situação se esclareceu: no palco, a banda cedera lugar para o anfitrião da festa.


Vulgarmente conhecido como o pai de Lily.


O Sr. Evans parecia animado, segurando o microfone nas mãos. Sorria alegremente para todo o salão, como se não quisesse estar em nenhum outro lugar a não ser ali. Lily se perguntou quando fora a última vez em que ganhara um sorriso como aquele. Fazia um bom tempo.


- Boa noite a todos! – disse ele, numa voz retumbante e o salão todo respondeu em coro. Lily fez questão de atravessar a multidão, seguida pelos outros três, para ficar próxima ao palco. Recebeu uma olhadela do pai. – Espero que estejam todos se divertindo e aproveitando essa noite espetacular! É uma grande honra e um enorme prazer para mim e, tenho certeza, minha filha querida Lily...


Espere, como é que é? Minha + filha + querida? Eu ouvi direito?


-... recebê-los hoje aqui. Bom, como sabem, daqui a exatos vinte minutos será meia-noite e um novo ano começará. Então, eu gostaria de convidá-los para, daqui a pouco, pegarem suas taças de champagne e me seguirem aos jardins para brindarmos juntos a chegada desse novo ano. Enquanto isso: música! – bom, o Sr. Evans era bem eloqüente, hã? A banda o substituiu e voltou a tocar; rapidamente as pessoas foram atrás dos garçons para conseguirem suas taças de champagne. Os quatro pegaram as suas, mas Marlene disse que iria procurar os pais para virarem o ano juntos e Sirius a seguiu.


- Ei, vamos dar uma volta. – disse James, puxando Lily carinhosamente pela mão. Os dois foram até os jardins, relativamente vazios em comparação ao salão, e se sentaram num banquinho branco próximo às margens do laguinho. Lily se aconchegou a James, que a envolveu pelos ombros, fazendo-a fechar os olhos e curtir aquele momentinho romântico a sós. Eles permaneceram em silêncio, apenas apreciando a companhia que podiam oferecer um ao outro. Uma pergunta, que lhe ocorria desde a véspera de Natal, pipocou na mente de Lily e ela se repreendeu antes mesmo de quebrar a quietude gostosa.


- Posso te perguntar uma coisa? – ela disse e sentiu James assentir. - Por que você nunca me disse que sua mãe está morta?


- Porque você já tinha tanto com o que lidar, com tantas coisas ruins como a sua solidão, seu pai tirânico e a morte da sua mãe, que eu não quis acrescentar mais uma à sua lista.


- Eu agradeço por isso, James. Mas eu sou sua namorada e do mesmo jeito que você está aqui por mim, eu quero estar por você. Eu quero sempre estar ao seu lado, ajudando a superar o que for. Eu quero que você confie em mim. Eu quero poder te levantar quando ou se você cair. Entendeu?


- Sim, senhora. – ele disse e deu uma risadinha.


- É recente, não é? – Lily o ouviu soltar um pesado suspiro.


- Praticamente ano retrasado, em março. – ela escutou a voz dele tremer ligeiramente e se arrependeu de ter trazido o assunto à tona. Mas ele continuou. – Foi perto do meu aniversário de dezesseis anos. Ela saiu para comprar os ingredientes para o bolo e foi atropelada num cruzamento; o motorista não prestou socorro e minha mãe morreu na ambulância a caminho do hospital. – Lily se xingava mentalmente, mas parecia que James estava finalmente se abrindo com ela, invertendo o papel de suporte que sempre exercia. – Sinto saudades dela, mais do que posso dizer. Sinto falta do carinho que ela fazia, da cara zangada com que ela me olhava quando eu quebrava alguma coisa, do cheiro do perfume dela, do beijo de boa noite que ela me dava mesmo quando já estávamos dormindo, do bolo de chocolate, da fissura pelo Manchester United, do sorriso meigo... Tudo. Não há nada dela que eu não sinta falta. – surpreendentemente, James não chorava. Na verdade, ele tinha um sorriso saudoso no rosto. – Eu jamais posso esquecê-la, mas...


- Você precisa seguir em frente. – completou Lily, enterrando o rosto na curva do pescoço dele. Deu um beijinho ali. – É, eu sei.


