Ouvindo a razão...



Capítulo XIV


 


Ouvindo a razão...


 


- Saia daqui, Sirius, eu preciso me trocar.


Ele esboçou seu sorriso de sempre enquanto respondia:


- Não se incomode comigo, pode continuar.


- É sério, saia agora! – ele não se moveu, e voltou a endurecer o rosto. Aquilo estava me assustando. – Ótimo, se você não quer sair, eu me troco no dormitório.


Dirigi-me a saída, mas ele me impediu, segurando-me pelo braço.


- Preciso falar com você, Narcisa.


- Eu não tenho tempo, ando muito ocupada.


Mal terminei de falar e fui empurrada de encontro ao assento do banco, enquanto ele permanecia de pé.


- Não, você não tem nenhum exame pra prestar esse ano e não entramos no período de provas. Quem deveria ir para a biblioteca sou eu, se ainda quero passar nos N.I.E.M.’s. Mas eu realmente preciso falar com você. E é sério.


Eu permaneci calada enquanto ele se sentava ao meu lado, e continuava.


- Sabe, seria engraçado, se eu não achasse trágico, que eu tenha passado todos esses anos desde que cheguei a Hogwarts amaldiçoando nossa maldita família, por acreditar que eles tivessem feito sua cabeça, que eles tivessem tirado você de mim. Sem perceber que o grande imbecil que conseguiu te perder sozinho fui eu.


- Sirius, achei que já tivéssemos encerrado isso...


- Mas você merece saber que eu sofri, Cissy, que eu senti sua falta em cada segundo desses anos longe de você. Que eu sempre te observei de longe, esperando alguma aproximação sua, sem perceber que eu é que devia desculpas. E que ninguém nunca chegou perto de ser o que você era pra mim.


- Você espera mesmo que eu acredite nisso?


- Na verdade, esperava sim, mas não espero mais, eu fui mesmo um idiota. Mas, tente entender, você não demonstrava sinais de que me queria por perto. Para ser sincero, apenas nos seus primeiros dias aqui foi que eu notei alguma reação sua perto de mim.


- Você queria o quê? Que eu implorasse por sua atenção?


- Não estou te acusando. Você estava certa... sempre esteve. Eu só queria poder consertar isso...


Houve um silêncio no ar, enquanto eu tentava compreender tudo aquilo.


- O que, exatamente, você está dizendo, Sirius?


- Estou dizendo que sou apaixonado por você, Narcisa. Sempre fui, e sempre serei. Estou dizendo que nunca namorei de verdade nenhuma garota até hoje porque nenhuma delas era você. Estou dizendo que sempre te quis perto de mim, e é uma pena que eu só tenha descoberto isso quando me permiti te reencontrar de verdade através de uma máscara.


Eu ouvia tudo de olhos arregalado, estática. Eu sentia sua mão acariciando minha bochecha e o percebia mais perto, mas não sabia dizer quando teria se aproximado. Fechei os olhos lentamente, esperando que ele me beijasse. Mas não foi isso que aconteceu.


- Cissy... – ele começou baixinho. – Eu não vou mais te beijar se você não disser que eu posso. Ser um cara com quem você perde seu tempo não é o suficiente pra mim. Nem mesmo ser um caso não é suficiente. Não espero que diga que sente o mesmo, só quero que aceite o que tenho pra oferecer. Não preciso de nada em troca, só não quero ter que guardar isso, para que talvez, quem sabe um dia, você possa dizer que eu fiz com que sentisse o mesmo por mim.


Foi então que um alerta impertinente disparou no meu cérebro. Era a minha vez de decidir. Ele não iria mais me agarrar durante uma discussão estúpida se eu não dissesse que ‘sim’. E eu queria que ele me agarrasse. Queria ter ele comigo, todo o tempo.


Mas, até quando duraria? Será que eu estava realmente pensando na possibilidade de vivermos ‘juntos para sempre’? Isso não é possível! Nossos pais nunca permitiriam e, mesmo que, na mais absurda hipótese, permitissem, aquele ali se declarando era Sirius Black, e qual era mesmo sua fama com mulheres? Ah, sim. GALINHA.


Eu correria esse risco de me apaixonar – mais! – e perdidamente por ele?


- Sirius, eu não posso. Nós não podemos, e você sabe.


Meu coração apertou enquanto eu via o rosto dele se desmanchar em decepção. Mas meu cérebro dizia que eu estava certa, que seria o melhor para meu futuro.


- Narcisa, pense melhor...


- Sirius, não posso me apaixonar por você...


- Cissy, por favor.


- Eu tenho um noivo, um futuro traçado.


- Aquele cretino não é digno de você!


- E você se considera digno?


Eu sei, eu sei. Foi golpe baixo. Mas foi sem pensar. Doeu quando vi ele saindo, enquanto dizia:


- Se você algum dia desejou se vingar, fique satisfeita, você acabou de conseguir.


Só depois de estar sozinha foi que notei lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Eu não sei quando começaram a rolar e, pelo ritmo do meu coração, não saberia dizer quando parariam.

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