Uma Nova Chance



N/A: Sim, sim, eu sei. Eu deveria me envergonhar de demorar tanto. Mas todos sabem como começo de ano é conturbado, e eu ando fazendo muita coisa ultimamamente. Só no ultimo mês, eu prestei uma prova de espanhol, entrei para um grupo super puxado de alemão e estou me preparando para uma prova em maio. Isso mais as obrigações costumeiras de escola, como provas, trabalhos, etc. Resumindo, só hoje consegui arranjar uma hora e meia do meu tempo para escrever esse capítulo. Não traz muita coisa nova, mas é importante para o enredo, e eu o fiz com carinho. O cinquenta será especial: se praticamente, se não inteiramente dedicado ao treinamento de Harry com Ella e Jason. Tenho algumas surpresas para vocês nele.
        Mas também não podemos dizer que estive completamente fora da ativa. Revisei o capítulo seis e, o que é mais importante, postei a fic Dumbledore's POV aqui na FeB. O link é esse:http://fanfic.potterish.com/menufic.php?id=42862. Investi bastante do meu carnaval nele, e eu sinceramente espero que vocês gostem. Portanto, comentem para eu saber, ok?
         Não tenho grandes considerações a fazer. O capítulo fala por si mesmo. Tentarei, juro que sim, trazer o cinquenta no prazo (15 dias). De verdade. Mas eu já disse: se é para fazer mal-feito, melhor não fazer. Pode demorar uma semana ou um mês, a única coisa que eu faço questão é a qualidade do meu trabalho. E disso eu não abro mão, em situação alguma.
          Acho que é isso. Chegaremos ao capítulo de número cinquenta. Nossa.

Bjos, Giovanna de Paula


Capítulo 49


 


   Ella passava distraidamente os dedos pelos cabelos recém-secados quando uma batida na porta chamou sua atenção. Estivera novamente tomada por devaneios inúteis sobre Harry Potter e seu encontro peculiar daquela manhã. Decidira-se a pedir desculpas por sua grosseria: por mais que tivesse sido, sim, uma indelicadeza da parte do rapaz, ela tinha certeza que não fora sua intenção. Afinal, como poderia ser? O garoto não sabia de nada.


     Ella, Ella, você está ficando muito desconfiada, repreendeu-se.


     Qual não foi sua surpresa ao abrir a porta e deparar-se com Jason. O amigo lhe vinha fazendo visitas com maior frequência do que seria considerado educado, mas isso não a incomodava de forma alguma. Apenas intrigava.


      Dessa vez, trazia uma pequena caixa de chocolates no eterno sobretudo. Na noite anterior, haviam sido castanhas. Como sempre sorridente, Ella o convidou a entrar e sentar-se na pequena mesa redonda ao lado do armário antigo.  Desculpou-se pela bagunça – estivera desarrumando o restante de suas malas.


       - Ah, eu não me incomodaria com isso, Ella – ele disse, com simplicidade – Isso aqui está um paraíso comparado ao meu quarto.


      - Merlin – exclamou – Você nunca teve talento para organização.


      - Nem você, para indiretas – sorriu Jason, maroto – Mas deixemos esses assuntos pouco úteis de lado. Nenhum de nós irá mudar, nesta idade, correto? Enfim... soube que você conversou com Harry está manhã.


        Ella assentiu.


       - Rapaz interessante – disse ela – Inteligente, apesar de levemente ingênuo. E notavelmente poderoso, é claro.


       - Certamente. Existem certas coisas que apenas a vivencia ensina e, no que diz respeito a ingenuidade, pouco podemos fazer. É a malícia adquirida ao longo a vida, e que infelizmente é vital em uma batalha, por exemplo. Mas, por algum motivo, não creio que isso será problema. Até porque, bem... algo me diz que aquela carinha de inocência pouco tem a ver com sua real personalidade. É novo, mas já viveu muita coisa.


        - É uma pena. São épocas de sua vida que não irão voltar. – suspirou, pensativa – Mas sejamos menos mórbidos. O garoto tem potencial.


        - Tem, e como tem. Percebi isso claramente quando fui incumbido de treiná-lo, meses atrás. Porém, como sempre, meu trabalho parece obra de um babuíno quando comparado ao seu.


         Ella assustou-se com o tom sério do amigo, mas um discreto sorriso que brincava no canto de seus lábios denunciou a brincadeira.