- Obrigado. – ele disse sinceramente e Lily sorriu. James se abaixou e puxou um lírio de um arbusto que havia logo ao lado deles e o entregou para Lily. – Uma flor para uma flor. – completou com a frase mais clichê do mundo e Lily fez uma careta.


- Você ao menos sabe que flor é essa?


- Sei que é a mesma que está em todos os arranjos das mesas.


- Prova que você é observador. – James deu uma risadinha modesta. – É um lírio, a flor preferida da minha mãe. – Lily deu um sorriso tão ou mais saudoso que o de James e emendou: - Meu pai plantou vários lírios no terreno do hotel em homenagem à mamãe. E ela gostava tanto que me batizou de Lily. – ela suspirou pesadamente, girando o lírio entre os dedos e o admirando. – Eu sempre pensei que o dia em que tivesse uma filha, eu a batizaria de Elizabeth.


- Tudo bem, mas a nossa segunda filha se chamará Sarah, em homenagem à minha mãe. – disse James e Lily levantou o rosto tão rápido que sentiu seu pescoço estalar. Ele a olhava sorrindo. – O que foi?


Ah, não! Os dois já estão conversando sobre filhos? É, meninas, nossas chances acabaram.


Lily apenas riu e lhe beijou lenta e longamente. Eles ouviam a movimentação das pessoas chegando aos jardins para a queima de fogos, mas continuaram a se beijar ternamente. Finalmente, o relógio principal do hotel bateu doze badaladas, e gritos e fogos encheram o ar da noite gélida.


- Feliz Ano Novo. – murmurou Lily contra os lábios de James, que a puxou para mais perto e voltou a aprofundar o beijo em resposta. Era um beijo lento, mas absolutamente caloroso, que esquentou os corpos dos dois. As mãos dele passeavam pelas costas dela, procurando se embrenharem nos cabelos ruivos que pendiam sobre o casaco; as mãos dela apertavam os braços dele com força, os nós dos dedos ficando brancos, sobre o grosso casaco de inverno. James sugou delicadamente o lábio inferior dela e Lily suspirou baixinho.


Será que alguém devia lembrá-los que eles estavam em local público?


Aparentemente, Lily havia se lembrado porque descolou os lábios de repente. James a olhou confuso por um segundo e então suspirou.


- Acho que exageramos um pouquinho. – disse ela, virando o pescoço para trás e olhando os remanescentes da queima de fogos ali nos jardins. Mas, as pessoas não olhavam para onde eles estavam, entretidas demais na festa. E também porque havia um carvalho que os escondia parcialmente. Lily se levantou e ajeitou o vestido. Estendeu a mão para James, que a segurou. – Vamos entrar. Precisamos falar com nossos pais. – ele a puxou rapidamente, fazendo-a cair em seu colo e lhe deu outro beijo. Ela o afastou gentilmente e sorriu. – Vamos!


Caminharam de mãos dadas até a entrada do salão. Lá dentro, a confusão parecia maior que antes, com todos se abraçando e brindando o novo ano.


- Sabe, acho que está na hora de apresentar você ao meu pai. – disse Lily para o namorado, atravessando a multidão à procura dos amigos e familiares.


- Tudo bem, se você quiser, falarei com ele agora.


Ah, que menino corajoso!


- Não, não agora. Tem muita gente aqui, muitos fofoqueiros, e meu pai não te daria atenção, preocupado demais com o andamento da festa. Não, não... vou programar um jantar para apresentar vocês dois. O que acha?


- Por mim, tudo bem. Ah, veja, lá estão eles! – James apontou para o animado grupo formado pelos Potter e pelos McKinnon.


E Sirius, é claro.


Marlene literalmente se jogou sobre os dois, quase os derrubando no chão. Encheu-os de beijos e abraços apertados. Sirius, despido da sua máscara de bad boy, estava tão feliz quanto à namorada e abraçou os dois amigos com verdadeira animação. Após a entusiasmada recepção de Marlene e Sirius, o Sr. Potter, Liam e os Srs. McKinnon conseguiram cumprimentá-los, mas pareciam tão animados quanto os mais jovens. Quando o Sr. Potter perguntou onde eles estiveram durante a queima de fogos, os dois responderam “Nos jardins, onde mais?”. O que era meia verdade.


