Um Patamar Acima



N/A: Capítulo número 50. Nossa.
       Quando eu comecei tudo isso, lá em 2009, nunca pensei que fosse tomar essas proporções. A verdade é que ninguém cria algo para ser grande... apenas acontece. Eu escrevi mais para me divertir do que para entreter vocês, na época, e agora é diferente. Me divirto, sim. Mas tenho muito mais alegria em saber que estou divertindo vocês.
         Nesse meio tempo, muita coisa mudou. Minha vida mudou, em muitos aspectos. E eu sinto que o que eu escrevi e escrevo aqui reflete isso. Quando eu estou estressada, diretamente ou não Harry, Hermione ou algum outro personagem também fica. Eu transformei um cretino da vida real em Willian Kenbril. Uma amiga em Ella Martinez. Então, não adianta para mim falar que tudo isso é impessoal: não é. Se fosse, não seria uma boa história. Porque eu acho, sim, que o que estou construindo aqui é uma boa coisa. Eu me esforço muito para fazer um trabalho de qualidade, e acho que estou alcançando esse objetivo. Nessa reta final, demoro mais, mas o capitulos saem mais longos e mais detalhados. Pretendo entregar algo bom para vocês, algo instigante, um enredo curioso, personagens complexos. Seres humanos, realmente, com todas as suas faces. Peço apenas paciência.
          Mas agora chega de papo furado :)
          Esse capítulo era bem aguardado por muitos dos leitores, e não é difícil entender o porque. É instigante. Fiz o melhor que pude aqui, tanto que levei um tempo para escrever. É importante que vocês leiam com cuidado: temos no mínimo duas pistas do que vai acontecer, e uma solução para uma questão anteior, um pouco mais sutil. Divirtam-se ;)
           Outra coisa que me deixou feliz foi ver o marcador do número de leitores subir um pouco, e alguns novos leitores aparecerem comentando. Além disso, tivemos a Erica, que voltou dos mortos e fez meu dia. Só tenho a agradecer a ela e a todos os demais. Já são quase três anos, e é uma parte da minha vida que gosto muito. Obrigada!
           Acho que é isso. Minha vida está aquela loucura de sempre, mas farei o possível para adiantar o 51. Ele promete, hehe.

Bjos, Giovanna de Paula

                                                                    Capítulo 50


   Harry caminhava, distraído, em direção à beira do lago. Não tivera tempo de avisar Hermione, e isso o incomodava. A morena provavelmente ficaria preocupada com ele ou, como achava mais provável, um tanto quando irritada por sua ausência. Rezava para que ela relacionasse a autorização que Ella escreveria com sua falta.


    Sentou-se debaixo da única árvore que havia, fechando os olhos e sorrindo. Estava tudo tão errado, antes. Tão fora de lugar. Parecia que nada fazia sentido. Ainda tinha muitos assuntos inacabados, em especial no que dizia respeito a Willian, mas ao menos tudo havia se encaixado. Mais que isso: os incidentes com o loiro lhe deram um objetivo.


      Era fato: sua consciência gritava dentro de si que era errado, mas ele sabia. Se Willian Kenbril cruzasse novamente seu caminho, seria capaz de matá-lo.


      Apanhou uma pedra e levantou-se, lembrando-se de seu primeiro encontro com Jason. Ambos os aurores tinham tendência a aparições marcantes, pensou, divertido. Concentrou-se por um segundo, e atirou a pedra no lago. Mais uma vez, ela atravessou a água em um piscar de olhos, fazendo subir uma torrente de água ao seu redor. E desapareceu de vista.


      De súbito, ouviu palmas e, ao virar-se, deparou-se com Jason e Ella. O auror trazia uma mochila grande, escura e pesada em um dos ombros. Ella tinha prendido o cabelo em um coque firme, e sorria.


       - Não acho que terei muito trabalho com você, Harry – ela disse – Pode não parecer importante, mas pelas demonstrações que tive, ontem e agora, consigo dizer que você já se encontra em um nível bem avançado.


        - E ele o fez por conta própria – completou Jason – Devido às circunstancias, tivemos apenas uma aula prática.


