Protesto!



Foi uma viagem inusitada. Claro que teve sua dose de maluquice, mas Ron não lembrava-se da última vez que ele se divertira tanto em uma conversa.

No meio da viagem, quando o sol se punha, uma mulher baixinha e encurvada abriu a porta do vagão deles, e se postou atrás de um carrinho de doces, oferecendo a eles. Ron, como não tinha dinheiro, agradeceu educadamente e esperou que Luna pedisse algo. Como ela não fez isso, a mulher se despediu e foi embora.

Alguns segundos depois, Luna, que estava olhando para o chão atentamente, sacudiu a cabeça e perguntou:

-Alguém esteve aqui?

-Sim, a mulher dos doces.

-Nossa, bem que eu pensei ter ouvido alguma coisa. – Ron boquiaberto, tentou achar palavras pra descrever a alienação de Luna, mas ela foi mais rápida – Pega esses galeões e compra quatro bolinhos de caldeirão.

Ron bufou e pegou o dinheiro. – Não saia daí. – Conhecendo Luna, ele sabia que ela podia se perder até num corredor reto ininterrupto com somente duas portas.

Ele viu para que lado a mulher que empurrava o carrinho dos doces fora, e a seguiu até que a porta de um vagão abriu, e alguém que saía apressado dali esbarrou nele.

-Por que não olha por onde anda?

Não. Aquela voz arrastada não.

Mas sim, era a pura e plena verdade. Ron encarou de cima aquela figura pálida e asquerosa, aquela expressão de superioridade em um rosto perfeitinho até demais e aquele cabelo pseudo-revolto amarelo.

-Agora me sinto contaminado. – Sussurrou Draco Malfoy, fingindo limpar suas vestes.

-DRACO?! – Perguntou Ron, incrédulo. “Como uma criatura dessas é aceita na sociedade novamente? Aceita em HOGWARTS!”

Depois de tudo que sua família fizera para apoiar Voldemort, era de se surpreender que ele desse as caras por aí com tanta regularidade, e era admirável a sua coragem de voltar para o colégio. E ele ainda sustentava um sorriso de vitória para Ron!

-O que foi, seu... – Ele suspirou e completou de forma surpreendente. – Weasley. – Weasley era um elogio diante do leque de xingamentos que ele tinha à disposição dele naquele momento. Ron deu uma rápida examinada em Draco e notou suas vestes de bruxo um pouco largas e esfarrapadas. Seu cabelo estava bagunçado, e não milimetricamente despenteado, e ele tinha profundas olheiras, assim como Ron. – Com licença, eu tenho mais o que fazer do que ficar servindo de manequim pra ralé.

-Como queira... – Sussurrou Ron, deixando ele ir. De repente ele foi tomado pela curiosidade de saber com quem ele estava no vagão, e olhou discretamente. Uma garota cujo rosto não se podia ver, pois ela parecia estar propositalmente jogando o cabelo na frente do rosto. Seu cabelo era cheio - imenso - e castanho, de certa forma bonito. Ela era baixa, magra, e... ERA HERMIONE!

Ron voltou para seu vagão rapidamente e em passos fortes e pesados.

-Eba! Você demorou tanto para chegar aqui que eu pensei em acender uma fogueira e assar sua coruj... Hey, cadê meus bolinhos de caldeirão? – Disse ela, adotando uma voz chorosa.

Ron se jogou do lado dela e se emburrou, devolvendo o dinheiro para ela.

-Não comprei.

-Nem uma varinha de alcaçuz?

-Não.

-Feijõezinhos de todos os sabores?

-Não, eu não comprei nada!

-Defina nada.

Ron encarou furiosamente Luna, que instintivamente abriu um sorriso inocente e apoiou um pulso no ombro do amigo.

-O que houve afinal?! – Ron não respondeu. Ele respirava em arfadas objetivas e curtas, narinas infladas. – Você não vai me contar? – Perguntou mais uma vez, agora brincando com a orelha dele.

-Isso faz cócegas, pára.

Luna parou instantaneamente, e se afastou um pouco de Ron. Ron sentiu um peso na consciência imenso, mas quando olhou para Luna ela não parecia ofendida, só esperava ansiosa pelo que Ron falaria.

-Me rendo. Foi a Hermione.

-Ah, como eu não adivinhei antes? – Ela adivinhara, e isso estava na cara. Ron não entendeu mas não deixou passar uma pontada de decepção e dor que passara pelo rosto de Luna, que logo sumiu e deu lugar à uma expressão debochada.  – O que aquela megera cética e insensível fez agora?

Ron riu da expressão desdenhosa e forçada que acompanhara as palavras “Megera cética e insensível”, e suspirou.

-Ela se bandeou para os lados Sonserinos. Ela estava numa cabine com Draco Malfoy e Lana Bhing!

-Tem certeza que não tinha nenhuma varinha apontada pro pescoço de ninguém?

Ron riu, e negou com a cabeça.

Em dois minutos, ele resumira como se sentia por ver Hermione superando o rompimento deles com tal facilidade, e vê-la se relacionando com a pessoa que ele mais odiava no mundo.

-Não está sendo um pouco egoísta? Quer dizer, você já superou o fim do namoro de vocês, mas ela
não pode?