Felizmente, a Sra. Phillip não estava muito longe do grupo, então Lily correu até ela e lhe deu um abraço apertado.


- Feliz Ano Novo, querida! – a velha governanta disse, retribuindo ao abraço.


- Obrigada, Jane. Eu te amo.


- Eu também te amo, meu bem. – as duas continuaram abraçadas. Um pigarro alto as separou. Charles estava parado ao lado delas. – Oh, meu filho, venha cá! – a Sra. Phillip o agarrou num abraço e Charles enterrou o rosto no ombro da mãe, como há anos não fazia. Lily ficou emocionada com a cena e ficou feliz com o abraço genuinamente sincero que Charles lhe deu em seguida.


Só faltava uma pessoa para Lily abraçar e felizmente era fácil encontrá-la. O Sr. Evans estava parado próximo ao bar e viu a filha se aproximando; pediu licença a uma moça bonita com quem conversava.


- Feliz Ano Novo, papai. – Lily o abraçou com carinho, ignorando a discussão da semana anterior e toda a raiva que conseguira acumular naqueles dias. O Sr. Evans ergueu os braços e retribuiu o abraço, mas não disse nada, o que satisfez Lily: era preferível o silêncio a desaforos. Ela quebrou o contato e com um pequeno sorriso se afastou do pai.


A festa durou até o amanhecer: longas mesas de café da manhã foram servidas para os convidados. Lily, pedindo desculpas aos amigos, sentou-se à mesma mesa que o pai, em sinal de respeito, afinal ela também era anfitriã da festa. Quando o sol nasceu por completo, Lily se despediu de James e sua família, e de Marlene, Sirius e os Srs. McKinnon, que saíram despejando mil elogios sobre a noite, e então, entrou na limousine ao lado do pai, da Sra. Phillip e de Charles.


Quando a quietude daquele primeiro de janeiro finalmente se instalou em todas as partículas de seu corpo, Lily se sentiu infinitamente exausta. Tomou um rápido, quente e relaxante banho e ficou um pouco mais renovada. Olhou com desejo para a cama confortável e quentinha, se jogou sobre o colchão, puxou a coberta e adormeceu no mesmo instante.


A primeira semana do novo ano se arrastou lentamente e agora Lily contava os dias para seu aniversário de dezoito anos. Seria legalmente dona de seu nariz e poderia, enfim, usufruir daquilo a que tinha direito. Gostaria de uma festa de aniversário, mas não ganhava uma desde seu quarto ano de vida... talvez pudesse sair com James, Sirius e Marlene para jantar ou ir à boite ou só ficar em casa curtindo a companhia deles. É, ela faria algo assim.


Oba, dezoito anos! Ah, sinto cheiro de liberdade.


Cerca de dez dias após a grande festa de Réveillon do Evans Resort & Hotel e faltando apenas mais uns poucos para a iminente volta às aulas, Lily recebeu um recado de seu pai, transmitido por Charles – que estivera mais calmo em relação a brincadeirinhas desde a virada do ano -, que dizia para ela se arrumar e estar pronta para o jantar às oito horas daquela noite. Lily estranhou a ordem e vasculhou na memória se naquele dia havia algo especial, mas não encontrou nada, então tratou de se preparar para o que quer que o pai estivesse planejando. Naquela noite, pontualmente, Lily desceu as escadas enfiada num comportado conjuntinho de inverno e sentiu o agradável aroma de torta de morango.


Pelo menos uma sobremesa deliciosa ela teria.


A mesa já estava posta e não havia sinal da Sra. Phillip ou de Charles, algo que Lily estranhou porque eles estavam sempre perto, como se bafejassem no pescoço dela o tempo todo. Achando que era alguma ocasião estranhamente importante, ela se sentou próxima à lareira da sala de estar para esperar o pai. Não muito depois, ela escutou o barulho do carro entrando na garagem e se levantou para recepcioná-lo, como sempre fazia. Estranhou ao ouvir a voz dele ainda do lado de fora, como se estivesse conversando com alguém e apertou os olhos sem entender quando viu uma silhueta feminina contra a porta de entrada.