        - Uma? – repetiu Ella, erguendo uma das sobrancelhas. Jason sorriu, constrangido, e não respondeu. A morena suspirou – Merlin. Por onde começar? Imagino que Jason tenha te dado as noções históricas da técnica que estamos tentando te ensinar. Toda essa baboseira. Muito bem. Comigo, vamos partir ao que interessa. Varinha, por favor.


        Ella estendeu a mão, energética. Harry a cedeu sua varinha, um tanto incomodado. Não gostava de se sentir vulnerável.


        - Ótimo. Agora, eu quero que bloqueie os meus feitiços.


        - Perdão? – exclamou Harry, surpreso. Esperava algum tipo de teoria, treino.


        - Ah, você esperava uma aula teórica. Entendo. Primeira lição: não existe teoria no campo de batalha. Se você não sabe improvisar, você não sobreviverá. Porque não há como prever o que irá acontecer. Você pode treinar de mil maneiras diferentes, mas tenha certeza que, na batalha, uma milésima primeira surgirá. E você tem que saber lidar com isso. – disse, firme. Harry percebeu que Ella adotara a postura de professora, e não mais de mera conselheira. Jason não falava, mas concordava com a cabeça, grave.


             Harry firmou os dois pés no chão, erguendo os braços. Fechou os olhos, e sentiu a magia fluindo dentro dele. Excitou-a. Direcionou-a para seus dedos, pensando nela como algo físico, palpável, conforme Jason havia ensinado. Aquilo o cansava, mas ele não se importou. Estava determinado.


           Abriu os olhos a tempo de ver Ella conjurar a primeira série de feitiços, sem usar a varinha. Eles simplesmente saiam de seus dedos, que agilmente se contorciam e miravam com precisão. Harry cerrou os punhos e fez a primeira coisa que lhe veio a cabeça: cruzou os braços, concentrando a energia, e os abriu de uma vez, fazendo surgir um escudo translucido a sua frente. A maioria dos feitiços foi desviada, e uns poucos refletiram em direção a Ella. A auror arregalou os olhos, surpresa, e imitou o movimento de Harry, neutralizando o feitiço.


           Harry recuou três passos para trás, subitamente fraco. Apoiou as mãos nos joelhos, respirando com força. Sentiu a mão forte de Jason o erguer pelo ombro, e estender um pedaço grande de chocolate em sua direção. Ele prontamente aceitou, agradecido.


        Procurou Ella com o olhar, e a encontrou na mesma posição de antes, parada, os dois braços escorridos nos lados do corpo. Seu coque havia se soltado, tamanha a força do vento, provocada pela intensidade dos feitiços. De repente, ela pareceu voltar à consciência, piscando algumas vezes. E voltou-se para Jason:


        - Eu não vejo algo desde...desde...


        - Desde Lílian – completou Jason. – Eu disse.


        “Eu disse”, a voz de Jason ecoou, soturna, em sua mente. Aparentemente, todos ali acreditavam em seu potencial, à exceção de si próprio. E o auror também havia mencionado sua mãe... Ele sabia que ela fora uma bruxa muito poderosa, assim como seu pai, mas não tinha conhecimento de nenhuma relação dela com qualquer um dos dois professores.


            - Vocês... vocês a conheceram? – indagou Harry.


           - Não pessoalmente – respondeu Ella, já recuperada – Mas, você sabe... Dumbledore sempre foi o maior puxa-saco de sua mãe. Ela e Tiago eram como seus próprios filhos. A maioria das coisas que sei sobre os dois, ouvi da boca dele.


            - O mesmo ocorreu comigo – completou Jason – Você é muito parecido com eles, Harry. Tem um grande potencial.


            Harry fez que sim com a cabeça, entendendo que aquilo era tudo que obteria por enquanto. Era tudo o que eles podiam fornecer, acreditava. Mirou a bolsa que Jason trouxera, curioso.


            - O que tem aí dentro? – perguntou.


            - Ah... já estava me esquecendo – disse – Apenas algumas coisinhas para que possamos nos divertir um pouco mais.


              Ele agachou e abriu o zíper. Harry pode ouvir o barulho de metal se chocando lá dentro. O auror retirou um estojo de couro, de tamanho pequeno, e o entregou a Ella. Ela o levou até a sombra da árvore, fazendo um sinal para que Harry a seguisse.