            - São duas áreas diferentes, Jason. Você fez um trabalho muito bom despertando toda aquela magia que existe nele. Facilitou muito meu trabalho, dando noções de controle. Mas agora, cabe a mim ensiná-lo a moldar a seu bel prazer. E uma coisa eu te garanto: ele irá adorar.


          - Não adoramos todos? É como dar um brinquedo novo a uma criança todos os dias. Fazer o que quiser, ser o que quiser... Todo esse potencial nas mãos de um adolescente!  Ele vai ficar alucinado. – completou Jason, alegre – Eu não poderia participar, poderia?


           - Claro que sim... iria te convidar agora mesmo.


          - Ótimo... há algumas pontas soltas que preciso juntar antes de você começar.


          - Como por exemplo?


           - Hoje não, Ella. Amanhã discutiremos isso.


           - Ótimo – retrucou – E o que discutiremos?


          O sorriso de Jason se desfez, e ele escorregou pela cadeira para ajoelhar-se a sua frente. Seu olhar estava sério e preocupado. Ele suspirou, como se estivesse prestes a fazer algo que preferia não fazer. Mirou-a fundo nos olhos.


            - Já fazem meses, Ella. Você não pode continuar assim.


           Ella prendeu a respiração e baixou os olhos, subitamente muito interessada nos sapatos de couro escuro do amigo. Ele não sabia...ele não entendia. Ele não tinha ideia de como era rememorar aquele acontecimento todas as noites, nos mais variados pesadelos, rever diariamente o rosto suplicante de Andrew, olhos apagados, com um filete de sangue lhe escorrendo pela boca enquanto murmurava um último “eu te amo”.


            - Você não sabe... não tem a menor ideia...do que é viver com essa dor. Essa culpa – murmurou ela, ainda sem olhá-lo.


            - Não, eu não sei. Mas eu estava lá, Ella. Não foi sua culpa – Jason suspirou novamente – Se efetivamente podemos culpar alguém, culpe então a mim. Eu fui incumbido de salvá-lo. Eu cometi um deslize. Andrew... Andrew iria morrer de qualquer maneira, Ella. Eles estavam determinados a isso, e o fariam de qualquer jeito. E provavelmente me matariam em seguida. Mas você apareceu e, de certa forma, me salvou. Me odeio por ter sobrevivido, pois era o meu dever fazê-lo viver. Meu. Não seu.


             As lágrimas vieram antes que ela pudesse contê-las, escorrendo, derrotadas, por sua face. Ella cobriu o rosto com as mãos, desabando mais uma vez. Jason, aflito, puxou-a para seu ombro, murmurando desculpas aleatórias. Nada daquilo importava. Seu marido, seu homem, seu amor, estava morto, e pouco fazia diferença os meios, as consequências, as causas. Estava morto, e nada o traria de volta.


            - Eu sei o quanto você o amava, eu sei o quanto ele era o homem certo para você. Eu sei, Ella, eu sei. Mas passou. Você precisa seguir em frente. Quantas vezes você me mandou fazer o mesmo? – Jason sussurrava, gentil – Nós somos todos vítimas das circunstancias, dessa guerra. Mas precisamos seguir em frente, por mais que doa fazer isso. Precisamos esquecer o passado, por que é apenas isso, passado. Não estou falando para que você o apague de sua memória: Andrew jamais morrerá dentro de você, eu tenho certeza.  Mas faça disso um motivo para lutar, ao invés de um motivo para desistir. Lute, Ella. Viva!


             Lentamente, os soluços de Ella tornaram-se mais espaçados, e ela foi se acalmando. Jason esperou, paciente, até a última lagrima rolar por seu rosto e perder-se em seu casaco. Em seguida, afastou-se dela, segurando com firmeza seu queixo e forçando-a a olhá-lo.


           - Me deixe cuidar de você – ele disse.


           Sua testa encostou-se na dela, e ambos fecharam os olhos, perdidos em seus próprios pensamentos. Jason acariciava o rosto de Ella com carinho. A quanto tempo a amava? Não saberia dizer. Provavelmente desde que a conhecera, e perdera-se em seus olhos cor de cinza. Mas jamais exigiu ser correspondido, jamais permitiu-se efetivamente tentar. Principalmente depois do ocorrido. Não era direito. Mas não conseguia esconder de si mesmo o quanto precisava disso.


