Mas Que me Reste Você



Os dias que se passaram destacaram uma rotina. O fim de agosto foi marcado por visitas constantes à casa de Luna, e embates cada vez mais furiosos na Toca. As brigas que começaram entre Sra. Weasley e Ron se expandiram para Ginny e Percy e Sra. e Sr. Weasley, ao ponto em que a casa estava desmoronando por dentro.

Ron agora se preparava, ansioso até demais para seu ano letivo. Por mais que ele tivesse desistido de seu último ano de escola no ano que antecedera, a Harry, Hermione e à ele, haviam sido dadas novas chances, afinal, eles fizeram um bocado pelo mundo.

-Vamos, Ron! – Disse Arthur, ao pé da escada. Faltava um dia para o embarque no Expresso de Hogwarts, e o acordaram quase de madrugada para fazer as compras no Beco Diagonal, um centro comercial bruxo, que vendia qualquer expressão ou manifestação mágica. Ron fechou sua mala abarrotada de roupas, pegou a gaiola de Pichi, sua coruja, que bicou seu dedo furiosamente reclamando de falta de atenção, e guardou a sua varinha no bolso dos seus jeans. Todos se reuniram em volta da lareira, e despediram-se de Percy que ficaria para tomar conta d’A Toca.

-Cuide-se bem, Percy. – Disse Sra. Weasley entrando na lareira. O próximo foi Ron, que simplesmente apertou a mão de seu irmão e sussurrou alguma palavra semelhante a “tchau”. Ele pegou um punhado de Pó de Flu, e espremeu-se dentro da lareira junto com Pichi e sua bagagem. Falou claramente “Beco Diagonal”, e jogou o pó nos seus pés. Irromperam chamas verdes, e ele logo sentiu-se rodopiar por algum tempo, até que literalmente foi jogado para fora de uma lareira pequena e desconfortável, no meio d’O Caldeirão Furado, um pequeno pub cheirando a pó e leite azedo, onde ficariam hospedados à noite. Começou a limpar o pó de suas vestes, enquanto a família se completava.

Eles foram completando os itens da lista que não puderam reaproveitas de Percy, Carlinhos ou Bill, desta vez iguais para Ginny e Ron. Quando foram informados, na Floreios e Borrões, que um bruxo “desagradavelmente louro” levara os últimos dois exemplares de “Nos Confins da Bruxaria”, livro exigido pelo Prof. Binns de História da Magia, Ron comentara:

-A livraria útil mais próxima é nos fundos da Penas e Plumas.

-Não fica do lado das Geminialidades Weasley? – Perguntou Ginny.

-É.

A Sra. Weasley de repente pareceu alarmada e um pouco decepcionada, como se tivesse de encarar finalmente algo que ela estivesse adiando há tempos.

Logo, eles foram comprar o último item de sua lista e passar na loja de Jorge, Geminialidades Weasley, especializada em logros e brincadeiras de qualquer espécie.

A loja com certeza chamava a atenção de quem passava. Lá dentro ouvia-se explosões, risos, e as vitrines eram repletas de luzes e coisas brilhantes, que no mais não se entendia do que se tratava.

Ron entrou junto com Ginny, e ao procurarem lembrar onde era o balcão de atendimento, um garoto se aproximou deles. Ele era bem esquisito ao ver de Ron, calça rasgada até os joelhos, como se um animal bem grande houvesse o atacado, camisa e jaqueta esfarrapadas, um brinco de argola, barba mal-feita, e um rabo de cavalo nos cabelos negros e lisos. Ele ficou o examinando por um tempo, antes de processar o que ele havia perguntado.

-Como posso ajudá-los? – Perguntou, o mais simpático que a sua aparência permitia.

-Quem é você? – Perguntou Ron, grosseiro.

-Meu nome é Chester, e eu trabalho nesta loja... Senhor. – Disse ele, completando a frase com visível desgosto.

-Onde está Jorge? – Perguntou Ginny.

-Ah, como eu sou idiota. – Disse, perdendo a formalidade. – Vocês devem ser Ginny e Ron. Ele está lá nos fundos, corram lá.

-Tá... bom. – Disse Ron, começando a andar.

No fim da loja havia uma porta com um aviso: “Só funcionários – Para o seu próprio bem”. Ron riu e abriu a porta. Houve uma série de explosões coloridas que o cegaram, e ele sentiu-se sendo empurrado para trás, tropeçando nos pés e caindo no chão.