            - Nós, bruxos, não gostamos muito de armas, entende. Até mesmo da varinha, quiseram se livrar. Mas alguns instrumentos são muito interessantes, porque permitem combinar a força física com a força mágica. Ela permite canalizar o poder mágico, intensificando seu poder. Temos aqui alguns exemplares compatíveis com essa finalidade. Veja.


             Ella abriu o estojo. Nele estavam presas três adagas, cada uma decorada com pedras preciosas diferentes.  Elas o fizeram lembrar da adaga de Willian, jogada em algum lugar de sua mala. Uma era decorada com diamantes, e possuía o desenho de uma fênix, feita de safiras; outra era uma cobra de esmeraldas; a terceira era feita de ametistas, e constituía o desenho de um corvo. Todas as lâminas eram translúcidas perante o sol.


            Harry notou que havia espaço para uma quarta adaga, ausente. Olhou para Ella, intrigado.


           - E essa aqui?


           - Essa foi concedida a Laurene Mezzofanti, muitos anos atrás. Era uma bruxa muito talentosa, também. Foi morta há anos, e a adaga se perdeu. Uma pena. Era um instrumento muito belo. – esclareceu a auror, séria. O nome não dizia absolutamente nada a Harry, mas o moreno pode perceber o rosto de Jason contorcer-se por uma fração de segundo. Será que a conhecera? – Dumbledore sugeriu que déssemos uma delas a você. Ele pensa que pode ser útil, eu concordo plenamente. Vou te ensinar o que fazer com ela. Uma adaga não é como uma varinha: não possui nenhum tipo de conexão com você. Isso, contudo, não significa que sua escolha seja mera questão de gosto. Não sei se você sabe, mas a imagem que um bruxo carrega diz muito sobre ele. É como seu patrono: é uma figura só sua, e não existe nada igual no mundo. Portanto... escolha com sabedoria.


           Harry respirou fundo por um segundo. A adaga de cobra era muito bem trabalhada, mas sua inegável conexão com a Sonserina lhe cutucava a mente com incômodo. A de ametistas era muito bonita, mas havia algo na de safiras que o atraía. O caimento leve do punho, a fluidez da lâmina, o entrelaçamento perfeito entre o desenho de diamantes e os detalhes delicados, porém marcantes, compostos pela pedra azul. Era, sem dúvida, a mais rica das três, mas Harry tinha a impressão que não era esse o motivo de sua tendência. Tomando uma decisão, ele levantou os olhos com firmeza, e disse:


          - A primeira. Com o desenho da fênix.


          Ella levantou as sobrancelhas, parecendo estar agradavelmente surpresa. Assentiu, sorrindo.


          - Que assim seja. Pegue.


           Harry esticou os dedos, lentamente, e apanhou a adaga. Um calor lhe rodeou os dedos, e de repente toda aquela magia dispersa dentro dele pareceu se unir, se concretizar. Pela primeira vez, tinha realmente controle do que estava fazendo. E a sensação era ótima.


           Liberou uma porção diminuta do poder, canalizando-o para a adaga. Ela esquentou e brilhou com força, uma luz branca. A lâmina tornava-se ainda mais translúcida, e o desenho, ainda mais bonito. Harry classificaria o fato como uma das coisas mais hipnotizantes que já se deparara em sua vida. Não pode conter um suspiro.


           - É bonito, não é? – interferiu Jason – A parte boa de trabalhar com bruxos como você, é que não é realmente preciso te dizer o que fazer. Você sabe, quase que por extinto. Não é perfeito, obviamente. Mas nós temos apenas que lapidar seu conhecimento, e isso poupa um tempo tremendo.


          - Exatamente – concordou Ella – É bem prático, na verdade. Mas agora, Harry, eu preciso te fazer um pergunta muito séria. A varinha é uma arma, e a adaga também. Mas há uma diferença que você precisa considerar, antes que eu te ensine a fazer qualquer coisa com ela. O que eu preciso saber, Harry... é como você se sente sobre a morte. Mais especificamente, sobre matar.


           Harry a encarou, sério, por alguns instantes. Sabia que esse assunto cedo ou tarde viria a tona, mas preferia evitá-lo. Era delicado demais, e mexia com muita coisa dentro dele. Desde a raiva profunda que sentia contra Willian e tantos outros, até o insuportável pensamento de, ao matar, se equiparar a Voldemort.