          Devagar, quase ao mesmo tempo, seus rostos se aproximaram. Jason podia sentir o coração frenético de Ella batendo contra o seu. Sorriu. Delicadamente, deixou seus lábios se encostarem aos dela, sem pressa, sem pressão. Ela cedeu, e eles se beijaram com calma.


          Ella Martinez merecia uma segunda chance.   


 


       O Lorde Negro caminhava sem pressa pela cidadezinha, deserta à aquela hora da noite. Haviam certas providencias que necessitava tomar com urgência. Precisava conferir o paradeiro de sua Horcrux. Mais uma vez, permitiu-se sorrir diante de sua astúcia. Ninguém jamais imaginaria que ele seria capaz de manter uma parte de si em um local tão... impróprio. Seus pés descalços tocaram os degraus de pedra que levavam até o alto do pequeno morro. Ali, encarapitado sobre a terra, a negra figura de uma casa cortava a noite.


         A casa dos Riddle.


         Tinha perfeita consciência que Dumbledore sabia de tal lugar. Também sabia que ele provavelmente o descartara, baseado no fato da casa estar habitada. Habitada por quem, imaginava, seria uma pergunta mais apropriada. Trouxas. Trouxas imundos, ridículos, estúpidos. Um casal de velhos, controlados de perto pela maldição Imperius. Controlados de modo a ficar bem longe do porão.


         Entrou na casa. Não se dera ao trabalho sequer de colocar uma fechadura. Para quê? Em caso de invasão, não seria uma fechadura que os faria parar. Passou despercebido pela sala. Podia ver a luz da televisão brilhando pela porta entreaberta. Os dois estavam lá, despreocupados, desinformados.


         Caminhou até a cozinha, onde uma pequena escada levava a uma porta, esta sim trancada. Era um fecho antigo e pesado, do século XIX. A chave era igualmente corpulenta. Murmurou um feitiço que desativaria a barreira mágica poderosa e introduziu a chave no buraco, que cedeu com um clique baixo.  Outra escada, mais longa e tortuosa, levava ao que seria o porão.


          Seria, pensou com agrado.


         Para tornar a casa apta a receber tamanha responsabilidade, ele teve que fazer algumas modificações estruturais. Os degraus desembocavam em uma pequena ante sala de pedra, que continha apenas uma pequena mesa. De lá saiam cinco corredores de pedra escavada, um verdadeiro labirinto subterrâneo que se estendia por mais de um quilometro.  Apenas ele sabia o caminho. Qualquer intruso certamente se perderia e morreria de sede, ou de fome, sem estar sequer perto do local.


         Acendeu a varinha e tomou o caminho conhecido, passos apressados. Tinha muito o que fazer. Enfim, chegou ao que parecia um beco sem saída. Examinou com os olhos apurados a pedra escura, até achar a fenda que procurava. Apenas o poder de seus dedos era capaz de abrir a fenda sem dano – do contrário, o indivíduo devia pagar o preço de sua entrada com sangue.


         Muito sangue, sorriu.


         Atravessou o portal e rumou para o buraco na parede, especialmente projetado para conter uma caixa de proporções exatas. Suspirou pesadamente e retirou o recipiente de dentro das vestes. Abriu o fecho com cuidado e examinou seu conteúdo.


        A faca de Morfino Gaunt sorria para ele.


        Sem mais se demorar, depositou a caixa em seu lugar devido e fez o caminho de volta, certificando-se de cobrir com feitiços todas as passagens. Ao transpassar a porta que levava aos corredores, virou-se e contemplou a escuridão, sorrindo.


       - Agora, o toque final – sussurrou. Seus olhos vermelhos brilharam e ele agachou-se, apontando a varinha para o nada a sua frente. Murmurou as palavras de sua própria autoria, e uma nesga de luz prateada irrompeu por sua varinha. Quando a luz começava a tomar forma, o Lorde Negro ergueu-se e fechou com urgência a porta atrás de si. Alguns segundos mais tarde, pode ouvir um rugido feroz cruzar o labirinto, ecoando por toda a casa de maneira ameaçadora. – Quero ver alguém passar por essa minha criação.


        Retomando a postura, saiu com tranquilidade da casa e desceu até o sopé da montanha, aparatando em seguida. Nas proximidades do local em que o Lorde desaparecera, um pequeno amontoado de arbustos se estendia.


        Se tivesse se dignado a olhar mais de perto, avistaria uma pequena cabeça loira a espiá-lo de maneira furtiva.