-Desculpe o tombo e o mau jeito, mas é permitido só funcionários, e como você não pronunciou a senha antes de entrar na sala suponho que você... Ron! – Disse Jorge, se interrompendo. – Desculpe, maninho!

-Oi para você também. – Disse, se levantando e abraçando seu irmão, no momento o irmão mais amado e com quem queria ficar. Quando o abraço demorou um pouco demais, Ron estranhou. Não era típico de Jorge demonstrar... Afeto.

-Senti sua falta, maninho. Ginny! – Disse, abraçando a caçula, desta vez. Pelo ombro de seu irmão, Ginny olhou para Ron, confusa.

Jorge já era mais baixo que Ron, tinha as mesmas sardas, o mesmo cabelo ruivo, um pouco mais comprido, e o nariz torto para um lado. Quem via ele e Fred juntos não notava nenhuma diferença.

-Hey, Ron! Hermione passou aqui com Harry. Ele não estava em casa com vocês?

-Harry? Harry disse na última carta que chegaria aqui só de noite, e que mandaria o dinheiro para Hermione, para comprar seu material! – Disse Ginny.

-É, só que eu ainda não sou míope como ele e sei o que vi.

Ron explicou em algumas palavras que havia acabado com Hermione, e os porquês.

-É uma pena. Por que afinal, se da união de vocês saísse um bebê, teríamos um Weasley inteligente, finalmente.

-Jorge, você está bem? – Perguntou Ginny.

-Não, ele ainda não debochou do fato de eu estar na mesma série que você, Ginny. – Disse Ron.

-Ah, bem lembrado, seu anor....

-Não, não é isso. Você tem dormido bem?

Ron finalmente notara o que Ginny queria dizer. Jorge estava com profundas olheiras, e uma expressão debilitada que Ron não sabia como não havia notado antes. Seu rosto estava mais ossudo, e seus olhos quase sem expressão.

-O que houve com você, Jorge!? Têm se alimentado direito?

-Tenho sim. – Disse Jorge, e no mesmo instante abriu a bocarra para bocejar sonoramente.

-Jorge! – Disse Arthur, o localizando e o cumprimentando. Conversaram normalmente, e Ron não pode deixar de notar a frieza de Molly, e foram embora, para o Caldeirão Furado.



À noite, quando Ron já estava quase dormindo em seu quarto fétido, ouviu duas batidas na sua porta. Cambaleando de sono, ele encontrou a maçaneta no escuro, e abriu a porta.

Aquele rosto sorridente e redondo, aquela figura magricela, de óculos e cicatriz na testa, cabelos negros revoltos, ele reconheceria mesmo de olhos cerrados como estava.

-HARRY! – Gritou, abraçando-o.

Harry equilibrou-se com dificuldade e o empurrou para dentro do quarto.

-Contenha-se, Ron, você está de cuecas! – Disse Harry, reprimindo uma risada.

-Ah é. – Disse Ron, com as orelhas ficando vermelhas em instantes. Eles conversaram animadamente por alguns instantes, até que Ron perguntou: - E Hermione?

Harry sorriu encabulado e disse: - Está no quarto de Ginny, neste instante. Não quis vir aqui, sabe como é, pra não criar um clima estranho.

-Entendo. – Disse. O silêncio que seguiu não desestimulou Harry a continuar a falar sobre Ted Tonks e sua primeira mecha de cabelo azul. E por incrível que pareça, Ron estava satisfeito em ouvir todas as novidades das não-divertidas feris de Harry, por que finalmente, pela primeira vez desde que a guerra acabara, ele estava satisfeito com alguma coisa.



Os Weasley partiram antes dos Granger e Harry, por que Rony decidiu que ainda não queria falar com Hermione.

-Que infantilidade, Ron! Desde o seu primeiro ano vocês embarcam juntos no trem! – Dizia Molly, enquanto iam para a King’s Cross. Ron se resumia a ignorar o que sua mãe dizia, e não responder grosseiramente. Às dez horas eles estavam chegando no metrô, e lá se foram mais 20 minutos até chegarem à estação 9 ¾. A estação ficava entre as estações 9 e 10, num pilar aparentemente normal, mas que no dia de embarque dos alunos em Hogwarts, se transformava em um portal. Ron encostou-se despreocupado no pilar junto com Ginny, e de repente simplesmente o atravessaram como se não fosse material, e reapareceram em frente à um trem vermelho-alaranjado, onde centenas de bruxos se despediam de seus familiares e amigos.