            - Não gosto nem um pouco da ideia – começou, olhando para o chão – Mas sei que, cedo ou tarde, será preciso. Uma profecia por aí diz que eu tenho que matar Voldemort – eu aceito. Mas, se depender de mim, não matarei nenhum outro. – fez uma pausa, refletindo – Jamais facilitaria tanto para nenhum deles.


              Ella o olhou longamente, e concordou, com a cabeça, devagar. Em seguida, agachou-se novamente, apanhando a segunda adaga, adornada pela cobra. A revirou entre os dedos por alguns instantes, parecendo subitamente confortável. Franzindo levemente o cenho, disse:


           - Ótimo. Agora já sei. – murmurou, andando em direção ao lago – Francamente Harry, se estivesse em seu lugar teria escolhido esta. Fui da Sonserina, sabe. O que provavelmente quebra a sua ideia de sonserinos mal-encarados, grossos e narcisistas. – alfinetou, virando-se por um segundo para lançar um sorriso travesso ao moreno.


              Ele ergueu as sobrancelhas novamente, rindo consigo mesmo. Ella Martinez era definitivamente um tipo que se destacava, concluiu. Estava rapidamente aprendendo a gostar de sua nova mentora.


              - A grande questão é a seguinte, Harry – instruiu Jason, enquanto a professora atirava pedras na água, frustrada por não conseguir fazê-las quicar mais de duas vezes – A magia continua sendo sua maior arma, e consequentemente seu melhor escudo. Lembre-se, somos bruxos, não samurais ou algo do tipo. A finalidade de uma arma como a adaga é simplesmente de precaução. Imagine que você está no meio de uma batalha, com um Comensal da Morte a sua frente, e perdeu a varinha por algum motivo. Essa adaga será o que te separará da morte imediata, mas definitivamente não será o que te fará viver. Entende o que eu digo? Não é raro um bruxo aprender a usar uma coisa dessas, às vezes até mesmo uma espada propriamente dita, e acabar morto por uma maldição errante. É esse o tipo de morte que eu chamo de estúpida, não concorda? E você não pode se dar ao luxo de morrer assim. – o fim da fala de Jason foi pontuada por uma sonora explosão no lago. Os dois observaram, curiosos, uma imensa pedra afundar lentamente no meio da água. À margem, uma Ella um tanto estressada praguejava – Merlin, às vezes acho que ela é pior que uma criança.


               Harry tentou disfarçar o riso, mas o resultado foi um horrendo barulho originário de seu nariz que fez a mentora olhá-lo feio. Ele abaixou os olhos, envergonhado, porém ainda rindo. Ella pôs as mãos na cintura, ofendida, e ordenou:


            - Venha aqui, seu incompetente. Quero ver o que sabe fazer.


           - Apenas siga seus instintos, Harry – recomendou Jason, mas algo em seu olhar fez o rapaz acreditar que aquilo não funcionaria. Com um sorriso nervoso, se aproximou da professora.


           Ella olhou-o por alguns instantes, lentamente erguendo sua adaga à frente do corpo.


           E atacou em um piscar de olhos.


          Antes que se desse conta, Harry estava imobilizado, a mão que segurava a adaga presa atrás do corpo, a outra esmagada entre suas costelas e o ombro de Ella, e sentia a lâmina fria em seu pescoço. Assustado, procurou Jason com o olhar, mas ele estava fora de sua campo de visão.


          - Você tem quinze segundos para escapar – sussurrou Ella em seu ouvido.


          Harry bem que tentou. Experimentou tudo que foi capaz de pensar, desde giros até pontapés. Mas a mentora sempre conseguia imobilizá-lo novamente em uma fração de segundo.


           Finalmente, ele foi solto e empurrado para frente. Desequilibrado, caiu de joelhos, ofegante.


          - Você morreu – concluiu ela, incisiva – Vamos, Potter. Sei que consegue fazer melhor que isso.


         Harry colocou-se de pé, enxugando o suor com a gola da blusa. Apertou a adaga forte na mão, até seus dedos ficarem brancos. Ella era sutil, e era isso que fazia seus ataques tão difíceis de prever. O moreno apertou os olhos, concentrando-se, tentando expandir o poder dentro dele e, de alguma forma, usá-lo a seu favor. Siga seu instinto, Jason dissera.