 


        Harry abriu os olhos lentamente, sorrindo para o nada. As memórias da noite anterior lhe voltaram com delicadeza, e ele se permitiu reviver tudo com calma. Respirou fundo, ainda sorrindo. Recordou-se de deixar Hermione à porta de seu dormitório, beijar sua testa e piscar-lhe um olho, marotamente. Ao subir ao seu próprio dormitório, encontrou Rony a aguardá-lo, uma sobrancelha levantada. Não precisou explicar nada. O amigo simplesmente fez um gesto afirmativo com a cabeça, parecendo muito satisfeito, e voltou-se para fechar o cortinado de sua cama. Harry, feliz, porém também exausto, não demorou a fazer o mesmo.


       Levantou-se e se espreguiçou demoradamente. Olhou ao redor: todos já haviam decido. Apressou-se. Não poderia chegar atrasado na aula novamente.


       Cruzou com Rony no corredor, que ia no sentido oposto com Luna. Ele sorriu e piscou um olho, fazendo um gesto com a cabeça para as escadas. Por ali, poucos instantes depois, surgiu Hermione, caminhando apressada, dois livros debaixo do braço. Seu olhar se iluminou ao vê-lo.


       - Harry...que bom te ver – disse ela.


      - Concordo – sorriu, maroto – Já tomou café?


       - Já – respondeu – Você anda muito dorminhoco.


       - Sinceramente, não dormia tão bem a semanas. – murmurou – Vou comer alguma coisa lá embaixo. Te vejo no primeiro período.


        Piscando um olho, Harry a beijou rapidamente nos lábios e desceu, andando rápido. Estava radiante. Haviam poucas pessoas no salão, nenhuma na mesa da Grifinória. Contudo, Harry notou, uma cabeça ruiva era visível, distante, na mesa da Sonserina. Perguntou-se até quando Gina conseguiria esconder seu relacionamento com Malfoy de Rony. Definitivamente, não queria estar por perto quando o amigo descobrisse.


        Não chegou sequer a se sentar, contentando-se em encher um copo de suco de abóbora e caminhar com ele até um estande onde alguns alunos deixavam seus jornais. Passou rapidamente os olhos pelas manchetes, e, felizmente, não viu nada que o alarmasse. Estava distraído quando sentiu uma mão em seu ombro. O virar-se, deparou-se com Ella.


        - Bom dia, Harry – disse ela, de bom humor – Pronto para nossa aula de hoje?


        - Claro – respondeu – Pela tarde, correto?


        - Bem... tecnicamente, sim. O que você tem agora? – indagou.


        - Defesa Contra as Artes das Trevas.


        - Com aquele pau-mandado do Ministério? – exclamou – Não. Não vou deixar você ter aula com aquele boçal do Kunis. Tive alguns problemas com ele na minha época de ativa. É um verdadeiro idiota.


          Harry ergueu as sobrancelhas, surpreso diante da súbita ira da mentora. Deu-se conta de que Ella Martinez era uma mulher de personalidade muito forte, e com vários incidentes em seu passado.


          - Vou mandar uma autorização por escrito a ele... devemos ter nossa aula agora. Me encontre nos jardins em dez minutos – decidiu-se – Vou apenas chamar Jason.


           - Ok – concordou, começando a andar.


           - Harry – chamou Ella. O moreno voltou-se para ela, e a encontrou com o olhar baixo – Fui grossa ontem com você. Não merecia – ela respirou fundo, triste – Meu marido foi morto durante uma missão meses atrás. Por isso saí de campo. É recente, então isso ainda mexe um pouco comigo. Mas você não tinha como saber. Me desculpe.


            Harry a fitou, estupefato. Agora entendia a tristeza no olhar da professora, que parecia não desaparecer, apesar de seu tom brincalhão e desbocado. E sentiu pena dela. Viu uma grande mulher, com um grande poder e um grande potencial, mas presa a um passado que a atormentava. Culpa? Arrependimento? Não podia saber. Não queria saber. Mas determinou-se a fazer uma coisa: daria o melhor de si naquele treinamento. A deixaria orgulhosa. E faria com que, de uma forma ou de outra, ela se sentisse útil novamente. Como ela mesmo havia dito, a vida de escritório a estava deixando louca.


            - Eu sinto muito – murmurou, condescendente.


            - Eu também – ela disse.


 

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