- Boa noite, papai. – ela disse quando ele abriu a porta. Atrás dele vinha uma mulher bonita de feições simpáticas.


- Boa noite, Lily. – respondeu ele e deixou que a mulher passasse à sua frente e cumprimentasse Lily com um abraço. Ela retribuiu sem realmente entender o que estava acontecendo. – Filha, quero que conheça Marion Smith, minha noiva.


Como é que é?   


Lily olhou do pai para a moça, que agora sorria feliz para ela, de boca aberta. Seu pai estava noivo? Seu pai?!


- Uau! – exclamou ela, com falsa animação. O sorriso forçado mais parecia uma careta, que ela tentava em vão consertar. – Puxa, que maravilha, papai! Srta. Smith, seja bem vinda! Uau, que grande novidade, hã? Uau! – ela sabia que estava parecendo uma tremenda idiota, mas não podia evitar a gagueira decorrente do choque. A Srta. Smith, que Lily havia finalmente reconhecido como a moça bonita conversando com o Sr. Evans no bar durante a festa de Réveillon, continuava a sorrir de forma sincera. Lily sentiu empatia pela mulher e teve certeza de que ela não era uma interesseira. Mas o Sr. Evans apenas fitava as duas: quando se voltava para a filha, seu olhar era reprovador, mas quando se voltava para a noiva, havia simpatia em seus olhos, apenas. Lily percebeu que não havia amor nos olhos do pai quando ele mirava a Srta. Smith; carinho, talvez, mas amor não. Ela temeu não ver verdade no sorriso que agora o pai dava à noiva.


- Sr. Evans, o jantar está servido. – disse a Sra. Phillip adentrando a sala. Ela lançou um olhar avaliativo sobre a Srta. Smith e depois olhou significativamente para Lily.


- Obrigado, Sra. Phillip, pode ir. – respondeu o Sr. Evans. Fazendo um gesto com a mão, ele chamou as duas para a sala de jantar. Sentou-se à cabeceira da mesa e Lily e a Srta. Smith se sentaram a cada lado dele. Serviram-se da carne de porco com ervilhas e permaneceram em silêncio por uns segundos. – Lily, você está quieta. Diga algo. – o Sr. Evans completou e Lily levantou os olhos do prato sem entender. Ele sempre a mandava ficar calada!


 - Então, Srta. Smith... – ela começou, mas a moça fez um gesto de descarte.


- Por favor, meu bem, pode me chamar de Marion. Afinal, seremos da mesma família em breve! – mais um sorriso reluzente e Lily o retribuiu falsamente, sentindo algo como um pedregulho preso à garganta.


- Certo. Hum, Marion, como você e meu pai se conheceram?


- Ah, no hotel! – começou ela alegremente. – Eu sou economista e contadora e seu pai precisava de alguém que inspirasse confiança para cuidar das finanças do hotel. Um grande amigo que temos em comum me indicou para o emprego há dois anos. Em função do trabalho, eu e seu pai acabamos nos aproximando e, bom, depois de alguns jantares, nós nos vimos apaixonados!


Nós quem, cara-pálida?


- Caramba! Eu não fazia idéia disso. – Lily poderia ganhar um BAFTA2 de melhor revelação tamanha a falsidade com que fitava Marion. Ela havia gostado da moça, é verdade, mas não estava absolutamente nada satisfeita com o casamento que ela, quinze minutos antes, não sabia que aconteceria. Sua expressão de inocência e o sorriso meigo comprariam o mais rude homem do mundo.


- Sinto muito por isso. Seu pai quis manter sigilo sobre nós, por causa dessa imprensa sensacionalista que só sabe causar desgraças. Eu estava morta de vontade de conhecê-la, Lily! Seu pai fala muito de você.


- Fala?! – ela olhou para o pai, as sobrancelhas franzidas em total incredulidade. Ele falava dela? Na maior parte do tempo nem lembrava que ela existia. O Sr. Evans retribuiu ao seu olhar, mas nada disse.