          Teria que dar certo.


          Focalizou Ella a sua frente e a imaginou não como pessoa, mas como massa de poder. Tentou sentir a energia que emanava de seu corpo, a mágica que escorria por seus dedos. Então, rápido como da vez anterior, ele conseguiu. Tudo a sua volta ficou borrado, e Ella era a única coisa que conseguia enxergar claramente. Viu seu braço brilhar e pressentiu que ela atacaria. Estava pronto, desta vez.


             Dito e feito. A mentora saltou em sua direção, mas de súbito tudo parecia em câmera lenta. Harry viu ela erguer a adaga em sua direção. Com a tranquilidade de quem tem tempo de sobra, Harry usou a própria para interceptar o ataque. Ella, apesar de surpresa, não se deteve, dando um giro e mirando em suas pernas. Harry saltou, fazendo-a errar e desequilibrar-se. Tudo parecia tão fácil agora. O moreno bateu com força um dos joelhos nas costas de Ella, fazendo-a cair, ao mesmo tempo que segurava firmemente seus pulsos e encostava a adaga com cuidado em sua nuca, de tal maneira que qualquer movimento que ela fizesse acarretaria em um ferimento potencialmente sério em sua coluna. E murmurou, satisfeito:


              - Você morreu.


              Para sua surpresa, Ella sorriu. Harry podia jurar ter visto orgulho faiscar em seus olhos. Soltou-a, recuando um pouco. Encostado na árvore, Jason franzia o cenho, como se ainda tentasse entender o que havia se passado. Apesar de não ter parecido para Harry, ele tinha certeza que tudo se dera muito rápido. Olhou para a adaga em sua mão, abismado. Aquilo nunca deixaria de surpreendê-lo.


              - Bem – disse Ella, limpando as mãos sujas de terra nas calças – Acho que isso encerra nosso trabalho de hoje. Você foi muito bem, Harry. – ela fez uma pausa, demorando o olhar por um instante nele – Provavelmente faremos mais uma ou duas sessões, apenas para efeito de prática. De resto, acredito ter muito pouco para trabalhar com você. Quero insistir um pouco na questão da magia sem varinha, mas pelo que pude perceber você já está se virando muito bem com seu poder. Isso adiantará muito as coisas. – mirou o relógio – Agora, se me permite a sugestão, acredito que você deva tomar um banho. Ainda faltam quinze minutos até a próxima aula, e MacGonagall me mataria se te devolvesse nesse estado.


             Harry mirou o próprio corpo. Realmente, estava imundo. E exausto, percebia agora. Um banho seria muito útil.


              Ella fez um gesto com a cabeça, e Harry reconheceu que fora dispensado. Rumou em direção ao castelo, não sem antes passar por Jason e receber um pequeno estojo de lona, perfeito para guardar a adaga. Ele lhe devolveu também sua varinha.


              - É um garoto notável – disse o auror, quando Harry já estava longe.


              - Nunca duvidei disso – Ella respondeu, aproximando-se dele. Jason pegou-a pela cintura e a trouxe mais para perto de si. – Estou feliz, sabia? Talvez essa loucura toda acabe dando certo.


             Jason sorriu, amável, e inclinou-se para beijá-la.


 


               Minerva MacGonagall caminhava afobada pelos corredores, sapatos estalando no chão de pedra. Segurava uma carta na mão trêmula. Desde que a medida de verificação de cartas fora adotada, anos atrás, aquela era a primeira vez que de fato encontravam algo.


              As cartas destinadas a Harry Potter, com certeza, recebiam atenção especial.


             Fora chamada às pressas pelo encarregado do Ministério. Tirada do meio da aula, pelo amor de Merlin! Uma classe de primeiro ano, ainda bem. Qualquer um com um pouco mais de maturidade suspeitaria de alguma coisa.


              Suas mãos suavam, e o tempo parecia estranhamente distorcido desde que vira aquela foto. Aquela foto... pensava. Antiga, sim. De muitos, muitos anos atrás. Mas era impossível não reconhecer a mulher.


             Mais importante, era impossível não reconhecer a criança.