-Não! – Disse instintivamente. – Quer dizer, pode, mas isso me faz sentir mal! Parece que eu signifiquei pouco, ou quase nada pra ela.

-E não se esqueça que eles só estavam conversando. É até bom que você siga o exemplo dela, e se esqueça destes seus preconceitos. Draco pode até ser – o que eu duvido muito – uma pessoa legal!

Ron riu com desdém.

A conversa fluiu normalmente a partir daí, mas o coração de Ron não se aquietara sabendo que Draco e Hermione estavam a alguns vagões de distância, conversando e comendo doces como amigos de infância. Ele talvez estivese com a mão na perna dela, ou afastando mechas de cabelo do seu rosto delicado. Ele podia estar com um braço por trás dos ombros dela, e sorrindo de maneira sedutora. Ou então Hermione desistira de fazer charminho e eles já tivessem partido pra... “PARA de pensar bobagens, Ron. Foca.”

-Foi então que papai consegui provar a existência dos Pigmeus Indianos Tripés das Montanhas. – Disse Luna, e olhou curiosa para Ron. – Você não ouviu nem metade das palavras que eu disse né?

Ron olhou pra ela, como se só tivesse notado sua presença agora. Pensou em mentir, mas aprendeu que nada feria os sentimentos de Luna, aparentemente. Foi delicado, mas direto: - Ouvi pelo menos metade, mas quando tento uni-las em uma frase não fazem sentido algum...

-Bem, pelo menos eu tentei. – Disse ela, sorrindo. Ela sorria tão encantadoramente assim desde quando? Seus pensamentos foram interrompidos quando o trem começou a diminuir a velocidade, até parar totalmente. Chegaram finalmente a Hogsmeade. Ron e Luna esperaram a maioria dos alunos saírem do trem, e finalmente deixaram a cabine. Estava absurdamente frio lá fora, e assim que saíram do trem, encontraram Hagrid cumprimentando Harry e Hermione com suas estrondosas risadas e amplos movimentos.

-Alunos do primeiro ano! Me sigam! Ah, Oi Ron! – Disse ele, acenando para Ron de longe. Ron fez o mesmo, e olhou para Harry e Hermione. Harry saíra de perto de Hermione para acompanhar Ginny, e Hermione estava com Draco! De novo?! E Draco estava... com a mão no ombro dela?

Luna acompanhara o olhar de Ron e bufava impaciente. Quando Ron irrompeu dali, atravessando a multidão impiedosamente, Luna tentou o segurar, mas ele não notou.

-O que você pensa que você está fazendo?! – Perguntou Ron, exaltado para Hermione, quando se aproximou deles.

-Se afasta dela, Weasley!

-Eu não cheguei a falar com você, seu idiota!

-Idiota? É o máximo que você consegue pensar?

-Conseguiria mais, caso sua presença não me causase náuseas, doninha!

Em um movimento imperceptível, Malfoy sacou sua varinha e apontou para o peito de Ron. Inesperadamente a varinha de Draco voa de sua mão...

-Como você fez isso, seu traidor do próprio sangue?!

-Vou te mostrar quem... - Disse Ron, finalmente sacando a varinha, mas Hermione se pôs na frente.

-CALEM A BOCA! – Gritou Hermione. – E sai daqui, Ron!

Ron olhou para Hermione. Seu olhar foi intenso como nunca fora, e Hermione se sentiu fuzilada.

-Quem você pensa que é, Ron...? – Perguntou Hermione, com a voz falhando no fim da frase. Ela olhou incrédula para seu ex-namorado e se afastou lentamente.

Chuva, era o que Ron estava precisando, e foi o que ele teve. Ele sentiu braços o envolvendo desajeitada, e notou que era Luna que se esticara para não pisar em uma poça entre ela e Ron, e abraçá-lo mesmo assim.

Ele olhou para a garota e sorriu, sem vontade.

-Tá seu panaca, você já teve sua dose de auto-piedade. E eu não quero chegar ensopada no castelo. Vamos?

-Quanta sutileza. – Sussurrou Ron. Ela puxou-o pela mão até uma carroça puxada por testrálios – animais que agora ele podia ver -, e se perguntou quantos daqueles alunos não podiam ver um depois da guerra que se sucedera.

-Você é tão bobo, Ron. – Disse Luna, quando já estavam sentados em segurança.

-Olha quem falando.

-E tão mau-humorado. Mas é isso que eu gosto de você, eu acho. O que seria de mim sem uma alma destroçada para mim reconstruir?

Isso fora um elogio? Ron achou que não, mas resolveu encarar como um.

-Foi você quem desarmou o Draco, né?

-Óbvio - Sussurrou Luna.

Sorriu e deixou que Luna se aconchegasse em seu braço, deixando-se levar pelo confortável balançar da carroça. Ele se sentia quente. Como nunca estivera antes.







Notadoautor: antes que apareça gente reclamando (leia: MAIS gente reclamando): é óbvio que eu vou explicar mais sobre a relação Hermione-Draco mais tarde, e as consequëncias da guerra no nosso amado e prezado Malfoy. *; E obrigado Claudiomir e Heelo por serem as únicas almas bondosas a me incentivarem a continuar essa joçinha (:    e pro resto: Comentem, por favorzinho? *-*

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