- Ah, é claro que sim! – disse Marion e então se virou para o, hum, noivo. – Mas, John, você não fez jus a essa menina! Certamente não mencionou o quão amável ela é!


Certamente que não.


- Ou o quão bonita é! – continuou ela. – Veja esses cabelos! E esses olhos! E ela é mesmo parecida com a mãe. – Lily, vermelha de vergonha, arregalou os olhos. Lançou um olhar ao pai, mas ele parecia impassível.


- Minha mãe?  


- Sim. Tem uma foto de vocês três no escritório do seu pai e você é parecidíssima com ela. – Marion não parecia incomodada com o fato de que seu namorado tinha uma foto da falecida esposa no escritório. Outras mulheres certamente morreriam de ciúmes, mas não ela. – Tão bonita quanto ela, é verdade. Ah, sinto muito tocar nesse assunto. Vamos mudar o rumo da conversa? – os outros dois concordaram e ela emendou: - Então, Lily, seu pai havia mencionado que você tem várias atividades extracurriculares. É sério?


- Sim. – não foi Lily quem respondeu, mas sim o Sr. Evans. – Ela pratica hipismo, ballet e sapateado, e estuda música, artes, francês, italiano, alemão e espanhol. – por um momento, Lily teve um vislumbre do orgulho nos olhos do pai, mas rapidamente ele sumiu e ela duvidou que o tivesse visto.


- Nossa! – exclamou Marion, agradavelmente surpresa. Os três, quero dizer, Lily e Marion conversaram durante todo o jantar. A menina não sabia como uma pessoa tão legal como Marion havia se apaixonado por uma pessoa como seu pai, amarga, rancorosa e fria.


Tem gosto para tudo.


Ao fim do jantar, eles saborearam a deliciosa torta de morango e depois tomaram um chá na sala de estar, próximos à lareira crepitante. Ao soar das onze horas, Marion se levantou alegando que tinha que chegar cedo ao hotel para trabalhar. Despediu-se de Lily com um abraço, que lutou para retribuí-lo sinceramente, e saiu com o Sr. Evans em seu encalço para levá-la para casa.


Lily, sem saber muito bem o porquê, ignorou as ordens da Sra. Phillip para ir dormir e permaneceu na sala, sentada na confortável poltrona, à espera do pai. Cerca de uma hora depois, o carro estacionou na garagem e o Sr. Evans adentrou a sala. Parou por um segundo ao ver a filha e então seguiu para as escadas.


- Pai... – chamou ela, seguindo-o degraus acima.


- Vá dormir, Lily.


- Pai, acho que precisamos conversar! – com mais veemência em suas palavras, ela continuou atrás dele. Ouviu-o bufar de irritação.


- Vá para o seu quarto e durma, Lily! – ele apertou o passo e abriu a porta da sua enorme suíte. Tencionou fechá-la na cara da filha, mas ela colocou um pé, do mesmo que Charles havia feito dias antes no quarto dela, impedindo o ato.


- Não! – Lily exclamou e jogou seu corpo contra a porta, empurrando-a, sob os protestos do pai, até que houvesse espaço suficiente para ela passar. – Papai, nós vamos conversar e vai ser agora!


- Quem você pensa que é? – perguntou o Sr. Evans irritado. Mas Lily sabia ser teimosa quando queria.


- Sua filha! Eu sou sua filha! – a voz de Lily saiu mais esganiçada do que ela pretendia. – Por que o senhor não me contou que estava namorando? Aliás, como assim, noivo? Noivo! Marion disse que a cerimônia será em breve, então se não tivesse havido esse jantar, eu provavelmente descobriria que ganharia uma madrasta durante o casamento! Por que não me contou antes, papai?


- Eu não queria que você entrasse no caminho!


- O que? O senhor achou que eu seria capaz de atrapalhar o seu relacionamento? A troco de quê? – a irritação crescia dentro dela. – Eu acharia ótimo se o senhor se apaixonasse novamente, papai. Infelizmente, o senhor duvida de mim. Sempre duvidou. Mas, tudo bem, porque sou eu que duvido do senhor hoje. – o pai a olhou sem entender. – Eu duvido que o senhor ame a Marion! Aposto o que quiser.