             Laurene. A primeira detentora do segredo dos Potter. Caçada e morta por Voldemort. Um filho. Willian. Mezzofanti, para honrar as raízes. Kenbril, como era agora conhecido. Não houvera notícias de seu paradeiro após a morte da mãe. Todos acreditavam que ele fora morto também, e que Voldemort se livrara do corpo. Como haveria de ter sobrevivido à tamanha fúria? O Lorde Negro é cruel com aqueles que lhe recusam ajuda.


               Ainda assim, lá estava ele. Esperto e poderoso, como a mãe. Marcado pela tragédia, modificado por ela. Cruel. Frio. Sádico. Controlara o Ministério. Infiltrara-se em Hogwarts. Pressionara e subornara Hermione Granger. Tentara matá-la.


            Tentara atingir Harry Potter. Vingar-se. Pelo quê?


            E agora desaparecera no mundo, e nada dava indícios de suas intenções. Evaporara naquela noite, seguido por um rastro de sangue. E uma certeza mortal se abatia sobre ela, e era essa a certeza que fazia seu coração disparar, seu andar ser tão rápido e sua garganta se contrair em desespero, tentando inutilmente conter um grito.


             Ele voltaria, e nada poderia detê-lo.


 


            Willian Kenbril socou ruidosamente a porta a sua frente. Não conseguia desativar o feitiço, e nem possuía a chave. O Lorde das Trevas fora muito esperto, e ele o amaldiçoava. Ao criar o feitiço, o fizera de maneira a torná-lo impossível de ser aberto por alguma outra pessoa, senão a que possuísse a mesma identidade mágica. Esta era única, e impossível de ser clonada.


           Havia chegado a uma encruzilhada, e a decepção fervia em seu sangue.


          Mirou raivoso a porta que dava para a sala de estar. A luz da televisão refletia-se morbidamente nas órbitas mortas e escancaradas do casal de velhos. Velhos trouxas, pensou, com desprezo. Como Voldemort fora capaz de abrigar parte de sua alma próxima a indivíduos tão sujos? Tão inúteis? Nenhum deles possuía a chave. Nenhum deles sequer havia se dado ao trabalho de visitar o porão. Maldição Imperius, concluiu. Solução para quase tudo nos dias de hoje.


              Limpou o sangue de suas mãos. Descontrola-se com a mulher. Não lhe dizia nada. Não parava de chorar. O vaso pesado que usá-la para matá-la estava estilhaçado no tapete da sala.


           O velho assistira tudo, e foi então que Willian teve a certeza que ele de nada sabia. Do contrário, teria dito, em ordem de salvar sua esposa. Sua morte foi mais branda: uma simples maldição resolveu a questão.


           O Lorde Negro provavelmente nem se daria conta do acontecido. Com o número de pessoas que provavelmente mantinha sob seu poder, um casal de velhos trouxas dificilmente chamaria sua atenção.


          Perguntou-se novamente se Voldemort não teria alguém em Hogwarts. Mas acreditava que não. Depois de Snape, ninguém mais seria capaz de conquistar sua confiança. Além do mais, ele realizara um estudo detalhado. Era por demais crente em sua competência para acreditar que teria deixado passar algo tão gritante.


           Mirou a fechadura novamente, e a ideia lhe ocorreu com um estalo. Sem conseguir se conter, começou a gargalhar. Pessoas com a mesma identidade mágica, pensou. Era tão irônico... chegava a ser cômico.


            Precisava de Harry Potter.

 

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Comentários (4)

  • Isis Brito

    Li de novo e me assustei de novo!! 8|INCRÍVEL!! KENBRIL VAI VOLTAR COM TUDO!!Ah, e Harry... ACABA COM ELE!! \o/\o/\o/\o/\o/\o/\o/Ah, continua, vai! A fic tá ótima!! xD 

    2012-05-29
  • Isis Brito

    MEU MERLIN!! ELE VAI VOLTAR PRA HOGWARTS E CAPTURAR HARRY POTTER!! 8|MEEEEUUU DEEEEUUUSS!!! 8| 

    2012-05-02
  • rosana franco

    Como ele vai fazer para conseguir a ajuda do Harry?Gostei muito de como o Harry esta mais poderoso e controlando sua magia.

    2012-04-24
  • Jade Moreira

    OOOOOOOOOOOOI adorei o capitulo d+ =)))))))) cheio de misterios em kkkkkkkkkkk thau ate o proximo capitulo =))))))

    2012-04-23
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