Ginny e Ron decidiram entrar no trem rapidamente, para não ter despedidas de última hora. Ron recebeu um forte abraço de seu pai, e um beijo receoso na testa de sua mãe. Pareceu que ela ia começar a chorar a qualquer momento, mas não o fez. Acenou discretamente antes de eles entrarem no trem e darem uma última espiada em seus pais.

-Cara, há alguns anos entrávamos aqui, Percy, Fred, Jorge, Você, Harry, Hermione e Eu. Isso depois de férias na Toca. – Notou Ginny.

-Ou na casa dos Black. – Comentou Ron.

-Tudo mudou. – Reparou ela, enquanto eles começavam a caminhar a procura de vagões vazios. Como sempre, todos haviam sido mais rápidos que eles, e alguns os olhavam com curiosidade. Eles dois, especialmente Rony havia se tornado um bocado famoso.

Depois de Gina ter parado para cumprimentar metade dos estudantes de Hogwarts, eles encontraram Luna, sentada sozinha num vagão. Ela e sua capacidade de repelir pessoas. Desta vez ela estava normal, com sua meia-cola sobre o ombro, brincos de rabanete e lendo um exemplar de “O Pasquim”. Ela levantou seus olhos enormes para saudá-los, e sorriu.

-Bom dia, Loonie. – Disse Ginny.

-Oi Ginny! Oi, Ron!

-É... – Disse Ron. Ginny o cutucou, e ele pareceu não se importar. Ginny sentou-se ao lado de Luna, e Ron, depois de guardar sua bagagem e Pichi ao seu lado, a sua frente. Não se passaram dois minutos antes de Harry aparecer, e ao seu lado, Hermione.

Hermione incrivelmente ignorou a presença de Rony, e não o olhou em instante algum. Harry cumprimentou a todos, e aproximou-se para beijar e abraçar Ginny.

-Então, vão sentar aqui com a gente? – Perguntou Ginny, ainda agarrada ao pescoço do seu namorado.

-Eu ia te convidar pra sentar em outro vagão, se não se importa. – Disse Hermione, friamente.

-Hum... – Ela ponderou. – Tá bom...

-Você fica, Harry? – Perguntou Ron.

Ele o olhou com uma cara de quem implora perdão, e disse: - Sabe como é, faz tempo que eu não vejo Ginny...

-Não, claro, eu entendo. – Disse Ron, de má-vontade.

Eles foram embora deixando os dois sozinhos. Luna não levantou os olhos do Pasquim até que o trem deu seu primeiro solavanco. Ela olhou pela janela, e Xenófilo a olhava, e acenava. Ela acenou veementemente, e mandou beijos.

-Tchau papai! Não se esqueça de mandar mais cabeças de gnomos para mim!! – E sentou-se, como se tivesse falado a coisa mais normal do mundo. Ela suspirou e olhou para Ron. – Pobre papai. Ele anda tão frágil com o que fizeram comigo neste último ano... Quer dizer, nem sofri tanto assim. Mas estou com pena de deixá-lo sozinho... ele nem queria que eu viesse pra escola, esse ano!

Ron não soube o que responder, e ficou em silêncio. Ele sempre a admirara um bocado por sua força inabalável, e sua disponibilidade para ajudar os outros. Ela era tão desprendida das coisas, e isso o fascinava. Luna ainda o encarava, e continuou, de repente. – Senta do meu lado.

Ron não esperava aquilo, mas foi sentar-se ao lado de Luna, temeroso. Ela pôs a cabeça no seu ombro, uma ação totalmente absurda, e sussurrou:

-Pelo menos nossos problemas nos uniram, e agora você é meu amigo. Pelo menos ainda me resta você.

Ele não sabia como agir numa situação daquelas. Luna sentia liberdade de expressar seu carinho, pois era assim que ela agia normalmente, mesmo que isso fosse estranho aos outros. Ron resolveu permanecer calado, e aproveitou a distração de Luna para afagar seus cabelos. Ela sorriu e pegou O Pasquim, desligando-se do mundo. Em um instante, ele notou que nao se imaginava em outro lugar a nao ser aquele.

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