- Como você ousa dizer isso, Lily?!


- Eu ouso dizer porque é verdade! Eu sei que é, pai! Eu não vi um pingo de amor, de paixão, nos seus olhos ou nos seus sorrisos! Você não a ama!


- AMO! – gritou ele, furioso.


- NÃO AMA! – Lily também sabia gritar e agora não engoliria sapos de jeito nenhum. – VOCÊ AINDA AMA A MAMÃE! – o Sr. Evans arregalou os olhos e ficou lívido de raiva. Era o que faltava para que o festival de gritos começasse.


- NÃO CITE A SUA MÃE! NÃO A ENVOLVA NISSO!


- NÃO VAI CAIR UMA MALDIÇÃO SOBRE ESSA CASA SE EU DISSER O NOME DELA! TODA VEZ QUE EU CITO “MAMÃE”, O SENHOR AGE COMO SE O CÉU FOSSE CAIR NAS NOSSAS CABEÇAS! CHEGA DE FINGIR QUE A MAMÃE NÃO FAZ MAIS PARTE DAS NOSSAS VIDAS PORQUE ESTÁ MORTA! ELA SEMPRE ESTEVE AQUI E SEMPRE ESTARÁ! E O SENHOR SABE DISSO! E NÃO É JUSTO O SENHOR MAGOAR UMA PESSOA EXTRAORDINÁRIA COMO A MARION, FINGINDO QUE A AMA! PORQUE É MENTIRA, O SENHOR SABE QUE É MENTIRA, PORQUE EU POSSO VER NOS SEUS OLHOS QUE O SENHOR AINDA AMA MINHA MÃE ACIMA DE TUDO!


- VOCÊ. NÃO. SABE. DO. QUE. ESTÁ. FALANDO! – o Sr. Evans cuspiu as palavras, a raiva e a tristeza transparecidas em cada uma delas.


- EU SEI! EU SEI QUE VOCÊ GUARDA TODAS AS COISAS DELA NA BIBLIOTECA! O SENHOR ACHA QUE EU NÃO SEI DE ONDE SURGIU AQUELE VESTIDO LINDO QUE EU USEI NA FESTA DE RÉVEILLON? ERA DELA! EU SEI QUE O VESTIDO ERA DELA E SEI QUE O SENHOR SORRIU DAQUELE JEITO ESTRANHO PARA MIM QUANDO CHEGUEI À FESTA PORQUE EU LHE LEMBRAVA ELA! – Lily parou, a respiração ofegante, o peito subindo e descendo rapidamente. – Eu sei, pai. O senhor não consegue deixá-la ir, porque ainda a ama. E o senhor só conseguirá se entregar a um relacionamento de verdade, só se apaixonará de novo quando conseguir superar a morte da mamãe.


- Você não entende o que é o amor, Lily! – ele não estava mais gritando, mas sua voz alta era cortada pelos soluços que tentava conter. Era a primeira vez que Lily via o pai chorar. E isso partiu seu coração em milhares de cacos.


- Entendo, pai. – ela suspirou tristemente. – E se o senhor prestasse o mínimo de atenção em mim, saberia que eu entendo exatamente o que é o amor. Mas o senhor nunca se interessou pela minha vida e não percebeu, nem por um segundo, que eu estou diferente.


- Eu vi vocês. – o Sr. Evans levantou os olhos e encarou os da filha. – Na festa, eu vi vocês dois. Quando pretendia me contar? – ela não se surpreendeu que ele soubesse dela e de James.


- Logo, na verdade. Eu não queria esconder meu namoro do senhor e ia pedir para Jane preparar um jantar especial para você conhecê-lo. Por mais que eu soubesse que o senhor não daria a mínima e trataria a situação como sempre me tratou: com extrema frieza.


- Não é verdade.


- Ah não? Bom, isso é surpresa para mim. Pai, o senhor não sabe nada sobre mim! Todas as vezes que o senhor dirigiu a palavra a mim nesses treze anos foi para me dar alguma ordem ou brigar comigo. Eu nunca recebi um elogio seu, pai. Nunca recebi um carinho!


Isso aí, Lily. Põe para fora.


