Quarta carta Sirius e Bellatri



Meu amor,


Ler a tua carta reconfortou-me imenso. Foi como se por momentos te sentisse aqui ao meu lado. Como se por segundos conseguisse sentir o teu perfume no ar, o toque da tua pele e o sabor dos teus lábios sobre os meus. Mas quando a carta acabou eu olhei em volta e foi como ter acordado de um pesadelo. Porque eu olho ao redor e aqui não existe amor. Em cada um daqueles com quem luto, mesmo os que lutam do nosso lado parece haver um vazio tão grande. Falta de amor, eu sei. Raiva por perderem quem amavam. E eles impressionam-se. Impressionam-se por eu nunca me deixar ir abaixo e por eu ter sempre força para lutar. Porque eles não sabem meu amor que as minhas razões para lutar são diferentes. Eu consigo ver nos olhos deles que eles não lutam mais pelos seus ideais. Eles lutam por vingança, por dor, por mágoa e por cansaço de toda esta guerra. E eu sei que no fundo já nem eu luto pelo que acredito porque eu já em nada acredito. Acredito apenas no nosso amor e é ele que me dá força para me levantar cada dia, inebriando todo este cheiro horrível a morte e a ódio, mas mesmo assim lutando diariamente pela esperança de um dia te voltar a reencontrar e podermos construir a família que tanto ambicionamos.


Uma menina… ainda nem acredito que é uma menina. Uma Black de dois lados. Espero que seja como tu. Tão pura, tão linda, tão perfeita como a mãe o é. Sorrio ao ler que guardas em ti a esperança que volte. Eu também espero voltar meu amor mas aqui é tão difícil ter esperança. Todos os dias eu vejo a morte rasar-me os olhos e pergunto-me quando será que o meu corpo se irá juntar a todos os outros que já jazem na terra. E custa… custa muito. É uma dor, uma mágoa, uma raiva ver aqueles olhos que sempre conhecíamos fechados, os braços dos amigos que um dia nos abraçaram jazerem flácidos no chão, as vozes que antes nos reconfortavam caladas para sempre… E o que mais custa meu amor é saber a forma como morreram. Talvez alguns achem uma morte heróica. Eu não acho que morrer em ódio e inebriado por vingança seja uma morte heróica. Ultimamente tem-me cabido a mim também avisar as famílias daqueles que morrerem e nem imaginas como isso custa. Para onde quer que vá eu oiço os gritos angustiantes das mulheres desesperadas, o choro das crianças e em cada par daqueles pequenos olhos brilhantes eu imagino a nossa filha e tenho medo. Eu não a quero deixar sozinha, eu não quero que ela cresça neste mundo de dor e de guerra. Por isso eu volto a pedir-te que me esperes mais um pouco, apenas mais um pouco. Eu pressinto o final meu amor. Há cada vez menos ataques, menos Devoradores da Morte e até já alguns que se vêm entregar. Falei com o Harry e ele disse-me que vem aí o confronto final. Eu sei que vai ser perigoso mas eu insisti em ir. Quero apenas fazer-te um pedido. Que me respondas a esta carta, que me digas como estás uma última vez porque eu sei que essa será a tua ultima carta. Depois dela virá então o confronto final e eu preciso de ler outra vez as tuas palavras, preciso de ver que me desejas boa sorte e sentir que estás aqui antes de a batalha começar. E pela primeira vez eu tenho medo da luta. Medo de te deixar sozinha com a nossa filha. Eu quero tanto conhecê-la, pegar na mão dela e ver a cor dos seus olhos. Quero sentir cada traço do seu rosto e compará-lo ao teu. Eu quero vê-la crescer Bella. Quero acordar contigo a meio da noite quando ela chorar, quero ser eu a levá-la pela primeira vez a voar, quero discutir contigo sobre se ela será uma Slytherin ou uma Gryffindor e acompanhá-la á estação de King’s Cross. Quero sentir as lágrimas subirem-me aos olhos quando a vir partir no comboio e acenar até muito depois dele desaparecer de vista. Oh Bella, quero ser eu a levá-la ao altar vestida de branco e depois sentar-me ao teu lado e agarrar-te a mão. Quero conhecer os meus netos e no fim de tudo isso quando chegar a minha hora eu quero envelhecer e morrer ao teu lado. Quero ser feliz… apenas ser feliz. E saber que tudo isso depende do Harry. Eu confio nele, confio muito mas até eu tenho de admitir que vencer Voldemort não é fácil. 2 dias… faltam dois dias ou menos para tudo acabar. Escreve amanhã sem falta meu amor, eu peço-te. Preciso das tuas palavras para me darem forças para lutar. E então depois dessa carta eu vou responder-te… ou não. E eu imagino-te a correr para a janela com essa barriga que já deve estar enorme e abrires a minha carta dizendo que a guerra acabou. Imagino o teu sorriso e imagino-te de braços abertos para quando eu voltar para casa. Mas se essa carta não for minha, se essa carta for formal e fria e apenas anunciar mais uma das mortes na guerra tenho a pedir-te que sejas forte. Que fujas e te escondas bem longe com a nossa filha. Se a carta não for minha, e eu for então mais um entre os corpos que jazem no chão, não te deixes arrasar. Porque eu estarei sempre ao teu lado.


Despeço-me não com a promessa de voltar, mas com a promessa que farei tudo por isso,


Com amor e saudade do eternamente teu,


Sirius Black

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