- O senhor sabia que eu odeio espanhol? Ou que, por mais que eu odeie ballet, eu sempre esperei que o senhor aparecesse em algum recital? E o senhor nunca apareceu; enquanto os pais de todas as outras meninas aplaudiam e vibravam pelas filhas, eu procurava incessantemente seu rosto na platéia, mas nunca encontrei. O senhor sabia que eu não tinha amigos? Sabia que a Jane era a minha única companhia porque eu não tinha permissão para sair e conhecer pessoas da minha idade? E o senhor sabia que agora, depois de dezessete anos sozinha, eu encontrei pessoas que se importam comigo de verdade? Sabia, papai, que agora eu tenho amigos e por isso estou diferente? Não, o senhor não sabia. – ela deixou escapar um soluço. Não havia reparado que estava chorando e se repreendeu por isso. – O senhor sequer reparou que eu estou feliz! Feliz de verdade.


- Eu jamais pensei que fosse o causador da sua infelicidade. – o Sr. Evans pareceu envelhecer alguns anos naqueles poucos minutos. Lily sentiu sua raiva crescer de novo ao ver o olhar de coitado no rosto do pai. Porque a vítima ali era ela.


- Se o senhor olhasse duas vezes para mim, saberia. Por muito tempo eu fui apenas a menininha boazinha e bobinha que só achava que o pai era muito ocupado para lhe dar atenção e que lhe dava ordens e mais ordens porque se preocupava com ela. Eu nem parecia um ser humano, sem opinião, personalidade ou voz própria. Mas, graças a Deus, Jane sempre esteve aqui para me apoiar quando o senhor me magoava ou me virava as costas. E agora eu tenho James, Sirius e Marlene que me montaram, pedacinho por pedacinho, até que eu virasse uma pessoa de verdade. Com eles eu aprendi a viver, papai. E isso ninguém, muito menos o senhor, vai tirar de mim. – e sem deixar que ele respondesse, Lily emendou: - Boa noite, papai.


Apagou as luzes e saiu do quarto, deixando o pai sozinho no escuro como tantas vezes ele havia feito com ela.

__________________________________________________________

N/A:
1) Eu precisava de algum nome importante para aqueles caras e só me veio Rede de Telecomunicações de Londres à cabeça.
2) BAFTA, para quem não sabe, significa British Academy of Films and Television Arts. Ou apenas o prêmio da TV e do cinema da Inglaterra.

Enfim o capítulo sete, yeeees! Eu gosto dele, principalmente da briga/desabafo entre a Lily e o Sr. Evans. E do Charles! Ah, meu Deus, o Charles é tudo e mais um pouco, concordam? Hihi.

Vou fazer algumas pequenas observações agora:
1) Na sexta passada, meu professor de Literatura estava contando que havia morado na Inglaterra quando jovem e disse que lá eles não comemoram o ano novo. Não tem festa, nem queima de fogos. Mas eu já tinha passado da metade do capítulo e não ia mudar esse pequeno fato muito menos excluir a festa. Então, por favor, relevem esse pequenino erro.

2) Infelizmente, eu só começarei a desenvolver o oitavo capítulo depois da segunda semana de junho. Sinto muito por isso, de verdade, mas a primeira prova da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) é dia 13/06 e eu necessito estudar. Terminei esse capítulo o mais rápido possível para agora ter tempo para revisar a matéria. Eu prometo que retomarei a fic assim que fizer a prova. Prometo também tentar escrever sempre que tiver um tempinho livre.

Bom, é só isso, gente. Quero agradecer a todos que comentaram, vocês sabem que significa muito para mim. Espero que gostem desse capítulo porque ele foi feito com muito amor e carinho. Já sabem o esquema: comentem muuito! Hehe

Amo vocês! <3
Beijinhos,
Liv

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Comentários (1)

  • Lana Silva

    Capitulo marvilhoso. Esse pai de Lily é meio louco, as vezes eu simplesmente não entendo ele serio. Ele muda constantemente, na festa fala super bem dela e depois fica ai tratando a menina mal. Coitada da Lily ...Bem amei o capitulo muito bom flr *------------------------------*beijooooooooos! 

    2012-07-23
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